Annchi Zhang esperava realmente encontrar sua mãe. Dizer o que sentia, como foram tortuosos os anos em que passou sem sei apoio, sem o seu conselho. Esperava dizer que não precisou dela para crescer e aprender sobre o mundo cruel onde vivia. O rancor não mais a castigava tanto quanto antes, mas havia ainda a mágoa, o sentimento de abandono que, infelizmente, ela ainda não havia superado. Contudo, Annchi jamais imaginou que, literalmente da noite para o dia, estaria lutando ao lado de sua mãe, dando cobertura a ela, travando uma guerra contra os mortos-vivos. Naquele momento, não havia espaço para conflitos ou acerto de contas pessoais. As criaturas dilacerariam suas carnes na menor hesitação. Estavam de costas uma para a outra, abatendo as criaturas que vinham uma após a outra. Mia Zhang entregou à Annchi uma pistola automática que havia trazido escondido em seu tornozelo, sob a calça de couro preta que, convenientemente, era da mesma cor da arma. Mia não se surpreendeu com a rapidez
No interior do hospital de Westfield, o grupo de sobreviventes permanecia aflito e ansioso, especialmente Beatrice Murray, que aguardava o resultado do exame de sangue realizado por Solomon Locke, por orientação do doutor Bill Hurley. De acordo com as expectativas do misterioso cientista do walkie-talkie, Beatrice possui uma condição rara que faz com que ela seja imune ao vírus Orpheu, o que permitiria ao grupo uma grande vantagem na travessia para a biblioteca de Westfield. Solomon trazia a pequena ampola em suas mãos e um mapa contendo esboços de fluxo sanguíneo. Tracey foi a primeira a quebrar o silêncio. — Senhor Solomon... por favor, responda! Já temos o resultado? Minha irmã realmente é imune a essa coisa?Solomon viu que as expressões de todos estavam focadas nele e que quase ninguém parecia aguentar esperar mais. — Bem, eu tomei a liberdade de fazer o exame e repetí-lo por duas vezes. E o resultado que obtive nos diz que Beatrice realmente é imune ao vírus Orpheu. Todos for
Alex, Solomon, Kai, Sahyd, Beatrice, Tracey e Lancelot avançaram pelo corredor recém aberto pela combinação das estátuas. Tanto o grupo como Bill no comunicador permaneciam em silêncio. O corredor estava escuro e quase não havia ventilação, motivo esse pelo qual era necessário economizar o fôlego. O caminho era extenso e a umidade do local parecia não ter limites. Não era possível garantir que não haveria mortos-vivos no local, uma vez que eles poderiam perambular por alguma rede de esgoto ou até mesmo cavar incansavelmente pelos túneis até uma saída ser encontrada, o que poderia levar semanas, visto que os Carnívoros nunca se cansavam. Após um tempo incalculável, o grupo encontrou uma espécie de abertura no final do corredor. Ainda estava escuro, mas em compensação, havia um pouco mais de oxigênio, pois o cômodo era bem mais amplo. Tracey comentou:— Nem parece que ainda estamos no hospital. Esse túnel é enorme. O auto falante do comunicador emitiu um clique. Bill apertou o botão d
Por alguns instantes, o tempo pareceu paralisar-se por completo. Após meses de um intenso pandemônio sem fim, todos os sobreviventes envolvidos no presente conflito se olhavam entre si, avaliando o impacto da revelação que acabara de sair dos lábios de Solomon Locke. O temível doutor Brandon Davis, virologista chefe da Organização Ômega e principal responsável pela criação do vírus Orpheu era, na verdade, Arthur Locke, o filho que Solomon vinha procurando há muito tempo. A figura do pai, não abrindo mão de sua autoridade e, quem sabe, de sua misericórdia, enfureceu Arthur, que rapidamente abriu a porta do carro, se projetou para fora e rolou ao chão, sacando novamente a pistola e atirando na direção de Alex e Solomon. Alex puxou o companheiro para atrás de uma coluna grossa de concreto para que pudessem se proteger do disparo. — Solomon... por que não nos contou? — perguntou Alex, nitidamente indignado com a sequência de acontecimentos.— Não faria diferença, Alex! — a voz de Solomon
Beatrice avançou na direção da megahorda, agarrando firmemente a sua faca de combate. Os mortos olhavam para a jovem, estáticos, sentindo todo o peso da eterna condenação. Seus reflexos letárgicos não viram quando ela saltou sobre eles e cravou a lâmina no primeiro crânio e o primeiro cadáver cair violentamente ao chão. O coração de Beatrice acelerou freneticamente, pois ela esperava que o imenso grupo avançaria em sua direção para vingar o companheiro abatido. Para sua surpresa, entretanto, a horda pareceu não notar sua presença e continuou avançando, enquanto a jovem continuava em pé, fitando a multidão apodrecida que caminhava. Foi então que ela se deu conta de que o doutor Hurley tinha razão. A amostra do Orpheu foi um sucesso e, de fato, ela estava imune ao ataque dos Carnívoros. Beatrice reuniu suas forças e avançou para o seu segundo alvo. Uma criatura, antes uma mulher ruiva, no auge dos seus trinta anos. A faca foi cravada de maneira eficaz em seu crânio e o segundo monstro
O clima era absurdamente sombrio e tenso quando o doutor Brandon Davis chegou ao laboratório provisório da Organização Ômega. O virologista estranhou assustadoramente o fato de a doutora Kassandra Winslet estar em pé, na abertura da caverna, com uma expressão séria, sem resquício algum do costumeiro deboche que ela costumava ostentar. Seu olhar estava profundamente amedrontado e, assim que avistou o doutor Davis, ela apressou o passo ao encontro dele. — Por favor, me diga que o hospital foi tomado! A voz da mulher estava carregada de urgência e agonia, o que fez com que Brandon desistisse imediatamente de tecer qualquer comentário irônico ou tentasse esconder a situação com qualquer outro assunto. — Eu... enviei um exército de mortos para invadir o hospital. Havia centenas deles contra o grupo da doutora Zhang e aquele policial intrometido! Tive que fugir do local, pois aqueles desgraçados do Bruce e do Frank resolveram passar para o outro lado! Furiosamente, Kassandra agarrou Bra
Embora estivessem livres da ameaça dos Carnívoros, pelo menos por ora, Alex Stevens e os outros sentiram muito a perda de Lancelot. Era inaceitável o fato de ele ter se sacrificado para que o hospital não fosse tomado pelos mortos-vivos. Eles precisaram se reunir rapidamente para discutir a estratégia para seguir para a biblioteca de Westfield e procurar pelo antivírus. Um silêncio mórbido reinou entre o grupo e ninguém tinha vontade de proferir nenhuma palavra a respeito de assunto algum. Alex foi quem tomou a iniciativa. — Pessoal, infelizmente não teremos muito tempo para sentir o luto por Lancelot. O fato é que se não fosse pelo que ele fez, nós não estaríamos reunidos aqui e... talvez também nenhum de nós estaria vivo. Por mais difícil que seja, precisamos suportar a dor e continuar de onde paramos. — Talvez a maior parte dos mortos já tenha sido eliminada! — sugeriu Sahyd — Aquele grupo numeroso que o doutor Delta trouxe para cá se deslocou para o fundo do bosque. Talvez o cam
O dia amanhecia sombrio em Westfield, como era de se esperar. Nem mesmo os intensos raios de sol que atravessavam violentamente as nuvens espessas eram capazes de iluminar aquelas terras tão manchadas pela maldade. O vento não soprava para dar um alívio ao calor quase insuportável. O odor de carne em decomposição invadia qualquer ambiente em que se estivesse. Os membros do grupo que conseguiram dormir apenas o conseguiram porque estavam extremamente esgotados, face ao horror e às tribulações aos quais estiveram expostos. Alex Stevens aguardava os outros sobreviventes no saguão do hospital. Ele conferia os pentes de munição e os suprimentos que iriam levar na travessia até a biblioteca. Ninguém, com exceção talvez do doutor Hurley, sabia o que os esperava dentro daquele prédio. O comunicador bipou próximo dali e Alex atendeu. "Bom dia, sobrevivente! Espero que esteja p-pronto para o próximo passo. V-vocês foram excelentes no último confronto, pelo que eu soube. T-temo que a próxima tr