Olhei por cima do ombro para saber se o homem havia ido embora ou se estava se aproximando, e sim, vinha em nossa direção com passos calmos, também tragando um cigarro.
Samuel por algum motivo me soltou.
Talvez não quisesse que alguém visse ele agarrando a ex, ainda mais parecendo tão bruto no agarre. O que pensariam sobre o garoto certinho?
— Eu estou ótima — foi o que disse, apenas.
Ele continuou andando até nós e Sam começou a se mexer, jogou o cigarro no chão e pisou em cima, olhou para as árvores fingindo demência, e tentou nem se importar com a presença de Travis, diferente de mim que agora sim fiquei sem saber o que fazer.
— Eu estava te procurando. O Bruce disse que precisamos nos juntar aos outros na reunião mais tarde, então não sei se você quer ir para casa tomar um banho, ou se prefere ficar direto… Eu não recusaria a proposta que me fez mais cedo.
Que caralhos ele estava falando? Ou melhor, por que estava falando tão doce e calmo?
Dizer que não recusaria minha proposta de um boquete não foi tão surpreendente, mas e o resto?
— Você é o Travis, não é? O melhor amigo do Bruce desde a infância.
Parecia que uma luz tinha acendido na cabeça de Samuel e ele passou a quase ignorar minha presença para só focar no Turner.
— Sim. E você deve ser o Sam, amigo do Bruce e ex da minha esposa, certo?
Ao proferir aquilo eu quis morrer!
Fala sério! Não! Lógico que não!
Qual é o problema do Travis?
Qual, porra?
— Você o quê? — gaguejou ao perguntar, assim como Henry a mim. — Eu, é… sim, eu sou o ex noivo da Terena.
— Bom, é um prazer conhecer um dos melhores amigos do Bruce. — Estendeu a mão para um cumprimento e eu fiquei com cara de tacho no meio dos dois, querendo acabar de uma vez com aquela palhaçada.
— Nossa, eu nem imaginava que você e a Terena tinham alguma coisa — disse coçando a nuca, desconcertado com o pensamento de que me acusou injustamente.
A questão é que era sim tudo uma mentira e pelo visto Travis sabia bem disso e estava disposto a sabotar ainda mais os meus dias enquanto estivesse ali.
Não era novidade, mas dizer que se casou comigo ia contra alguns de seus princípios.
— Pois é, já faz muito tempo que a gente tem algo, mas só agora ela quis dar continuidade e assumir — explicou mas não tirou os olhos um segundo sequer de mim.
— Muito tempo, tipo, meses?
Olha só, preocupado com um chifre, Samuel?
— Meses? Não! Meses é bem pouco. São anos mesmo, não é, Queen?
Filho de uma puta!
Que vontade de matar aquele desgraçado.
Como podia fazer isso? Como, porra?
— O Sam não sabe de nada porque achei irrelevante contar — falei entredentes, não querendo esconder meu ódio.
Ele que fosse pra puta que pariu! Nada disso ia me ajudar de forma alguma, se é o que estava pensando.
— Ah sim, tão irrelevante que nos casamos — disse descontraído fazendo com que o outro o acompanhasse em um riso falso.
— Bom, eu fico feliz pela Terena, e por você, claro. Teve todas aquelas vezes em que ela terminou os relacionamentos perto do casamento, e enfim, isso não é algo a se discutir, me desculpa, eu, é…
Ficou sem jeito o engraçadinho.
Até diante de um "marido" meu ele quis jogar na cara que eu fui a destruidora de corações que abandonou os noivos. Como se eu tivesse deixado cada um deles plantados no altar.
Me poupe também. Ninguém era tão inocente imaculado assim não, apenas Tomaz.
— Tudo bem, eu agradeço que esteja feliz por ela, e que não tenha insistido tanto na relação de vocês. Só eu sei como é preciso lutar uma guerra mundial para conseguir convencer essa mulher de algo. Se bem que, não precisei pedir duas vezes, ela disse "sim" sem pestanejar.
Os olhos claros que por tantos anos não via, agora me encaravam fixamente e eu só queria fugir e nunca mais ter que olhá-los, mas não foi possível porque mais uma vez eu estava congelada no tempo, com os pés colados no chão e o corpo quase que inconsciente.
Travis Turner havia feito merda, muita merda.
O que eu deveria fazer?
Bater naquela cara linda, dizer que ele precisava cortar aquele cabelo e deixar do jeito que eu gostava, ou que não deveria deixar a barba crescer, ou que não tinha que ter vergonha da cicatriz na testa, que tudo nele era lindo pra caralho mas que eu só estava pensando em deformar aquele rosto perfeito?!
Puta que pariu!
Eu sabia que ele ia me afundar. Se estava ali, se tinha chegado quinze dias antes do casamento, veio para ser meu inferno pessoal.
Sam limpou a garganta e passou a mão nos cachos bagunçados.
— Então, nos vemos mais tarde na reunião. Acho que o Bruce vai planejar a despedida de solteiro dele, você não vai querer perder isso — disse ainda sem jeito, se afastando depois de me olhar envergonhado.
Quando enfim respirei aliviada e me preparei para mandar Travis tomar no cu, percebi que nem tão longe havia um grupo de mulheres que ouviram toda a conversa. Uma das abençoadas era a mãe da noiva, e pronto, agora sim eu estava fodida.
Se a mãe de Louise confirmasse aquela merda toda, eu estaria super ferrada.
— Por que fez isso, filho da puta? — sussurrei querendo pular no pescoço do homem.
— O quê? Por que te salvei das ofensas do seu ex? E a propósito, não é tão difícil entender porque ele não foi o sortudo a te ter como esposa.
Tudo sempre seria tão natural para Travis? Desde me atormentar até me ajudar como se ainda fôssemos o que já fomos?
— Eu jamais diria pra qualquer pessoa aqui que você é meu marido. Posso estar sendo linchada, ainda assim não diria nada disso.
O homem alto e cinco vezes mais forte que antes, se aproximou ainda mais, colocou gentilmente uma mão em minha cintura e me puxou para ele.
Era a minha hora. Era aí que eu sempre fugia, corria para o mais longe que pudesse.
Só que dessa vez foi diferente.
Dessa vez parecia que não havia nada que me impedisse de ficar, e por um momento de insanidade, fiquei parada encarando os lábios e toda a face de Travis, como se não fizesse isso a tempos porque não fazia mesmo.
Anos se passaram. As amarras ainda continuavam em mim, mas dessa vez eu achei que tinha força suficiente para acabar com elas.
Por um súbito momento de insanidade eu pensei que nada agora era tão impossível.
— Acostume-se, porque a partir de hoje eu sou definitivamente o seu marido.
"[...] Só não podemos esquecer que mesmo tentando fugir, voltamos um para o outro, todas as vezes."→15 dias antes do grande dia.Vermelho, verde ou azul. Essas eram as opções de cores de vestido que Louise me ofereceu para usar na primeira reunião que fariam, reunindo todas as madrinhas e outras "peças" chave para ajudá-la nos últimos preparativos. Não era como se não tivesse meus próprios vestidos, mas a lindinha disse que precisava ser algo especial, e não tão casual como os meus poucos. Bom, e o intuito da tal reunião era que, tínhamos que organizar a despedida de solteira que seria apenas dois dias antes do casamento, ir atrás de comidas veganas para alguns convidados que só informaram o fato de última hora, fazer a penúltima prova dos vestidos, confirmar tudo com o salão, e mais umas mil outras coisas. Contudo, me ajudar com a escolha de um vestido seu foi só desculpa, ela queria mesmo era saber como eu estava depois de "aumentarem" a minha invenção.— Vermelho é a minha cor
Durante a infância nunca tive mordomia alguma. Minha mãe sempre dizia não ter dinheiro suficiente nem para pagar as contas de casa, e viver com escassez não foi difícil pra mim em momento algum porque me acostumei. Depois, quando saí da antiga casa para morar com meu pai, as coisas foram diferentes. Ele não era rico mas tinha seu próprio negócio, podia pagar uma boa escola pra mim e comprar roupas novas. Diferente de tudo o que minha mãe me dizia, ele não era um monstro insensível, muito pelo contrário, meu pai havia guardado tanto amor para me dar, que depois de anos ele só conseguiu me fazer sentir as melhores coisas do mundo. Ele me passava segurança, cuidava de mim, e nunca colocou nada em primeiro lugar que não fosse eu, diferente da mulher que me carregou em sua barriga. Enfim, não tínhamos todo o dinheiro do mundo, mas o suficiente para viver bem. Já a família de Louise tinha uma bela fortuna em sua conta bancária. Não que isso fosse ruim, mas muitas vezes eles exagerav
Travis era assim. Ele tinha a necessidade de me tirar do sério e me deixar inconstante, e era tudo tão proposital que me dava nos nervos.Aquele idiota ainda sabia como me atingir, e eu odiava que soubesse. — Travis, acho que precisamos conversar, de preferência em um lugar que ninguém escute a conversa — sugeri, porque não estava com paciência e assim evitaria uma cena desnecessária na frente de todas aquelas pessoas.— Ah, me desculpe, mas não vou sair daqui — informou descontraído. — Digamos que eu tenha medo do que você possa fazer comigo entre quatro paredes — caçoou e a única coisa que fiz foi ignorar.Já que ele preferia assim…Dei de ombros, não me preocupando então com uma possível plateia. — Tudo bem. Se quer assim... É bom que pare com isso o quanto antes. Não vou entrar no seu joguinho sádico, Turner. Não vou alimentar essa sua loucura. E, definitivamente, não vou confirmar para as pessoas que eu sou sua esposa. Ele soltou um riso, achando graça das minhas palavras.—
— Filho de uma puta! É isso o que você é. Mesquinho. Mimado. Egoísta! — gritei, querendo avançar para cima de Travis e quebrar seu pescoço.Louise continuou me segurando firme pela cintura.— Terena, fica calma. Por que não me explica o que está acontecendo, hum? — Tentou, tirando alguns fios de cabelo do meu rosto mas ainda assim continuei furiosa.Ela sabia o que estava acontecendo, porra! Todos sabiam.— Como você pôde fazer algo assim? Como pode ser tão egoísta e pensar só na sua vida, ignorando qualquer outra coisa? Você me enoja, Travis.O ser humano mais horrível da Terra continuou parado de braços cruzados no outro lado da pequena sala, lugar reservado que encontrei para gritar com ele depois de me fazer passar por aquela merda.Um beijo? A porra de um beijo, na frente de toda aquelas pessoas, na frente de Bruce?!Sim, meu melhor amigo que aparentemente odiava a hipótese, óbvio que viu a cena ridícula a qual Travis me forçou a participar.Como é que eu não reagi? Como não e
→12 anos antes.Owen, meu crush e futuro namorado, me deixou em um canto mais afastado do ringue improvisado e deu um beijo em minha testa antes de ouvir um garoto chamar por ele. A multidão de pessoas ia se aglomerando ainda mais ao redor dos dois lutadores, e eu ouvia o grito de algumas garotas torcendo para Clinford.Owen Clinford, garoto rebelde, causava problemas na escola, mas fora da vista de todos, era um príncipe que cantava para mim enquanto tocava seu violão. E eu me derretia por ele nesses poucos momentos.Saía com Owen há pouco tempo, mas o que rolava entre a gente era bom, mesmo que estivesse mantendo isso escondido de Bruce.O rapaz ruivo anunciou o início da luta, mas não consegui ver muita coisa de onde estava. Não me esforcei para ver, afinal, odiava esse tipo de coisa, e se Owen tivesse me dito que iríamos até o galpão, eu jamais teria aceitado sair com ele naquela noite.Sua torcida feminina intensificou os gritos e consegui ver o momento em que ele acertou um c
Caminhei calmamente enquanto via algumas pessoas pela rua, que também estavam no galpão. Senti meu celular vibrar mas não me atentei a ele, Bruce ou minha mãe deveriam estar preocupados com minha demora, e só. Mas assim que cheguei em casa, mamãe estava nervosa andando de um lado para o outro, e quando me avistou, sua feição passou a ser de alívio, ao mesmo tempo em que parecia querer me matar.— Eu devia tomar o seu celular já que você não atende minhas ligações! Aonde você estava, Terena Tucker? — grunhiu a última frase pausadamente.— Achei que eu tivesse dito que sairia com o Owen — desdenhei, me sentando no sofá ao lado do namorado nojento que não dizia uma palavra sequer, apenas continuava assistindo o jogo como se a presença de nós duas fosse porra nenhuma.— Você sabia que está tendo lutas clandestinas na cidade? Que o Owen é um desses lutadores? — Parou em minha frente com os braços cruzados.— Bom, eu não soube de nada disso. Mas nós estávamos no parque, então qual o motiv
As expectativas de Arian - minha única amiga na vida - durante o trajeto até o colégio, me deixaram maluca e assustada. Acho que não estava enxergando a gravidade da situação em que me coloquei. Eu não conseguiria conversar com ele por muito tempo sem gaguejar ou falar bosta. Não ia conseguir colocar toda a merda do plano em ação. Além de Travis ser descolado e tagarela, minhas palavras com pessoas do sexo masculino se limitavam a serem dirigidas ao meu terapeuta e ao Bruce, apenas, já que Owen não fazia mais parte da minha vida.Arian dizia que eu era afiada, e que sabia muito bem responder perguntas simples, mas eu fazia isso quando entrava na defensiva, e para conquistar Travis Turner não poderia usar táticas de defesa apenas.Sobre o plano? Eu e minha amiga decidimos que nem Owen, e nem Bruce poderiam mandar em mim. Meu melhor amigo queria me proteger? Sim! Mas ele não tinha o direito de dizer com quem eu falaria ou deixaria de falar. Se Travis era bom o suficiente para se
"[...] Nos embalamos em canções melodiosas e, em algumas outras vezes, canções inaudíveis."→14 dias antes do grande dia.Era repetitivo, mas era jazz.Eu não costumava ouvir esse tipo de música quando mais nova. Se colocassem para tocar em algum lugar, com certeza eu pediria para tirar, ou ia dizer que a pessoa não tinha um bom gosto musical.Bom, depois que cresci e me tornei uma mulher madura com a vida amorosa fracassada, como todos diziam, jazz foi só um complemento para fazer os meus dias melhores, juntamente com o vinho tinto. Eram meus remédios.E de remédio era o que eu estava precisando.Louise me pediu para parar, mas não fiz. Tomei talvez mais cinco copos de Royal Salute na noite anterior e pelo menos consegui sorrir quando as pessoas me parabenizaram pelo meu casamento. Meu. Meu casamento e daquele desmiolado que podia ter crescido em músculos, mas não mudou nada dentro daquela cabeça sem juízo. O álcool também foi bom para encarar Bruce, já que ele parecia feliz co