CAPÍTULO 03 - Uma Pequena Mentira

Louise não era o tipo de garota anti social e sem amigas que só tinha as tias chatas a rodeando, muito pelo contrário, enquanto eu não tinha mais que três mulheres em quem confiava de olhos fechados, a futura esposa do meu melhor amigo tinha tantas garotas legais e leais em sua vida que eu me perdia nos nomes e rostos.

Não me lembrava se Lucy seria a que entraria em terceiro no dia do casamento, ou Beverly seria a última, e por incrível que pareça, eu tinha que ajudar nessa merda de organização também.

— Já consegui perder mais três quilos nas duas últimas semanas, acho que até o dia do casamento a costureira vai ter que fazer mais alguns ajustes. — Uma das garotas contava feliz, e enquanto eu percebia que metade se alegrava por ela, a outra metade só fingia, visto que não tinham o corpo escultural de modelo padrão. Eu era uma dessas.

As meninas continuaram a conversa, eufóricas com a data próxima, todas parecendo bem felizes por Louise, e apesar de não gostar de demonstrar tanto, eu também estava muito feliz porque sabia que Bruce havia arrumado alguém perfeita para ele.

— Eu já disse que se quiser entrar e se trancar em algum quarto, não tem problema — sussurrou a loira ao meu lado, denunciando que minha feição de tédio estava nítida demais.

— Não vou fazer uma coisa assim, Lou. Posso não saber me enturmar nessas conversas, mas você está aqui então estou tranquila de estar também.

Sorri sincera, e isso pareceu confortar ela, mas assim que a noiva de Samuel se aproximou da mesa em que todas estávamos, e Louise, por grande educação começou a falar com ela, me afastei. 

Não que eu tivesse raiva, ou que apoiasse rivalidade feminina, não. Eu só tinha que evitar aquilo, para o bem de todos e para não fofocarem mais do que já estavam fazendo.

Eu não duvidava nem um pouco que aquelas línguas maldosas poderiam dizer que eu estava me aproximando da moça para tentar recuperar meu ex, e então se algo acontecesse entre eles, iam me culpar sem eu nem ser a real culpada. 

Se conhecessem Samuel de verdade isso não aconteceria, mas como fechavam os olhos quando se tratava da índole dele...

O gramado cheio me sufocava. Minutos antes das pessoas começarem a chegar aquilo parecia enorme e exagerado, mas com todos os convidados presentes, e vários cochichando ao me ver passar, estava muito sufocante. 

As mulheres mais velhas obviamente não perdiam a oportunidade de comentar sobre como eu fui capaz de arrumar três homens "decentes" e meter o pé na bunda deles no momento em que todas mais esperam. E os homens tinham conversinhas bobas de eu ficar para "tia" ou coisa assim.

Também havia a suposição que ninguém fazia em voz alta, aquela em que eu não seguia para os finalmentes porque na verdade gostava do meu melhor amigo, e não dos respectivos noivos que eram amigos dele. 

E sobre isso, se alguém dissesse, eu teria mesmo que sair do meu canto e abrir a boca para xingar, porque uma suposição dessa, por mais que existisse, era infundada e sem sentido algum.

Tinha sim quem teimava, mas eu posso garantir que nunca cheguei ao ponto de amar Bruce dessa forma, seja lá o que tenha acontecido, nunca foi por ele.

— Cuidado pra não se perder na floresta, Terena — a voz bem conhecida me alertou e só assim me dei conta de que tinha me afastado demais.

Olhei por cima do ombro e vi o homem de pele escura e lábios chamativos segurando uma taça de champanhe em uma mão e o celular em outra.

O terno casual sempre o deixou muito bonito, e não era de se estranhar que usasse porque seu trabalho exigia isso. Provavelmente não precisou alugar para a reunião, apenas pegou do seu armário um melhor.

— Tomando champanhe, Henry? Em que momento caótico você largou o uísque?

Ele sorriu e fingiu pensar por um tempo.

— Acho que quando você foi embora eu repensei sobre beber tanto. Talvez bem lá no fundo eu achei que se parasse, você voltaria. Daí descobri que estava errado, mas também descobri que uma taça de champanhe em uma tarde de domingo é melhor que meia garrafa de Jack.

Apenas balancei a cabeça e sorri pequeno.

Não queria entrar em assuntos que remetessem ao passado. Minha conversa mais cedo com parte dele já havia sido suficiente para o mês inteiro. 

Pra quê então me aprofundar mais nos meus fracassos?

— Que bom que parou. Tenho certeza que ganhou muitos benefícios cortando o álcool.

Soou estranho, mas eu não queria mesmo ter que conversar com Henry agora. Esperei que ele percebesse isso, mas acho que se percebeu, ignorou.

— Tirando a parte que eu não pude te ter de volta, eu acabei tendo muitos benefícios mesmo, inclusive conheci a Maison em uma sessão de terapia — contou, se aproximando mais de mim e do lago mais a frente.

Como se eu quisesse saber da história de amor dele. Faça-me o favor! Desejava que ele fosse muito feliz, mas não queria estar a par de nada.

— O Bruce disse que ela é uma ótima garota. Espero que se sinta realizado com ela.

Ele riu com certo deboche, e olhou além do lago, os campos que nos cercavam.

— Eu me sentia realizado com você, e mesmo assim te perdi. Não é hilário? — Me olhou, e aquilo foi pior do que eu pensei.

Porra!

Bruce me garantiu que Henry tinha superado a separação, e o álcool, mas aquela taça de champanhe deveria ser a vigésima do dia, e o brilho nos olhos pareciam demais com a merda de lágrimas. 

Então, Bruce errou e eu também, em acreditar.

— Eu não sou a melhor pessoa pra se ter do lado, então se te conforta, eu teria te feito sofrer de qualquer forma, indo embora ou não, me casando ou não. Sinta-se feliz por não ser o último cara que eu magoei.

O homem terminou de beber o líquido alcoólico e simplesmente jogou a taça no lago com uma força exagerada, acredito até que o vidro tenha quebrado ao entrar em contato com a água.

Que maravilha! Outro Owen em minha vida.

— O Bruce disse que seu par ainda não chegou. Quem é ele? O próximo cara ao qual você vai magoar? O próximo que você vai dizer "sim" e no momento de marcar a data vai fugir?

Engoli em seco.

Queria dizer que não fiquei feliz em terminar tudo, que eu sofri, e muito, ao ter que fazer todas as malas e ir para outro lugar, dando fim ao que eu achei que fosse dar certo.

Pra mim foi tão difícil quanto pra ele.

Mas isso não precisava ser dito, não mais. E não havia necessidade alguma de ficar irritado só por uma coisa que já devia ser parte do passado.

— O Bruce não te contou que me casei?

De um segundo para outro a feição de amargura se dissipou e a surpresa ficou estampada naquele lindo rosto. Talvez até no meu, quando me dei conta do que soltei.

Mas afinal, qual outra mentira eu inventaria? Se ele acreditasse que eu havia me casado com alguém, não ia investir em nada, certo? 

Assim eu me veria livre de ter que o empurrar ou criar uma cena. Tinha que falar algo que o afastasse de vez. Eu é que não cederia a nada, muito menos a um homem comprometido e prestes a se casar.

Não tinha muitas dúvidas, se eu desse corda, ele ia avançar.

— C-Como assim… se casou? — gaguejou ao perguntar.

— Não foi oficial ainda, precisamos ir até o cartório e resolver a papelada, mas recebemos a benção do pastor, e isso é o que vale pra mim.

Ótima em mentir. Nisso eu sou expert.

Henry pareceu não acreditar mas ao mesmo tempo o vi se dando por vencido.

— Certo, e onde está o seu marido?

Pois é. Onde está o meu marido?

— Viagem de trabalho. Não sei se chega a tempo para o casamento mas, se não chegar, o Adam, primo da Lou, faz par comigo para entrar na igreja. Meu marido não liga muito pra isso.

A última frase foi quase como uma provocação e só por isso eu disse. Não que eu tivesse que jogar alguma coisa na cara, mas Henry deveria ter noção de que se continuasse cometendo os mesmos erros, dobraria as chances de perder sua futura esposa. 

Ser neurótico e obsessivo não ia ajudar muito, e perseguir sua ex noiva enquanto ela se afastava de pessoas para ficar sozinha, também não ajudava.

Bom, não foi tão ruim como pensei. Com a mentira armada eu até tinha uma solução. Ninguém mais ia encher meu saco sobre quem entraria comigo.

Adam agora já estava ótimo para me acompanhar na igreja, mesmo que eu não tenha o visto. O meu marido de mentira nunca apareceria, e talvez assim eu poderia seguir com isso para o resto da minha vida, fingindo estar acompanhada para acalmar todas as casamenteiras de plantão e os fofoqueiros que achavam que eu morreria sozinha.

Eu morreria solteira, sozinha e sem alguém para me fazer feliz pelo resto da vida, mas eles pensariam que não, igual a Henry.

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