03

ELENA ROMANO NARRANDO

Acabei voltando para o meu apartamento, pois não queria ficar sozinha na mansão dos Russo. Fechei meus olhos, já deitada na cama, e busquei paz em meus pensamentos... Mas era como se minha cabeça processasse milhões de informação por segundo. Abracei um travesseiro extra que estava na cama e respirei fundo. O que não me deixa dormir não tem a ver com a droga do contrato de casamento ou com o fato de eu ter sido abandonada na estrada. Eu não estou conseguindo pegar no sono porque toda vez que fecho meus olhos, vejo os olhos de predador de Dimitri me olhando. E quando eu digo “olhos de predador”, é porque uma vez, assisti em um documentário que predadores tem olhos diferentes: Suas pupilas são menores e se fecham o suficiente para enxergar uma presa parada há quilômetros de distância. Aqueles olhos castanhos avermelhados tem algum tipo de magnetismo, e o pior, eles são realmente olhos de predador. Ele tem as pupilas menores, eu reparei.

Fechei meus olhos com mais força, esperando que a imagem do rosto dele se afastasse da minha mente... Mas não foi exatamente o que aconteceu.

Quando abri meus olhos, ele estava deitado na minha frente. A luz da lua quebrava a escuridão do meu quarto e me dava a visão de algo mais escuro ainda: Os olhos dele, com pupilas agora dilatadas, peito arfante, e o rosto próximo o suficiente para que eu pudesse sentir sua respiração.

— O-o que está fazendo aqui? — Foi o que consegui falar.

Ele subiu por cima de mim, sem dizer uma palavra sequer. Tentei empurrá-lo, mas ele agarrou meus braços e os prendeu acima da cabeça. Ele roçava o nariz por minha bochecha e o deslizou por minha pele até alcançar meu pescoço. Eu engoli seco e tentava controlar as reações do meu corpo, mas eu não conseguia. Minha pele estava completamente arrepiada e eu estava embriagada com a presença dele. Podia sentir o cheiro amadeirado de seu perfume caro, e o toque rústico de sua mão em meu corpo. Ele roçava os lábios nos meus...

E então, eu acordei no susto. Meu coração estava tão acelerado que meu relógio de pulso marcou como se eu estivesse fazendo exercício físico. Passei as duas mãos em meu próprio rosto, tentando esquecer aquilo, e segui a minha vida.

Três dias após o casamento, eu não tive mais nenhuma notícia de Dimitri. Ele desapareceu. Eu fiquei assustada, pois nem uma mensagem simples ele respondia. Nem falou nada sobre os papeis que eu devia assinar e seu assistente não me procurou, então, eu estava totalmente no escuro.

Decidi ir até a mansão dos Russo, para ver se alguém me dava alguma notícia. Talvez ele tenha ido embora com Elle Ryans, mas ele poderia ter ao menos cumprido a parte dele do acordo, afinal, eu o ajudei e estou recebendo apenas desprezo em troca.

Fiquei surpresa com a quantidade de carros em frente à mansão e, quando entrei, percebi que estava acontecendo um evento. E o pior: Meu “marido” estava nele, e acompanhado por Elle! Senti meus joelhos falharem de tanto nervoso, mas respirei fundo e segui em frente. Eu não podia fazer nada além de exigir uma explicação.

Timmy apareceu primeiro, e me cumprimentou. Eu aproveitei para falar com ele sobre a noite em que bebi e não me lembro do que aconteceu.

— Ei, Timmy! — Falei, o cumprimentando. — E aí, tudo bem?

— Tudo, e você? — Questionou. — Três dias são mais que suficiente para melhorar de uma ressaca monstro que você deve ter tido depois daquela bebedeira, não é? — Perguntou e eu sorri.

— Eu estou ótima. Só que... Você me disse uma coisa na última vez que me viu. Que segredos, exatamente, você sabe sobre mim? — Questionei e ele sorriu de forma maliciosa.

— Esqueça isso, é melhor pra você.

Antes que Timmy continuasse a falar ou eu perguntasse mais alguma coisa, Dimitri apareceu e me lançou um olhar de raiva. Aquele olhar predador maldito que me fez arrepiar dos pés até a cabeça.

— O que está fazendo aqui? Eu não te convidei para o coquetel, Elena. Você não deveria estar aqui. — Eu cruzei meus braços e neguei com a cabeça.

— Você não cumpriu sua parte do acordo. Me prometeu trinta dias, e depois de três dias, já está agindo como um divorciado. — Eu sussurrei para ele, que segurou em meu braço e me levou para um canto.

— Você não pode estar aqui no meio dessas pessoas. Me desculpe, Elena, mas pessoas da alta sociedade como meus convidados não suportariam olhar pra sua cara. — Disse, com os dentes cerrados, ainda que sussurrando.

— Ei, eu convidei a Elena. — Timmy disse, entrando na briga entre eu e seu irmão.

— Eu acho melhor você não andar com esse tipo de gente, ou vai acabar corrompendo sua imagem de bom moço. — Timmy sorriu de forma irônica para Dimitri, e negou a cabeça.

— Você sabe algo sobre ter uma boa imagem? Porque eu acho que não, “motoqueiro de calendário pornô”. — Ele piscou um dos olhos para Dimitri, que fechou o punho e fez menção de acertar o irmão.

Eu segurei os braços de Dimitri, o impedindo de agredir Timmy.

— Por favor, Dimitri, não precisamos disso. Eu não vou ficar, eu só queria falar com você e esclarecer algumas coisas. Deixa pra lá, por favor. — Eu pedi.

Estava assustada. Dimitri parece ser um homem incontrolável, mas ao menos por hora, consegui controla-lo. Só que, como toda desgraça na minha vida é pouca, a minha querida sogra, Gabriela Russo, veio em nossa direção segurando uma taça de champagne. Ela me odeia muito mais do que Dimitri me odeia.

— Olha só quem apareceu... Não sabia que havia sido convidada. — Ela disse, de forma irônica. Seu cabelo loiro tingido e o colar de pérolas me fazem querer vomitar.

— Eu não sei se você se lembra, mas seu filho se casou comigo. — Falei, com a mesma ironia na voz que ela apresentou.

— Ah, olha quem está aqui! Elle Ryans! — Ela disse, alegremente, enquanto Elle se aproximava.

A saudação para Elle foi extremamente cordial e alegre. Ela conseguiu me fazer sentir pior do que eu já estava sentindo com aquilo.

— Oi, minha amada. — Elle respondeu, abraçada com ela.

Depois que se soltaram do abraço, Elle acenou para mim como se nada houvesse acontecido entre nós. Eu abaixei o rosto, completamente constrangida com a situação.

— Timmy, leve a Elena embora, por favor. Ela não precisa estar aqui, como já falei algumas vezes. — Dimitri disse, e eu olhei para ele pesarosa.

Um dia, talvez eu entenda o motivo de tanto ódio. Até lá, eu só posso aceitar.

Quando me virei para ir embora, algo aconteceu. O universo é implacável com a vingança, e eu não precisei mover uma folha sequer. Uma empregada tropeçou no vestido de Gabriela Russo, a mãe de Dimitri, e acabou derrubando seis taças de champagne em seu vestido caro. O líquido espirrou no vestido de Elle também, e todos se assustaram com o barulho. Dimitri foi ajudar Elle, e passou a mão vagarosamente por sua barriga, o que me fez ter um pensamento estranho: Será que Elle está grávida?

A música voltou a tocar enquanto limpavam a bagunça que acabava de acontecer. Então, o avô de Dimitri chegou, cumprimentando a todos com alegria... Inclusive eu.

— Olá, minha querida! — Ele disse, com um sorriso no rosto. — Que alegria em te ver aqui!

— Vô, aconteceu uma desavença entre nós, o casamento... — Dimitri tentou falar, mas o avô o interrompeu.

— O casamento continua. Porque ela é a mulher certa pra você, Dimitri Russo. Na nossa família somos contra o divórcio, você sabe muito bem. Então... É melhor você repensar no que iria falar, e começar de novo essa conversa. — O avô completou. — Aconteceu uma desavença, e aí? O que fazemos quando há uma desavença? — O avô disse, olhando Dimitri nos olhos.

— Conversamos e consertamos. — Dimitri respondeu, envergonhado.

— Isso mesmo, muito bem. — O velho sorriu. — E você, Elle Ryans, o que está fazendo aqui? Não é adequado que a ex-noiva do meu neto esteja em um evento como esse! — Elle deu um passo para trás.

— M-mas eu fui convidada! — Ela protestou.

— Se a lista de convidados tivesse passado por minhas mãos, como eu pedi, você não estaria aqui. Ainda mais depois de tudo que fez, senhorita Ryans. Por favor, se retire. — O avô disse.

Elle saiu constrangida da festa, com as mãos no rosto. Dimitri ficou sem saber o que fazer. Se ele fosse atrás de Elle, estaria desrespeitando seu avô... Se ele ficasse aqui, provavelmente arrumaria uma briga enorme com Elle.

Eu sorri de leve com a situação. Quando ele me olhou nos olhos, vi seu ódio no rosto e ergui uma das minhas sobrancelhas.

— Cheque-mate, bonitão. — Sussurrei.

Dimitri pegou minha mão com raiva e saiu me arrastando pelo salão, me levando para o mais longe possível de sua família. Ele respirou fundo e parou em um local afastado, passou as duas mãos no próprio rosto e me olhou com o mesmo ódio de sempre.

— Quem você pensa que é para vir aqui e estragar tudo que eu estou tentando construir? Já não basta ter destruído minha vida uma vez, vai querer destruir pela segunda? — Eu neguei com a cabeça, o olhando nos olhos com muita sinceridade.

— Eu realmente não faço ideia do que você está falando, Dimitri. Você quem está estragando as coisas. Me prometeu trinta dias e se divorciou de mim em três. Isso é ridículo! — Eu falei, sem tomar cuidado com a altura do meu tom de voz. — Você não cumpriu sua parte do acordo.

— Você nem devia me questionar sobre isso. Se eu fosse você, teria vergonha. — Cruzei meus braços.

— Mas vergonha do quê, exatamente? Por favor, me diz o que foi que eu fiz para você me odiar tanto! — Eu falei.

Dimitri negou com a cabeça e saiu andando, pelo mesmo caminho que Elle fez. Foi então que eu percebi que estava sozinha... De novo. E não tinha mais o que fazer.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo