"[...] De todas as vezes em que te odiei, também me culpei porque era mais forte que eu. Ainda existia amor, e essa parte é que me fazia reagir, esse lado fazia com que eu ainda alimentasse todas as ilusões."
→15 dias antes do grande dia.
Havia um certo tipo de conforto em ouvir a voz aguda de Bruce me dando bronca, acho que porque se parecia muito com meu pai, e como estava com saudade, isso acabava me fazendo sentir em casa.
Não achei que a notícia se espalharia rápido, que Henry daria com a língua nos dentes tão cedo e para tanta gente, mas o que criei se espalhou e causou efeito contrário ao que eu queria.
Ao invés de as pessoas se contentarem com um final feliz pra mim, enfim casada, começaram a se perguntar se era verdade, e quem seria o tal marido que se casou às escondidas logo comigo.
Bruce, ao ser questionado sobre, não conseguiu desmentir e sob a pressão da mentira disse que eu estava envolvida com uma pessoa e que era minha a decisão de revelar o nome ou não.
O maior problema pra mim é que ao invés dos noivos serem os alvos principais das conversas, mais uma vez as pessoas falavam de mim, sem parar, e sem sombra de dúvidas, não era isso que eu queria logo quando o casamento dos pombinhos batia na porta.
— Eu não acho que seja um cúmulo enorme — protestou Louise depois de muito escutar o noivo falando sobre o quão irresponsável eu fui. — Pensa bem, se nós dermos a confirmação de que ela se casou por aí, as pessoas vão parar de encher o saco e o problema será resolvido. Depois que o casamento passar, a gente inventa outra história e diz que não deu certo e colocaram um fim.
— Como já é esperado, ninguém vai se importar. O meu caso de solteirice estará resolvido por enquanto e eu entro com o Adam mesmo, sem cerimônias.
Bruce balançou a cabeça desacreditado.
— Eu não acredito que as duas mulheres da minha vida são tão golpistas assim! Vocês querem enganar todo mundo, até seus pais, e os nossos amigos mais próximos, isso é o cúmulo sim!
Louise pareceu inconformada.
Eu estava triste por estar fazendo toda essa bagunça, e enquanto pensava em uma solução, Lou saiu do quarto brava, resmungando alguns palavrões que não quisemos nem pensar em dar ouvidos.
Bruce só continuou falando em como eu podia ter o dom de fazer merda e estragar as coisas mais simples que eram colocadas em minha frente. Estava irritado e era compreensível.
Porra, o casamento dos sonhos da Louise estava indo por água abaixo por uma mentira idiota, tudo para que eu fosse a porcaria da madrinha de casamento de Bruce, tudo porque eu não podia ser a dama de honra pois ele não queria.
— É tão difícil assim pra você? Não dá para falar a verdade uma única vez na vida? Por que não disse pra ele que estava bem sozinha, que não ia retomar nada? Não! Você teve que inventar mais uma história!
Me levantei da cama e parti para cima de Bruce na maior velocidade que os saltos permitiram, o que me fez ser assustadora o suficiente para vê-lo recuando alguns passos.
— Cala a porra dessa sua boca! — falei um pouco mais alto que ele. — Foi você quem insistiu pra que eu fosse o caralho de uma madrinha, e foi você quem trouxe o Travis pra cá e me fez sair dos eixos! Eu não fui atrás dele, não fui atrás de ninguém, eu só queria ficar quieta no meu canto sem me preocupar com o que as pessoas estão falando, mas você arruinou tudo. Então para de jogar a culpa em mim.
Quando ele entendeu a situação, amenizou toda a braveza.
Na verdade, eu também não tinha entendido ainda, até aquele momento.
— Eu sinto muito que vocês tenham se esbarrado por aí… Brigaram, não foi?
— Acha que eu inventei uma mentira para surpreender o Travis? — perguntei ofendida.
No fundo, talvez tenha sido quase isso, mas eu não ia confessar.
— Não, eu sei que não. É só que, eu sei como fica quando eu falo dele, ou quando ele está por perto, eu só…
— O Travis não mexe comigo, e não se esqueça de que ele nunca está por perto porque eu o afastei, você se lembra? Lembra o motivo de eu ter fugido? Lembra porquê ele me odeia e porque a cada dez palavras que eu falo com ele, onze são pra ferir?
Meu amigo suspirou fundo e foi tomado por tristeza.
Caralho! O dia deveria ser perfeito. Haviam várias pessoas dispostas a comemorar com eles a contagem regressiva para o tão aguardado dia do casamento, e nós estávamos trancados em um quarto, brigando.
Que lindo!
— Vamos fazer isso, tá bom? A gente diz que você se casou com um cara e que ele mora no Japão. Você entra com o seu pai no dia do casamento e quando tudo passar, a gente inventa alguma coisa. Não precisamos de nada a mais que isso.
Se deu por vencido, não foi?!
O que não faz o jogar verdades na cara.
— Eu sinto muito, Bruce. Queria ficar do seu lado, te ajudar com os últimos preparativos, estar presente nisso, mas não vou. Quero só a minha casa e a vida normal de volta. Estar aqui é estar em constante fuga. Não posso deixar as pessoas saberem da verdade, nem posso respirar em paz sem pensar que o Travis vai aparecer a qualquer momento para me desestabilizar. Eu só quero que as coisas continuem normais.
E como em outras milhares de vezes, eu fugi sem ouvir o que quer que fosse.
Não tinha mais cabeça para nada.
Só precisava ver meu pai, ouvir ele cantando para mim como fazia quando eu era mais nova, e não ter que inventar ser algo que eu não era. Precisava de tudo da minha vida que não envolvia Travis, e nem mesmo Bruce.
Uma pausa seria o mais indicado, depois eu poderia tentar resolver as merdas que fiz.
Achei que o trajeto até meu carro seria tranquilo, ninguém deveria estar prestando atenção em mim, não quando tinha música ao vivo e comida boa gratis no jardim, mas quando me deparei com Sam parado perto do automóvel preto, tive certeza de que fui observada por ele desde que desci as escadas, não muito equilibrada nos saltos e em mim mesma.
— Vejam se não é a mais nova "casada" do momento — falou alto, com falsa empolgação, como se estivesse fazendo um anúncio, sendo um belo idiota.
Por um momento cessei meus passos e pensei em voltar. Dar mais corda para mais um ex era um erro, ainda mais sendo o Samuel.
— O que você quer? Sua noiva está linda e sozinha lá no jardim, deveria fazer companhia pra ela, e não cuidar da minha vida.
O homem riu, tragou o cigarro que segurava entre os dedos e começou a se aproximar.
Não reagi, não tinha medo nem motivos para correr. Se ele precisasse ouvir a mesma coisa que falei para Henry, eu diria e enfim sairia dali.
— Como consegue ser tão mentirosa, Terena? É tão ridículo ver você se humilhando assim em uma mentira, apenas para tentar passar por cima dos seus ex que estão noivos e prestes a casar… Você acha que o melhor jeito é inventar um casamento? O quão hilário é ver você fugindo do Tom, do Henry, e de mim, e agora te ver com a invenção de um casamento falso.
Hilário. O segundo ex que usou a mesma palavra, no mesmo dia, em um período de oito horas.
Era um plano deles? Ou o karma?
Faltava só Tomaz aparecer para também falar o quão idiota eu estava sendo, mas eu ousaria dizer que ele jamais seria capaz de tal coisa. Jogar o que quer que seja na minha cara não é do seu feitio.
Bom, errado por completo Sam não estava. Fazia pouco tempo, então ele ainda me conhecia bem.
— Eu não te devo satisfação de nada. Então por favor, saia da minha frente e esqueça de vez que eu existo. Se estou ou não casada, isso não é da sua conta.
Tentei desviar de seu corpo, mas ele segurou meu braço me impedindo de seguir.
Olhei pra ele como se estivesse olhando para um criminoso e no meu interior quis tentar entender por qual motivo idiota o homem estava fazendo toda aquela cena.
O filho da puta ia se casar dali a dois meses e ainda tinha sentimentos por mim?
Não! Nem poderia, disso eu tinha absoluta certeza.
— Queen, tudo bem aí?
Se não senti medo algum com os atos de Sam, com a fala de Travis eu me apavorei.
Eu precisava fugir o quanto antes, isso era incontestável.
Poderia passar um dia todo rebatendo Samuel ou Henry, mas Travis Turner não era eles e estava mil níveis acima.
Entrar em um debate, na frente de Sam, não seria boa coisa.
Olhei por cima do ombro para saber se o homem havia ido embora ou se estava se aproximando, e sim, vinha em nossa direção com passos calmos, também tragando um cigarro.Samuel por algum motivo me soltou. Talvez não quisesse que alguém visse ele agarrando a ex, ainda mais parecendo tão bruto no agarre. O que pensariam sobre o garoto certinho?— Eu estou ótima — foi o que disse, apenas.Ele continuou andando até nós e Sam começou a se mexer, jogou o cigarro no chão e pisou em cima, olhou para as árvores fingindo demência, e tentou nem se importar com a presença de Travis, diferente de mim que agora sim fiquei sem saber o que fazer.— Eu estava te procurando. O Bruce disse que precisamos nos juntar aos outros na reunião mais tarde, então não sei se você quer ir para casa tomar um banho, ou se prefere ficar direto… Eu não recusaria a proposta que me fez mais cedo.Que caralhos ele estava falando? Ou melhor, por que estava falando tão doce e calmo?Dizer que não recusaria minha proposta d
"[...] Só não podemos esquecer que mesmo tentando fugir, voltamos um para o outro, todas as vezes."→15 dias antes do grande dia.Vermelho, verde ou azul. Essas eram as opções de cores de vestido que Louise me ofereceu para usar na primeira reunião que fariam, reunindo todas as madrinhas e outras "peças" chave para ajudá-la nos últimos preparativos. Não era como se não tivesse meus próprios vestidos, mas a lindinha disse que precisava ser algo especial, e não tão casual como os meus poucos. Bom, e o intuito da tal reunião era que, tínhamos que organizar a despedida de solteira que seria apenas dois dias antes do casamento, ir atrás de comidas veganas para alguns convidados que só informaram o fato de última hora, fazer a penúltima prova dos vestidos, confirmar tudo com o salão, e mais umas mil outras coisas. Contudo, me ajudar com a escolha de um vestido seu foi só desculpa, ela queria mesmo era saber como eu estava depois de "aumentarem" a minha invenção.— Vermelho é a minha cor
Durante a infância nunca tive mordomia alguma. Minha mãe sempre dizia não ter dinheiro suficiente nem para pagar as contas de casa, e viver com escassez não foi difícil pra mim em momento algum porque me acostumei. Depois, quando saí da antiga casa para morar com meu pai, as coisas foram diferentes. Ele não era rico mas tinha seu próprio negócio, podia pagar uma boa escola pra mim e comprar roupas novas. Diferente de tudo o que minha mãe me dizia, ele não era um monstro insensível, muito pelo contrário, meu pai havia guardado tanto amor para me dar, que depois de anos ele só conseguiu me fazer sentir as melhores coisas do mundo. Ele me passava segurança, cuidava de mim, e nunca colocou nada em primeiro lugar que não fosse eu, diferente da mulher que me carregou em sua barriga. Enfim, não tínhamos todo o dinheiro do mundo, mas o suficiente para viver bem. Já a família de Louise tinha uma bela fortuna em sua conta bancária. Não que isso fosse ruim, mas muitas vezes eles exagerav
Travis era assim. Ele tinha a necessidade de me tirar do sério e me deixar inconstante, e era tudo tão proposital que me dava nos nervos.Aquele idiota ainda sabia como me atingir, e eu odiava que soubesse. — Travis, acho que precisamos conversar, de preferência em um lugar que ninguém escute a conversa — sugeri, porque não estava com paciência e assim evitaria uma cena desnecessária na frente de todas aquelas pessoas.— Ah, me desculpe, mas não vou sair daqui — informou descontraído. — Digamos que eu tenha medo do que você possa fazer comigo entre quatro paredes — caçoou e a única coisa que fiz foi ignorar.Já que ele preferia assim…Dei de ombros, não me preocupando então com uma possível plateia. — Tudo bem. Se quer assim... É bom que pare com isso o quanto antes. Não vou entrar no seu joguinho sádico, Turner. Não vou alimentar essa sua loucura. E, definitivamente, não vou confirmar para as pessoas que eu sou sua esposa. Ele soltou um riso, achando graça das minhas palavras.—
— Filho de uma puta! É isso o que você é. Mesquinho. Mimado. Egoísta! — gritei, querendo avançar para cima de Travis e quebrar seu pescoço.Louise continuou me segurando firme pela cintura.— Terena, fica calma. Por que não me explica o que está acontecendo, hum? — Tentou, tirando alguns fios de cabelo do meu rosto mas ainda assim continuei furiosa.Ela sabia o que estava acontecendo, porra! Todos sabiam.— Como você pôde fazer algo assim? Como pode ser tão egoísta e pensar só na sua vida, ignorando qualquer outra coisa? Você me enoja, Travis.O ser humano mais horrível da Terra continuou parado de braços cruzados no outro lado da pequena sala, lugar reservado que encontrei para gritar com ele depois de me fazer passar por aquela merda.Um beijo? A porra de um beijo, na frente de toda aquelas pessoas, na frente de Bruce?!Sim, meu melhor amigo que aparentemente odiava a hipótese, óbvio que viu a cena ridícula a qual Travis me forçou a participar.Como é que eu não reagi? Como não e
→12 anos antes.Owen, meu crush e futuro namorado, me deixou em um canto mais afastado do ringue improvisado e deu um beijo em minha testa antes de ouvir um garoto chamar por ele. A multidão de pessoas ia se aglomerando ainda mais ao redor dos dois lutadores, e eu ouvia o grito de algumas garotas torcendo para Clinford.Owen Clinford, garoto rebelde, causava problemas na escola, mas fora da vista de todos, era um príncipe que cantava para mim enquanto tocava seu violão. E eu me derretia por ele nesses poucos momentos.Saía com Owen há pouco tempo, mas o que rolava entre a gente era bom, mesmo que estivesse mantendo isso escondido de Bruce.O rapaz ruivo anunciou o início da luta, mas não consegui ver muita coisa de onde estava. Não me esforcei para ver, afinal, odiava esse tipo de coisa, e se Owen tivesse me dito que iríamos até o galpão, eu jamais teria aceitado sair com ele naquela noite.Sua torcida feminina intensificou os gritos e consegui ver o momento em que ele acertou um c
Caminhei calmamente enquanto via algumas pessoas pela rua, que também estavam no galpão. Senti meu celular vibrar mas não me atentei a ele, Bruce ou minha mãe deveriam estar preocupados com minha demora, e só. Mas assim que cheguei em casa, mamãe estava nervosa andando de um lado para o outro, e quando me avistou, sua feição passou a ser de alívio, ao mesmo tempo em que parecia querer me matar.— Eu devia tomar o seu celular já que você não atende minhas ligações! Aonde você estava, Terena Tucker? — grunhiu a última frase pausadamente.— Achei que eu tivesse dito que sairia com o Owen — desdenhei, me sentando no sofá ao lado do namorado nojento que não dizia uma palavra sequer, apenas continuava assistindo o jogo como se a presença de nós duas fosse porra nenhuma.— Você sabia que está tendo lutas clandestinas na cidade? Que o Owen é um desses lutadores? — Parou em minha frente com os braços cruzados.— Bom, eu não soube de nada disso. Mas nós estávamos no parque, então qual o motiv
As expectativas de Arian - minha única amiga na vida - durante o trajeto até o colégio, me deixaram maluca e assustada. Acho que não estava enxergando a gravidade da situação em que me coloquei. Eu não conseguiria conversar com ele por muito tempo sem gaguejar ou falar bosta. Não ia conseguir colocar toda a merda do plano em ação. Além de Travis ser descolado e tagarela, minhas palavras com pessoas do sexo masculino se limitavam a serem dirigidas ao meu terapeuta e ao Bruce, apenas, já que Owen não fazia mais parte da minha vida.Arian dizia que eu era afiada, e que sabia muito bem responder perguntas simples, mas eu fazia isso quando entrava na defensiva, e para conquistar Travis Turner não poderia usar táticas de defesa apenas.Sobre o plano? Eu e minha amiga decidimos que nem Owen, e nem Bruce poderiam mandar em mim. Meu melhor amigo queria me proteger? Sim! Mas ele não tinha o direito de dizer com quem eu falaria ou deixaria de falar. Se Travis era bom o suficiente para se