Houve um momento de silêncio, que predominou no grupo reunido no hospital de Westfield. Annchi ainda segurava o comunicador e olhava para seus companheiros, um a um. Obviamente, o olhar de todos trazia uma grande quantidade de dúvidas. Estavam falando através de um walkie-talkie encontrado em um carro abandonado com um homem que sofria de gagueira e que dizia ser, ele mesmo, o criador do Eurídice, o antivírus que supostamente traria a cura para a humanidade. Eles poderiam duvidar facilmente, claro. A questão é que o tal Bill Hurley conhecia muito a respeito da Organização Ômega, sobre a disseminação do Orpheu e, o mais importante, parecia conhecer cada pessoa que ali estava. Alex sabia que poderia ser um erro terrível subestimar aquele homem. Ele delicadamente pegou o comunicador da mão de Annchi e apertou o botão lateral para começar a falar. - Muito bem, Bill... você tem a nossa atenção! Diga-nos.. Por onde devemos começar?"P-posso ter a sua atenção, mas ainda n-não s-sinto a sua
Dias antes...A ex-agente secreta Mia Zhang encontrava-se eufórica e ansiosa naquele dia, o que era um fato incomum, pois durante toda a sua vida ela aprendeu a lidar com suas emoções e controlar a sua psiquê. Ela havia passado a trabalhar para a Organização Ômega em segredo. Sua função consistia justamente em espionar as empresas concorrentes e garantir que nenhuma outra organização estivesse desenvolvendo armas virais sem que ninguém descobrisse. Mas no fundo ela sabia que o seu trabalho não iria se limitar a isso por muito tempo. Ela era uma funcionária cara demais para desempenhar uma tarefa tão simples. Qualquer outra pessoa poderia fazer aquele trabalho ridículo. Mia estava ficando cada vez mais aborrecida e entediada. Até aquele fatídico dia. Ela nunca havia visto aquele prédio tão agitado. O sobe e desce de homens e mulheres usando jalecos brancos parecia não ter fim. Mia ouviu algo sobre alguém ter sido assassinado no oitavo andar. Aquele ambiente tinha o acesso restrito, es
Naquele instante, toda a sina do mundo parecia ter desaparecido para Annchi Zhang. A noite estava silenciosa e os olhos da virologista estavam fechados enquanto sua mãe lhe contava sobre os eventos que envolviam a sua ausência de quase vinte anos. Annchi só conseguiu olhar Mia nos olhos depois que ela terminou de falar. - Então acha que pode vir aqui, no meio de toda essa loucura, se justificar dizendo que tudo não passou de um plano para me manter perto e protegida?- Annchi, não se trata somente disso. Eu...- Você sabe por quanto sofrimento passei naquele inferno de laboratório e também na minha vida pessoal? Eu simplesmente não sei como ainda estou aqui! E agora o fim do mundo chegou e pelo visto o planeta inteiro está pensando que eu causei toda essa merda! E onde você esteve esse tempo todo?- Eu também não me orgulho por ter... vivido nas sombras! Posso parecer egoísta, Annchi, mas se você conseguiu sobreviver até aqui, é uma prova do quão forte você é eu sempre tive certeza d
Annchi Zhang esperava realmente encontrar sua mãe. Dizer o que sentia, como foram tortuosos os anos em que passou sem sei apoio, sem o seu conselho. Esperava dizer que não precisou dela para crescer e aprender sobre o mundo cruel onde vivia. O rancor não mais a castigava tanto quanto antes, mas havia ainda a mágoa, o sentimento de abandono que, infelizmente, ela ainda não havia superado. Contudo, Annchi jamais imaginou que, literalmente da noite para o dia, estaria lutando ao lado de sua mãe, dando cobertura a ela, travando uma guerra contra os mortos-vivos. Naquele momento, não havia espaço para conflitos ou acerto de contas pessoais. As criaturas dilacerariam suas carnes na menor hesitação. Estavam de costas uma para a outra, abatendo as criaturas que vinham uma após a outra. Mia Zhang entregou à Annchi uma pistola automática que havia trazido escondido em seu tornozelo, sob a calça de couro preta que, convenientemente, era da mesma cor da arma. Mia não se surpreendeu com a rapidez
No interior do hospital de Westfield, o grupo de sobreviventes permanecia aflito e ansioso, especialmente Beatrice Murray, que aguardava o resultado do exame de sangue realizado por Solomon Locke, por orientação do doutor Bill Hurley. De acordo com as expectativas do misterioso cientista do walkie-talkie, Beatrice possui uma condição rara que faz com que ela seja imune ao vírus Orpheu, o que permitiria ao grupo uma grande vantagem na travessia para a biblioteca de Westfield. Solomon trazia a pequena ampola em suas mãos e um mapa contendo esboços de fluxo sanguíneo. Tracey foi a primeira a quebrar o silêncio. — Senhor Solomon... por favor, responda! Já temos o resultado? Minha irmã realmente é imune a essa coisa?Solomon viu que as expressões de todos estavam focadas nele e que quase ninguém parecia aguentar esperar mais. — Bem, eu tomei a liberdade de fazer o exame e repetí-lo por duas vezes. E o resultado que obtive nos diz que Beatrice realmente é imune ao vírus Orpheu. Todos for
Alex, Solomon, Kai, Sahyd, Beatrice, Tracey e Lancelot avançaram pelo corredor recém aberto pela combinação das estátuas. Tanto o grupo como Bill no comunicador permaneciam em silêncio. O corredor estava escuro e quase não havia ventilação, motivo esse pelo qual era necessário economizar o fôlego. O caminho era extenso e a umidade do local parecia não ter limites. Não era possível garantir que não haveria mortos-vivos no local, uma vez que eles poderiam perambular por alguma rede de esgoto ou até mesmo cavar incansavelmente pelos túneis até uma saída ser encontrada, o que poderia levar semanas, visto que os Carnívoros nunca se cansavam. Após um tempo incalculável, o grupo encontrou uma espécie de abertura no final do corredor. Ainda estava escuro, mas em compensação, havia um pouco mais de oxigênio, pois o cômodo era bem mais amplo. Tracey comentou:— Nem parece que ainda estamos no hospital. Esse túnel é enorme. O auto falante do comunicador emitiu um clique. Bill apertou o botão d
Por alguns instantes, o tempo pareceu paralisar-se por completo. Após meses de um intenso pandemônio sem fim, todos os sobreviventes envolvidos no presente conflito se olhavam entre si, avaliando o impacto da revelação que acabara de sair dos lábios de Solomon Locke. O temível doutor Brandon Davis, virologista chefe da Organização Ômega e principal responsável pela criação do vírus Orpheu era, na verdade, Arthur Locke, o filho que Solomon vinha procurando há muito tempo. A figura do pai, não abrindo mão de sua autoridade e, quem sabe, de sua misericórdia, enfureceu Arthur, que rapidamente abriu a porta do carro, se projetou para fora e rolou ao chão, sacando novamente a pistola e atirando na direção de Alex e Solomon. Alex puxou o companheiro para atrás de uma coluna grossa de concreto para que pudessem se proteger do disparo. — Solomon... por que não nos contou? — perguntou Alex, nitidamente indignado com a sequência de acontecimentos.— Não faria diferença, Alex! — a voz de Solomon
Beatrice avançou na direção da megahorda, agarrando firmemente a sua faca de combate. Os mortos olhavam para a jovem, estáticos, sentindo todo o peso da eterna condenação. Seus reflexos letárgicos não viram quando ela saltou sobre eles e cravou a lâmina no primeiro crânio e o primeiro cadáver cair violentamente ao chão. O coração de Beatrice acelerou freneticamente, pois ela esperava que o imenso grupo avançaria em sua direção para vingar o companheiro abatido. Para sua surpresa, entretanto, a horda pareceu não notar sua presença e continuou avançando, enquanto a jovem continuava em pé, fitando a multidão apodrecida que caminhava. Foi então que ela se deu conta de que o doutor Hurley tinha razão. A amostra do Orpheu foi um sucesso e, de fato, ela estava imune ao ataque dos Carnívoros. Beatrice reuniu suas forças e avançou para o seu segundo alvo. Uma criatura, antes uma mulher ruiva, no auge dos seus trinta anos. A faca foi cravada de maneira eficaz em seu crânio e o segundo monstro