NATÁLIARicardo me levou até a enfermaria, que estava cheia de membros feridos da matilha e rogues. O fedor putrefato de carne queimada pairava no ar como um fantasma assombrando minha própria existência.Meus dedos se apertaram em torno da mão de Ricardo enquanto a dor e a culpa ameaçavam me consumir por completo.Cada passo que me levava perto de Ana enviava minha mente para um transe de entorpecimento. Eu não conseguia sentir meu corpo, meu lobo, meu coração. Eu me sentia fria e a única coisa que me mantinha aquecida era a mão de Ricardo entrelaçada com a minha, me assegurando que tudo ficaria bem.— Aqui. Ela está dentro. — Ele parou do lado de fora de uma sala e me puxou para a frente.A porta estava aberta, permitindo que eu espiásse para dentro. Meus olhos pousaram primeiro nas costas de um homem desconhecido. Ele estava ao lado da cama, olhando para Ana.Meu olhar viajou para o rosto de Ana e minha respiração ficou presa na garganta. Meus pulmões doíam, meu rosto aquecia.
NATÁLIA— Ana. — Eu chamei seu nome novamente, mais alto desta vez.Ela não respondeu. O som do seu coração batendo se afundou ainda mais até se tornar um fraco tik-tik nos meus ouvidos e nada mais.— Ana. — Eu gritei, lágrimas escorrendo pelas minhas bochechas.Eu baixei a cabeça, a raiva tomando o lugar da dor rapidamente. Um espinho perfurou meu coração, fazendo-me sangrar por dentro.Fechando os olhos, eu respirei fundo. Era tudo minha culpa.Meu aperto se tornou mais forte em torno da mão dela até que eu estivesse inconscientemente puxando seu sangue. A onda de energia disparou pela minha mão até sua carne, rápida e tranquilizadora.Todas as memórias, todos os momentos, toda a minha vida passaram diante dos meus olhos. Seu sorriso brilhante, os modos travessos e aqueles hábitos estranhos me fizeram chorar ainda mais.Nós éramos amigas — verdadeiras amigas. Ela cuidou de mim melhor do que minha própria família. Se alguém disser que isso não é verdade, eu nunca acreditarei.
NATÁLIAA fraqueza não desapareceu mesmo quando eu acordei na manhã seguinte e me lavei. Procurando por Ricardo, eu desci as escadas e o encontrei sentado no sofá de forma descontraída.Bernardo estava de pé na frente dele, encarando-o ferozmente. Seus olhos estavam sombreados, revelando a comunicação através do vínculo mental.— Sério? — Eu ri, capturando a atenção deles.Bernardo me lançou um olhar irritado que ele imediatamente disfarçou com um sorriso forçado. Ricardo lentamente se virou para mim, seus olhos percorrendo meu corpo antes de finalmente encontrar meu olhar.— Vocês dois estão fazendo algo secreto de novo. — Eu resmunguei, passando os dedos pelo meu cabelo.— E, babê amor? — Ricardo sorriu preguiçosamente.— E eu preciso saber o que é. — Eu baixei minha voz, murmurando. — Você e Bernardo não estavam aqui ontem à noite. Ninguém conseguiu se conectar mentalmente com vocês dois e os rogues estavam causando estragos.— E você matou cinquenta e seis deles. Problema r
NATÁLIAEu me sentia... calma. Estranho!Eu deveria estar furiosa, pronta para me transformar em algum maldito dragão e sugar a vida da mulher que afirmava ser minha amiga, mas que me traiu por tantos anos em segredo.Mas meus pés se recusavam a se mover. Minhas emoções enganavam minha mente, me compelindo a ficar ao lado da parede de vidro e encarar a casa do Beta.A maldita chuva decidiu que era o melhor momento para borrar o mundo e criar um barulho alto o suficiente para afogar todos os meus pensamentos inexistentes.— Ela dormiu com alguém para pagar pela poção? — Um sussurro fantasma escapou dos meus lábios.Era tão... inacreditável para mim.— Zero confirmou. Ele a seguiu por um tempo. — Ricardo respondeu.— O mate dela?O mate dela a pegou se prostituindo. Pode ficar pior?A mesma calma reinava em minha mente e mantinha meus olhos grudados na vista.— Isso é algum tipo de calma antes do... fogo? — Ricardo perguntou, parado no canto, com as costas contra a parede de v
RICARDOA pequena miss irritante estava mudando. Eu não sabia se ela estava crescendo ou o que diabos, mas eu conseguia ver a mudança.Ela não queria mais ser a segunda protagonista de sua própria história. Ela queria se envolver e mudar o fluxo de seu destino.Eu a observava enquanto dormia. Sua pele brilhava de vez em quando, me dando uma ansiedade desnecessária.Eu nunca me senti tão cauteloso em relação a ninguém antes. Era como se eu estivesse com medo de que ela pudesse fazer algo novamente e então se arrepender. Eu não me importava com os danos, mas me preocupava com seu estado de espírito. Eu não queria vê-la no chão do banheiro, sentada como um corpo sem vida.— Ele abriu a boca. Finalmente! — Bernardo bufou na minha mente, me fazendo pular.— O que ele te disse? — Eu rosnei pelo vínculo mental.Só havia alguns rogues vivos após toda a situação, e um deles conseguiu falar. Ele foi difícil de quebrar, mas Bernardo estava disposto a isso a noite toda antes de vir pela man
NATÁLIAEu não conseguia acreditar nessa merda. Aquele idiota saiu sem nem me dizer para onde caralhos estava indo logo após o ataque à matilha, e o perigo ainda estava à espreita.Além disso, ele prometeu me acompanhar aonde eu fosse e eu acordei para descobrir que ele tinha ido embora.Minha energia estava de volta, não totalmente, mas o suficiente para me fazer querer queimar a casa inteira dele para me vingar.Eu tomava um gole do meu smoothie que Rhianna havia feito para me acalmar. Minha pele brilhante assustava todo mundo, incluindo ela.— Quando ele vai voltar? — Eu coloquei o copo de lado, não muito educadamente, e a questionei.Ela me lançou aquele olhar travesso e ensolarado que já estava ficando cansativo.— Se eu soubesse, teria te contado ontem. — Rhianna se deixou cair no banco da cozinha, virando-se para me encarar.Já se passavam dois dias. E ele não havia retornado. Para piorar as coisas, eu continuava me sentindo miserável de vez em quando. Eu tinha certeza d
NATÁLIA— É você. É realmente você. Eu não consigo acreditar nisso. — Rhianna apertou os braços da garota, se certificando de sua presença.Eu desviei o olhar de Ricardo e observei a garota magra. De fato, ela era linda... e estava viva.Viva. Eu estou sonhando? Até a palavra "viva" soa estranha.Ela estava morta. Ela está...Eu respirei fundo, me perguntando se ainda estava dormindo e se tudo isso era um pesadelo fodido.— Eu... Você... o que aconteceu com você? — Os soluços de Rhianna me tiraram da letargia.— Leve-a para o quarto. — Ricardo disse a Bernardo.Meu olhar mudava entre eles um por um. Eu realmente acreditava que estava prestes a acordar do pesadelo. Já era suficiente, não era?Bernardo puxou Britney para longe de Rhianna e segurou seus ombros para ajudá-la a caminhar para frente. Em vez de andar com ele, ela pulou para Ricardo, agarrando seu bíceps e pressionando seu corpo contra o dele.A dor se enrolou ao meu coração mais uma vez. Não era para doer em sonhos.
RICARDO— Não — Não me rejeite. Dói até ouvir ela dizer isso. Eu fiquei surpreso por não ter considerado rejeitá-la nem uma vez.Sim. Britney voltou e tudo, mas eu ainda não consegui pensar em deixá-la ou deixá-la ir.— Eu não vou te rejeitar. — Eu disse a ela, esperando que isso fosse suficiente para dizer uma vez.— Não. Você — Você vai me rejeitar agora que ela voltou. — Ela esfregou o nariz contra minha camisa, chorando alto pra caralho.— Não. Eu não vou fazer isso. — Eu acariciei suas costas suavemente.Ela se afastou de repente e olhou para mim com seus olhos âmbar ardentes. Aqui estava — a miséria se transformando em raiva.— Você deve estar tão feliz. Tudo o que você queria era ela e ela está viva! — Ela se soltou do meu abraço, dando um passo para trás. — E agora você vai me jogar fora porque eu não sou útil para você.— Eu não tenho a intenção de te jogar fora. — Eu rosnei, frustrado com essa reviravolta porque eu não sabia como reagir, o que fazer.Uma coisa da q