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Capítulo 5 - Valentina

Valentina

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Depois de correr um pouco atrás do Bento eu desisti, não gosto de correr eu odeio correr, prefiro correr se for a cavalo, do resto não para que, melhor caminha bem devagar. Sento-me—me no sofá e fico de olho na Carla, a vaca vai trabalhar lá em casa estou pensando.... Acho que vou passar superbonder na touca que ela usa para fazer a comida, vai grudar todos os cabelos e para sair vai ser bem engraçado.

— Princesa cadê o Emanuel? — me viro vendo a tia Manuela descer as escadas e vir em minha direção com um sorriso largo no rosto enquanto tio Isaque arruma o cinto da calça. Será que eles não percebem que já estão velhos para fazer essas coisas não?

— Foi para o quarto, acho que foi chamar a Kate.

— Chama ele lá para mim, estou com pressa para levar a documentação. — Abro um sorriso pensando “pressa né, até minutos atras não, era pressa não”

Subo até o quarto do meu primo e entro sem bater, saber que é errado eu sei, mas já é costume todo mundo faz isso na família. E pego meu primo quase engolindo a Kate em um beijo.

— Primo... eita desculpa. — Ele para de beijar ela e fica me olhando e eu acabo sorrindo, é tão bom ver os dois juntos de novo.

— O que você quer aqui, Valentina? — sua voz sai irritada, mas nem ligo.

— Eu vim te chamar, porque a tia Manuela saiu do ninho de amor deles.

— Vou indo morena e toma cuidado, não confia nessa maluca em. — Eu, maluca fala sério? Acho que sou a mais correta de todos eles. Meu primo passa por mim e dá um peteleco na minha testa e eu fico num ódio, mas Emanuel é o primo mais gente boa da família.

A Kate entra no banheiro e eu fico escorada na porta a esperando, não demora muito ela sai vestida com uma calça legging, eu nem uso esses trens apertados no corpo, para que isso gente?!

— Aonde vai assim? — já pergunto com medo da resposta.

— Vamos correr Valentina. — Abro a boca sem acreditar, correr sério correr, para que isso.

— Eu odeio correr. E o primo pediu para ficar em casa. — Vou apelar para meu primo vai se cola né.

— Eu gosto. E preciso correr me faz bem. — Não foi dessa vez que apelar para meu primo deu certo, ô vida...

— Disso eu sei você sempre gostou de exercícios, já eu, tenho preguiça.

— Anda vamos logo antes que o Caio ou a Samanta acordem. — Bem que eles podiam acordar né.

— Então você e meu primo... — levanto as sobrancelhas as mexendo rápido e ela começa a rir, é tão bom ver o sorriso dela outra vez.

— Estamos namorando. — Acabo sorrindo e batendo palmas, animada.

— Aí que top a tia Manuela vai ficar muito feliz, todos nós torcíamos por vocês claro. Meu primo deve estar nas nuvens porque você disse sim, ele sempre quis.

— A gente nunca namorou Valentina? — mordo os lábios, ansiosa antes de falar.

— Olha de verdade na frente de todo mundo, não. Vocês ficavam escondidos sem compromisso, mas todo mundo sabia. Até que você decidiu terminar tudo que nem tinha começado, digamos assim. — sou sincera e ela faz uma carinha triste, acho que fui sincera demais.

— E, por que eu quis terminar? — pronto agora que eu comecei a falar, tenho de continuar.

— Porque você tinha medo da família não aprovar. Você foi quase criada pela tia Manuela desde os dez, onze anos. Então você não falava o que sentia por ele, mas sempre soubemos. Era lindo o amor de vocês e olha que eu era apenas uma criança quando percebi que tinha coisa entre vocês dois.

— Devia ser difícil né?

— Era, sim, Emanuel sofreu muito quando você foi embora para tenta esquecer ele, mas aí você voltou e bom fizeram a Samanta, pena que você foi embora de novo. E nem vimos você direito com o barrigão, eu mesma nem vi você gravida. — falei triste, pois eu queria ter visto.

— Nossa relação é complicada?

— Não. Sempre foi clara feito água, agora é só você aceitar o amor do meu primo, que tudo vai dar certo. Ele te ama muito e não se esqueça disso nunca, j**a essas dúvidas para o alto e aceita o amor dele, vocês merecem ser felizes, não aguento mais ver ele atrás de você e você fugindo. Qualquer hora dessa ele vai desistir e abandonar tudo, estou te avisando Kate. — Falo logo para ver se entra na cabeça desmemoriada dela.

— Não vou. Vou tentar fazer as coisas certas dessa vez. E como todos já sabem, eu não preciso ter medo né?

— Não mesmo. Na verdade, estamos ansiosos para vocês se acertarem de vez. — Pelo, o que conheço da tia Manuela vai rolar uma festança enorme quando acontecer.

Vamos até à cozinha para ela tomar o café e vejo a cara de bosta da Carla para a Kate, é bom mesmo manter essa daí bem longe do meu primo. Eu bem sei que ela estava doida para dar uns, pegas no meu primo, já pegou até meu irmão e agora quer o Emanuel, mas não vai mesmo.

Vamos à sala e a Kate pergunta para minhas primas se alguém quer ir com ela e eu rezando mentalmente para alguma “falar sim, eu vou” e me libertar desse martírio. Mas não, deram a desculpa das crianças, só que eu sei que isso se chama preguiça e ainda é pior que a minha.

— Bom somos só nós duas, Valentina. — Ela fala sorrindo e eu tento me animar, mas não dá.

— O que eu fiz para merecer isso? — penso alto e ela ri da minha situação.

Ela me mostra como faz o alongamento e eu até tento, mas estou de short jeans e de bota de cano baixo, não é uma boa opção para correr. Mas fazer o que. Ela começa a correr na minha frente e eu tento acompanhar, mas sinto minha respiração falhar e meu coração pulando. Para que isso gente?! Correr não é bom não, não para mim.

— Eu vou morrer se continuar correndo assim. — digo ofegante.

— Para com isso Valentina, não tem nem dez minutos.

— E vamos correr quanto tempo? — acho que vou colocar os bofes para fora, socorro!!

— Meia hora. — Paro na mesma hora, colocando as mãos no joelho, sério meia hora que isso ela quer me matar, respiro fundo e estico o dedo em sua direção.

— Você está maluca. Meia hora eu já morri sem ar, para que isso.

— Porque é saudável, fazer exercícios faz bem.

— Para quem? — a olho indignada e ela sorri de volta. —

— Para o nosso corpo Valentina. Larga disso e vamos continuar. — Bufo de raiva, mas sem opção eu continuo correndo.

Claro que eu ainda reclamo, não é algo que eu goste e só estou fazendo por causa dela. Mas aí me aparece no meio do pasto aquela criatura a cavalo, até aqui ele me persegue. Que sina! Arrumo meu corpo para não parecer tão deplorável com a minha situação de quase morta. Ele se aproxima e tira o chapéu sorrindo para falar comigo e mesmo com um ódio mortal do Daniel não posso negar que ele tem um sorriso bonito.

— Bom dia. Está acontecendo algo Val? Você está correndo, isso é milagre, ou alguém vai morrer, ou vai chover prego. — Filho de uma égua, eu estou quieta na minha e ele vem procurar enguiço comigo e ainda abre o sorriso esperando a minha resposta.

— Não te interessa o que estou fazendo peste. Nem sabia que você estava aqui. Veio fazer o que sendo que seu lugar é lá em Goiás e não aqui? — falo sobre andar nos pastos a cavalo.

O trabalho dele é lá em Goiás e não aqui. Só quando chama para mexer com o gado mas esse não é o caso, já que aqui ele é convidado hoje. E não tem de trabalhar. Em vez de estar quieto não, ainda consegue vir me atormentar.

— Que isso criança olha a educação. Eu vim com meu pai para a festinha da dona Kate. — Acho que ele é burro né, só pode claro que eu sei que ele veio para a festinha, até me segurou para não cair. Daniel tem hora que é mais sínico que eu, pois ele sabe muito bem do que estou falando e se fingi de besta, mas de besta não tem nada não. — Não finja que não me viu lá Val, eu sei que me viu.

— Em primeiro lugar não sou criança, em segundo lugar não, eu não te vi ontem, porque tinha coisas mais importantes para fazer. — Como convencer a tia Manuela a levar a Carla para minha casa! “Ah Carlinha eu quero atormentar a sua vida.”

— Mas é “mintirosa” mesmo. — Ele sorri e eu fico com muita raiva, ele sabe como eu odeio quando ele fala assim, só para me lembrar das vezes que eu falava errado.

— É mentirosa e não “mintirosa”, Daniel. E para de me chamar de Val eu não te dei ESSA intimidade e nem somos amigos. — Não mais. Cruzo os braços, acima do peito e arqueio a sobrancelha, ele sabe que estou irritada.

— Tudo bem criança, quer que eu te chame de patroa é! Mas não vou, porque não é minha patroa e sim sua tia. Bom o porquê está correndo afinal? — o encaro com raiva. Mas é muito atrevido essa peste mesmo, não vou contar pode me perguntar o dia todo e eu não vou contar. Ainda fica me olhando e sorrindo apoiando os cotovelos no pescoço do cavalo para se inclinar na minha direção.

— Estamos fazendo exercícios, eu gosto de correr de manhã. — Olho para Kate sem acreditar que ela disse, não era Dara falar.

— Só a senhora para fazer esse milagre. — Ah Daniel, não procura enguiço comigo não que estou de boa.

— Não me chame de senhora, eu não estou velha. — Kate fala envergonhada.

— Que isso senhora. Não é por estar velha não, é por respeito, já que a senhora é mulher do filho do patrão. — Vou esganar o Daniel com essa língua grande.

— Cala a boca Daniel. Não é para estar falando essas coisas para ela. Não vê que ela fica confusa, tem de ir devagar. — Digo e ele me encara, depois a cumprimenta com a cabeça, o bicho besta mesmo.

— Desculpa senhora. Mas é respeito, todos aqui e em Goiás, sabe que temos de respeitar a senhora. É como filha para os patrões e todo mundo sabe. — Agora melhorou um pouco.

— Obrigada Daniel. Eu já entendi, ou melhor, estou começando a entender. Mas não sou mulher do Emanuel.

— Vixi! Nem desmemoriada muda! Ops desculpa senhora, pensei alto. — Eu vou matar essa peste

— Vaza daqui Daniel, não vê que está atrapalhando.

— Vão para onde? Quero saber, se o patrão perguntar? — Ai que saco, ele não sai do pé, é pior que chulé.

— Vou levar a Kate para a lagoa, ela sempre gostou de ficar lá. — Digo logo, porque ele não vai desistir, ele é assim quanto mais você nega alguma coisa, mais ele fica no pé enchendo o saco.

— Toma cuidado em Val, e senhora não confia nessa criança não ela é uma peste. — Abro a boca sem acreditar que ele usou o apelido que dei nele, para se referir a mim.

— Peste é você, que vem de outra cidade para me encher o saco Daniel, vai te embora anda. — Bato na anca do cavalo que sai correndo, Daniel segura o chapéu e começa a sorrir, bem que ele podia cair de bunda no chão.

— Ele parece ser legal. — Kate fala e eu reviro os olhos, legal eu sei.

— É. — respondo sem ânimo nenhum.

Continuamos aquele martírio de correr mais alguns minutos. Até que chegamos na lagoa, mais que depressa eu tirei meu short e minha blusa. Ficando só de calcinha e sutiã, meu corpo não tem muita carne não, só a bunda que isso eu tenho ainda bem, mas meus peitos são pequenos.

A água estava uma delícia e a Kate entrou comigo, estava tudo legal até ela subir em uma pedra e pular! Eu entrei em desespero, vendo—a se afundar, tentei a puxar, mas não conseguia. Então Emanuel apareceu do nada e a tirou da água me ajudando, depois dele fazer respiração boca a boca e ela cuspir a água que engoliu ele a pega no colo a colocando dentro do carro.

— Eu quero ir com você Emanuel, eu quero ficar perto dela. — Ele me encara nervoso, e quando ele fica nervoso é tenso demais. Ele fecha a porta do carro e segura em meu braço com força, mas não o suficiente para me machucar, por mais raiva que ele esteja Emanuel, nunca machucaria ninguém da família.

— Vai para casa Valentina, eu disse para você não sair de casa com ela e você me desobedeceu. Se acontecer algo a culpa vai ser sua e não vou te perdoar, então vai para a casa agora e larga de ser essa teimosa que você é. — pode não machucar fisicamente, mas no psicológico, isso ele faz e faz bem.

— Katerine queria correr primo. Ela gosta de correr, e chamou as outras mulheres para vir com ela, mas elas não vieram só eu que vim. Não achei que trazer ela para a lagoa ia trazer problemas afinal ela queria conhecer a fazenda, e você não pode a prender. — Ele solta meu braço respirando fundo.

— Tudo bem, mas vai para casa agora, eu vou levar ela para o hospital vá avisar os outros.

Ele nem espera eu responder e sai correndo cantando pneu, e agora eu estou mais lascada ainda, terei de voltar correndo de novo e dessa vez nem posso reclamar.

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