O menino Matthew Winslet gostava muito da jovem doutora Annchi Zhang. Diferente de sua mãe e de seu pai, ela não tinha uma expressão fria e sisuda. Seu semblante na maioria das vezes era leve e quase infantil. Matthew a via como uma criança de jaleco e isso lhe trazia muita segurança. A tia Annchi sempre o fazia pensar, quase inconscientemente, que o mundo poderia ser algo muito maior do que hospitais, consultórios, exames e injeções. Kassandra viu que o medo havia desaparecido, mesmo que por alguns instantes, dos olhos de Matthew. — Sim, querido... ela estará lá, ajudando a mamãe. Como sempre fez. Estaremos todos juntos com você, durante todo o procedimento. Ninguém vai sair daquela sala até que tudo esteja terminado, tudo bem? Matthew tentava esconder ao máximo seu medo e nervosismo, mas com toda a pressão daquele momento, ficou muito mais difícil se conter. — Mamãe... isso vai doer muito? Quanto tempo vai demorar? O nó na garganta de Kassandra ficou do tamanho de uma ervilha. A
O pequeno Matthew Winslet, de nove anos de idade, enfim deu seu último suspiro em seu leito, no interior do setor de pesquisas específicas da Organização Ômega. Assim que ele fechou os olhos, uma última lágrima escorreu por seu rosto. Enquanto Kassandra permanecia congelada, olhando para o leito, a doutora Annchi Zhang e o professor Rodrick Winslet tentavam reanimar o menino. Como já era de se prever, não lograram sucesso na ressuscitação, visto que houve uma contaminação celular em massa no organismo de Matthew. O monitor cardíaco, que minutos atrás, mostrava 299 batimentos por minuto, agora exibia uma linha contínua e o som agudo da máquina, que evidenciava o pior. Rodrick, inconsolável, segurou nos ombros de sua esposa e exclamou, aos soluços.— Nós o perdemos... nós o perdemos, Kassandra! Ela ainda estava em transe. Sequer piscava. Seus olhos ainda estavam fixos no filho, sem vida. Annchi não suportou a dor e abraçava Matthew, sem se importar com o que a mãe pensaria. — Eu sinto
O doutor Brandon Davis olhava para a cena ao seu redor com a máxima repulsa que um homem seria capaz de sentir. O ambiente de morte o atingiu como um impacto diretamente no rosto. Ele não conseguiu pensar em outra ação a não ser exigir uma explicação. - Doutora Winslet... mas que diabos aconteceu aqui? Naquele momento, Kassandra não sabia o que sentir. Acabara de perder a sua família por causa de um experimento insano que não deu certo. E ao que tudo indicava, também estava prestes a perder sua carreira. Não havia mais o que fazer. Ela teria tempo para lamentar depois. Por ora, teria que explicar toda aquela loucura ao seu superior.- Doutor Davis... eu desenvolvi um antígeno que descobri ser capaz de curar Matthew de sua paralisia. Ocorre que é um agente extremamente poderoso e - Ela fechou os olhos e engoliu seco - os riscos são enormes. Brendon olhou para o corpo de Rodrick Winslet e depois para a tesoura ensanguentada, que ainda estava na mão de Kassandra. Ele olhou para ela, q
Atualmente...Beatrice e Tracey Murray conseguiram, após um esforço hercúleo, injetar duas seringas de sedativos no monstro Kraken. Com a súbita solução, a criatura foi ao chão e seu peso abriu a passagem que até então havia sido bloqueada. No andar de baixo, Sahyd, Solomon, Lancelot e Kai se assustaram com a figura gigantesca que caía como uma rocha lá de cima. Num átimo de desespero, Kai correu em direção aos escombros e, ficando em pé em uma pilha de entulhos, gritou:— Meninas! Está tudo bem?— Kai! Estamos bem! — respondeu Beatrice — Alguém se machucou aí embaixo?— Estamos inteiros! Não sei se posso dizer o mesmo do grandão aqui embaixo! Beatrice e Tracey pularam para o andar de baixo e correram em direção ao Kraken. O monstro tinha ferimentos superficiais, mas nada que aparentemente comprometesse a sua vida. Beatrice contou ao grupo o que era o Kraken e o experimento que o criou. Depois de ouvir atentamente o relato da jovem, Solomon abaixou a cabeça e colocou as duas mãos na
Houve um momento de silêncio, que predominou no grupo reunido no hospital de Westfield. Annchi ainda segurava o comunicador e olhava para seus companheiros, um a um. Obviamente, o olhar de todos trazia uma grande quantidade de dúvidas. Estavam falando através de um walkie-talkie encontrado em um carro abandonado com um homem que sofria de gagueira e que dizia ser, ele mesmo, o criador do Eurídice, o antivírus que supostamente traria a cura para a humanidade. Eles poderiam duvidar facilmente, claro. A questão é que o tal Bill Hurley conhecia muito a respeito da Organização Ômega, sobre a disseminação do Orpheu e, o mais importante, parecia conhecer cada pessoa que ali estava. Alex sabia que poderia ser um erro terrível subestimar aquele homem. Ele delicadamente pegou o comunicador da mão de Annchi e apertou o botão lateral para começar a falar. - Muito bem, Bill... você tem a nossa atenção! Diga-nos.. Por onde devemos começar?"P-posso ter a sua atenção, mas ainda n-não s-sinto a sua
Dias antes...A ex-agente secreta Mia Zhang encontrava-se eufórica e ansiosa naquele dia, o que era um fato incomum, pois durante toda a sua vida ela aprendeu a lidar com suas emoções e controlar a sua psiquê. Ela havia passado a trabalhar para a Organização Ômega em segredo. Sua função consistia justamente em espionar as empresas concorrentes e garantir que nenhuma outra organização estivesse desenvolvendo armas virais sem que ninguém descobrisse. Mas no fundo ela sabia que o seu trabalho não iria se limitar a isso por muito tempo. Ela era uma funcionária cara demais para desempenhar uma tarefa tão simples. Qualquer outra pessoa poderia fazer aquele trabalho ridículo. Mia estava ficando cada vez mais aborrecida e entediada. Até aquele fatídico dia. Ela nunca havia visto aquele prédio tão agitado. O sobe e desce de homens e mulheres usando jalecos brancos parecia não ter fim. Mia ouviu algo sobre alguém ter sido assassinado no oitavo andar. Aquele ambiente tinha o acesso restrito, es
Naquele instante, toda a sina do mundo parecia ter desaparecido para Annchi Zhang. A noite estava silenciosa e os olhos da virologista estavam fechados enquanto sua mãe lhe contava sobre os eventos que envolviam a sua ausência de quase vinte anos. Annchi só conseguiu olhar Mia nos olhos depois que ela terminou de falar. - Então acha que pode vir aqui, no meio de toda essa loucura, se justificar dizendo que tudo não passou de um plano para me manter perto e protegida?- Annchi, não se trata somente disso. Eu...- Você sabe por quanto sofrimento passei naquele inferno de laboratório e também na minha vida pessoal? Eu simplesmente não sei como ainda estou aqui! E agora o fim do mundo chegou e pelo visto o planeta inteiro está pensando que eu causei toda essa merda! E onde você esteve esse tempo todo?- Eu também não me orgulho por ter... vivido nas sombras! Posso parecer egoísta, Annchi, mas se você conseguiu sobreviver até aqui, é uma prova do quão forte você é eu sempre tive certeza d
Annchi Zhang esperava realmente encontrar sua mãe. Dizer o que sentia, como foram tortuosos os anos em que passou sem sei apoio, sem o seu conselho. Esperava dizer que não precisou dela para crescer e aprender sobre o mundo cruel onde vivia. O rancor não mais a castigava tanto quanto antes, mas havia ainda a mágoa, o sentimento de abandono que, infelizmente, ela ainda não havia superado. Contudo, Annchi jamais imaginou que, literalmente da noite para o dia, estaria lutando ao lado de sua mãe, dando cobertura a ela, travando uma guerra contra os mortos-vivos. Naquele momento, não havia espaço para conflitos ou acerto de contas pessoais. As criaturas dilacerariam suas carnes na menor hesitação. Estavam de costas uma para a outra, abatendo as criaturas que vinham uma após a outra. Mia Zhang entregou à Annchi uma pistola automática que havia trazido escondido em seu tornozelo, sob a calça de couro preta que, convenientemente, era da mesma cor da arma. Mia não se surpreendeu com a rapidez