Contrato Inevitável
Contrato Inevitável
Por: Bruna Calil
01

ELENA ROMANO NARRANDO

Eu não esperava estar me casando aos vinte e oito anos com um homem como Dimitri Russo, mas aqui estou eu. Ao invés de trocarmos olhares apaixonados como todo casal, estamos sérios, vez ou outra fingindo um sorriso para os convidados. O cerimonialista está dizendo lindas palavras sobre o nosso amor que não existe, e isso faz com que eu me sinta levemente culpada pelo tamanho da mentira que estamos contando. Meu avô, na plateia, sorri para mim e acena com alegria... Afinal, estou realizando seu sonho, me casando com o que ele considera “um bom homem”.

A família Russo é extremamente rica, e Dimitri é o irmão mais velho. Ele aproveitou muito bem sua solteirice pelo que sei, e agora que foi abandonado praticamente no altar por Elle Ryans, aqui estou eu, fingindo ser sua amada “E. R.” como os convites do casamento diziam. Quem diria que as iniciais do meu nome poderiam me enfiar em uma furada dessa?

Depois que a cerimônia acabou e trocamos alianças, todos aguardavam o beijo dos noivos.

— Por favor, me beija. — Eu sussurrei. — As pessoas estão esperando.

Contrariado, Dimitri sorriu de forma falsa e me deu um selinho rápido.

Saímos da cerimônia de mãos dadas e direto para a festa. Ele não suportava minha presença, ao que parecia. Saiu andando para cumprimentar os convidados e eu fiquei para trás, vestida de noiva e assustada. Mas, não tinha o que fazer... Aceitei esse contrato e preciso erguer a cabeça, fingir que está tudo bem e atuar. Acho que no final das contas, esse é o papel mais importante da minha vida, afinal... Sou uma atriz falida com muitos escândalos nas costas.

— Nem acredito que alguém como Dimitri se casou com... Aquelazinha. — Ouvi uma convidada falando. Respirei fundo e fingi que não ouvia.

— Pois é. Uma mulher tão cheia de escândalos... Pelo que me lembro, ela protagonizou aquele filme ridículo com lobos e fadas. — A outra, com quem conversava, falou.

— Aquele filme é um horror. E a atuação dela é péssima.

Vi as duas darem risada e aquilo embrulhou meu estômago. Eu sei que fiz péssimas atuações, talvez eu não tenha nascido para ser atriz, mas... Ainda tiro um bom dinheiro com minha profissão. Falem bem ou falem mal, eu continuo enriquecendo.

A festa acontecia no grande jardim da mansão dos Russo. Depois que acabou e os convidados começaram a ir embora, apesar do casamento não ter acabado, Dimitri me chamou com a mão e eu fui até ele.

— Sim? — Eu o olhava nos olhos, tentando entender o que ele queria.

— Venha comigo até o meu escritório. — Disse, e eu concordei com a cabeça.

Caminhamos juntos pela casa e assim que entramos em seu escritório, ele trancou a porta. Seu olhar pra mim era de ódio, e eu sequer sabia o motivo. Acho que no fundo, ele me odeia pelo fato de eu ser Elena Romano, uma atriz falida, e não minha amiga, Elle Ryans. Talvez o ódio dele sequer seja por mim, e sim por toda situação... Mas eu não consigo entender, apenas suponho, porque Dimitri sequer tem uma conversa decente comigo.

Dimitri tirou uma pasta de dentro de uma gaveta que ele abriu com chave e enquanto mexia dentro dela, eu o observava. Ele é um homem lindo. Aquele cabelo castanho longo preso em um coque, a m*****a barba comprida e os olhos castanhos com sobrancelhas sempre cerradas encantam qualquer mulher, seja pobre ou rica. Seus ombros largos e corpo forte também encantam, mas não para só por aí. Ele não se veste como a droga de um mauricinho qualquer. Ele se veste como um bad boy pronto pra sugar sua alma se você deixar. Aqueles malditos anéis e correntes, sempre presentes no seu visual pesado, o deixam com um ar repleto de mistério. E eu odeio o fato de achar esse homem tão bonito, e ao mesmo tempo, tão detestável.

— Aqui está. — Ele disse, tirando um envelope de dentro da pasta e então, tirando os papeis dali de dentro. Pegou uma caneta de cima da mesa, e os assinou.

— O que é isso? — Questionei, o olhando.

— Nosso divórcio. Assine. — Ele entregou a caneta para mim, assim que terminou de falar.

Nossos olhares se cruzaram por alguns instantes. Eu engoli seco, não sabia o que fazer.

— Não foi isso que combinamos, Dimitri. — Eu falei, pegando a caneta de sua mão. Continuei olhando nos olhos castanhos de Dimitri, tentando entender o que se passa nessa cabeça rebelde.

— Eu não quero continuar casado com você por nenhum segundo a mais. Esse acordo foi um erro e uma perda de tempo. Por favor, assine o acordo de divórcio e anulação do casamento. — Ele falou, com o olhar frio para o meu lado.

Comecei a lembrar do motivo de eu ter aceitado esse contrato: Meu avô. Meu doce avô, que cuidou de mim pela vida inteira, e está a beira da morte. Seu sonho era ver eu me casar com alguém bom que cuidasse de mim, me ajudasse em minha carreira e me amasse incondicionalmente. Eu juro que tentei realizar esse sonho para ele, mas nunca consegui alguém que me amasse. Então, quando Dimitri me fez essa proposta insana, eu aceitei... Para ver meu avô sorrir nos seus últimos dias de vida.

— Dimitri, eu assino. Mas... Por favor, eu te imploro, finja ser meu marido ao menos por um mês. Meu avô não tem tantos dias de vida e... Quando eu aceitei esse contrato, te falei que era esse o motivo. Se eu me separar agora, isso será uma decepção para ele. Você entende? — Dimitri fechou os olhos e massageou as têmporas. — Eu não vou dar trabalho pra você, eu prometo.

— Você vive metida com escândalos, Elena. Como vou acreditar que você não vai me dar trabalho? — Ele disse, nervoso. — Sabe o que vai acontecer? Você vai arrastar a minha reputação para o fundo do poço, que é aonde você mora.

Tive vontade de chorar, mas prendi o choro.

— Por favor, Dimitri... Não faz isso comigo! Eu te livrei de uma vergonha imensa à nível nacional, o que custa você fingir ser meu marido por trinta dias? Você não vai precisar beijar essa atriz falida que você tanto odeia, não se preocupe. Não vai precisar me tocar ou olhar muito para a minha cara. Eu prometo pra você, vou me comportar. — Falei. Era meu último apelo.

Dimitri me olhou com piedade por alguns instantes. Depois, olhou para baixo, respirando fundo.

— Trinta dias, Elena. Apenas isso. — Eu sorri aliviada ao ouví-lo, e assinei o contrato de divórcio, ainda que relutante.

Entreguei o contrato para ele e ele o pegou, guardando na pasta.

— Obrigada por esperar. — Falei.

— Tanto faz. — Ele retrucou e respirou de forma profunda. — Eu espero que você não esteja armando pra cima de mim. — Disse, nervoso.

— Armando pra cima de você? Por que eu faria isso? — Questionei, com os olhos arregalados em extrema confusão.

— Ainda pergunta por quê? — Ele riu de forma debochada, quase como se minha pergunta fosse um absurdo.

Antes, ele que estava separado de mim por uma mesa, cruzou o espaço entre nós e segurou meu braço com firmeza. Ele estava sendo um cretino grosseiro.

— Dimitri, está machucando meu braço. — Reclamei, e ele girou os olhos, afrouxando a mão.

— Vamos deixar uma coisa bem clara aqui, linda. Eu odeio você, e tudo que você faz. Esse contrato de casamento foi um erro e nós vamos consertar em trinta dias. Agradeço pelos serviços de atriz se casando comigo, mas, se você aprontar qualquer coisa, eu vou acabar com você e com o restinho de reputação que você tem.

Eu engoli seco ao ouvir aquelas palavras. — Eu juro que não vou aprontar. — Falei e ele sorriu de forma irônica.

— Isso é bom para nós dois. — Disse. — Agora... Vamos, preciso fazer uma coisa.

Ele saiu me arrastando pelo braço, e eu fui andando com ele, meio que obrigada, já que estava sendo arrastada.

— Você poderia por favor parar? Está me machucando! — Pedi e ele parou de me arrastar. Bufou, ofereceu a mão para mim e eu a segurei. — Assim está melhor.

Ele andava com pressa. Meu vestido de noiva era simples, e dei graças a Deus por isso, afinal, seria difícil andar daquele jeito com um vestido extravagante.

Apesar de ser um casamento falso, eu dei o meu melhor. Comprei um vestido de seda cintilante, branco, com decote canoa, no modelo sereia. Eu estava com um coque no meu cabelo castanho, e passei uma maquiagem linda em todo meu rosto, mas foquei em destacar meus olhos castanhos enormes. Sim, eu estava bonita, mesmo aquelas cretinas que estavam falando mal de mim se surpreenderam com a elegância com que me vesti.

— Dimitri, aonde estamos indo? — Perguntei.

Dimitri não respondeu. Os convidados tentavam falar conosco, mas ele ignorou. Alguns fotógrafos tentavam se aproximar de nós do lado de fora da mansão, e até alguns repórteres, mas ele fez algo inusitado: Me usou como uma espécie de escudo humano para ir até o carro e, quando chegamos, ele entrou, sem sequer abrir a porta para mim. Excelente jeito de começar um casamento.

Entrei no carro e cruzei meus braços, enquanto ele começava a dirigir sem dizer nada.

— Dá pra você falar alguma coisa? Você tá sendo um perfeito cretino, sabia? — Eu reclamei. Ele dirigia, olhando para fora do carro, como se nada estivesse acontecendo... Como se eu sequer estivesse ali.

Depois de despistar um último fotógrafo que nos seguia de carro, ele respirou aliviado e eu também.

— Bom... Pelo menos não estamos mais sendo seguidos. — Eu comentei, tentando puxar assunto. Aquele silêncio era pior do que qualquer coisa.

Então, no meio da estrada, ele parou no acostamento, próximo a um restaurante. Ele desceu do carro e eu fiquei confusa, mas então, ele abriu a minha porta e me puxou para fora do carro.

— Ei, o que está fazendo? — Perguntei.

— Ligue para alguma amiga para te buscar. Tenho mais o que fazer. — Ele disse e foi andando para o lado do motorista.

Não acreditei no que ele fez. Comecei a chorar imediatamente e assim que ele entrou no carro, eu tentei abrir a porta do passageiro, mas era tarde. Ele havia trancado para que eu não entrasse mais.

Eu vi o carro partindo, e fiquei para trás. Hoje é definitivamente o pior dia da minha vida, e não adianta chorar, me meti nessa sozinha. Limpei minhas lágrimas, arrasada por tudo que aconteceu, e fui caminhando pelo acostamento.

Meus pés começaram a doer. Eu estava de sandálias, então as tirei e joguei longe.

— Maldito Dimitri! Maldito! — Gritei, em meio ao ódio e tristeza que sentia.

Comecei a pedir carona, mas quem pararia para uma pessoa vestida de noiva, chorando, no meio da estrada? Eu estou parecendo algum tipo de lenda urbana local, daquelas que contam para os caminhoneiros nos hotéis de beira de estrada. Mas então, um carro finalmente parou e eu fiquei surpresa ao ver quem estava dentro.

— Elena? — Ele disse, com os olhos arregalados.

— Oi, Timmy. — Falei, entrando no carro.

Timmy é o irmão mais novo da família Russo. Ele tem cinco anos a menos do que o idiota do Dimitri, portanto, tem vinte e cinco anos.

— O que aconteceu? — Perguntou. Eu apenas coloquei o cinto e neguei com a cabeça.

— Olha... Só me leva pra casa, tá? — Pedi, o olhando.

Ele concordou com a cabeça, e voltou a dirigir.

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