CINDERELAQuando acordo estou em uma sala suja, cheirando a podre. É difícil conter a vontade de vomitar. Me lembro vagamente do que aconteceu no carro. Aquele maldito motorista. Ele nos traiu.A minha cabeça dói. A acertaram. Me lembro da dor e de apagar.Tento levar a mão até o foco da dor, mas elas não se movem, estão amarradas.Vejo que não sou a única na sala. Há três outras cadeiras na minha frente com outras três pessoas amarradas. Conheço cada uma delas. É o motorista, Nate e Drizella. E Deus, o que aconteceu com ela? Está tão magra e abatida.Todos eles estão desmaiados. Eu espero que esteja só desmaiados.Olho ao redor.É a sala da casa de Lady Tedesco. Está parecendo abandonada. Na verdade, parece um lixão, com coisas e comidas jogadas para todo lado. O sofá que a Lady adorava está manchado e rasgado.O que houve aqui?Marcelo entra na sala assobiando, usando seu uniforme da polícia tão sujo e rasgado quanto as coisas nessa sala.Ele me ignora e vai até os três. Pega uma ja
HENRY— Nosso jogador principal chegou. — Marcelo fala. Esse merda está completamente louco.— Sim. Estou aqui. Me diga o que você quer para soltar essas pessoas.— Vamos jogar, valendo a vida deles... — ele segue meu olhar em direção ao motorista, claramente morto. — Pelo menos de quem ainda está vivo.— Cinderela... — não consigo completar a frase, porque de onde estou não dá para confirmar se ela respira.— Só desmaiou. Coisa de grávida.— Diga logo os termos do seu jogo.— O jogo é simples, você acerta o pé da dona e sai levando a garota, erra e leva um corpo.— Só tenho que colocar o sapato no pé da minha mulher? — questiono confuso.— Isso.Esse homem é doente, posso ver claramente quem é Cinderela.— Já posso colocar?— Claro. Claro. Vamos logo com isso.Caminho devagar até Cinderela. Tenho que ser cuidadoso, loucos são capazes de qualquer coisa.Me abaixo diante dela e acaricio seus tornozelos antes de calçar os sapatos nos seus pés descalços. Suas sandálias estão jogadas pert
No dia seguinteCINDERELA— Eu quero ver o Nate — exijo cruzando os braços sobre os seios sensíveis. — Sou sua prisioneira agora?Meu marido continua servindo seu uísque no bar do quarto.— Dá pra ficar calma, mulher?! Eu só disse que é melhor outro dia.Bufo e me jogo sentada na cama. O que faz Henry me lançar um olhar matador.— Estou grávida, não virei de cristal.Eu sei que não é minha culpa o que aconteceu com o Nate, mas eu quero lhe dizer que sinto muito.Henry não diz nada, continua só me olhando.— Ele é meu amigo, porra! Eu quero vê-lo.— Quer ver quem? — Raoul aparece na porta. Antes que Henry reclame da intromissão, ele dá de ombros. — Estava aberta. Só vim avisar que o grandão caolho está lá embaixo. Quer saber como você está, cunhada.— Nate?Ele confirma com um gesto e eu saio como um furacão.Só me detenho quando vejo o homem com um curativo em um olho, logo no início das escadas.— Nate... — Me jogo em seus braços abertos. Já estou chorando. — Me desculpe. Eu sinto mu
HENRYA visita de Drizella me incomodou, o excesso de carinho de Nate com minha mulher também.Mas nada me incomoda mais que o suspense de hoje.Claro que Cinderela não desistiu da surpresa, mesmo que não seja mais tão surpresa assim.Por mais que eu tenha dito várias vezes que é desnecessário, que melhor seria me surpreender pelada embaixo de mim, ela se fez de surda. E eu, agora oficialmente sua cadelinha — já nem escondo mais —, estou obediente entre nossos familiares e amigos para receber a tal surpresa.— Cheguei! Podem começar a festa. — Conheço o homem espalhafatoso que entra dizendo essas palavras em alto e bom som.Ele traz uma caixa na mão.— Mamãe, quer ter a honra? — estende a caixa para minha mulher e abana o pescoço com a outra mão. — Não vou aguentar esperar, morro de ansiedade.Cinderela se vira para mim.— Amor, sei que não é tão surpresa assim, mas espero que goste. — Ela pega a caixa e me entrega.— Você sabe o tipo de surpresa que gosto. — Não perco a chance de pro
“Sim, quando um homem ama uma mulherEu sei exatamente como ele se sente”When A Man Loves A Woman - Michael BoltonDois anos depoisHENRYPrimeiro esperamos a bebê nascer, depois esperamos um pouco mais para ela não estar tão novinha. Agora, finalmente, estou aqui plantado nesse altar esperando Cinderela surgir e me dizer sim outra vez. Enquanto isso sigo minha princesa passando de colo em colo nas mãos das mulheres dessa família. Está tão linda quanto uma princesinha de vestido azul e cabelos loiros, como os da mãe, soltos. Pena que herdou meus olhos negros. Se fossem azuis seria uma cópia perfeita da mãe.No altar, comigo, estão todos os meus irmãos e meu pai. Suas mulheres estão sentadas nas primeiras cadeiras, esperando os primeiros acordes de When A Man Loves A Woman para tomarem seus lugares.Os acordem começam, elas se levantam. Cada uma fica em um lugar do tapete vermelho por onde Cinderela vai passar.Ela escolheu a música, diz ser a nossa música.Para mim qualquer música é n
O amor é uma flor azul Que desabrocha onde é desejada.CINDERELA— Seja bem-vinda, senhorita Bela Dubois! — um dos dois homens fantasiados de guardas da realeza cumprimenta ao ver meu convite.Apenas sorrio e aceno, passando rápido antes que ele descubra a farsa.O vestido é longo demais, tenho que levantar um pouco para andar melhor, o que dá um vislumbre do sapato que parece ser de cristal, quando na verdade o material é bem confortável por dentro.Esse treco é caríssimo. A Bela é louca de me pedir para usar.Entro no salão do castelo e sou brindada com puro luxo. Tem que se ter muito poder para morar em um castelo em plena Copacabana, e poder é o que os irmãos Seven mais tem. Um poder obscuro e manchado de sangue. A máfia Seven é a maior no Brasil. Nenhuma facção ou máfia conseguiu destroná-la. O que mais tem no jornal são tentativas, claro que camufladas por crimes “normais”.Eles mandam nos jornais... na verdade mandam em tudo, até na polícia. Sei que até os irmãos da minha madr
Três meses antes do baile...HENRY— Pai, o que estamos fazendo aqui? O senhor só nos reúne de portas fechadas quando o assunto é grave. — Ouço o questionamento de Raoul.Não dou muita atenção, estou focado no celular onde acabo de receber um vídeo de Anastácia nua me convidando para uma noite quente entre suas pernas.Gostosa demais! Essa ruiva é uma das minhas garotas favoritas quando o assunto é sexo casual. Sempre fogosa e disposta a tudo para agradar.Meu pai limpa a garganta no seu costume de chamar a atenção assim.Só tenho tempo de responder “chego depois da meia noite”.Hoje a noite vai ser agitada.Finalmente, com todos olhando em sua direção, nosso pai começa:— Vocês sabem o último desejo de sua mãe.— Ela quer ver do céu todos os filhos casados. — Raoul responde, mesmo sem meu pai realmente perguntar.Adolescentes!— Exato. A minha última obrigação com a mãe de vocês é obrigá-los a casar e aumentar a família. E eu farei isso, se necessário.— Parece que voltamos alguns sé
Um mês antes do baileCINDERELA— Cindy, você viu meu vestido lilás? — a porta do meu quarto abre sem aviso prévio e Anastácia já vai falando.Quarto é forma de falar. Eu durmo e moro em um pequeno cômodo nos fundos do imóvel que era dos meus pais, foi construído originalmente para ser um quarto de empregada, o que não deixa de ser, já que eu sou a empregada. Escrava, sendo mais realista.Rapidamente coloco a toalha na frente do corpo. O que não é o bastante para esconder a falta de curvas e carne.Droga! Anastácia sempre surge na hora errada.Não que eu tenha vergonha do meu corpo ou algo assim, só não gosto de não ter privacidade. E o meu quarto não tem sequer fechadura. Segundo a minha madrasta é para impedir que eu traga homens para fornicar. Mas a verdade é outra. É um verdadeiro pesadelo.Lady Tedesco é uma megera que se acha a própria rainha da Inglaterra. Ela não liga para mais ninguém além de si.Chego a pensar que se deve ao fato do seu nome ser Lady. Será que os pais dela s