A fumaça tóxica aos poucos ia se dissipando, movida também pela força da hélice do helicóptero que se distanciava. Aos poucos, o mundo ficava visível novamente, enquanto os sobreviventes tentavam controlar a respiração e, na medida do possível, voltar a enxergar o que ocorria ao seu redor. Tracey Murray recobrava a consciência lentamente e tentava lutar contra a própria fadiga. Quando enfim conseguiu se levantar, percorria os espaços que eram visíveis em meio à fumaça. Ela esfregava os olhos, que ainda ardiam. Sua garganta parecia pegar fogo e seus pulmões doíam tanto que pareciam prestes a explodir. Mesmo com todo o sofrimento, ela gritava pela irmã.— BEATRICE! BEA! ONDE VOCÊ TÁ? BEA!O silêncio que se seguiu foi perturbador. Tracey percorria desesperada com o olhar todo o ambiente ao redor. Nem sinal da irmã e nem de Kai. Lágrimas se acumularam em seus olhos ressecados. Ela já não conseguia controlar o soluço. Por fim, ajoelhou-se no chão e deixou de resistir ao pranto. Annchi corr
Na imersão da pouca luz que iluminava o laboratório da Ômega, o doutor Lee Lim permanecia sentado diante de sua escrivaninha improvisada observando toda a rotina dos arredores através de drones equipados com câmeras de última geração. Seus olhos estavam atentos através da máscara da tragédia que ele usava desde que chegou a Westfield. O cômodo estava em um silêncio agradável, interrompido apenas pelo leve silvo causado pela eletricidade que corria pelas lâmpadas. Passos decididos em direção ao seu escritório interromperam o silêncio. O zunido do cartão de acesso à porta automática foi seguido pela abertura. O doutor Lim não ergueu o rosto mascarado. Apenas os seus olhos se moveram na direção da figura da agente Mia Zhang, que se aproximava de sua mesa. O homem se manteve em silêncio e esperou que ela falasse. — Creio que já deva saber... eles já chegaram à porta da biblioteca!— Previsível... Com toda a certeza, possuem muita determinação e não descansarão até conseguirem o que desej
Diante da incerteza sobre o progresso da missão, o grupo se entreolhava diante das portas da biblioteca Vale do Eclipse. Pela primeira vez desde o início da Transformação, todos ali se encontravam inseguros, com exceção de uma pessoa. Tracey Murray se adiantou, passou por seus companheiros e se dirigiu à porta do prédio. Sahyd indagou. — Tracey... o que vai fazer?A garota olhou para trás, encarando cada um dos seus companheiros, com olhar de certa indignação. — Enquanto vocês discutem sobre quem está mentindo ou não, aqueles monstros estão fazendo sabe-se-lá-o-quê com minha irmã e com Kai. Como se tudo isso que estamos vivendo já não fosse uma armadilha na qual já estamos presos há muito tempo. Ninguém do grupo protestou. Todos permaneceram em silêncio e não tinham coragem de olhar nos olhos de Tracey.— Me desculpem, pessoal... mas se ainda vão continuar pensando sobre entrar nesse prédio ou não, mesmo depois de tudo o que passamos, eu vou sozinha! Vou tentar não morrer e se caso
O corpo do horrendo cão de duas cabeças jazia morto, sob o imenso lustre que estava agora em pedaços. Tracey caiu de joelhos, a fadiga estava quase a dominando completamente. Alex, Annchi e os outros correram ao seu encontro e o grupo estava reunido novamente. Os mortos-vivos que os perseguiam foram derrotados, mas isso não significava que a batalha fora vencida. O barulho do lustre caindo com certeza atrairia mais monstros em breve e, a julgar pela variante do Ômega que estava presente nos cientistas contaminados, uma outra horda já estaria perseguindo os sobreviventes em poucos instantes. O grupo se apressou em continuar percorrendo o corredor. Nada de Carnívoros até aquele momento e finalmente o elevador de carga já estava à vista. O elevador era nada mais do que uma plataforma de alumínio suspensa, sustentada por grossos cabos de aço e a operação de subir e descer era feita em um painel digital, inserido em uma espécie de pedestal improvisado. O grupo subiu na plataforma e se cer
A Organização Ômega ostenta uma reputação de trinta e dois anos de importantes e extremamente relevantes descobertas científicas, o que inclui desde cosméticos milagrosos para senhoras com mais de sessenta anos até vacinas para as mais variadas enfermidades. Não havia um profissional da saúde na cidade de Westfield que não sonhasse trabalhar com a equipe da Ômega. A remuneração dos profissionais era altamente generosa, sem contar os inúmeros benefícios e as constantes oportunidades de reconhecimento nos maiores laboratórios do Planeta. Nos últimos dias, porém, uma grande agitação podia ser percebida por todos os colaboradores. Diversos cientistas de alta patente subiam eufóricos para o enigmático oitavo andar. Por algum motivo, ninguém, nem mesmo o pessoal da limpeza, tinha acesso àquele andar. O acesso era permitido somente com cartões especiais de identificação que os cientistas guardavam como se estivessem protegendo seus próprios filhos. Todos, sem exceção, mantinham expressões s
O Doutor Brandon Davis jamais se sentira acuado em toda a sua vida como se sentira naquele momento. Desde sua juventude, estava habituado a ficar no topo, no domínio de qualquer situação. Até aquele instante, ninguém ousou enfrentá-lo como a criatura que antes era o Dr. Josh Smithers. O ser de olhos fundos e boca permanentemente escancarada avançava obstinadamente em sua direção e não demonstrava nenhuma intenção de recuar ou mudar de atitude. Nenhum dos golpes antes desferidos pareceu surtir efeito no monstro. — Maldição... será que esse vírus.. não, isso não é possível!O Dr. Davis analisava piamente a situação na qual se encontrava e mesmo em meio ao turbilhão de sensações que experimentava começou a estabelecer uma sinistra teoria. Definitivamente, o resultado que estava presenciando não era esperado nem por ele e nem por nenhum colaborador da Ômega. Entretanto, se seu raciocínio estivesse certo, essa situação ainda poderia se tornar favorável às suas ambições. Sua mente diabólic
Nenhum dos cientistas presentes na sala 407 acreditava no que via, com exceção do Dr. Brendon Davis. As criaturas que acabavam de adentrar à sala ostentavam uma aparência medonha, bizarra e quase inacreditável. Seus olhos não possuíam mais vida, sua pele parecia descascar a cada passo que davam, suas bocas e línguas estavam negras e de seus corpos exalava um odor insuportável, um cheiro de... morte.O Dr. Ash Simons foi o primeiro a conseguir pronunciar algo em meio à inimaginável situação:— Dr. Davis... O que aconteceu com esses homens? São nossos colegas, nós os vimos há poucos minutos. Quem fez isso com eles?O Dr. Brandon Davis tinha um sorriso tenebroso estampado em seu rosto. Sua expressão era de total satisfação. Os outros cientistas podiam jurar que viram uma lágrima de emoção brotar em seus olhos.— Por que está tão perturbado, Dr. Simons? Olhe para esses homens. Eles não têm mais medo de coisa alguma, não possuem insegurança e nem mesmo fraquezas. Não percebe o que nós cria
O Dr. Brandon Davis, que se autodenominava Dr. Delta, olhava para as três criaturas acorrentadas no fundo da sala 407 e as contemplava como se fossem seus troféus. Por outro lado, a Dra. Annchi Zhang ficada a cada segundo mais enojada com o cenário no qual estava inserida. — Eu nunca vi tamanha bizarrice! Que diabos vocês fizeram aqui? No que você transformou esses homens? — Pode parecer assustador à primeira vista, Dra. Zhang. Mas saiba que o que você está vendo aqui nessa sala é o início da nova era de nossa amada organização. Esses homens se tornaram indestrutíveis, soldados por excelência, seres sem medo e sem piedade! Tudo isso graças ao milagroso poder do vírus Orpheu! Por isso o mantivemos em segredo, doutora! Nada podia dar errado. Investimos muito nesse projeto. Aplicamos valores estratosféricos no desenvolvimento do Orpheu. E como pode ver, o resultado é simplesmente esplêndido!A Dra. Zhang voltou a olhar para os cadáveres esparramados pelo chão. Aqueles homens, que outro