Capítulo 3 - É SÓ TRABALHO

HENRY

— O que vai fazer com essa arma, porra?

Eu não estou acreditando que meu irmãozinho pretende fazer isso.

Raoul está segurando a arma do policial corrupto e ordenando que desça a calça.

— Vou enfiar no rabo dele.

O homem arregala os olhos. Está algemado depois que o peguei usando nosso nome para extorquir pequenos comerciantes. Os Seven jamais fariam isso, extorquimos é grandes empresas, ameaçamos poderosos, nunca os oprimidos.

— Só pode estar maluco! — É impossível não rir enquanto falo.

— Foi o que ele disse que faria com aquela vovô do mercadinho. Nada mais poético que o otário morrer assim, com um cano no rabo.

— Sim, esse monstro me disse essa pouca vergonha.

Me viro para a voz e só uma pergunta me ocorre:

— O que essa mulher ainda faz aqui?

— É bom que ela veja o que acontece com pessoas como ele, não é não? — Ele começa certo do que fez e acaba com dúvida.

— Não sei quem é mais pirado, você ou o Florian. Tire essa senhora daqui — digo me virando para os capangas conosco.

Vamos, senhora.

Isso não é lugar para a senhora.

Os ouço falando enquanto a conduz para fora do galpão.

— Agora, você... — aponto o dedo para o meu irmão. — Raoul, você não existe. Fico imaginando o que o papai vai dizer se eu contar que seu filhote tá se metendo com o rabo de vagabundo.

— Que exagero! Quando eu fizer dezoito anos vou poder resolver as coisas do meu jeito.

— Até lá. Só observe, ok, magrelo?

Ele dá de ombros.

Eu sorrio olhando o homem a minha frente. Passo a mão pelo queixo, pensando alto.

— O que fazer com você? Quero que sirva de exemplo.

— Fure os olhos dele — Raoul atrapalha meus pensamentos.

— Caralho, maninho! Era a minha ideia principal, agora todos vão pensar que é sua.

Ele dá de ombros outra vez, guardando um canivete na jaqueta preta — parecida com a minha — e pegando a arma que sequer deveria estar segurando. Eu o trouxe aqui sem permissão do nosso pai.

— Somos irmãos, nada mais natural que pensarmos igual.

Tirando a parte da arma no cu do vagabundo, ele está certo.

— Vamos cortar sua língua e furar seus olhos... — decido.

— Por favor, piedade. — O homem implora.

— Tenho cara de santo, anjo ou deus para ter piedade? E vamos ser sinceros, você sabia onde isso ia dar. É impossível ter achado que nunca seria pego.

— Foi pela minha família que...

— Não. Não. Não. — Balanço a cabeça. — Por favor, não me faça trazer sua mulher aqui para ter o mesmo destino que você.

— Ela está gravida, precisávamos...

Levanto a mão para o interromper. E bocejo. Desculpas esfarrapadas me dão sono.

Os Seven não nasceram no castelo onde moramos. Meu pai e minha mãe passaram dificuldades antes de se tornarem poderosos. E eles nunca usaram suas dificuldades para subjugar pessoas na mesma situação ou em situação pior. É o mais importante para o nosso pai, e todos que nos conhecem sabem, assim como sabem que não adianta implorar.

— Vou fazer um favor a nós dois e não estender isso. — Me viro para o homem moreno de roupas escuras, assim como as minhas e as do meu irmão.

— Canivete. — Estendo a mão.

Logo sinto o objeto na palma, por cima das luvas.

Sem perder tempo, aperto a bochecha do gordão a minha frente, porque claro que ele não facilitaria abrindo a boca e colocando a língua para fora.

— Raoul, me ajuda. Segura a língua dele — peço.

Meu irmão cruza os braços.

— Só se me deixar furar os olhos.

— Como queira. Rápido. Ainda tenho questões do baile para resolver.

Enquanto se aproxima, ele comenta:

— Eu nunca vi a Bela. Ela é bonita?

— Eu também nunca vi, mas isso não importa. Ela só precisa aceitar seu papel de minha esposa. Não necessariamente minha amante.

Ele ri e puxa a língua do policial corrupto, que ainda tenta escapar do seu destino.

— Você não parece disposto a conhecê-la, então como vai saber quem é ela no baile, para apresentar?

Antes de responder, corto a língua e solto o moribundo, que cai no chão se contorcendo.

— Papai me deu a ideia de mandar fazer um sapato exclusivo para ela — respondo me afastando e limpando o sangue que me sujou com um lenço azul. — Eu vou a reconhecer pelo sapato. E pela máscara e o vestido que a mesma grife está providenciando. Será mais divertido assim.

Já encomendei tudo. Vou fazer em uma grife de artigos luxuosos. O nome é Fairy GM. Mamãe adorava as coisas deles.

— Aposto que estão fazendo tudo azul.

— Apostou certo. Tirando os sapatos. Você verá.

Azul é minha cor favorita, sempre foi e sempre será.

— Acho tudo isso uma bagunça.

— E eu acho que você já deveria ter feito a sua parte. — Aponto o homem agonizante no chão.

— Já está feito.

Vejo meu irmão adolescente colocar um pé no pescoço do homem no chão e simplesmente enfiar os dedos nos olhos dele. Sei que somos treinados para fazer coisas que muitos abominam, mas ele ainda não passou por nenhum treinamento, e o sorriso cruel em seu rosto assusta até a mim. Olhar para ele me faz lembrar dos filmes de psicopatas que já assisti.

Tenho que ficar de olho para que ele só olhe assim em direção a quem mereça.

— Vamos embora. Eles cuidam do resto. — Me viro para o homem loiro próximo a mim. — Pode terminar de matar. Não quero que ele se torne um peso para a esposa.

Raoul sai de perto do homem lambendo os dedos e reclamando do gosto ruim.

— Vamos mesmo. Fiquei de levar Chapeuzinho para ver um filme idiota de sereia.

Deixamos o sujeito para que nossos funcionários decidam sobre sua morte.

— Quando vocês dois vão assumir um romance?

Ele revira os olhos.

— Se você não sabe o significado da palavra amizade, não se meta.

— Eu aposto meu olho direito que vão acabar um em cima do outro. Se é que já não ficaram assim...

— Seu olho vai ficar incrível em um pingente. Quando você acha que posso considerar que perdeu a aposta?

— Que coisa horrível de se dizer. — Dou um soco nele. — Eu te dou uma carona até em casa. Não pode encontrar minha futura cunhada cheirando a morte.

— Babaca!

Rio e abraço seus ombros.

Depois de sair da presença de um porco como o que deixamos para trás, não dedicamos nenhum segundo a pensar neles.

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