João Felipe
Estava terminando de me vestir e ainda não sabia como faria para pegar a Viviane sem que a colocasse em uma situação desconfortável. Não poderia simplesmente pedir para que ela me esperasse na esquina! Jamais faria uma sugestão como essa para ela. Tampouco poderia arriscar todos os meus planos para o futuro, me colocando em uma situação em que algum conhecido pudesse nos flagrar juntos.
Que saia justa!
Ainda estava em frente ao espelho, analisando toda a situação e tentando chegar a uma "solução" para meu impasse, quando mamãe entrou em meu quarto.
- A porta estava aberta, mesmo assim eu ainda bati e você não me ouviu. - Ela explicou ao ver minha expressão questionadora. - Está muito pensativo esses dias. Algo na empresa?
Minha mãe era uma belíssima mulher, na casa dos seus cinquenta anos e sempre foi muito elegante. Ela vinha de uma família muito tradicional, assim como papai. Acredito que este era o motivo para ela insistir tanto em que me casasse com alguém do nosso meio, para manter "a linhagem".
- Nenhum problema. - Falei me voltando novamente para o espelho e tentando esquecer o problema com a Viviane e focar no que minha mãe tinha para dizer. - Afinal, me preparei para ocupar a presidência do grupo e esse cargo não requer muito de mim. Então posso garantir que está tudo tranquilo, mamãe.
- Me sinto tão orgulhosa por você, meu filho. - Falou exibindo um sorriso enorme. Mas sua expressão mudou ao continuar. - Tão diferente do João Pedro!
- O que o João Pedro fez dessa vez, mamãe? - Falei já sorrindo. Mamãe sempre insatisfeita com meu irmão e eu tinha certeza que ele não se importava nenhum pouco com isso. Éramos praticamente opostos nesse quesito, mas eu amava meu irmão assim mesmo. Respeitava suas escolhas, por mais que discordasse da maioria delas.
- Ele ia saindo de braços dados com a filha dos empregados! Eu sei que já deveria ter me acostumado, mas...
Não estava mais ouvindo o que minha mãe falava.
Como assim a Viviane estava de saída com o João Pedro?
-... eu sei que é uma boa garota, mas não é companhia adequada para seu irmão!
- Mamãe, podemos conversar melhor em outro momento, tudo bem? Estou atrasado para um compromisso.
Beijei o rosto de minha mãe e saí apressado, para ver se ainda conseguia encontrar com eles na nossa garagem. Deduzi que faria pouco tempo desde a cena que mamãe descreveu ter visto.
Não tive essa sorte e entrei no meu carro batendo a porta com força.
Como ela havia combinado comigo e iria sair com o meu irmão? Não conseguia acreditar que ela havia feito algo assim!
Resolvi m****r uma mensagem para a Viviane, cobrando uma explicação, quando percebi que ela já havia me enviado algumas e que eu não havia percebido.
Viviane: Vou sair com o João Pedro.
Viviane: Não tinha como eu recusar, sem causar suspeitas.Viviane: Combinamos para amanhã?Olhei o horário das mensagens e percebi que havia sido há mais de quarenta minutos atrás. Eu estava tão centrado em encontrar uma forma de encontrá-la sem que alguém nos visse, que nem prestei atenção as mensagens que chegavam.
Mandei uma mensagem para meu irmão e perguntei onde ele estava. Ao receber a sua localização, decidi que iria para o lugar em que estavam e depois decidiria como proceder.
Eu não aguentaria passar mais um dia sem beijar aquela garota, era tempo demais longe.
Eu havia chegado à conclusão, depois de muito pensar em toda a história com a Viviane, ou falta dela, que quanto mais a gente transasse, mas rápido eu conseguiria superar esse sentimento maluco que eu tinha por aquela garota, tenho certeza.
Segui em direção a boate Evoluction, local onde eles já estavam, pelo que pude entender e passei pela portaria, depois de pagar um alto valor pela entrada para a área VIP.
O local era bem espaçoso, sua iluminação era difusa e com jogos de luzes, como a maioria das boates e estava repleto de pessoas, em sua maioria jovens.
Ao subir para área VIP, logo consegui localizar um grupo bem animado, composto por umas cinco pessoas, entre elas estavam meu irmão e a Viviane.
Ela estava ao lado de um cara forte, da sua altura mais ou menos e bem-apessoado. Ele estava abraçando-a pela cintura e aquilo me irritou de tal forma que eu tive que me controlar, fechando as mãos em punho.
Uma vontade insana de esmurrar a cara daquele sujeito, mas não faria isso de forma alguma. Não haveria explicação plausível para tal atitude e eu não iria me expor desta forma.
João Pedro foi o primeiro a me ver chegar e logo mostrou um sorriso de satisfação.
-Irmão! Que surpresa você entre nós. - Brincou, me puxando e passando o braço por meus ombros, me levando para junto de todos na mesa.
O tempo todo fiquei olhando para a Viviane, prestando atenção para ver qual seria sua reação a minha presença na boate.
- Garotas, acho que vocês não conhecem meu irmão, o João Felipe. - João Pedro continuou, me apresentando as duas garotas que se encontravam na mesa, além da Vivi.
A quinta pessoa na mesa era o cara que estava abraçando a Viviane e logo o reconheci dos tempos de colégio, era o César, ele frequentava a mesma sala que o JP e a Vivi.
- Felipe, essa é a Júlia - O João Pedro fez as apresentações, apontando para uma morena de vestido curto de um tom de rosa claro - e essa é a Cecília, falou apontando para uma garota de corpo bem definido em uma calça preta de material brilhante e uma blusa de alças também preta, que deixava a barriga chapada à mostra.
As duas eram belas mulheres, mas eu apenas as cumprimentei com um aperto de mão rápido e voltei meus olhos para a Vivi, que continuava abraçada ao César.
- E você, César? Como está? - Falei já esticando a mão em um cumprimento, ao qual ele respondeu sem soltar a Viviane de seus braços.
- Estou ótimo, como pode perceber. - Ele falou apertando ainda mais a Viviane em seus braços. - Há quanto tempo não nos vemos, não é mesmo?
- É verdade. - Respondi apenas.
Tentei esconder meu desagrado. Iria aguardar o momento apropriado para falar com a Vivi. Não iria chamar a atenção das pessoas sobre nós.
Logo eu estava com um copo de bebida na mão e todos trocavam uma ou outra palavra entre si. Era complicado entabular uma conversa mais longa devido ao som alto dentro da boate, apesar de estar em um volume bem menor que no salão inferior, onde também havia a pista de dança.
As horas passaram e eu não consegui nenhuma oportunidade para falar com a Viviane de forma discreta. Já estava pensando em ir embora e adiar nosso encontro para amanhã, como ela havia sugerido por mensagem, afinal, não poderia colocar tudo a perder por gestos impulsivos, quando a Vivi se aproximou do João Pedro, que estava ao meu lado e pude ouvir claramente o que ela falava.
- Vamos embora João Pedro. - Falou e fez um gesto para o relógio em seu pulso. - Já passa das duas horas e sabe que não gosto de ficar até mais tarde que isso.
A Viviane estava um pouco contrariada, dava para perceber pelo seu jeito de falar. Não pude entender o motivo, apesar de não ter tentando falar comigo em momento algum, nem eu tampouco com ela, eu havia ficado atendo aos seus movimentos e não vi nada que pudesse ter causado o seu aparente mau humor.
- Você ficaria muito chateada se eu implorasse por mais trinta minutos? - Meu irmão falou sorrindo e juntando as mãos como em uma súplica. - Por favoooorrr...
A Viviane acabou sorrindo com a expressão de cachorrinho que meu irmão estava fazendo e naquele momento eu vi a oportunidade que estava esperando por toda a noite.
- Pode ficar à vontade irmão. Eu já estou de saída mesmo, posso levar a Viviane para casa. - Falei de maneira despreocupada, como ar de enfado e mesmo assim meu irmão me olhou ressabiado.
- Tem certeza que você não se importa de levar a Vivi em casa?
- Não preciso que ninguém me leve em casa. Eu vou esperar por você, JP. - A Viviane falou me olhando com uma expressão chateada. Nem parecia a garota apaixonada que tive em meus braços uma semana atrás.
Tentei conter meu temperamento, não gostava de ser contrariado, e disse apenas: - Você que sabe. Não seria nenhum problema para mim, afinal moramos na mesma propriedade. - A olhei de maneira firme, de forma que ela entendesse o recado.
- Vai com o Felipe, Vivi! Qual o problema? Eu sei que vocês não são os melhores amigos do mundo, mas é apenas uma carona. - João Pedro insistiu, me ajudando sem nem mesmo saber.
- Gente, estou indo embora. Quer uma carona Vivi? - A garota por nome de Júlia falou, me deixando extremamente chateado. Por que ela tinha que aparecer justo agora com esse oferecimento?
- Você está indo embora com o cara que você conheceu aqui na boate? - Viviane perguntou para a amiga. Pela expressão em seu rosto e pela forma como fez a pergunta, entendi que ela não havia gostado da ideia, o que acabava sendo algo bom para mim.
- Sim, amiga. Mas não precisa se preocupar, ele mora no mesmo prédio que eu. Olha só que coincidência! - Falou toda animada.
- Não gosto da ideia, Júlia.... Vocês acabaram de se conhecer! Quem garante que ele realmente mora no seu prédio? E mesmo que more, isso não garante que seja uma boa pessoa. Melhor você pegar um Uber. Eu posso te acompanhar.
- Ai amiga! Você é tão certinha! Eu vou com o Max. Já decidi. E você, vai conosco ou não?
Enquanto as duas debatiam, eu e meu irmão apenas ouvimos sem interferir. Aguardamos a Viviane decidir, sem pressioná-la, por maior que fosse a vontade de me meter e decidir pela Viviane, não era o correto.
Fiquei bastante aliviado quando ela finalmente disse para a amiga:
- Vai com o Max então. Eu vou com o João Felipe. Ele já está de saída e você não precisa sair de seu caminho para me deixar em casa.
A Júlia se despediu de nós e também do César e da Cecília que estavam dançando perto de nós e foi embora acompanhada pelo tão Max.
- Vamos Viviane? - Chamei, quando vi que ela conversava com os seus amigos, acredito que se despedindo deles, pois logo ela estava abraçando o César e sua amiga.
- JP, você tem certeza que não vai embora agora? Você nem mesmo está bebendo hoje! Por quê vai continuar aqui? - Viviane questionou o meu irmão e eu estranhei seu comportamento.
Afinal, era ótimo que o João Pedro ficasse na boate e que fôssemos só nós dois embora. Assim teríamos o nosso momento a sós sem despertar suspeitas.
- Estou de olho em uma gatinha que vi próximo ao bar. - Meu irmão explicou sorrindo.
- Mas eu só te vi conversando com seu amigo Jack!
- Foi exatamente nessa hora que vi a gata, Vivi.
- Entendi. Tudo bem então. Cuide-se!
- Falou Viviane, abraçando e beijando meu irmão como se eles não se vissem todos os dias, pensei contrariado com a demora da Vivi.Me despedi do meu irmão e de seus amigos apenas com um aceno de cabeça e enfim saímos da boate.
Fomos em silêncio, comigo direcionando a Viviane pela cintura, mas ela parecia arredia e eu apenas a tocava levemente, somente para indicar o local onde estava meu carro.
Quando já estávamos dentro do carro, a caminho da mansão, resolvi então quebrar o silêncio, pois já estava me sentido desconfortável.
- Por que você está chateada?
VivianeImpressionante como algumas pessoas não percebem o quanto seus atos podem machucar outras pessoas.Não que eu tenha me magoado com o João Felipe. Eu nunca esperei coisas positivas vindas dele e não seria agora que iria me iludir com algo desse tipo. Muito pelo contrário.Se decidi aproveitar o momento e ter alguma relação com ele, foi de olhos bem abertos. Posso acusar o Felipe de várias coisas, mas nunca vou poder dizer que ele me enganou.Nos conhecemos a tempo de mais para eu saber todas as suas características. Ainda mais quando ele sempre fez questão de me mostrar as negativas. Conheço muito bem todos os seus defeitos.- Não estou chateada com você, se é isso que está querendo perguntar e preferiu não ser direto. - Falei com enfado.- Eu fui direto.- Certo.Achei melhor nã
João FelipeO dia já estava amanhecendo quando despertei. Novamente a Vivi estava com braços e pernas sobre mim e a sensação era maravilhosa. Mantive os olhos fechados, pois havíamos esquecido de fechar as cortinas e a claridade incomodou minha vista. Fiquei abraçado a ela, desfrutando daquele momento de intimidade e bem-estar que eu estava sentindo.Eu havia tomado apenas dois drinques na boate e não estava com ressaca. Apenas sentia sono, afinal, eu e a Vivi tivemos uma madrugada bem movimentada, pensei de forma maliciosa. Meu amigo lá de baixo logo deu sinal de vida, ao lembrar tudo o que tínhamos feito durante nossos momentos juntos.Resolvi não me mexer e tentar conciliar o sono novamente. Ainda estava muito cedo e como a Viviane iria inventar uma mentira sobre estar na casa da amiga, não havia necessidade de que ela chegasse tão cedo assim em
João FelipeDepois que cheguei do hotel, no sábado pela manhã, dormi um pouco, pois estava exausto após uma semana totalmente focado no trabalho, onde eu era o primeiro a chegar ao escritório e o último a sair, uma vez que meu antecessor tinha deixado muito trabalho acumulado, e não apenas devido aos problemas de saúde que ele alegava possuir, assim eu concluí depois de analisar vários relatórios medíocres feitos por ele.Ser diretor financeiro não seria um trabalho tão fácil como eu havia erroneamente calculado. Mas eu conseguiria ser o melhor, pois era persistente e paciente. Eu possuía essas qualidades e elas me levariam ao patamar desejado.Quando, por fim, deixasse tudo como eu desejava na nossa matriz aqui em São Paulo, pretendia abrir uma filial de nossa empresa em Nova York e me mudar novamente para os Estados Unidos e go
VivianeMeus pais não estranharam o fato que eu tenha dormido na casa da Júlia e já estarmos combinadas de ir passar a tarde no shopping, o que me deixou mais tranquila.A Júlia me contou o que havia causado o seu desânimo incomum e acabamos ficando para assistir a um filme que estava em cartaz no cinema e que nos deixou bastante interessada. Era de uma franquia de Heróis e nós duas gostávamos do gênero.Ela me auxiliou na compra de meu material didático e conversamos sobre o Max, o cara com o qual ela havia saído da boate na noite passada.Ele realmente morava em seu prédio e por este motivo foi bem fácil para ela descobrir que ele tinha uma namorada, com a qual já tinha um relacionamento de mais de quatro anos. Essa informação, que ele deixou de passar para ela, a deixou bastante triste. Ele havia mentido
VivianePassei toda a manhã dentro de casa, mas os meus pensamentos estavam na área da piscina onde se encontravam os Mendes de Albuquerque e alguns amigos.Eu tinha certeza que a dona Marta havia chamado os Guimarães. Ela não perderia a oportunidade de juntar o João Felipe e a Alicia no mesmo ambiente. Ela nunca disfarçou o fato de querer os dois juntos e achar que eles formariam o casal perfeito.O João Pedro me falou que a mãe tinha chamado algumas pessoas para se reunirem esse domingo. Segundo ele, ela estava comemorando o fato de seu primogênito estar de volta e ter assumido um cargo na empresa da família.Ele ainda insistiu que eu deveria participar, mas pela experiência que eu tinha desse tipo de situação, eu preferia evitar essa exposição desnecessária. A dona Marta não me trataria mal, ela nunca o faria abe
João FelipeNa segunda feira entrei em contato com um corretor imobiliário e em poucos dias eu estava com a chave de um apartamento em meu nome, que viria a ser o meu local de encontros com a Viviane.Nós passamos a nos encontrar no apartamento com regularidade, em horários que não despertariam desconfiança em nossas famílias e eu estava muito satisfeito com a nossa "relação".A Vivi também parecia satisfeita, pois não se queixava de nossos encontros e era sempre muito apaixonada quando estávamos juntos, no nosso recanto.Eu havia comprado o apartamento mobiliado apenas com o necessário e estava pensando em contratar um decorador para deixar o ambiente mais bonito e harmonioso.- É uma boa ideia. – Viviane disse apenas, quando a questionei sobre o assunto.- Você não ficou animada em poder escolher a decora&cce
João FelipeA Viviane estava toda estranha desde o nosso desentendimento no apartamento, na sexta feira. Não nos vimos durante o fim de semana, pois ela alegou as mais variadas desculpas para a gente não se encontrar.Acabei saindo com os meus amigos no sábado. Era aniversário da Alicia e o Nicolas, Henrique e eu acabamos por aceitar comparecer, após muita insistência da parte dela. Havíamos voltado a mesma amizade de antes de eu ir morar nos Estados Unidos e nem parecia que ficamos tantos anos afastados, pois era a mesma camaradagem de sempre.O Ricardo andava um pouco mais afastado de nós, viajando sempre a trabalho, mas também compareceu à festa da Alicia.
VivianeOlhei para a mensagem que havia acabado de chegar e fiquei indecisa sobre o que diria para ir embora da praia assim, de repente, pois o João Felipe estava mais uma vez me convidando para ir até o seu apartamento.A resposta veio rapidamente, quando a Júlia disse que iria embora e me convidou a ir ao seu apartamento, pegar umas coisas minhas que eu havia esquecido lá alguns dias atrás. Nós havíamos feito algumas compras para o retorno as aulas e esqueci uma sacola em meio as suas. A Cecília continuaria na casa do César, pois estava querendo aproveitar para colocar o bronzeado em dia.-Já estou começando a desbotar, todos esses dias sem pegar um sol.Ela sempre fazia questão de estar com a pele bronzeada, uma vez que a maioria dos seus trabalhos fotográficos eram para moda praia.- Vou com você, então. – Falei