Capítulo VI

Viviane

Meus pais haviam recebido dois dias de folga, pois os Mendes de Albuquerque tinham viajado para o Guarujá e dispensado todos os funcionários da mansão, com exceção dos seguranças, é claro.

Aproveitando essa oportunidade, eles decidiram ir passar sua folga em Jundiaí, visitando minha tia Soraia, irmã da minha mãe.

Aproveitei o dia todo para estudar e quando a noite chegou, fui a cozinha apenas pegar alguma coisa para comer e voltei a me dedicar aos estudos.

Já passava das vinte e três horas quando eu decidi descansar e depois se tomar mais um banho, fui deitar. A noite estava bem quente e abafada e fiquei rolando na cama, tanto devido ao calor, como pelos pensamentos que não me deixavam em paz.

Quando eu estava estudando, conseguia não pensar no João Felipe e aquele sentimento incômodo que sentia por alguém tão inatingível. Mas agora, tentando conciliar o sono, ele não saia da minha cabeça.

Já passava de uma hora da manhã quando desisti de tentar dormir e levantei. O calor estava insuportável e até o vento que saia do ventilador era quente.

Pensei então em nadar um pouco. Fazia tempos que eu não me jogava na piscina, sempre me dedicando aos estudos e quando saia, era sempre acompanhando o João Pedro em suas noitadas pois, apesar de ele sempre convidar nossos amigos para passar o dia na piscina da mansão, eu sempre recusava a ideia. Dona Marta não gostaria nada de ver essa cena e eu preferia evitar situações de conflito.

Mas como Dona Marta e seu Rodolfo não estavam e até mesmo o João Pedro havia viajado com alguns amigos para um lugar misterioso, alegando que não iria me contar para onde estava indo por eu não querer acompanhá-lo.

Já o João Felipe - suspirei - eu o vi saindo com o carro, quando fui procurar pelo cãozinho da minha mãe pelo jardim da mansão mais cedo. Ele deveria passar a noite fora com algum dos seus casinhos, pensei. Estaria rodeado das pessoas do seu "nível", como a mãe dele insistia em sempre alardear.

Vesti um maiô preto discreto. Não gostava de expor o meu corpo mais que o necessário. Não me sentia bem. Não tinha nenhum problema de auto estima, era apenas timidez mesmo, e coloquei um roupão por cima do maiô e fui em direção a mansão.

Os seguranças que trabalhavam na mansão, eram todos muito discretos e costumavam ficar na guarita próxima a entrada, pois todos os muros ao redor da mansão, além de muito altos, eram também vigiados por câmeras de segurança e tinham cercas elétricas.

Eles estavam cientes de que eu era a única em casa, pois quando caminhei mais cedo com o cachorrinho da mamãe, eu havia até trocado algumas palavras com um deles, falando sobre o clima que estava bastante abafado aquela noite e ele me pediu para ligar na guarita, caso necessitasse de algo.

Chegando à área da piscina, tirei meu roupão e fui logo mergulhando na água, que estava em uma temperatura perfeita para aquela noite quente. Fiquei dando algumas voltas, nadando de uma ponta a outra.

João Felipe

Era sábado a noite e acabei optando por sair com alguns antigos colegas, os quais havia reencontrado na festa que comparecera ontem, na casa da Alicia.

Marcamos em um barzinho que os meus amigos garantiram que era o lugar que estava sendo mais badalado no momento e que tinha um ambiente era extremamente agradável. Pouco tempo depois que já estávamos os quatro instalados em uma mesa no local, já tínhamos companhia feminina.

O Ricardo era uma pessoa muito cara de pau e assim que o primeiro grupo de garotas nos olhou, ele já foi até elas e fez o convite para que se juntassem a nós.

O Nicolas e o Henrique também estavam conosco e a conversa girou em torno dos velhos tempos de escola.

Porém, como estava acontecendo desde que voltei, não consegui me interessar por nenhuma das belas mulheres que estavam conosco e a conversa não fluía tão bem com o barulho do ambiente.

Decidi voltar para casa. Não estava me sentindo à vontade e tampouco queria beber mais. E em pleno sábado, quando a noite tinha tudo para terminar comigo muito bem acompanhado, eu estava deitado em meu quarto, olhando pra TV, sem realmente prestar atenção ao que estava passando e tampouco tinha sono para que pudesse dormir.

Estava uma noite quente, e até mesmo o ar condicionado do quarto estava me deixando irritado. Aliás, tudo estava tendo o poder de me irritar ultimamente.

Vesti apenas uma calça de moletom por cima da box e saí para tomar um pouco de ventilação natural e saí até a sacada do meu quarto.

Estava olhando distraidamente para o céu, pois apesar de estar uma noite bastante abafada, o céu estava belíssimo, com várias estrelas brilhando no firmamento e que despertaram ainda mais a inquietação que eu estava sentindo nos últimos dias.

Olhei mais atentamente para a área onde estava a piscina, pois tive a impressão de que havia movimentação naquele local, quando percebo que tem alguém nadando.

Fiquei imediatamente alerta, afinal, todos haviam viajado e até mesmo os pais da Viviane tinham ido visitar parentes no interior. Até que tive um estalo e me aproximei mais da grade. Eu tinha certeza que não era nenhum bandido, pois tínhamos segurança vinte e quatro horas ao redor da mansão e caso algum tivesse conseguido passar a barreira dos seguranças, ele não estaria tomando banho em nossa piscina.

O que me deixava apenas uma opção e foi exatamente essa pessoa que se agarrou a borda da piscina, levantado a cabeça e me fazendo um homem ainda mais atormentado:

Viviane.

Saí imediatamente do meu quarto e me aproximei da piscina silenciosamente.

- Você quer me matar, seu louco! - Gritou ela assustada quando me viu chegar, colocando a mão no peito e fechando os olhos, com um suspiro de alívio, acredito que por se tratar de mim, e não de um desconhecido.

Fiquei olhando enquanto ela saia da piscina, dentro de um comportado maiô preto, que mesmo escondendo mais que expondo seu corpo, me deixou em um estado de excitação fora do normal.

- Não vai falar nada? - Perguntou, secando-se com uma toalha que estava em cima de uma espreguiçadeira, ao lado da piscina.

- Acho que eu que deveria está cobrando explicações aqui, não? - Falei, olhando para ela, que ficava ainda mais linda com o rosto corado pelo frio. - Afinal, esta piscina pertence a mansão.

Não precisei concluir a frase, pois ela entendeu muito bem ao que eu me referia.

- Você é tão insuportável! - Falou, me olhando com uma expressão de nojo e já se virando para sair, vestindo um roupão felpudo verde, da cor de seus olhos.

Ver ela me dando as costas, mais uma vez, me deu um gosto amargo na boca.

Apesar das minhas palavras, dessa vez eu não tinha intenção alguma de a afastar. Muito pelo contrário, eu me senti quase feliz, ao vê-la ali, tão acessível, nadando na piscina da minha casa. Parecia até um dos meus sonhos.

Naquele momento, decidi que eu não conseguiria mais me conter e, pelo menos uma vez, eu a queria perto de mim, sem brigas ou discussões.

- Vivi, me desculpe. - Falei, a puxando gentilmente pelo braço. - Eu sou um idiota. Não deveria ter falado isso. Afinal, papai sempre fez questão de que você tivesse total liberdade para usar não só a piscina, mas também para frequentar nossa casa.

Continuei segurando em seu braço, e a Viviane, surpreendentemente, não me afastou.

Ficamos nos olhando, e o que eu via em seus olhos, era exatamente o que eu sentia. A gente podia negar, se ofender e evitar um ao outro. Mas o sentimento sempre esteve conosco e, por mais que negássemos, éramos loucos um pelo outro.

- Eu odeio você, sabia? - Ela falou, arfando. - Você é um completo idiota mesmo.

Enquanto ela falava, aproximei meu rosto do seu, meus olhos agora em seus lábios. As palavras que me dizia, aos meus ouvidos chegavam de outra forma. Por que eu ouvia o que ela não pronunciava, e que sabíamos que não devíamos jamais expor ao mundo.

- Idiota e completamente maluco por você, Vivi. - Confessei. Não aguentava mais guardar isso a sete chaves, estava me corroendo por dentro. Não aguentava mais me manter distante. Eu precisava estar com a Viviane, de todas as maneiras possíveis.

Ela me olhou com surpresa e antes que tentasse me afastar, eu a abracei e beijei, como desejava há muitos anos. E após um momento de hesitação, ela correspondeu ao meu beijo com a mesma intensidade que eu havia imposto.

Eu sempre quis provar daqueles lábios, sempre desejei tocar aquele corpo e quanto mais tempo passava, menos desejo eu sentia por outras mulheres. E agora eu confirmava algo que eu já sabia e não queria aceitar, que a verdade é que era aqui, nos braços da Vivi, que eu queria está.

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