Encarei a mulher, tentando entender exatamente o que acontecera. Ela era bem mais alta que eu, bem mais magra e seus dreds ficavam bem em seu rosto angular. Sua pele era marrom e ela parecia ter um apreço mais acentuado pela cor preta, já que suas roupas eram todas dessa cor. Um único adereço, uma bolsinha de couro amarrada na cintura, tinha tom marrom. Ao ver meu olhar se demorar naquela peça, segurou-a. Voltei a encarar seus olhos negros e vi que ela esperava que eu desse uma resposta.
— O-o-obrigada – murmurei.
Riu, parecendo achar algo realmente bem divertido.
— Esperava um pouco mais de eloquência de uma princesa das fadas – brincou. Ainda abri a boca, tentada a perguntar como ela sabia que era uma princesa quando me lembrei de minhas estúpidas e inúteis asas. Ela se aproximou e estendeu a mão para mim. &nd
Capítulo TrezeA escuridãoMinha cabeça estava explodindo.Tinha algo errado acontecendo, mas não conseguia me lembrar. Não conseguia nem abrir meus olhos porque sabia que estava claro demais e que isso iria piorar a minha dor.Mas, ei, sabia fazer aquilo melhorar!Concentrei-me no ponto da minha cabeça que doía e ativei o fogo. Ele queimou por minhas veias, por dentro de mim, e concentrou-se no ponto machucado. Não demorou muito até que se aquietasse e o deixasse voltar a dormir dentro de mim, sentindo-me totalmente nova.Suspirei, achando que podia voltar a tirar um cochilo agora que estava melhor. Remexi-me e percebi que não estava confortável. Por onde andava o meu macio colchão?Apalpei ao meu lado e encontrei algo duro e gelado. Franzi a testa e tentei me lembrar o que estava acontecendo antes de voltar a pegar no sono.O
Capítulo CatorzeO último suspiro— Me soltem! – berrei. – Eu vou queimar todos vocês!Meus apelos foram negados. Os dois rapazes continuavam o aperto firme em meus braços, me arrastando pela casa de pedra. Tentei convocar o fogo novamente, mas ele havia se escondido. O vento respondeu em meio ao vendaval do mar revolto e não consegui controlá-lo. Pensei em fazer algo com a água, mas acabaria por me descontrolar e afogar a todos.O que restava para mim?— Você é indigna de ser da mesma espécie da rainha – Ed sentenciou.As mulheres tinham sumido para cuidar das queimaduras que causara na etorn que me agarrara. Os homens, por outro lado, estavam muito ocupados em me carregar para algum lugar onde, provavelmente, tomariam banho com meu sangue.Descemos um lance de escadas e, ao final, havia uma porta. Assim que abriram-na,
Capítulo QuinzeA ajudaRecuperei a consciência assim que alcançamos a superfície. Puxei todo o ar que conseguia e passei o braço pelo pescoço da iara mais próxima, que riu da minha reação. Minhas asas, molhadas, estavam pesadas demais e caídas nas minhas costas, só fazendo com que sentisse ainda mais dificuldade na água.— Está tudo bem aí, princesa? – a iara que eu estava enforcando me perguntou.Eu ainda estava tentando respirar decentemente, mas percebi que ela estava planejando começar a nadar para a costa, então apertei ainda mais o abraço nela, rezando para não morrer afogada.— Não – respondi, fazendo as iaras rirem. – Mas vai ficar. Eu acho.Elas riram novamente e achei que estava andando com um bando de Sienas alegrinhas. Desejei chegar o mais rápi
Era uma vez uma fada.Sim, eu sei. Essa história já começa errada. Não me bastava ser diferente, uma fada, ainda tinha que fazer tudo isso da forma mais distante possível da normalidade.Meu reflexo, que eu podia ver nas águas do mar, mostrava uma garota arrasada, com cabelos extremamente cacheados. E, atrás dela, grandes e imponentes asas brancas e vermelhas. Capítulo UmA mudançaTrinta e seis horas antesO que eu faria agora?Encarei a quantidade de gente ao redor, sentindo que entraria em crise de choro bem em breve. Suspirei, dei a volta no quiosque, ficando escondida entre a parede e um ônibus estacionado, esperando que os passageiros subissem.Escorreguei pela parede até o chão e abri minha bolsa com cuidado. Eu não gostava de ficar parada ali, mas dentro da Central do Brasil era movimentado demais e sabia que cobravam para acessar os banheiros do subsolo. Então, contrariando meus instintos de proteção, tirei o celular da bolsa.Para quem ligaria? Era provável que minha mãe não quisesse me ver já que eu era um estorvo na vida daquela família. Tinha quase certeza que teriam preferido que eu tivesse morrido sozinha onde me acharam e que se arrependeram Capítulo Um: A mudança
Capítulo DoisO atrito— Não, Dona Júlia, ela não quer nem pensar em voltar.Eu acordei sentindo-me um pouco preguiçosa. Meus olhos não queriam se abrir, então apenas movimentei meus braços e fiquei escutando a voz do meu lindo namorado se propagar pelo quarto que cheirava a ele.Quase fui capaz sorrir.— Não, Mi está bem. E eu não vou levá-la pra casa enquanto ela não quiser. Ela vai ficar por aqui mpor quanto tempo ela quiser.Abri os olhos, finalmente entendendo o que estava ouvindo. Gui estava sentado na beira da cama, falando ao telefone e me olhando de forma protetora. Ele sorriu, quase triste, quando arregalei os olhos em sua direção.— Não é seqüestro, Dona Júlia. Ela não quer voltar pra casa e eu não vou obrigá-la. Acho que a senhora que dev
Capítulo TrêsA dor— Eu não queria te arrumar problemas, Gui – murmurei, duas horas depois, enquanto encarávamos mais um engarrafamento na ponte.Assim que saímos do apartamento, Guilherme me pusera dentro do carro, ligara a rádio e retornara. Ele me afastou da confusão e voltou sabe-se lá o porquê. Quase uma hora depois, estava de volta ao carro, o rosto fechado em uma carranca e mais algumas malas, demonstrando o quão duradoura seria sua estada na casa do pai. Talvez para sempre.Eu sabia que, além de deixar a mãe dele em maus lençóis, isso complicaria a sua vida. A faculdade e o estágio dele eram no Rio e enfrentar as barcas ou os engarrafamentos todos os dias, nos horários que deveriam ser feitos, não seria fácil.Claro, também tinha minha própria faculdade e o meu emprego. Mas
Capítulo QuatroO desconhecidoO sol já estava alto quando despertei, incomodada com a claridade. A princípio, não abri os olhos, fechando-os com mais força por reflexo, ainda sensível às dores e incomodada com a disformidade do local em que estava deitada, minhas costas ardendo ao contato com a superfície. E, além de tudo, estava enjoada.Tinha algo muito errado com o lugar onde estava deitada. Ele balançava.Abri os olhos e me sentei no sustoe, mostrando espanto ao perceber onde estava. Era um pequeno barco de pesca de madeira em meio ao alto mar. Estava na parte de trás, meu violão aos meus pés e o garoto estava à frente, sem a toca e com a mão na água.— Ei, calma lá, garota – olhou para mim quando o barco balançou demais por ter me sentado. Ao reparar o meu pânico, mudou a feiç