A esperança é, de longe, o sentimento mais motivador entre todos os que podem ser experimentados. É uma sensação que somente os seres humanos têm o conhecimento, até onde se sabe. É o impulso que nos movimenta, que faz se crer no improvável. Pode se dizer que é semelhante à fé. A esperança é como se fosse uma voz calma e confiante nos dizendo que, independente das circunstâncias, as coisas contribuirão para o bem daqueles que mantêm essa confiança. A esperança é uma luz, muito fraca, mas existente e que pode fazer uma grande diferença em uma situação de crise. Entretanto, a luz da esperança, de tão pequena e forte, pode se tornar a maior das frustrações, caso venha a se apagar totalmente. Pode-se perder tudo em qualquer situação, menos a esperança. E quando esta se perde, vem a desolação, vem a profunda depressão e tudo pode ruir em uma questão de segundos. Tracey Murray veio do Alabama, um lugar extremamente distante para encontrar sua irmã Beatrice e, de fato, conseguiu encontrá-la
A movimentação era intensa no laboratório subterrâneo onde atuavam os cientistas Mark Denver, Kassandra Winslet e o doutor Brandon Davis. Após uma força tarefa gigantesca, conseguiram trazer Kraken, a criatura que antes era o menino Dylan. Por um motivo desconhecido, ele estava no meio de uma avenida de Westfield, não abatido, mas adormecido. Brendon não parava de pensar na doutora Zhang e no quando era imprudente subestimá-la. Você é tão astuta, Annchi! Por que não está dividindo esse sonho conosco... e por que está na companhia daquele homem tão terrível...? O que está tentando provar?Naquela noite, não havia tempo para se pensar em muitas coisas. O espécime precisava ser reanimado e uma solução para um problema desconhecido precisava ser aplicada. Kraken foi derrotado, ele tinha um ponto fraco. Tal fato acendeu mais uma vez a desconfiança de Mark Denver, que chegou a passos silenciosos à presença do doutor Delta. — Investimos muito dinheiro, tempo e paciência no desenvolvimento
A criatura Kraken olhou fixamente para o ambiente onde agora se encontrava e sobretudo para Beatrice. Por alguma razão, ele sentia que aquela pessoa tinha uma importância que as outras não lhes faziam recordar. Entretanto, assim que seu cérebro desejava se recordar de algo mais pessoal e mais afetivo, imediatamente o casulo entrava em ação e, com uma poderosa onda de choque no crânio, disseminava todo o poder da adrenalina, fazendo o monstro enlouquecer. E foi assim que o Kraken avançou furiosamente na direção de Beatrice. Ele tentou esmagá-la, abrindo e fechando dois de seus quatro braços, mas ela rolou rapidamente para o lado. Sahyd interveio rapidamente e sacou a sua pistola para disparar contra o monstro. Ainda caída ao chão, Beatrice gritou:— Não, Sahyd! Por favor, não o machuque! Ele ainda é o Dylan!— Não o machucar? Beatrice, se não fizermos nada, ele vai nos fazer em pedaços!— Eu sei... me deixe pensar por um momento... preciso dar um jeito!A criatura correu na direção de
O medo que Tracey e Beatrice Murray sentiam naquele momento era o medo impulsionador. Aquele que ativa toda a adrenalina e faz com que o cérebro trabalhe com mais rapidez. É o sentimento que faz com que o ser humano aja sem pensar nos "comos" e "porquês". É o instinto da pura ação, da vontade de realizar o impossível, de resolver um enigma indecifrável e, finalmente, de vencer um inimigo invencível. A vida as reunia novamente, em uma situação onde qualquer reencontro seria improvável. Aquele tipo de coincidência não poderia existir, não naquelas circunstâncias. Havia uma mensagem divina, mesmo no fim do mundo. E foi por essa razão, dentre outras que infindáveis que se poderia descrever, que elas investiram, com toda a confiança, na direção do Kraken. Ele não mais as intimidaria. As irmãs estavam cercadas, mas isso não era uma desvantagem. Tudo dependia delas naquele momento. Em seus corações, uma faísca de esperança ainda reluzia, e essa era toda a motivação de que elas precisavam. Ha
Há sete anos...Aquele poderia ser um dia comum no setor de pesquisas biológicas no gigantesco complexo da Organização Ômega. A intensa movimentação de cientistas, magistrados, virologistas e bioquímicos era rotineira. O trabalho nunca cessava nas dependências de uma das maiores redes farmacêuticas do planeta. À medida que as bactérias e enfermidades evoluíam, novos projetos eram idealizados e novas soluções eram implantadas. O complexo funcionava vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. Não havia pausa para o progresso. No entanto, especificamente no quinto andar, na sala 225, um projeto incomum estava sendo desenvolvido. Tratava-se de uma pesquisa paralela e um tanto obscura. A respeitada virologista, doutora Kassandra Winslet passava horas a fio em uma pesquisa envolvendo células-tronco. Fugia totalmente dos padrões estipulados pela Ômega, mas ela não se importava. A pesquisa era secreta e de vital e pessoal importância. Seu filho Matthew, de nove anos, foi diagnosticad
O menino Matthew Winslet gostava muito da jovem doutora Annchi Zhang. Diferente de sua mãe e de seu pai, ela não tinha uma expressão fria e sisuda. Seu semblante na maioria das vezes era leve e quase infantil. Matthew a via como uma criança de jaleco e isso lhe trazia muita segurança. A tia Annchi sempre o fazia pensar, quase inconscientemente, que o mundo poderia ser algo muito maior do que hospitais, consultórios, exames e injeções. Kassandra viu que o medo havia desaparecido, mesmo que por alguns instantes, dos olhos de Matthew. — Sim, querido... ela estará lá, ajudando a mamãe. Como sempre fez. Estaremos todos juntos com você, durante todo o procedimento. Ninguém vai sair daquela sala até que tudo esteja terminado, tudo bem? Matthew tentava esconder ao máximo seu medo e nervosismo, mas com toda a pressão daquele momento, ficou muito mais difícil se conter. — Mamãe... isso vai doer muito? Quanto tempo vai demorar? O nó na garganta de Kassandra ficou do tamanho de uma ervilha. A
O pequeno Matthew Winslet, de nove anos de idade, enfim deu seu último suspiro em seu leito, no interior do setor de pesquisas específicas da Organização Ômega. Assim que ele fechou os olhos, uma última lágrima escorreu por seu rosto. Enquanto Kassandra permanecia congelada, olhando para o leito, a doutora Annchi Zhang e o professor Rodrick Winslet tentavam reanimar o menino. Como já era de se prever, não lograram sucesso na ressuscitação, visto que houve uma contaminação celular em massa no organismo de Matthew. O monitor cardíaco, que minutos atrás, mostrava 299 batimentos por minuto, agora exibia uma linha contínua e o som agudo da máquina, que evidenciava o pior. Rodrick, inconsolável, segurou nos ombros de sua esposa e exclamou, aos soluços.— Nós o perdemos... nós o perdemos, Kassandra! Ela ainda estava em transe. Sequer piscava. Seus olhos ainda estavam fixos no filho, sem vida. Annchi não suportou a dor e abraçava Matthew, sem se importar com o que a mãe pensaria. — Eu sinto
O doutor Brandon Davis olhava para a cena ao seu redor com a máxima repulsa que um homem seria capaz de sentir. O ambiente de morte o atingiu como um impacto diretamente no rosto. Ele não conseguiu pensar em outra ação a não ser exigir uma explicação. - Doutora Winslet... mas que diabos aconteceu aqui? Naquele momento, Kassandra não sabia o que sentir. Acabara de perder a sua família por causa de um experimento insano que não deu certo. E ao que tudo indicava, também estava prestes a perder sua carreira. Não havia mais o que fazer. Ela teria tempo para lamentar depois. Por ora, teria que explicar toda aquela loucura ao seu superior.- Doutor Davis... eu desenvolvi um antígeno que descobri ser capaz de curar Matthew de sua paralisia. Ocorre que é um agente extremamente poderoso e - Ela fechou os olhos e engoliu seco - os riscos são enormes. Brendon olhou para o corpo de Rodrick Winslet e depois para a tesoura ensanguentada, que ainda estava na mão de Kassandra. Ele olhou para ela, q