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CAPÍTULO 04 - Praga ou Karma?

"[...] De todas as vezes em que te odiei, também me culpei porque era mais forte que eu. Ainda existia amor, e essa parte é que me fazia reagir, esse lado fazia com que eu ainda alimentasse todas as ilusões."

→15 dias antes do grande dia.

Havia um certo tipo de conforto em ouvir a voz aguda de Bruce me dando bronca, acho que porque se parecia muito com meu pai, e como estava com saudade, isso acabava me fazendo sentir em casa.

Não achei que a notícia se espalharia rápido, que Henry daria com a língua nos dentes tão cedo e para tanta gente, mas o que criei se espalhou e causou efeito contrário ao que eu queria. 

Ao invés de as pessoas se contentarem com um final feliz pra mim, enfim casada, começaram a se perguntar se era verdade, e quem seria o tal marido que se casou às escondidas logo comigo.

Bruce, ao ser questionado sobre, não conseguiu desmentir e sob a pressão da mentira disse que eu estava envolvida com uma pessoa e que era minha a decisão de revelar o nome ou não. 

O maior problema pra mim é que ao invés dos noivos serem os alvos principais das conversas, mais uma vez as pessoas falavam de mim, sem parar, e sem sombra de dúvidas, não era isso que eu queria logo quando o casamento dos pombinhos batia na porta.

— Eu não acho que seja um cúmulo enorme — protestou Louise depois de muito escutar o noivo falando sobre o quão irresponsável eu fui. — Pensa bem, se nós dermos a confirmação de que ela se casou por aí, as pessoas vão parar de encher o saco e o problema será resolvido. Depois que o casamento passar, a gente inventa outra história e diz que não deu certo e colocaram um fim.

— Como já é esperado, ninguém vai se importar. O meu caso de solteirice estará resolvido por enquanto e eu entro com o Adam mesmo, sem cerimônias.

Bruce balançou a cabeça desacreditado.

— Eu não acredito que as duas mulheres da minha vida são tão golpistas assim! Vocês querem enganar todo mundo, até seus pais, e os nossos amigos mais próximos, isso é o cúmulo sim!

Louise pareceu inconformada.

Eu estava triste por estar fazendo toda essa bagunça, e enquanto pensava em uma solução, Lou saiu do quarto brava, resmungando alguns palavrões que não quisemos nem pensar em dar ouvidos. 

Bruce só continuou falando em como eu podia ter o dom de fazer merda e estragar as coisas mais simples que eram colocadas em minha frente. Estava irritado e era compreensível.

Porra, o casamento dos sonhos da Louise estava indo por água abaixo por uma mentira idiota, tudo para que eu fosse a porcaria da madrinha de casamento de Bruce, tudo porque eu não podia ser a dama de honra pois ele não queria.

— É tão difícil assim pra você? Não dá para falar a verdade uma única vez na vida? Por que não disse pra ele que estava bem sozinha, que não ia retomar nada? Não! Você teve que inventar mais uma história!

Me levantei da cama e parti para cima de Bruce na maior velocidade que os saltos permitiram, o que me fez ser assustadora o suficiente para vê-lo recuando alguns passos.

— Cala a porra dessa sua boca! — falei um pouco mais alto que ele. — Foi você quem insistiu pra que eu fosse o caralho de uma madrinha, e foi você quem trouxe o Travis pra cá e me fez sair dos eixos! Eu não fui atrás dele, não fui atrás de ninguém, eu só queria ficar quieta no meu canto sem me preocupar com o que as pessoas estão falando, mas você arruinou tudo. Então para de jogar a culpa em mim.

Quando ele entendeu a situação, amenizou toda a braveza.

Na verdade, eu também não tinha entendido ainda, até aquele momento.

— Eu sinto muito que vocês tenham se esbarrado por aí… Brigaram, não foi?

— Acha que eu inventei uma mentira para surpreender o Travis? — perguntei ofendida.

No fundo, talvez tenha sido quase isso, mas eu não ia confessar. 

— Não, eu sei que não. É só que, eu sei como fica quando eu falo dele, ou quando ele está por perto, eu só…

— O Travis não mexe comigo, e não se esqueça de que ele nunca está por perto porque eu o afastei, você se lembra? Lembra o motivo de eu ter fugido? Lembra porquê ele me odeia e porque a cada dez palavras que eu falo com ele, onze são pra ferir?

Meu amigo suspirou fundo e foi tomado por tristeza.

Caralho! O dia deveria ser perfeito. Haviam várias pessoas dispostas a comemorar com eles a contagem regressiva para o tão aguardado dia do casamento, e nós estávamos trancados em um quarto, brigando.

Que lindo!

— Vamos fazer isso, tá bom? A gente diz que você se casou com um cara e que ele mora no Japão. Você entra com o seu pai no dia do casamento e quando tudo passar, a gente inventa alguma coisa. Não precisamos de nada a mais que isso.

Se deu por vencido, não foi?!

O que não faz o jogar verdades na cara.

— Eu sinto muito, Bruce. Queria ficar do seu lado, te ajudar com os últimos preparativos, estar presente nisso, mas não vou. Quero só a minha casa e a vida normal de volta. Estar aqui é estar em constante fuga. Não posso deixar as pessoas saberem da verdade, nem posso respirar em paz sem pensar que o Travis vai aparecer a qualquer momento para me desestabilizar. Eu só quero que as coisas continuem normais.

E como em outras milhares de vezes, eu fugi sem ouvir o que quer que fosse. 

Não tinha mais cabeça para nada.

Só precisava ver meu pai, ouvir ele cantando para mim como fazia quando eu era mais nova, e não ter que inventar ser algo que eu não era. Precisava de tudo da minha vida que não envolvia Travis, e nem mesmo Bruce.

Uma pausa seria o mais indicado, depois eu poderia tentar resolver as merdas que fiz.

Achei que o trajeto até meu carro seria tranquilo, ninguém deveria estar prestando atenção em mim, não quando tinha música ao vivo e comida boa gratis no jardim, mas quando me deparei com Sam parado perto do automóvel preto, tive certeza de que fui observada por ele desde que desci as escadas, não muito equilibrada nos saltos e em mim mesma.

— Vejam se não é a mais nova "casada" do momento — falou alto, com falsa empolgação, como se estivesse fazendo um anúncio, sendo um belo idiota.

Por um momento cessei meus passos e pensei em voltar. Dar mais corda para mais um ex era um erro, ainda mais sendo o Samuel.

— O que você quer? Sua noiva está linda e sozinha lá no jardim, deveria fazer companhia pra ela, e não cuidar da minha vida.

O homem riu, tragou o cigarro que segurava entre os dedos e começou a se aproximar.

Não reagi, não tinha medo nem motivos para correr. Se ele precisasse ouvir a mesma coisa que falei para Henry, eu diria e enfim sairia dali.

— Como consegue ser tão mentirosa, Terena? É tão ridículo ver você se humilhando assim em uma mentira, apenas para tentar passar por cima dos seus ex que estão noivos e prestes a casar… Você acha que o melhor jeito é inventar um casamento? O quão hilário é ver você fugindo do Tom, do Henry, e de mim, e agora te ver com a invenção de um casamento falso.

Hilário. O segundo ex que usou a mesma palavra, no mesmo dia, em um período de oito horas.

Era um plano deles? Ou o karma?

Faltava só Tomaz aparecer para também falar o quão idiota eu estava sendo, mas eu ousaria dizer que ele jamais seria capaz de tal coisa. Jogar o que quer que seja na minha cara não é do seu feitio.

Bom, errado por completo Sam não estava. Fazia pouco tempo, então ele ainda me conhecia bem.

— Eu não te devo satisfação de nada. Então por favor, saia da minha frente e esqueça de vez que eu existo. Se estou ou não casada, isso não é da sua conta.

Tentei desviar de seu corpo, mas ele segurou meu braço me impedindo de seguir. 

Olhei pra ele como se estivesse olhando para um criminoso e no meu interior quis tentar entender por qual motivo idiota o homem estava fazendo toda aquela cena.

O filho da puta ia se casar dali a dois meses e ainda tinha sentimentos por mim?

Não! Nem poderia, disso eu tinha absoluta certeza.

— Queen, tudo bem aí?

Se não senti medo algum com os atos de Sam, com a fala de Travis eu me apavorei.

Eu precisava fugir o quanto antes, isso era incontestável.

Poderia passar um dia todo rebatendo Samuel ou Henry, mas Travis Turner não era eles e estava mil níveis acima.

Entrar em um debate, na frente de Sam, não seria boa coisa.

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