De volta ao baile...
HENRY
Como assim Cinderela? O nome da mulher com a qual devo me casar é Bela Dubois. É Bela a mulher que deveria estar nesse vestido, sapatos e máscara.
Que porra está acontecendo?
As pessoas batem palmas pelo anuncio do noivado, até mesmo a mulher que está entre as irmãs gostosas, que eu sei ser a mãe delas. As três nos olham literalmente assustadas. Não é segredo que todas as cariocas sonham com o status que um casamento na nossa família lhe daria. E não duvido que Anastácia esperasse por isso. Nada contra, mas eu não sou o tipo moderninho que se casa com mulheres como ela. Eu sou antiquado, mesmo que o casamento seja uma fachada para deixar meu pai feliz. O que eu queria com Anastácia já tive. Ela só quer a chance de agarrar um homem rico, e eu mereço mais que alguém assim.
Cinderela. Quem é essa mulher? Será alguém mandado por inimigos? Preciso esclarecer isso.
Sem desfazer a pose de noivo contente, pego a mão da loira. Ela tenta puxar, mas aperto o bastante para ela perceber que não estou brincando. Se preciso, quebro seus dedinhos delicados.
É muita ousadia o inimigo adentrar nosso lar.
— É melhor vir comigo — digo já puxando-a.
Consigo passar pelos poucos convidados que se atrevem a vir até mim cumprimentar pelo futuro casamento.
Levo a loira para o escritório, fecho a porta e me escoro nela com os braços cruzados. Ela só vai sair daqui se me deixar satisfeito com suas respostas, caso contrário o seu corpo sai em um saco preto.
— Houve algum engano. Eu não vou me casar com você — fala parada na minha frente.
A encaro por alguns instantes antes de perguntar:
— O que você está fazendo nessa festa? Usando um sapato que claramente não é seu.
— Eu vim substituir uma amiga.
— Explique-se. E é melhor eu acreditar em você.
Ela me olha por quase um minuto inteiro. E por algum motivo espero uma resposta atrevida, mas não é isso que escuto.
— Eu roubei essas coisas, roupa, sapato, vestido, convite... Tudo. Queria saber como era uma festa desse tipo e roubei da casa onde trabalho. — Cruza os braços em um posição defensiva. — Dizem que afrontar um Seven é uma sentença de morte. Se esse é o caso, basta acabar logo com isso.
Caminho até ela e paro na sua frente.
— Não estou satisfeito com essa resposta. — Levo uma mão ao seu pescoço magro e o envolvo. — Está com tanta pressa assim de morrer, Cinderela?
— Não. — Sua voz baixa me faz duvidar.
— Você é mentirosa e acha que sou idiota. Disse que roubou essas coisas, porém antes disso falou que estava substituindo uma amiga. Qual é a verdade?
Sinto ela engolir sob meus dedos, mas não diz mais nada.
— Está protegendo alguém. Só pode ser a Bela. Então, é melhor que me diga a verdade ou mato ela na sua frente, da maneira mais dolorosa que puder pensar.
Ela abre a boca, mas não sai som além da sua respiração pesada e fora de ritmo.
Solto seu pescoço. Uma pequena preocupação se fazendo presente.
Essa mulher está tendo um ataque de pânico. Já vi isso no Florian.
Não sei o que ela faz aqui, mas não parece o tipo inimiga. Está mais para o tipo perdida.
Porra! Que bagunça!
— Ei, está tudo bem. Eu não vou machucar você — falo, inutilmente.
Ela continua tentando puxar o ar para dentro de si desesperadamente. Chega a se agarrar a mesa próxima.
Meu pai costuma abraçar Florian para resolver. Eu não posso abraçar uma desconhecida. Minha reputação vai para o lixo.
Quem vai saber? Prefere deixar ela morrer? Achei que fosse apenas assassino, não covarde.
Irritado pela situação, puxo a mulher pelo braço e a envolvo em meus braços. Só piora. Então resolvo ajudar dando espaço para o ar passar, aproveito a posição e rasgo seu vestido nas costas, soltando os botões delicados que se espalham pelo chão.
Isso resolve.
Agora sua respiração ofegante é de susto.
— Po-or qu-ee fez is-so? — gagueja.
— Achei que estava sufocando por causa do vestido.
— Oh Deus! — Ela tenta passar a mão pelo tecido rasgado. — Eu não vou conseguir pagar isso nunca.
— Achei que tivesse roubado. Porra! Fala a verdade de uma vez, mulher. Estou perdendo a paciência. E olha que nem tenho isso para perder.
— Se eu contar e você machucar a minha amiga... Eu sei que você é um bandido.
— Mafioso. Pelo menos é assim que nos chamam. — Pego a arma na minha fantasia de príncipe e começo a apontar para partes do seu corpo. — Se eu atirar na sua perna você fala mais rápido.
Ela vira as costas, mas parece lembrar do vestido rasgado e volta a ficar de frente.
Por mim poderia ficar de costas, tem uma pele alva que chama ao toque.
— A minha amiga me pediu para vir e me passar por ela. Eu não sabia que você a estava esperando, juro. Mas não quero que a machuque. Quer culpar alguém, culpe a mim. Ninguém vai sentir a minha falta mesmo. — A última parte sai baixinho, como um sussurro.
— Você é a irmã da Drizella e Anastácia, não é? A órfã?
— Eu não sou órfã.
— Achei que chamavam assim quem não tem pai e mãe. — Dou de ombros.
— Eu os tenho no meu coração.
— Tanto faz. — Coloco a arma sobre a mesa e me sirvo de um uísque. Ela não vai me amolecer com suas coisas de órfã. — Você disse que veio substituir sua amiga, então substitua.
— Não entendi?
— Você me fez anunciar a noiva errada diante de pessoas importantes. Aqui estão presentes de famosos a políticos. Se engana se acha que vou voltar atrás.
— Mas você não devia reconhecer sua noiva?
— Não quando nunca a vi. É um casamento por interesse. Eu devia estar aqui discutindo os termos do contrato com Bela nesse momento.
— Ela não me disse nada sobre casamento, se eu soubesse disso jamais teria vindo em seu lugar. Me desculpe por toda essa confusão.
— Desculpas não resolvem nada. Estamos em um impasse. — Levo a mão ao queixo enquanto a analiso. — Teremos que nos casar, isso é um fato.
Ela permanece tentando segurar o vestido com as alças caindo.
— Está maluco se acha que vou me casar com alguém que nem conheço. Acho que nem gosto de você.
— A senhorita é que está maluca se acha que pode entrar na minha casa fingindo ser outra pessoa e me fazer passar por ridículo anunciando um casamento com a pessoa errada.
— É só corrigir — implora.
— É só casar — revido com meu melhor sorriso que diz “você não tem escolha”.
— Eu não vou. — Ela b**e o pé como uma criança mimada, chamando a minha atenção para o sapato.
Ah vai sim. E esse casamento vai ser mais divertido do que eu esperava.
CINDERELAEu sei que não importa qual explicação dê a minha madrasta, não sairei ilesa dessa confusão. Não quando Anastácia me disse com todas as letras que queria estar onde estou nesse momento: sendo anunciada como noiva de um Seven.O problema é que sou a mulher errada. Era a Bela que devia ser anunciada.Será que ela sabia e me usou para fugir do casamento? Não, somos amigas, ela não faria isso comigo.Só que, mesmo não acreditando que seja por maldade, ela me colocou em uma enrascada. Não sei quem temo mais nesse momento, o homem que segura o meu braço, me puxando entre as pessoas, ou os irmãos da minha madrasta quando ela contar o que eu fiz.Sou levada para um lugar que parece um escritório e o Henry Seven fecha a porta e escora nela. Não sei se faz de propósito, mas seu revólver fica evidente sob a roupa.Ele quer saber o que estou fazendo aqui com as roupas e sapatos de Bela, mas se eu disser a Bela estará em apuros.Primeiro eu falo que vim substituir uma amiga, mas percebo
CINDERELAO que me mantem de pé é, com toda certeza, o braço de Henry me conduzindo. Mal sinto minhas pernas e, quanto mais nos aproximamos de minha madrasta e suas filhas, a sensação só piora. Eu devia estar me sentindo corajosa por estar com ele, mas só sinto medo de estar seguindo em direção aos rostos que são meus pesadelos diários. As máscaras delas são aquelas que a pessoa fica segurando na frente do rosto, e elas passam mais tempo com os rostos a mostra.— Boa noite! Estão gostando do evento? — Henry pergunta parando em frente a elas.Eu perdi a capacidade de falar em alguma parte do caminho. Acho que ele percebeu isso.— Surpreendente — Anastácia responde me olhando com os olhos brilhando de ódio.Henry lhe brinda com uma risadinha falsa, que não combina nada com sua aparência dominante.— A ideia era essa — diz.— Eu não sabia que vocês se conheciam. — Minha madrasta fala me olhando com todo desdém possível.— Nós... eu... — começo, mas não consigo completar. Queria muito ser
HENRY— Estou morta. — Ela diz ao se jogar no sofá. O vestido espalha e ela se curva massageando os pés sobre os sapatos, antes de tirá-los. Observo tudo escorado no batente da porta. — Eles são confortáveis, mas depois de horas andando e dançando..— Você quer dizer andando e pisando nos pés alheios.Como resposta, recebo um sorriso sem graça.— Desculpe. Eu disse que não sabia dançar.— Disse — digo simplesmente.Talvez seja o álcool que bebi durante o baile, mas essa loira me parece tão beijável, o vestido rasgado me convida a tirá-lo.Alguns minutos atrás ela me pediu para descansar. E eu cometi o erro de trazê-la para o meu quarto.Onde eu estava com a cabeça?A resposta é simples, estava pensando com a cabeça de baixo.— Cinderela, você quer foder? — pergunto mesmo. Sou direto no que desejo.Eu quero. Se ela quiser, seremos a dupla perfeita nessa cama.Prevejo o não quando ela se levanta e me dá as costas.O meu terno atrapalha a visão que eu teria da sua pele exposta pelo vesti
CINDERELADepois que minha madrasta se foi, a festa até me divertiu. Henry me apresentou para algumas pessoas como sua noiva e passei algum tempo com o pai dele e com o Raoul. O garoto tem um humor ácido, mas gostei dele logo de cara, assim como gostei do pai deles.Quando o sino de um grande relógio bateu meia-noite, eu já estava pronta para cair na cama e dormir. Tive que acordar às quatro da manhã para deixar o café pronto para Lady Tedesco e suas filhas, depois corri para a casa de Bela onde passamos o dia nos arrumando.Apesar de eu ir em seu lugar, ela se arrumou também para o pai não perceber caso a procurasse.Sabe, eu sempre fui uma pessoa corajosa. Isso foi guardado com o passar do tempo entre os Tedesco, mas continua em mim. E eu pretendo resgatar. Mesmo que inicialmente seja doloroso e assustador. Eu não quero que Henry veja em mim uma mulher fraca. Esse casamento precisa dar certo. Afinal, que desvantagem tem em casar com um deus grego cheio de poder? Não vejo nenhuma.Ap
CINDERELADentro do banheiro maior que o meio quarto, demoro dez minutos só para descobrir como ligar o chuveiro. DEZ minutos. E tomo banho frio porque não consegui mudar a temperatura. Ainda bem que aqui dentro o clima não é frio. Não sei porque tantos botões e torneiras. Tem até controle remoto sobre a pia.Tomo um banho rápido, só para relaxar o corpo, e vou em busca de creme dental. Como acho várias escovas novas, uso uma para escovar. Não é possível que vão se importar com isso.Quando saio do banheiro ele está sentado na cama com um roupão idêntico ao que uso e... Minha nossa senhora da periquita em chamas... alguém avisa no Olimpo que um dos deuses é mafioso e está curtindo entre meros mortais.Minha mente fica se perguntando se ele está nu sob o roupão, assim como eu estou.— Quer que eu peça algo para comer?E lá se vai os pensamentos impuros.Aperto o tecido contra o meu corpo institivamente. Agora só me pergunto se ele me acha magra demais.Nego a comida e aceito seu pedido
HENRYAcordo com uma sensação de sufocamento. Quando abro os olhos vejo o motivo: uma cabeleira loira na minha cara. Eu estou preso por um polvo humano. Quantas pernas e braços essa mulher tem?Sorrio, enquanto tiro devagar seus membros de sobre o meu corpo.Sorrio? Era só o que faltava.Antes que eu possa questionar o motivo de estar agindo como um tolo desde que essa mulher surgiu naquela escada, ouço batidas na porta do quarto. Ela se mexe e vira para o outro lado, me liberando totalmente.E... é sério que estou sentindo falta do seu grude? Ninguém merece.Saio da cama rapidamente e vou atender o filho da puta que me acorda sabendo que estou acompanhado. Aposto meu braço esquerdo que é Raoul. Nem meu pai me acorda assim.Abro a porta quando o maldito está prestes a bater na madeira novamente.— Que visão horrível para se ter de manhã. — A mão que bateria na porta vai parar nos olhos que ele esfrega.— Que horas são, Raoul? O que você quer?Não disse que era ele? Ninguém mais é tão
CINDERELADemoro alguns segundos para me situar quando acordo. Essa cama macia e quentinha é nada com o qual estou acostumada. Quando as lembranças me pegam, sorrio por saber que é assim que vou acordar todos os dias. Meu corpo está relaxado como há tempos eu não sentia.Henry não está ao meu lado.Estendo os braços para cima, me espreguiçando, e me assusto com sua chegada.— Bom dia, Pequena Ilha!Me assusto e começo a pedir desculpas por seja lá o que for. Estou tão acostumada a me desculpar que sai no automático. Só que me perco com a visão. Ele ainda está de cueca, o que me faz lembrar o que não aconteceu durante a noite.— Vou tomar um banho. Me acompanha? — ele convida com a cara mais safada que já vi.E só tem uma palavra que quero dizer...— Claro.Mais que depressa, saio da cama e vou até ele. O safado agarra minha cintura e me puxa para si. Adoro bater contra esse peito musculoso e lisinho.Me viro quando ele tenta me beijar. Afinal acabei de acordar. Nada de assustar o futu
HENRY“Você acabou com o clima.”Acho que detesto essa frase.Sei que se insistir um pouco, ela cede. Cinderela parece ser muito fogosa. Ela não é o tipo tímida e medrosa. A mulher está aqui, na minha frente, revelando tudo que enfrentou e enfrentaria por sua liberdade.— Já que acabei com o clima, vamos fazer compras, Cinderela. Você fica gostosa demais com minhas camisas. Está proibida de usar fora desse quarto.— E como vou sair para fazer essas compras? O vestido, além de ser exagerado para sair, está rasgado.— Te deixo sair apenas hoje. Com a promessa que atiro no olho de quem olhar para suas pernas.— Meus palitos? — ela gargalha, desacreditada do que ouviu.— Não vejo palitos. Ainda vou te colocar diante de algumas modelos, para que descubra o quanto elas lutam para ter um corpo próximo ao seu.— Eu não quero nem pensar em quantas dessas modelos você comeu, senão vou ter que atirar nos olhos delas.É minha vez de rir. Essa loira é perfeita demais.— Já terminou, Pequena Ilha I