Capítulo 4- Valentina

* Valentina *

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Tia Manuela foi para Abu Dhabi de manhã, e vai voltar amanhã à tarde se der tudo certo, eu espero que dê. Assim a Kate estará de volta e isso me deixa muito feliz. Monto em Goiaba, a danada está mais mansa. Pelo menos não resolveu fazer nenhuma gracinha comigo de novo.

Coloco meu estilingue na calça, se eu topar a Carla pela estrada já aproveito para fazer tiro ao alvo. Ela não me desce, não só pelo Caco e pelo jeito que ela falou com a Ciça, mas tem algo nela. Sabe quando o santo não b**e? É isso mesmo, o meu não deu certo com o dela, desde o começo. Assim que chego na fazenda, Adelaide a cozinheira da tia Manu, já vem com uma faixa na mão e um sorriso no rosto, sabia sobrou para mim.

— Valentina menina, você pode colocar a faixa de boas—vindas? Você sabe que não gosto de altura. — Olho para a faixa na sua mão e abro um sorriso amarelo, não consigo dizer não a Adelaide ela é uma boa mulher.

— Claro Adelaide, chama o Alex para segurar a escada para mim!

— Ele não está aqui não Valentina, está lá com os peões, mas a Carla segura. — Ri internamente com vontade de derrubar o martelo na cabeça dela, mas não podia.

Enquanto a dita cuja não aparece, começo a amarrar alguns balões pela casa, olho o melhor lugar para colocar a faixa e nesse momento ela chega.

— Precisa de mim?

— Segure a escada para mim, se eu cair te encho de porrada.

— Para que esse nervoso todo em menina, por acaso a criança perdeu a boneca?

— Continue com gracinha que quem vai perder alguma coisa aqui é você, e serão os dentes sua praga. — Ela me Olha e se cala, Carla pode até ser mais velha que eu, mas é mole igual gelatina.

Abro a escada e subo enquanto ela segura para a escada não fechar, amarro a primeira ponta da faixa e vejo se está firme. Desço e levo a escada para o outro lado, subo e começo a amarrar, sinto a escada balançar e já me irrito.

— Segura essa escada direito praga dos infernos. — Olho para baixo e vejo a vaca segurando só com uma mão enquanto olha para as unhas.

— Estou segurando.

— Se eu cair você me paga.

— Calma menina, amarra isso logo.

Volto a amarrar a faixa e quando termino, sinto a escada balançar. Vou colocar o pé no degrau de baixo, mas ele escorrega e em questão de segundos sinto meu corpo cair, eu vou matar àquela praga. Fecho os olhos já prevendo minha queda, mas mãos firmes seguram em minha cintura me apertando com força, abro os olhos e vejo a peste com um sorriso sínico me olhando.

Cuidado criança, pode se machucar se cair assim. — o empurro com força, mas ele me prende em seus braços rindo da minha cara! “Ahhh como eu odeio o Daniel, como eu pude ser amiga dele.”

— Me solta peste, me deixa descer.

— Eu quero falar com você Val.

— Eu não tenho nada para falar com você. — Continuo o empurrando e ele me solta de uma vez fazendo eu cair de bunda no chão.

— Aí peste, tinha de me soltar assim?

— Você que pediu para soltar criança. — Vejo o sorriso de deboche em seu rosto.

— Nossa como você é irritante menina. — Carla fala sorrindo e tiro minha bota para jogar em sua cabeça, mas ela sai correndo, não aguenta mais enche o saco.

— Quero falar com você Val. — Respiro fundo e conto até dez mentalmente para não surtar hoje.

— Estou ocupada não está vendo. — Estico o braço mostrando a sala.

— Quando vai poder falar comigo?

— Não sei. — Dou de ombros e vou virando as costas.

— Ou, espera. — Ele puxa meu braço me fazendo virar de uma vez. — Vai ter tempo de falar comigo amanhã na festa? É sério Val, você está estranha comigo.

— Se eu lhe ver, quem sabe! — puxo meu braço e ele solta, saio rápido para a cozinha, vejo Adelaide batendo um bolo e me sento ao seu lado.

— Que cara é essa menina, até parece que um bicho te mordeu.

— Não foi nada não. Só estou ansiosa.

— Todos nós. Por aqui já terminou amanhã você vem cedo ou posso chamar uma das meninas?

— Claro que eu venho Adelaide, foi a tia que pediu e eu faço com todo carinho para a Kate. Mas agora vou indo antes que uma peste resolva me atormentar. — Reviro os olhos e ela sorri.

— Você e o Daniel era tão chegados, por que virou a cara assim para o moço? — mordo o canto da boca de ansiedade, era a primeira vez que alguém fora a tia Manu me perguntava isso.

— Ele é chato, insuportável, eu não sou uma criança para andar com ele na minha cola cuidando de mim como uma babá.

— Ela abre a boca, mas se cala e então percebo que não estamos sozinhas na cozinha.

— Então eu sou chato e insuportável criança, pensei que fosse seu amigo e não a sua babá como você mesmo disse. — Me viro o encarando que mantém os braços cruzados acima do peito.

— É... e me cansei de ter você no meu pé, não sou mais criança Daniel, eu cresci.

— Para mim você sempre vai ser uma criança. — Ele b**e o dedo no meu nariz e sai correndo rindo da minha cara, às vezes acho que o Daniel é mais criança que eu. O que estou falando, eu não sou criança coisa nenhuma, eu cresci.

— Sua peste, só não vou atrás de você porque já estou indo embora. — Falo alto e Adelaide começa a rir. — Está rindo do que Adelaide?

— Vocês dois parece cão e gato brigando, mas não se desgrudam um do outro. — A olho indignada.

— Eu em Adelaide, vou embora amanhã eu volto.

A festa estava muito boa, eu estava tão feliz que minha amiga tinha voltado. Mesmo ela não se lembrando de mim e de nada, na verdade, mas isso era questão de tempo eu sabia, e logo ela estaria como antes, alegre e divertida.

Percebi o olhar de cachorro abandonado do Daniel para mim, mas não eu não ia falar com ele, nossa amizade tinha acabado ponto final. Puxei tia Manuela para o canto, tinha pensado em algo e ela ia gostar.

— Tia minha mãe está precisando de alguém para ajudar na fazenda, estava pensando de a Carla ir para lá. — Abri aquele sorriso mais inocente que eu poderia ter.

— Valentina princesa, você não me engana, não nasci ontem, você quer a Carla lá para atazanar a moça.

— Que isso tia, assim me ofende sou uma pessoa tão boazinha.

— Quem não te conhece que te compre Valentina, diga logo o que foi?

— A Kate voltou, e a Carla vive dando em cima do primo Emanuel, a senhora sabe aonde eu quero chegar né?

— Já percebi e concordo com você, vamos manter a Carla longe do Emanuel. Mesmo meu filho sendo um homem de caráter, uma mulher apaixonada pode estragar muita coisa.

— Ou uma interesseira né tia? Porque ali acredito ser a segunda opção.

— Mas e seu irmão, eu sei que já andou ciscando naquele terreiro. — Abri um sorriso quando ela disse isso.

— Se preocupa não, meu irmão está de olho em outra pessoa, e Guilherme apaixonado só tem olhos para uma mulher.

— É os Rodrigues tem isso mesmo, quando se apaixona não olham para mais ninguém.

— Então vou avisar a mamãe, e amanhã mesmo a vaca, ops quer dizer a Carla vai trabalhar lá.

— Amanhã eu aviso a Carla, e ela vai no outro dia não se preocupe, agora me deixa ficar de olho nos meus netinhos.

Me despeço da minha tia e vou embora, preciso pensar no que farei com a Carla vaca lá em casa.

Meu celular desperta, já são seis horas da manhã. Troca de roupa correndo e sigo para o estábulo, pego minha égua Goiaba e vou para a fazenda da tia Manuela, assim que chego, vejo todos na mesa do café da manhã.

— Valentina minha princesa o que aconteceu? — tia Manuela me olha assustada comendo um pedaço de boto.

— A Kate já acordou? — digo ofegante por ter vindo correndo do estábulo até aqui.

— Brigou com o pente prima? — Bento meu primo fala com tom de zombeteiro, mas meu cabelo não está tão ruim assim, eu acho, já que vim correndo.

— E você brigou com o seu? — não podia deixar quieto né.

— A morena está dormindo ainda. Senta toma café acho que nem fez isso ainda, — sorri agradecendo isso era verdade, minha mãe nem me viu sair.

— Verdade não fiz. — Me sentei e vi a Carla, eu não ia aguentar esperar a tia contar. — Bom dia Carlinha.

— Bom dia Valentina. — Ela faz uma cara de nojo para mim quando fala, mas nem ligo.

— Bom dia senhorita Valentina, ou bom dia “patroinha” para você. — Ah vou me divertir com a Carla na fazenda do papai.

— Você não é minha patroa. — Carla responde ríspida e eu sorrio.

— Não está sabendo da novidade? — bebo o café e olho para Carla abrindo novamente o sorriso.

— A partir de amanhã você vai trabalhar lá em casa. Como você é registrada pelo tio Isaque, ele pode escolher qual propriedade ele quer te mandar e bom, mamãe está precisando de uma nova ajudante. E eu pedi para você ir e a tia Manuela concordou. — Eu queria tirar uma foto da cara que ela faz.

— É verdade patroa? — Carla olha para minha tia que só confirma com a cabeça e Carla volta a olhar para mim. — Eu te odeio.

— Eu te odeio “patroinha” Valentina. — Carla engole algum xingamento na hora que eu a respondo e sai batendo os pés com força.

— Não precisava disso prima. — Olho para Emanuel e reviro os olhos, aí como pode ser besta assim, estou salvando—o de acontecer alguma merda com essa louca.

— Claro que precisava essa aí arrasta asa para você. — Respondo pegando um pedaço de bolo.

— Arrasta asa não, ela arrasta é um caminhão cheio de boi mesmo. — Agora é meu tio Isaque que fala concordando.

— Foi melhor assim e eu concordei. Não ia dar certo a Carla aqui com a Kate meu filho. — tia Manuela fala e eu sorrio bebendo o café só imaginando as estilingadas que vou dar nela.

— Por que tanta raiva da moça Valentina? — tio Joaquim pergunta curioso e todos se viram para mim, que saco.

— Ela matou o Caco. — Digo com voz de amargura eu gostava tanto do meu bichinho e aquela praga o matou, mas os desalmados naquela mesa começaram a rir de mim.

— Você pega no pé da coitada porque ela matou seu sapo? — Emanuel pergunta e eu reviro o olho.

— O Caco era inocente ele estava quieto comendo as moscas dele até aquela assassina entrar na varanda e ver o coitadinho lá e começar a bater nele com a vassoura, eu vi tudo eu assisti aquele homicídio. — Ainda me lembro dele esmagado no chão.

— Seu irmão te deu outro sapo Valentina. — Meu tio fala segurando o riso, ele até deu, mas não gostei dele como gostava do Caco.

— Eu sei, mas não vou esquecer a maldade daquela bruxa, meu Caco era tão bonzinho nunca fez mal a ninguém.

— Não escutei o galo que te dei cantar hoje sogra. — Raj fala tirando a atenção de mim e agradeci por isso.

— Verdade o Agenor não cantou hoje. — Ela responde de um jeito estranho e tanto meu tio quanto o Bento se olham, isso vai ser engraçado tio Isaque odiava aquele galo. — O que você fez com meu galo Bento?

— Não fiz nada mãe.

— E você Isaque?

— Não sei de nada minha onça linda. — Ele diz e eu seguro o riso, se falou isso é porque fez.

— ADELAIDE!!! — minha tia grita e ela vem correndo.

— Sim, senhora.

— O que vai ter para o almoço hoje? — vejo meu tio levantarse—se de fininho e até afasto a cadeira para ver melhor a cena.

— Galo Senhora.

— Quem te deu o galo?

— O patrão.

— Minha onça aquele bicho era barulhento demais.

— Vou conta até cinco e é melhor você se esconder. — Minha tia se levanta indo até ele com aquele olhar mortal. — Um, dois...

— Antes dela falar o, três meu tio a pega pela cintura a jogando nas costas e já sabemos como ele vai amansar minha tia, que coisa horrorosa. — Me põe no chão Isaque, anda.

— Calma que já vou pôr e vai ser lá no quarto.

— Tem criança aqui sabia? — Bento grita, mas eles nem responde.

— Vou sair hoje com a mamãe, depois que ela conseguir sair daquele quarto. Dar entrada nas vacinas do gado, então nada de fazer estripulias com a minha morena. Ela ainda não está recuperada e é perigoso Valentina. — Emanuel chama minha atenção já que eu estava de olho na Carla lavando os pratos com uma cara de bosta.

— Eu sei pode confiar em mim primo. — Sorrio e ele fica de cara fechada.

— Eu não confio em você nem um pouco Valentina, esse seu sorriso me dá medo.

— Eu sou um anjo primo.

— O diabo também era. — Bento responde levantando-se—se rápido, ele sabe que eu odeio quando fala isso.

— Corre não filho de uma égua eu te pego. — Grito logo mordendo o bolo e saio atrás dele, claro que não ia deixar meu bolo ali.

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