Louise não era o tipo de garota anti social e sem amigas que só tinha as tias chatas a rodeando, muito pelo contrário, enquanto eu não tinha mais que três mulheres em quem confiava de olhos fechados, a futura esposa do meu melhor amigo tinha tantas garotas legais e leais em sua vida que eu me perdia nos nomes e rostos.
Não me lembrava se Lucy seria a que entraria em terceiro no dia do casamento, ou Beverly seria a última, e por incrível que pareça, eu tinha que ajudar nessa merda de organização também.— Já consegui perder mais três quilos nas duas últimas semanas, acho que até o dia do casamento a costureira vai ter que fazer mais alguns ajustes. — Uma das garotas contava feliz, e enquanto eu percebia que metade se alegrava por ela, a outra metade só fingia, visto que não tinham o corpo escultural de modelo padrão. Eu era uma dessas.As meninas continuaram a conversa, eufóricas com a data próxima, todas parecendo bem felizes por Louise, e apesar de não gostar de demonstrar tanto, eu também estava muito feliz porque sabia que Bruce havia arrumado alguém perfeita para ele.— Eu já disse que se quiser entrar e se trancar em algum quarto, não tem problema — sussurrou a loira ao meu lado, denunciando que minha feição de tédio estava nítida demais.— Não vou fazer uma coisa assim, Lou. Posso não saber me enturmar nessas conversas, mas você está aqui então estou tranquila de estar também.Sorri sincera, e isso pareceu confortar ela, mas assim que a noiva de Samuel se aproximou da mesa em que todas estávamos, e Louise, por grande educação começou a falar com ela, me afastei. Não que eu tivesse raiva, ou que apoiasse rivalidade feminina, não. Eu só tinha que evitar aquilo, para o bem de todos e para não fofocarem mais do que já estavam fazendo.Eu não duvidava nem um pouco que aquelas línguas maldosas poderiam dizer que eu estava me aproximando da moça para tentar recuperar meu ex, e então se algo acontecesse entre eles, iam me culpar sem eu nem ser a real culpada. Se conhecessem Samuel de verdade isso não aconteceria, mas como fechavam os olhos quando se tratava da índole dele...O gramado cheio me sufocava. Minutos antes das pessoas começarem a chegar aquilo parecia enorme e exagerado, mas com todos os convidados presentes, e vários cochichando ao me ver passar, estava muito sufocante. As mulheres mais velhas obviamente não perdiam a oportunidade de comentar sobre como eu fui capaz de arrumar três homens "decentes" e meter o pé na bunda deles no momento em que todas mais esperam. E os homens tinham conversinhas bobas de eu ficar para "tia" ou coisa assim.Também havia a suposição que ninguém fazia em voz alta, aquela em que eu não seguia para os finalmentes porque na verdade gostava do meu melhor amigo, e não dos respectivos noivos que eram amigos dele. E sobre isso, se alguém dissesse, eu teria mesmo que sair do meu canto e abrir a boca para xingar, porque uma suposição dessa, por mais que existisse, era infundada e sem sentido algum.Tinha sim quem teimava, mas eu posso garantir que nunca cheguei ao ponto de amar Bruce dessa forma, seja lá o que tenha acontecido, nunca foi por ele.— Cuidado pra não se perder na floresta, Terena — a voz bem conhecida me alertou e só assim me dei conta de que tinha me afastado demais.Olhei por cima do ombro e vi o homem de pele escura e lábios chamativos segurando uma taça de champanhe em uma mão e o celular em outra.O terno casual sempre o deixou muito bonito, e não era de se estranhar que usasse porque seu trabalho exigia isso. Provavelmente não precisou alugar para a reunião, apenas pegou do seu armário um melhor.— Tomando champanhe, Henry? Em que momento caótico você largou o uísque?Ele sorriu e fingiu pensar por um tempo.— Acho que quando você foi embora eu repensei sobre beber tanto. Talvez bem lá no fundo eu achei que se parasse, você voltaria. Daí descobri que estava errado, mas também descobri que uma taça de champanhe em uma tarde de domingo é melhor que meia garrafa de Jack.Apenas balancei a cabeça e sorri pequeno.Não queria entrar em assuntos que remetessem ao passado. Minha conversa mais cedo com parte dele já havia sido suficiente para o mês inteiro. Pra quê então me aprofundar mais nos meus fracassos?— Que bom que parou. Tenho certeza que ganhou muitos benefícios cortando o álcool.Soou estranho, mas eu não queria mesmo ter que conversar com Henry agora. Esperei que ele percebesse isso, mas acho que se percebeu, ignorou.— Tirando a parte que eu não pude te ter de volta, eu acabei tendo muitos benefícios mesmo, inclusive conheci a Maison em uma sessão de terapia — contou, se aproximando mais de mim e do lago mais a frente.Como se eu quisesse saber da história de amor dele. Faça-me o favor! Desejava que ele fosse muito feliz, mas não queria estar a par de nada.— O Bruce disse que ela é uma ótima garota. Espero que se sinta realizado com ela.Ele riu com certo deboche, e olhou além do lago, os campos que nos cercavam.— Eu me sentia realizado com você, e mesmo assim te perdi. Não é hilário? — Me olhou, e aquilo foi pior do que eu pensei.Porra!Bruce me garantiu que Henry tinha superado a separação, e o álcool, mas aquela taça de champanhe deveria ser a vigésima do dia, e o brilho nos olhos pareciam demais com a merda de lágrimas. Então, Bruce errou e eu também, em acreditar.— Eu não sou a melhor pessoa pra se ter do lado, então se te conforta, eu teria te feito sofrer de qualquer forma, indo embora ou não, me casando ou não. Sinta-se feliz por não ser o último cara que eu magoei.O homem terminou de beber o líquido alcoólico e simplesmente jogou a taça no lago com uma força exagerada, acredito até que o vidro tenha quebrado ao entrar em contato com a água.Que maravilha! Outro Owen em minha vida.— O Bruce disse que seu par ainda não chegou. Quem é ele? O próximo cara ao qual você vai magoar? O próximo que você vai dizer "sim" e no momento de marcar a data vai fugir?Engoli em seco.Queria dizer que não fiquei feliz em terminar tudo, que eu sofri, e muito, ao ter que fazer todas as malas e ir para outro lugar, dando fim ao que eu achei que fosse dar certo.Pra mim foi tão difícil quanto pra ele.Mas isso não precisava ser dito, não mais. E não havia necessidade alguma de ficar irritado só por uma coisa que já devia ser parte do passado.— O Bruce não te contou que me casei?De um segundo para outro a feição de amargura se dissipou e a surpresa ficou estampada naquele lindo rosto. Talvez até no meu, quando me dei conta do que soltei.Mas afinal, qual outra mentira eu inventaria? Se ele acreditasse que eu havia me casado com alguém, não ia investir em nada, certo? Assim eu me veria livre de ter que o empurrar ou criar uma cena. Tinha que falar algo que o afastasse de vez. Eu é que não cederia a nada, muito menos a um homem comprometido e prestes a se casar.Não tinha muitas dúvidas, se eu desse corda, ele ia avançar.— C-Como assim… se casou? — gaguejou ao perguntar.— Não foi oficial ainda, precisamos ir até o cartório e resolver a papelada, mas recebemos a benção do pastor, e isso é o que vale pra mim.Ótima em mentir. Nisso eu sou expert.Henry pareceu não acreditar mas ao mesmo tempo o vi se dando por vencido.— Certo, e onde está o seu marido?Pois é. Onde está o meu marido?— Viagem de trabalho. Não sei se chega a tempo para o casamento mas, se não chegar, o Adam, primo da Lou, faz par comigo para entrar na igreja. Meu marido não liga muito pra isso.A última frase foi quase como uma provocação e só por isso eu disse. Não que eu tivesse que jogar alguma coisa na cara, mas Henry deveria ter noção de que se continuasse cometendo os mesmos erros, dobraria as chances de perder sua futura esposa. Ser neurótico e obsessivo não ia ajudar muito, e perseguir sua ex noiva enquanto ela se afastava de pessoas para ficar sozinha, também não ajudava.Bom, não foi tão ruim como pensei. Com a mentira armada eu até tinha uma solução. Ninguém mais ia encher meu saco sobre quem entraria comigo.Adam agora já estava ótimo para me acompanhar na igreja, mesmo que eu não tenha o visto. O meu marido de mentira nunca apareceria, e talvez assim eu poderia seguir com isso para o resto da minha vida, fingindo estar acompanhada para acalmar todas as casamenteiras de plantão e os fofoqueiros que achavam que eu morreria sozinha.Eu morreria solteira, sozinha e sem alguém para me fazer feliz pelo resto da vida, mas eles pensariam que não, igual a Henry."[...] De todas as vezes em que te odiei, também me culpei porque era mais forte que eu. Ainda existia amor, e essa parte é que me fazia reagir, esse lado fazia com que eu ainda alimentasse todas as ilusões." →15 dias antes do grande dia. Havia um certo tipo de conforto em ouvir a voz aguda de Bruce me dando bronca, acho que porque se parecia muito com meu pai, e como estava com saudade, isso acabava me fazendo sentir em casa. Não achei que a notícia se espalharia rápido, que Henry daria com a língua nos dentes tão cedo e para tanta gente, mas o que criei se espalhou e causou efeito contrário ao que eu queria. Ao invés de as pessoas se contentarem com um final feliz pra mim, enfim casada, começaram a se perguntar se era verdade, e quem seria o tal marido que se casou às escondidas logo comigo. Bruce, ao ser questionado sobre, não conseguiu desmentir e sob a pressão da mentira disse que eu estava envolvida com uma pessoa e que era minha a decisão de revelar o nome ou não. O ma
Olhei por cima do ombro para saber se o homem havia ido embora ou se estava se aproximando, e sim, vinha em nossa direção com passos calmos, também tragando um cigarro.Samuel por algum motivo me soltou. Talvez não quisesse que alguém visse ele agarrando a ex, ainda mais parecendo tão bruto no agarre. O que pensariam sobre o garoto certinho?— Eu estou ótima — foi o que disse, apenas.Ele continuou andando até nós e Sam começou a se mexer, jogou o cigarro no chão e pisou em cima, olhou para as árvores fingindo demência, e tentou nem se importar com a presença de Travis, diferente de mim que agora sim fiquei sem saber o que fazer.— Eu estava te procurando. O Bruce disse que precisamos nos juntar aos outros na reunião mais tarde, então não sei se você quer ir para casa tomar um banho, ou se prefere ficar direto… Eu não recusaria a proposta que me fez mais cedo.Que caralhos ele estava falando? Ou melhor, por que estava falando tão doce e calmo?Dizer que não recusaria minha proposta d
"[...] Só não podemos esquecer que mesmo tentando fugir, voltamos um para o outro, todas as vezes."→15 dias antes do grande dia.Vermelho, verde ou azul. Essas eram as opções de cores de vestido que Louise me ofereceu para usar na primeira reunião que fariam, reunindo todas as madrinhas e outras "peças" chave para ajudá-la nos últimos preparativos. Não era como se não tivesse meus próprios vestidos, mas a lindinha disse que precisava ser algo especial, e não tão casual como os meus poucos. Bom, e o intuito da tal reunião era que, tínhamos que organizar a despedida de solteira que seria apenas dois dias antes do casamento, ir atrás de comidas veganas para alguns convidados que só informaram o fato de última hora, fazer a penúltima prova dos vestidos, confirmar tudo com o salão, e mais umas mil outras coisas. Contudo, me ajudar com a escolha de um vestido seu foi só desculpa, ela queria mesmo era saber como eu estava depois de "aumentarem" a minha invenção.— Vermelho é a minha cor
Durante a infância nunca tive mordomia alguma. Minha mãe sempre dizia não ter dinheiro suficiente nem para pagar as contas de casa, e viver com escassez não foi difícil pra mim em momento algum porque me acostumei. Depois, quando saí da antiga casa para morar com meu pai, as coisas foram diferentes. Ele não era rico mas tinha seu próprio negócio, podia pagar uma boa escola pra mim e comprar roupas novas. Diferente de tudo o que minha mãe me dizia, ele não era um monstro insensível, muito pelo contrário, meu pai havia guardado tanto amor para me dar, que depois de anos ele só conseguiu me fazer sentir as melhores coisas do mundo. Ele me passava segurança, cuidava de mim, e nunca colocou nada em primeiro lugar que não fosse eu, diferente da mulher que me carregou em sua barriga. Enfim, não tínhamos todo o dinheiro do mundo, mas o suficiente para viver bem. Já a família de Louise tinha uma bela fortuna em sua conta bancária. Não que isso fosse ruim, mas muitas vezes eles exagerav
Travis era assim. Ele tinha a necessidade de me tirar do sério e me deixar inconstante, e era tudo tão proposital que me dava nos nervos.Aquele idiota ainda sabia como me atingir, e eu odiava que soubesse. — Travis, acho que precisamos conversar, de preferência em um lugar que ninguém escute a conversa — sugeri, porque não estava com paciência e assim evitaria uma cena desnecessária na frente de todas aquelas pessoas.— Ah, me desculpe, mas não vou sair daqui — informou descontraído. — Digamos que eu tenha medo do que você possa fazer comigo entre quatro paredes — caçoou e a única coisa que fiz foi ignorar.Já que ele preferia assim…Dei de ombros, não me preocupando então com uma possível plateia. — Tudo bem. Se quer assim... É bom que pare com isso o quanto antes. Não vou entrar no seu joguinho sádico, Turner. Não vou alimentar essa sua loucura. E, definitivamente, não vou confirmar para as pessoas que eu sou sua esposa. Ele soltou um riso, achando graça das minhas palavras.—
— Filho de uma puta! É isso o que você é. Mesquinho. Mimado. Egoísta! — gritei, querendo avançar para cima de Travis e quebrar seu pescoço.Louise continuou me segurando firme pela cintura.— Terena, fica calma. Por que não me explica o que está acontecendo, hum? — Tentou, tirando alguns fios de cabelo do meu rosto mas ainda assim continuei furiosa.Ela sabia o que estava acontecendo, porra! Todos sabiam.— Como você pôde fazer algo assim? Como pode ser tão egoísta e pensar só na sua vida, ignorando qualquer outra coisa? Você me enoja, Travis.O ser humano mais horrível da Terra continuou parado de braços cruzados no outro lado da pequena sala, lugar reservado que encontrei para gritar com ele depois de me fazer passar por aquela merda.Um beijo? A porra de um beijo, na frente de toda aquelas pessoas, na frente de Bruce?!Sim, meu melhor amigo que aparentemente odiava a hipótese, óbvio que viu a cena ridícula a qual Travis me forçou a participar.Como é que eu não reagi? Como não e
→12 anos antes.Owen, meu crush e futuro namorado, me deixou em um canto mais afastado do ringue improvisado e deu um beijo em minha testa antes de ouvir um garoto chamar por ele. A multidão de pessoas ia se aglomerando ainda mais ao redor dos dois lutadores, e eu ouvia o grito de algumas garotas torcendo para Clinford.Owen Clinford, garoto rebelde, causava problemas na escola, mas fora da vista de todos, era um príncipe que cantava para mim enquanto tocava seu violão. E eu me derretia por ele nesses poucos momentos.Saía com Owen há pouco tempo, mas o que rolava entre a gente era bom, mesmo que estivesse mantendo isso escondido de Bruce.O rapaz ruivo anunciou o início da luta, mas não consegui ver muita coisa de onde estava. Não me esforcei para ver, afinal, odiava esse tipo de coisa, e se Owen tivesse me dito que iríamos até o galpão, eu jamais teria aceitado sair com ele naquela noite.Sua torcida feminina intensificou os gritos e consegui ver o momento em que ele acertou um c
Caminhei calmamente enquanto via algumas pessoas pela rua, que também estavam no galpão. Senti meu celular vibrar mas não me atentei a ele, Bruce ou minha mãe deveriam estar preocupados com minha demora, e só. Mas assim que cheguei em casa, mamãe estava nervosa andando de um lado para o outro, e quando me avistou, sua feição passou a ser de alívio, ao mesmo tempo em que parecia querer me matar.— Eu devia tomar o seu celular já que você não atende minhas ligações! Aonde você estava, Terena Tucker? — grunhiu a última frase pausadamente.— Achei que eu tivesse dito que sairia com o Owen — desdenhei, me sentando no sofá ao lado do namorado nojento que não dizia uma palavra sequer, apenas continuava assistindo o jogo como se a presença de nós duas fosse porra nenhuma.— Você sabia que está tendo lutas clandestinas na cidade? Que o Owen é um desses lutadores? — Parou em minha frente com os braços cruzados.— Bom, eu não soube de nada disso. Mas nós estávamos no parque, então qual o motiv