Capítulo II

Viviane

Eu não estava bebendo, pois sempre que saia com o João Pedro, nos revessávamos na direção. Hoje ele poderia beber a vontade que eu iria dirigir.

Como eu não tinha carro, apesar da insistência do senhor Rodolfo em querer me presentear com um veículo, eu jamais poderia aceitar um presente tão caro e ele sabia disso tão bem, pois conhecia os meus pais desde que era um jovem ainda. Meus pais concordavam comigo e eu vivia das caronas que o JP me dava e hoje estávamos com o carro dele.

O meu amigo estava lá no bar já algum tempo, conversando com um cara que eu não reconheci, imaginei então que já havia feito uma nova amizade, algo que ele sempre fazia. Decidi ir ao banheiro e olhei no relógio em meu pulso para ver as horas. Já passava das duas da manhã, que era o meu horário máximo e eu iria chamar o João Pedro para ir embora quando retornasse do banheiro.

Chamei a Cecília e a Julia e juntas fomos ao banheiro, que estava com uma fila enorme para entrar. Como as minhas amigas estavam cada uma focada em seu celular, acredito que checando suas mensagens ou redes sociais, fiquei então olhando ao redor, analisando o ambiente. Era um lugar o qual sempre frequentávamos, por ser tranquilo em termos de segurança e bem frequentado. Ao longo do corredor, muitos casais estavam se abraçando e beijando, alguns já bem ousados, eu deveria dizer.

Ao olhar com mais atenção, reconheci um dos caras que estava aos beijos com uma mulher, a qual aparentava ser muito bonita, pelo que eu podia ver do seu corpo, uma vez que estava vestida com uma saia bem curta e Cropped que mal cobria os seios avantajados.

Fiquei em choque ao reconhecer o cara, pois era ninguém mais, ninguém menos que o João Felipe, o irmão do João Pedro.

Mas como poderia? Ele estava nos Estados Unidos! Eu mesma havia visto o João Pedro em uma chamada de vídeo com o irmão ontem. E ouvi quando o Felipe dizia que não sabia ainda quando voltaria para casa.

Ja faziam cinco anos que ele havia ido morar e estudar fora do Brasil. Havia feito vários cursos desde então e só vinha em casa de seis em seis meses. E quando isso acontecia, eu dificilmente tinha contato com ele, pois sempre fazia o possível para não encontrar com ele durante suas visitas.

Quando ele morava no Brasil eu já o evitava facilmente, pois nossa interação se baseava em cumprimentos educados quando, por acaso do destino, nós nos encontrávamos nos corredores da mansão ou da escola.

- Amiga, chegou nossa vez! - Falou a Júlia, me puxando para dentro do banheiro e me tirando do transe em que eu estava.

Lá dentro, ainda com a cena gravada em minha mente, cada uma entrou em um reservado, e depois de conferir nossas aparências no espelho, retocando o batom e ajeitando os cabelos, saímos do banheiro, e dessa vez eu evitei olhar para onde eu já sabia que o João Felipe estava.

Não me sentia bem quando estava em sua presença, pois não gostava da frieza com a qual ele me tratava e evitava esse tipo de situação.

Fui direto ao balcão do bar, onde estava o João Pedro e o abordei dizendo:

- JP, podemos ir embora? Estou cansada e com sono. - Falei, já o puxando para levantar da cadeira. Não queria de forma alguma correr o risco de o Felipe vir até onde estávamos e ter que manter qualquer dialogo com ele.

- Claro! Podemos sim. - Ele falou, sorrindo carinhosamente para mim, porém não levantou de onde estava.

- Sua namorada, João?

O carinha que estava conversando com ele perguntou, com uma expressão um pouco zangada. Algo que achei bastante estranho.

- Não! Não mesmo. - O João Pedro respondeu bem rápido. - Essa é a Vivi, minha amiga desde que usávamos fraldas descartáveis, acredite. Já te falei sobre ela. - João Pedro explicou.

A explicação pareceu descontrair o clima, que havia ficado um pouco tenso, eu não sabia explicar por que, e o homem acabou rindo das palavras do João Pedro.

Fiquei olhando para o João Pedro, aguardando que ele apresentasse seu amigo, ao perceber que eles não haviam se conhecido ali na boate, como eu havia suposto a princípio.

- Vivi, esse é o Jack. Ele é brasileiro, mas mora e trabalha em Nova York já há alguns anos. Estamos combinando nosso próximo encontro lá na cidade que nunca dorme.

- É um prazer conhecer você, Jack. Uma pena que já estamos indo embora. - Falei de maneira educada, mas sem prestar verdadeira atenção.

Estava bastante ansiosa para ir embora e logo após cumprimentar o Jack, nós nos despedimos do amigo do João e seguimos em direção a mesa onde estava o restante da turma. As garotas haviam voltado para a nossa mesa quando saímos do banheiro, enquanto eu havia ido à procura do João Pedro.

- Vocês sempre vão embora tão cedo! - Reclamou a Júlia, que estava ainda mais animada do que já era normalmente, quando informamos que iríamos embora.

- Cedo só se for para você, Júlia! - Respondi sorrindo.

A Julia sempre queria ficar até a última música e eu jamais conseguiria acompanhar seu ritmo. Apesar disso, ela sempre acabava me acompanhando quando percebia que o João Pedro não queria ir ainda e que eu não queria continuar na balada. Nessas ocasiões, eu acabava dormindo no apartamento que ela dividia com a Cecília.

- Mas a Júlia tem razão. Vocês sempre são os últimos a chegar e os primeiros a sair. - Concordou César, nós olhando com sorriso malicioso.

Ele já havia tomado vários drinques e parecia inalterado, pois como sempre, ele era bem resistente a bebida.

- Bem meus amores, eu sei que sou alguém especial e que vocês sempre querem estar perto de mim, mas nossa hora chegou e eu ainda pretendo curtir uma praia amanhã. - João Pedro falou em tom de despedida.

Eles ainda continuariam na boate, e que bom para eles. Eu queria mesmo era minha cama para descansar e, principalmente, não queria correr o risco de topar novamente com o João Felipe.

Já íamos saindo pela porta da boate e quando pensei que conseguiria não ter que enfrentar o retorno do arrogante do Felipe hoje, o próprio nos abordou, chamando pelo irmão.

- Ei, João Pedro! - Falou, puxando o irmão para um abraço.

- Irmão, que surpresa! O que você está fazendo aqui? Quando chegou?

João Pedro o abraçou de volta, aparentemente surpreso e totalmente encantado em ver o traste do irmão. Confirmei então que o João Pedro também não sabia de seu retorno.

- Cheguei em casa eram umas 20 horas, mas fui direto para meu quarto, dormir um pouco. Nem nossos pais sabem que cheguei, pois eles haviam saído e como eu vi que você estava em seu quarto com sua "amiga", achei melhor deixar para te cumprimentar em um outro momento. - Explicou de forma debochada ao falar a palavra amiga. - Quando acordei, me senti revigorado e pensei em vim aproveitar a noite paulistana. Estava com saudades de casa e das brasileiras.

- Nossos pais foram a um desses jantares beneficentes que eles tanto gostam. - O JP informou ao irmão. - Mas você deveria ter ido ao meu quarto, eu estava bem entediado.

- E eu sou remédio para tédio? - João Felipe falou, arqueando a sobrancelha. - Vejo que você já está indo embora. Por quê tão cedo?

Ele só podia estar sendo irônico, pois já passava das duas da manhã. Não era cedo de forma alguma! Comecei então a caminhar devagar em direção a saída. Parece que ele tinha chegado ainda pior, pois dessa vez nem mesmo um cumprimento qualquer ele se dignou a me dá.

João Pedro viu o meu afastamento e me chamou

- Vivi, espera! Não vai falar com o João Felipe? - Me questionou com uma cara de confusão.

Ele sabia muito bem que não nos dávamos bem, eu e o idiota do seu irmão. Parece até que fazia isso para me irritar, mas eu sabia que ele só estava tentando conciliar a situação entre nós, como sempre.

- Onde está sua educação, meu irmão? Não vai falar com nossa amiga de infância?

Ele só podia estar de sacanagem com a minha cara! Ou bêbado, que era o mais provável, para forçar essa interação entre mim e o irmão.

- Olá Viviane. Como tem passado? - Falou João Felipe, como uma expressão cínica no rosto.

- Estou bem, obrigada por perguntar. - Respondi secamente. - Caso você tenha mudado de ideia sobre ir embora, eu posso chamar um Uber - Ameacei, olhando firmemente para o João Pedro.

- Vamos embora então. - Ele resmungou, me seguindo quando fiz menção de começar a caminhar novamente. - Amanhã nós colocamos os assuntos em dia. Aproveite a balada, Felipe, já que eu estou indo embora. - Falou se dirigindo ao irmão.

João Felipe apenas acenou e se virou, voltando para a parte onde estava a pista de dança, em direção ao bar.

- Eu não consigo entender por que vocês não se suportam! Crescemos todos juntos! - Reclamou o João Pedro quando entrávamos no carro, ele no banco do carona e eu ao volante.

- Eu vou começar a dirigir e você sabe que sempre fico um pouco nervosa ao volante. Então acho melhor encerrar esse assunto.

- Tudo bem! Mais uma vez eu desisto de entender vocês dois. - João Pedro falou, deitando a cabeça no encosto do banco e fechando os olhos. Acho que ele realmente tinha bebido muito. 

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo