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Meu "começo, meio e fim"

Pedras batiam na lataria do automóvel e a estrada parecia tortuosa dado as curvas radicais do motorista. Abri os olhos devagar,notando a frieza das algemas em meus pulsos,o ambiente hostil em que nos encontrávamos e os cabelos de Soraya voando sobre o banco à nossa frente devido as pancadas fortes de vento que atravessavam a janela. Ela coloca a cabeça para fora e volta rapidamente,sacando sua pistola urgentemente. Pensei muito se deveria fazer algo,olhei para minha irmã sonolenta e me recordei do seu estado de poucas horas. Não. Não poderia ficar sem fazer nada. Me ergui e olhei pela janela,estávamos sendo perseguidos,talvez pudesse ser a polícia. Então não ruminei muito sobre as consequências e simplesmente agi,pulando no volante que o amante de Soraya dirigia. Ela gritou e tentou me tirar de cima,puxando meus cabelos e me ameaçando com a pistola voltada na minha cabeça. O carro dançava de um lado e outro pela estrada.

— Mata logo essa pirralha,Soraya! — dizia o amante. — Soraya!

Soraya perfurou minha perna com uma faca e gemi com a dor,caindo em cima da mulher,que agora me ameaçava com a faca em minha garganta.

— Fica quieta ou eu mato você. Juro que mato você.

Mais lágrimas desceram pelo meu rosto.

O amante sorriu e apertou o ferimento na minha perna que sangrava,me fazendo gritar com a dor. De repente,Aga pulou em cima do homem arranhando seu pescoço,nesse momento Soraya afrouxou a faca,então mordi sua mão,fazendo-a largar a faca. O carro estava desgovernado e louco pela pista. Não enxergava mais nada,apenas a minha fúria e a cara daquela desgraçada. Esbofeteio seu rosto e começo a apertar seu pescoço,ao passo que a mulher também aperta o meu.

— Soraya,o desfiladeiro! — gritou o amante. Olho para o lado e vejo Ágata lutando com ele.

E nesse momento Soraya me j**a para o banco traseiro e seu amante prende uma das mãos de Ágata no volante com algemas. Eles gargalham e pulam para fora do carro. Corro até minha irmã,mas é inútil,minhas mãos também estão presas e não consigo manobrar o veículo. Começamos a descer pelo desfiladeiro e o medo da morte me toma por inteira.

— Sofia! — Ela está chorando enquanto me assiste inutilmente fazer algo,mas tudo fracassa. — Começo…meio e fim.

— Aga… — Toco seu rosto com as mãos presas. — Começo,meio e fim.

— Você tem que pular.

— Não sem você!

Ela fungou e levou sua mão livre até meu rosto.

— Sim,você vai. — Aga empurra meu corpo para fora com força,caio pelo caminho rochoso do desfiladeiro,e rolo pelo chão,arranhando braços e pernas. Gemo por causa do meu ferimento na coxa.

Me levanto rapidamente e corro para alcançar o carro,mas é tarde demais,ele já desceu pelo desfiladeiro e afunda na água dos rios.

— ÁGATA!!!!

Desço tropeçando pelas rochas e entro na água,mas nadar se torna difícil por causa da  ferida que continua a sangrar e as mãos presas. Estou perdendo as forças. Choro em meio ao desespero. Perdi meu pai diante dos meus olhos, agora perco minha irmã,perco tudo o que tenho. Rápido e ligeiro como um tiro,quente como sangue que jorra de meus olhos,malvado como os malfeitores da minha tragédia.

Eu odeio… Odeio todos.

Foi naquele momento,em meio aquele rio de sangue,que petrifiquei o meu coração. Vermelho. Vermelho como o sangue derramado de meu pai e minha irmã. Vermelho como a cor da minha desgraça. Vermelho como a minha ira. Vermelho como rubi.

Meu coração agora é como uma pedra de rubi.

Um coração de rubi.

Deixo meu corpo afundar na água enquanto desisto de lutar pela vida,não tenho mais pelo que viver. Não tenho nada. Meu corpo imerge e tudo se torna silencioso dentro da água. Fecho meus olhos e espero pela figura de foice e capuz preto vir me buscar de uma vez. 

Não quero viver.

Apaguei.

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