A criatura Kraken olhou fixamente para o ambiente onde agora se encontrava e sobretudo para Beatrice. Por alguma razão, ele sentia que aquela pessoa tinha uma importância que as outras não lhes faziam recordar. Entretanto, assim que seu cérebro desejava se recordar de algo mais pessoal e mais afetivo, imediatamente o casulo entrava em ação e, com uma poderosa onda de choque no crânio, disseminava todo o poder da adrenalina, fazendo o monstro enlouquecer. E foi assim que o Kraken avançou furiosamente na direção de Beatrice. Ele tentou esmagá-la, abrindo e fechando dois de seus quatro braços, mas ela rolou rapidamente para o lado. Sahyd interveio rapidamente e sacou a sua pistola para disparar contra o monstro. Ainda caída ao chão, Beatrice gritou:— Não, Sahyd! Por favor, não o machuque! Ele ainda é o Dylan!— Não o machucar? Beatrice, se não fizermos nada, ele vai nos fazer em pedaços!— Eu sei... me deixe pensar por um momento... preciso dar um jeito!A criatura correu na direção de
O medo que Tracey e Beatrice Murray sentiam naquele momento era o medo impulsionador. Aquele que ativa toda a adrenalina e faz com que o cérebro trabalhe com mais rapidez. É o sentimento que faz com que o ser humano aja sem pensar nos "comos" e "porquês". É o instinto da pura ação, da vontade de realizar o impossível, de resolver um enigma indecifrável e, finalmente, de vencer um inimigo invencível. A vida as reunia novamente, em uma situação onde qualquer reencontro seria improvável. Aquele tipo de coincidência não poderia existir, não naquelas circunstâncias. Havia uma mensagem divina, mesmo no fim do mundo. E foi por essa razão, dentre outras que infindáveis que se poderia descrever, que elas investiram, com toda a confiança, na direção do Kraken. Ele não mais as intimidaria. As irmãs estavam cercadas, mas isso não era uma desvantagem. Tudo dependia delas naquele momento. Em seus corações, uma faísca de esperança ainda reluzia, e essa era toda a motivação de que elas precisavam. Ha
Há sete anos...Aquele poderia ser um dia comum no setor de pesquisas biológicas no gigantesco complexo da Organização Ômega. A intensa movimentação de cientistas, magistrados, virologistas e bioquímicos era rotineira. O trabalho nunca cessava nas dependências de uma das maiores redes farmacêuticas do planeta. À medida que as bactérias e enfermidades evoluíam, novos projetos eram idealizados e novas soluções eram implantadas. O complexo funcionava vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Não havia pausa para o progresso. No entanto, especificamente no quinto andar, na sala 225, um projeto incomum estava sendo desenvolvido. Tratava-se de uma pesquisa paralela e um tanto obscura. A respeitada virologista, doutora Kassandra Winslet passava horas a fio em uma pesquisa envolvendo células-tronco. Fugia totalmente dos padrões estipulados pela Ômega, mas ela não se importava. A pesquisa era secreta e de vital e pessoal importância. Seu filho Matthew, de nove anos, foi diagnosticad
O menino Matthew Winslet gostava muito da jovem doutora Annchi Zhang. Diferente de sua mãe e de seu pai, ela não tinha uma expressão fria e sisuda. Seu semblante na maioria das vezes era leve e quase infantil. Matthew a via como uma criança de jaleco e isso lhe trazia muita segurança. A tia Annchi sempre o fazia pensar, quase inconscientemente, que o mundo poderia ser algo muito maior do que hospitais, consultórios, exames e injeções. Kassandra viu que o medo havia desaparecido, mesmo que por alguns instantes, dos olhos de Matthew. — Sim, querido... ela estará lá, ajudando a mamãe. Como sempre fez. Estaremos todos juntos com você, durante todo o procedimento. Ninguém vai sair daquela sala até que tudo esteja terminado, tudo bem? Matthew tentava esconder ao máximo seu medo e nervosismo, mas com toda a pressão daquele momento, ficou muito mais difícil se conter. — Mamãe... isso vai doer muito? Quanto tempo vai demorar? O nó na garganta de Kassandra ficou do tamanho de uma ervilha. A
O pequeno Matthew Winslet, de nove anos de idade, enfim deu seu último suspiro em seu leito, no interior do setor de pesquisas específicas da Organização Ômega. Assim que ele fechou os olhos, uma última lágrima escorreu por seu rosto. Enquanto Kassandra permanecia congelada, olhando para o leito, a doutora Annchi Zhang e o professor Rodrick Winslet tentavam reanimar o menino. Como já era de se prever, não lograram sucesso na ressuscitação, visto que houve uma contaminação celular em massa no organismo de Matthew. O monitor cardíaco, que minutos atrás, mostrava 299 batimentos por minuto, agora exibia uma linha contínua e o som agudo da máquina, que evidenciava o pior. Rodrick, inconsolável, segurou nos ombros de sua esposa e exclamou, aos soluços.— Nós o perdemos... nós o perdemos, Kassandra! Ela ainda estava em transe. Sequer piscava. Seus olhos ainda estavam fixos no filho, sem vida. Annchi não suportou a dor e abraçava Matthew, sem se importar com o que a mãe pensaria. — Eu sinto
O doutor Brandon Davis olhava para a cena ao seu redor com a máxima repulsa que um homem seria capaz de sentir. O ambiente de morte o atingiu como um impacto diretamente no rosto. Ele não conseguiu pensar em outra ação a não ser exigir uma explicação. - Doutora Winslet... mas que diabos aconteceu aqui? Naquele momento, Kassandra não sabia o que sentir. Acabara de perder a sua família por causa de um experimento insano que não deu certo. E ao que tudo indicava, também estava prestes a perder sua carreira. Não havia mais o que fazer. Ela teria tempo para lamentar depois. Por ora, teria que explicar toda aquela loucura ao seu superior.- Doutor Davis... eu desenvolvi um antígeno que descobri ser capaz de curar Matthew de sua paralisia. Ocorre que é um agente extremamente poderoso e - Ela fechou os olhos e engoliu seco - os riscos são enormes. Brendon olhou para o corpo de Rodrick Winslet e depois para a tesoura ensanguentada, que ainda estava na mão de Kassandra. Ele olhou para ela, q
Atualmente...Beatrice e Tracey Murray conseguiram, após um esforço hercúleo, injetar duas seringas de sedativos no monstro Kraken. Com a súbita solução, a criatura foi ao chão e seu peso abriu a passagem que até então havia sido bloqueada. No andar de baixo, Sahyd, Solomon, Lancelot e Kai se assustaram com a figura gigantesca que caía como uma rocha lá de cima. Num átimo de desespero, Kai correu em direção aos escombros e, ficando em pé em uma pilha de entulhos, gritou:— Meninas! Está tudo bem?— Kai! Estamos bem! — respondeu Beatrice — Alguém se machucou aí embaixo?— Estamos inteiros! Não sei se posso dizer o mesmo do grandão aqui embaixo! Beatrice e Tracey pularam para o andar de baixo e correram em direção ao Kraken. O monstro tinha ferimentos superficiais, mas nada que aparentemente comprometesse a sua vida. Beatrice contou ao grupo o que era o Kraken e o experimento que o criou. Depois de ouvir atentamente o relato da jovem, Solomon abaixou a cabeça e colocou as duas mãos na
Houve um momento de silêncio, que predominou no grupo reunido no hospital de Westfield. Annchi ainda segurava o comunicador e olhava para seus companheiros, um a um. Obviamente, o olhar de todos trazia uma grande quantidade de dúvidas. Estavam falando através de um walkie-talkie encontrado em um carro abandonado com um homem que sofria de gagueira e que dizia ser, ele mesmo, o criador do Eurídice, o antivírus que supostamente traria a cura para a humanidade. Eles poderiam duvidar facilmente, claro. A questão é que o tal Bill Hurley conhecia muito a respeito da Organização Ômega, sobre a disseminação do Orpheu e, o mais importante, parecia conhecer cada pessoa que ali estava. Alex sabia que poderia ser um erro terrível subestimar aquele homem. Ele delicadamente pegou o comunicador da mão de Annchi e apertou o botão lateral para começar a falar. - Muito bem, Bill... você tem a nossa atenção! Diga-nos.. Por onde devemos começar?"P-posso ter a sua atenção, mas ainda n-não s-sinto a sua