05

ELENA NARRANDO

Enquanto eu estava sendo arrastada pelo braço sei lá até onde pelo jardim, vi Elle, a minha amiga-não-mais-tão-amiga-assim, já que ela parece ter declarado guerra à mim depois do contrato com o Dimitri. Ele finalmente me soltou e começou a se aproximar de Elle, que abriu um sorriso malicioso e ia colocar as duas mãos em seu peitoral. Ela parou no exato momento que me viu, e seu sorriso se desfez. Eu passei a mão em meu cabelo castanho, sem entender muito o que estava acontecendo, afinal, por que ele me trouxe ali?

— Elle, precisamos conversar, nós três. Vem aqui, Elena. — Dimitri pediu e eu me aproximei.

— Sim? — Falei, olhando para os dois.

— Eu e a Elena nos divorciamos. A verdade é que nunca planejamos nos casar, foi algo... Que precisou acontecer, entendeu? É você que eu quero, Elle, saiba disso. — Dimitri disse e cutucou minha cintura, o que me fez erguer a coluna.

— É, é exatamente isso. — Eu falei, por causa do que ele fez. — O Dimitri e eu sequer trocamos um beijo além daquele na frente de todos no casamento.

Elle arregalou os olhos, chocada. Se eu não fosse uma péssima atriz, diria a ela que é uma péssima atriz também, mas eu não tenho muita moral. Que cara falsa de surpresa!

— Vocês se separaram? — Ela disse, ainda com aquela cara.

— Sim, nos divorciamos. — Eu afirmei. — O casamento só durou três dias. — Eu falei e olhei para baixo, mais uma vez completamente constrangida.

— Três dias, Elena? O casamento durou menos de uma hora. Se esqueceu que eu te fiz assinar o acordo de divórcio ainda na festa? Por favor, Elena, me ajude a explicar para a Elle... Por favor! — Dimitri disse.

Eu concordei com a cabeça.

— É mesmo, eu me esqueci desse detalhe, mas agora que você falou, eu lembrei. Desculpa. — Falei e olhei para os dois. — Eu não quero estragar a vida de vocês, tá? Assinei o divórcio, era o que vocês queriam... Não quero ficar no caminho de vocês.

— Não é o que parece. Você ainda está aqui, parada, olhando pra gente. — Elle disse, de forma grosseira.

Eu olhei para Dimitri e agora, foi minha vez de arrastá-lo pelo braço. Eu o levei para um canto e sussurrei.

— Não se esqueça que você precisa colaborar comigo por trinta dias. Até agora, eu fiz tudo que você me pediu... Por favor, não me traia. Eu preciso fingir que sou feliz para o meu avô, eu quero que ele tenha um final de vida contente. — Falei e o olhei nos olhos. Por favor, sinta pena de novo, Dimitri. — Por favor. — Pedi, uma última vez.

— Não vou esquecer disso. — Ele respondeu, sem esboçar reação nenhuma. — Olha, eu vou te levar pra casa e deixar você lá... Tá? — Ele disse, parecendo um pouco menos agressivo.

— Tá. — Falei e cruzei meus braços. — Desculpa estragar tudo. Eu não quero que você me odeie.

Dimitri respirou fundo, como se estivesse arrependido de suas grosserias. Então, de repente, ele fez algo que realmente me surpreendeu.

— Me desculpa por ser grosso com você e por... Te arrastar por aí como se você fosse a porra de um pipa. — Isso acabou me fazendo rir.

Acontece que com as sequelas do acidente, eu acabo não conseguindo prender muito minhas emoções. E eu me imaginei em forma de uma pipa, sendo arrastada por ele.

— Tá, tá desculpado. — Falei, controlando minha risada e passando as duas mãos por meu rosto. Dimitri esboçou um pequeno sorriso, bem pequeno mesmo, e então, fomos para o carro.

Elle obviamente foi junto. Eu sentei no banco de trás, e fui levada até a minha casa.

DIMITRI NARRANDO

Desde que olhei nos olhos de Elena pela primeira vez, eu não sei o que essa garota é e o que ela causa em mim. Já sei que ela é uma pessoa problemática, não pesquisei nada sobre a família dela, não quero saber... O que importa é o que eu sinto: Rancor. Elena estragou a minha festa de noivado, e me fez passar a maior vergonha da minha vida. Por sorte, consegui reparar as coisas para não estragar minha reputação mais do que já era estragada.

Eu não sou um cara muito bonzinho, não. Dos filhos da minha mãe, Gabriella e Mauro, eu sou o mais terrível. Meu irmão Timmy está sempre fazendo o papel de bom moço, e eu, o papel do cara que é o vilão motoqueiro, que fuma, bebe e sai com a mulherada. Eles acham que eu não tenho futuro... O que eles não sabem, é que eu estou planejando meu próprio futuro longe dessa família doida.

Quando precisei de uns investimentos, acabei sendo modelo de calendário, usei umas roupas personalizadas para mim no dia, e tiramos umas fotos comigo em uma moto. Não era nada muito revelador... O que apareceu foi meu peitoral com o colete de couro aberto, e isso já faz um bom tempo. Eu fiz isso porque queria abrir minha própria empresa, escondido do meu pai e sem usar um centavo dele. E eu consegui.

Aí eu conheci a Elle...  E decidi “mudar de vida”, até o dia do maldito baile de máscaras há um tempo atrás, onde a Elena apareceu com a roupa e a máscara da Elle. Nosso casamento já estava decidido, sabe? Tínhamos feito os convites, cotado buffet e tudo mais. E eu pedi a Elena em casamento na frente de todo mundo, não a Elle. Aquilo acabou com a gente, porque depois disso, a Elle fugiu e não quis saber de mim. Eu tentei encontrar Elle, mas não consegui, ela literalmente fugiu do mapa então... O que me restou foi... Implorar para que a Elena casasse comigo de mentira no dia do meu casamento mesmo, para eu não passar vergonha na frente de todos. Eu juro que esperei até o último minuto, esperei que Elle aparecesse, mas ela não apareceu... No fim, como ninguém conhecia a Elle, não repararam na mudança de noiva no dia do casamento.

Agradeci muitas vezes por ela se chamar Elena Romano, porque os convites já tinham sido feitos e enviados, e estavam com as iniciais de Elle Ryans. Parece que tudo foi milimetricamente planejado para que eu tomasse no rabo, e que Elena estivesse nessa comigo. E é por isso que eu a odeio tanto.

— Chegamos, vou te levar até o seu apartamento, Elena. — Eu falei e desci do carro.

Abri a porta para Elena, e entramos no prédio dela. Ela cruzou os braços e olhou para baixo assim que entramos no elevador. Parecia que tinha medo de mim, e eu confesso que também teria se estivesse no lugar dela. Acho que eu fui rude demais, não sei.

Quando o elevador abriu, Elena foi até a porta do apartamento dela e eu a acompanhei.

— Vai ficar bem? — Perguntei.

Ela abriu a porta e eu olhei para o apartamento de relance, mas vi diversos papeis pequenos, como postits colados por toda parte.

— Vou sim. Obrigada por me trazer e mais uma vez, me desculpa. — Ela entrou e fechou a porta.

Por que alguém cola tanto postit pela casa?

Entrei no carro, pensando no motivo de uma mulher ter tantos postits. Cocei minha cabeça e olhei para Elle, ao meu lado no carro.

— Não gostei da forma como você olhou pra ela. — Elle disse e cruzou os braços. — Não gostei mesmo.

— Do que você tá falando? — Questionei, e comecei a dirigir. — Tá maluca?

— Não, você olhou pra ela com... Sei lá, piedade. Não sei explicar, eu tive um pressentimento ruim e quero que você se afaste dela. — Eu respirei fundo ao ouvir o que ela disse e concordei.

— Tá, como quiser, madame. A senhora ficou um tempo fora, voltou agora e quer mandar em mim? Acho que a senhora está muito apressada. — Falei em um tom de brincadeira e ela girou os olhos.

— Não fui eu quem pediu a garota errada em casamento. — Ela resmungou. — Você fez merda.

— E você me abandonou no altar. Podia ter voltado e se casado comigo, ninguém perceberia o erro do dia do baile. Vocês duas tem quase a mesma altura... E outra, ela estava de máscara. — Eu continuei dirigindo e ela bufou.

— Você fala isso, mas seu avô viu a Elena sem máscara. — Eu dei os ombros.

— E daí? — Resmunguei.

— E daí que ele gritou a plenos pulmões que ela é sua esposa lá na festa, não se lembra? Tá com problema de memória feito a atriz devassa que você chamou de esposa até uns dias atrás? Cara, como você teve coragem de casar com ela? Ela é metida em um monte de escândalo... Faz coisas que até Deus duvida. É burra feito uma porta e esquecida demais. Você não sente vergonha?

Fiquei ressentido com o que a Elle disse sobre Elena. Apesar de eu odiar essa garota, depois que eu vi os postits e a forma como ela me olha, eu fiquei meio mexido. Não sei explicar o motivo.

— Olha, quer saber? Esquece isso. Não vamos mais falar de Elena Romano, esse é um assunto que me irrita. — Afirme.

— Só me promete uma coisa, Dimitri... — Ela disse e eu a olhava quando dava, enquanto dirigia. — Promete que não vai deixar essa maluca me prejudicar? Promete? — Ela disse.

— Por que está falando isso? — Perguntei.

— Porque ela é cheia de escândalos nas costas. A fama dela é horrível, você devia olhar na internet a quantidade de confusão que essa mulher causa. Ela está agindo como se fosse boazinha, né? Tadinha da desmiolada... — Elle girou os olhos ao falar. — Promete pra mim que não vai deixar essa garota me prejudicar?

— Você acha que ela tá se fazendo de doida? Por que alguém fingiria algo tão grave? Quer dizer, dá pra ver que ela é bem inocente, sei lá... Eu não acho que ela esteja se fazendo. — Eu falei e ela resmungou.

— Tá defendendo ela?

— Não, não! Não se preocupe, eu nunca vou deixar a Elena te prejudicar, tá? Vou te proteger sempre.

Chegamos na mansão novamente, e dessa vez, eu queria um pouco de privacidade com Elle. Eu a levei até meu quarto, e me sentei na cama. Elle sentou no meu colo e levou as duas mãos até meu rosto, iniciando um beijo. Eu senti falta desse beijo... Mas não consigo tirar a imagem da Elena triste no elevador da minha cabeça.

De repente, a porta do meu quarto abriu, e Elle pulou do meu colo. Eu girei os olhos ao ver que Timmy apareceu do nada para atrapalhar meu pequeno momento de prazer depois de tanta confusão.

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