A cada dia que passava, era mais evidente o fato de a grande metrópole Westfield ter se tornado parte de um passado de honra e prosperidade. As ruas, antes extremamente movimentadas e ruidosas, naquele momento eram um grotesco deserto, em que imperava o silêncio e a sensação de abandono. Seus habitantes, já sem vida há muito, caminhavam a esmo, tropeçando em guias de calçada, olhando para restaurantes onde jamais irão jantar, sentindo o cheiro de mofo e morte. Seus ouvidos aguçados ouviam somente os lamentos dos cadáveres companheiros, que chegavam em hordas cada vez maiores. Homens, mulheres e também crianças vagavam pelos quarteirões inóspitos e pareciam não se importar com suas peles e órgãos sendo expelidos de seus corpos em decorrência da decomposição.No entanto, alguns Carnívoros hospedeiros da variante do Orpheu, aparentavam maior agilidade e atenção, além de uma pequenina, porém existente porção de raciocínio. Também caminhavam sem destino, mas seus rostos eram voltados para
Não havia tempo para decidir se os olhos dos sobreviventes estavam realmente contemplando a realidade. Os túneis da rede de esgoto de Westfield estremeciam com os golpes e espasmos do monstro enorme que assomava diante deles. A imensa cauda do crocodilo ricocheteava nas paredes e no teto dos túneis, causando uma bizarra sensação de viver no tempo jurássico, onde os seres humanos já não compunham o topo da cadeia alimentar. Alex Stevens se colocou à frente do grupo e exclamou:— Fiquem todos juntos!— Mas que merda é essa? - indagou Kai Yagami, mais para si mesmo do que para os outros. — É uma mutação causada pelo Orpheu! - explicou Annchi - O vírus, quando injetado em certos organismos, pode aumentar a capacidade celular, triplicar a densidade hormonal e intensificar a níveis astronômicos o nível de adrenalina. — Isso quer dizer...? - questionou Sahyd Kai resolveu responder no lugar da doutora, antes que ela resolvesse dar mais uma explicação técnica totalmente irrelevante naquele
A noite abraça a metrópole de Westfield após mais um longo dia de solidão e agonia. O odor de morte circula por cada metro quadrado da cidade e, embora as ruas estivessem desertas, tornou-se impossível percorrê-las, face ao medo e a sensação de viver um pesadelo sem fim. Prédios pegavam fogo em cantos isolados, incontáveis veículos podiam ser vistos abandonados nas avenidas e calçadas. Alguns colidiram contra postes e despencaram em córregos. Caminhões estavam tombados, alguns com líquido inflamável escorrendo pelo caminho. O ambiente era de completa destruição, porém não havia cadáveres em nenhuma das circunstâncias. Aqueles que perderam suas vidas a recuperaram. Os mortos acordaram, repletos de fome e sedentos por morte e sangue. A cada dia, o vírus Orpheu fazia o papel para o qual foi desempenhado. Suas mutações e variações estavam por todo lugar. Mesmo os abutres, que se alimentaram da abundância de carne morta que se estendia por Westfield, tornaram-se criaturas horrendas, monstr
— Fiquem juntos! — exclamou Alex Stevens, vendo as criaturas mutantes se aproximarem, sedentas por suas carnes. A Magnum já estava carregada, a Ruger de Annchi Zhang também estava pronta para atirar; Beatrice Murray sacou a faca de combate e se preparou para mais uma batalha: A espada de Kai Yagami já estava sobre a sua cabeça; Lancelot Miller preparou seu taco de baseball e também se integrou à linha de defesa. Solomon Locke posicionou-se na retaguarda, com seu rifle de precisão. O que escapasse do ataque do grupo iria direto para ele. Havia cerca de vinte monstros; nenhum deles ostentava a atitude letárgica e semi-inoperante da maioria dos Carnívoros. Eram extremamente rápidos, tinham firmeza em seus movimentos e até mesmo seus olhares eram mais fixos e cruéis. Era impressionante a maneira que eles avançavam. Era de fato um exército de mortos-vivos. O doutor Delta alcançou o seu sonho doentio, cumpriu o que prometeu. O Orpheu fez nascer super soldados, guerreiros incansáveis e imorta
A jovem Tracey Murray correu, após anos de procura, ao encontro de sua irmã Beatrice, que ainda estava ao chão, ao lado do Carnívoro, abatido pela flecha em seu crânio. Ela se agachou e lágrimas de felicidade e alívio escorreram de seus olhos. — Finalmente te encontrei, Beatrice! Você... está bem? Está ferida?Beatrice olhava admirada para a irmã, ainda sem acreditar que o encontro era real. — Tracey...? Pensei que havia morrido! É você mesmo?— Sim, irmã... quando aquela tempestade passou e nosso barco afundou, lembro de tentar salvar você, mas acabei ficando sem forças... a última coisa que vi foi aquele policial mergulhar e te levar até a praia! Você ainda estava inconsciente depois de quase ter se afogado. Ele não me viu, pois fui levada pela correnteza logo depois. Depois, tudo se apagou e só me lembro de ter acordado em um vilarejo próximo a um cais. Não fazia menor ideia de onde estava e as pessoas ali não eram nada confiáveis. Acho que o mar me levou até uma vila de ladrões.
A esperança é, de longe, o sentimento mais motivador entre todos os que podem ser experimentados. É uma sensação que somente os seres humanos têm o conhecimento, até onde se sabe. É o impulso que nos movimenta, que faz se crer no improvável. Pode se dizer que é semelhante à fé. A esperança é como se fosse uma voz calma e confiante nos dizendo que, independente das circunstâncias, as coisas contribuirão para o bem daqueles que mantêm essa confiança. A esperança é uma luz, muito fraca, mas existente e que pode fazer uma grande diferença em uma situação de crise. Entretanto, a luz da esperança, de tão pequena e forte, pode se tornar a maior das frustrações, caso venha a se apagar totalmente. Pode-se perder tudo em qualquer situação, menos a esperança. E quando esta se perde, vem a desolação, vem a profunda depressão e tudo pode ruir em uma questão de segundos. Tracey Murray veio do Alabama, um lugar extremamente distante para encontrar sua irmã Beatrice e, de fato, conseguiu encontrá-la
A movimentação era intensa no laboratório subterrâneo onde atuavam os cientistas Mark Denver, Kassandra Winslet e o doutor Brandon Davis. Após uma força tarefa gigantesca, conseguiram trazer Kraken, a criatura que antes era o menino Dylan. Por um motivo desconhecido, ele estava no meio de uma avenida de Westfield, não abatido, mas adormecido. Brendon não parava de pensar na doutora Zhang e no quando era imprudente subestimá-la. Você é tão astuta, Annchi! Por que não está dividindo esse sonho conosco... e por que está na companhia daquele homem tão terrível...? O que está tentando provar?Naquela noite, não havia tempo para se pensar em muitas coisas. O espécime precisava ser reanimado e uma solução para um problema desconhecido precisava ser aplicada. Kraken foi derrotado, ele tinha um ponto fraco. Tal fato acendeu mais uma vez a desconfiança de Mark Denver, que chegou a passos silenciosos à presença do doutor Delta. — Investimos muito dinheiro, tempo e paciência no desenvolvimento
A criatura Kraken olhou fixamente para o ambiente onde agora se encontrava e sobretudo para Beatrice. Por alguma razão, ele sentia que aquela pessoa tinha uma importância que as outras não lhes faziam recordar. Entretanto, assim que seu cérebro desejava se recordar de algo mais pessoal e mais afetivo, imediatamente o casulo entrava em ação e, com uma poderosa onda de choque no crânio, disseminava todo o poder da adrenalina, fazendo o monstro enlouquecer. E foi assim que o Kraken avançou furiosamente na direção de Beatrice. Ele tentou esmagá-la, abrindo e fechando dois de seus quatro braços, mas ela rolou rapidamente para o lado. Sahyd interveio rapidamente e sacou a sua pistola para disparar contra o monstro. Ainda caída ao chão, Beatrice gritou:— Não, Sahyd! Por favor, não o machuque! Ele ainda é o Dylan!— Não o machucar? Beatrice, se não fizermos nada, ele vai nos fazer em pedaços!— Eu sei... me deixe pensar por um momento... preciso dar um jeito!A criatura correu na direção de