"[...] Nos embalamos em canções melodiosas e, em algumas outras vezes, canções inaudíveis."→14 dias antes do grande dia.Era repetitivo, mas era jazz.Eu não costumava ouvir esse tipo de música quando mais nova. Se colocassem para tocar em algum lugar, com certeza eu pediria para tirar, ou ia dizer que a pessoa não tinha um bom gosto musical.Bom, depois que cresci e me tornei uma mulher madura com a vida amorosa fracassada, como todos diziam, jazz foi só um complemento para fazer os meus dias melhores, juntamente com o vinho tinto. Eram meus remédios.E de remédio era o que eu estava precisando.Louise me pediu para parar, mas não fiz. Tomei talvez mais cinco copos de Royal Salute na noite anterior e pelo menos consegui sorrir quando as pessoas me parabenizaram pelo meu casamento. Meu. Meu casamento e daquele desmiolado que podia ter crescido em músculos, mas não mudou nada dentro daquela cabeça sem juízo. O álcool também foi bom para encarar Bruce, já que ele parecia feliz co
Contra qualquer vontade em mim, elevei o corpo e sem enrolação saí do sofá onde passei a noite dormindo.Não demorei a tomar o remédio que Bruce deixou separado, e ia me dirigir para um belo banho quando a porta do apartamento foi aberta, e ao olhar por cima do ombro, avistei Travis entrando com duas sacolas na mão, como se ali fosse o seu apartamento. Que maravilha! Claro que tudo o que era de Bruce podia ser de Travis, tirando Louise e eu. Bom, agora pelo visto, tirando só Louise. Eu já tinha sido entregue de bandeja, pelo que pude notar.Bruce ia me pagar por ser um traidor da pior espécie. Ah, se ia! — Bom dia, Queen. Como está? Ressaca? Dor de cabeça? Você passou dos limites ontem.O homem foi colocando as sacolas na mesa e agindo naturalmente, como se estivéssemos na porra do passado, só que em circunstâncias diferentes, e não, não estávamos!Revirei os olhos, irritada e nem um pouco preparada para discutir tão cedo. Na minha cabeça eu queria acreditar que ainda estava dor
Dois adultos, frente a frente, conversando como pessoas normais… Isso era tudo o que não estávamos sendo.Fazia muito tempo que eu e Travis não conversávamos de forma decente, e não sei por qual motivo achamos que sair para jantar seria uma boa ideia para dar um jeito na nossa bagunça.Não seria.O restaurante escolhido ficava no centro da cidade e servia o melhor petit gateau que eu já comi na vida, tirando o de Louise, então por isso o escolhi, e apesar de ser um local onde deveríamos manter a classe, eu e Travis não fizemos muita questão de deixar o tom de voz baixo, nem as palavras em um calão a altura.— Eu só quero que você deixe de ser a mentirosa compulsiva que é. Não custa nada me dizer por qual motivo você foi embora daquele jeito, fingindo que eu não existo, por todos esses anos.Burro. Travis era burro demais. Tinha todas as cartas na mesa mas não era capaz de enxergá-las.— Já disse, fui embora porque eu quis. Cansei da minha mãe e daquela vida podre onde eu era submetid
→12 anos antes.As ruas calmas da cidade pacata não era de se estranhar, todos os finais de tarde eram assim. As pessoas saiam de seus trabalhos, passavam na única padaria de Vancocker, e depois iam para suas casas, se reunirem com seus familiares e finalizar o dia, felizes e alegres, apesar de não ser assim que as coisas aconteciam na minha vida em particular.O silêncio pairava entre nós e eu já pensava em desistir de toda aquela merda. Arian havia dado mil conselhos sobre como eu deveria agir ao lado de Travis.Um deles era não demonstrar nenhum interesse naquele belíssimo corpo.O outro era, não puxar assunto com o garoto, deixar que ele fizesse isso.Então, quieta fiquei.Não ia dizer como estava angustiada em não ouvir ele falando uma palavra sequer durante todo o nosso percurso.— Isso é estranho.Até que enfim!Olhei para o jovem, um tanto confusa.— O que é estranho?Travis coçou uma sobrancelha e fez careta como se buscasse palavras certas para explicar.— Eu sinto que tô
"[...] O que me matou de pouco em pouco, foi a persistência em manter o que não me fazia bem, porque o preço a pagar ao abrir mão, seria maior que a minha dor."→12 dias antes do grande dia.Muffins e Fifth Harmony, essas eram as maiores paixões de Louise, tirando Bruce.A jovem tinha um dom incrível para a culinária, e por causa desse dom, engordei três quilos em uma semana, e levei quatro para perder, não que eu achasse super ruim ela me mandar doces sempre que eu estava no meus períodos chatos. Lógico que não. Eu amava cada pedacinho de bolo que ela fazia.O grupo musical ia como trilha sonora para suas aventuras na cozinha, e lá estava eu, ouvindo No Way enquanto ela finalizava a sobremesa da noite.— Então vocês se entenderam? Isso é bem interessante. Achei que iam ficar em pé de guerra até a festa. Eu e Bruce estávamos quase para fazer uma aposta.— Olha que lindo! Você sabia que o Bruce estava planejando juntar eu e o Travis para sermos padrinhos e não me disse nada?!Lou limp
— Então, faz muito tempo que se conhecem? — Roger perguntou, assim que o último assunto morreu.Não era uma boa ideia conversar sobre isso. Uma garrafa de vinho tinto em minhas veias, e umas oito cervejas nas de Travis, não fariam bem para ninguém e para nenhum assunto.— Desde criança — falou, meio descontente, parecendo não querer entrar mais a fundo nessas informações, que convenhamos, não devia ser da conta de ninguém.— Preciso confessar que, quando eu soube que tinham se casado eu fiquei em choque. Não conheço a Terena tão bem assim, mas sei que ela não é impulsiva, e aparecer casada com o melhor amigo do Bruce, que mora em outro país, foi bem chocante, e interessante — completou, Beverly.Bruce também não pareceu muito confortável. Além de estarmos mentindo para todos ali, tinha um dos caras com quem eu rompi o noivado assim que me propôs marcar a data do casamento, e tinha toda uma história por trás da mentira, e das verdades.— Isso fica bem fofo quando se pensa que vocês s
→12 anos antes.O silêncio estava ensurdecedor, entediante, esquisito e preocupante. Levei meus olhos para o chão do quarto e fiquei observando o garoto sentado no canto da parede, com sua calça jeans de lavagem escura e a blusa cinza de moletom flanelado, lendo e fazendo anotações em seu caderno. Olhei para o meu e não havia nada. Uma folha em branco. Estava vazia demais para conseguir anotar e rabiscar qualquer coisa que fosse.Voltei meu olhar para ele e tentei entender o que se passava em sua cabeça. Dava pra ver que mesmo parecendo concentrado nas folhas de papel, ele se encontrava em um mundo paralelo ao nosso.— Não faz isso! — pediu em um tom agudo e sério. Estava bravo e raramente o via assim.— Não fazer o quê? — Levei o lápis até a boca e voltei a mordê-lo.— Não fica me olhando desse jeito, tira toda minha concentração e nós sabemos que eu preciso me sair bem nessa matéria ou vou ser suspenso dos próximos jogos — proferiu irritado, ainda sem me olhar.— Só estou observ
Travis ficou mais atordoado do que eu. Acho que cogitou todas as possíveis e sabia que debater, ou tentar formular alguma frase, seria complicado no momento. Não haviámos nos preparado para algo assim. Achamos que nunca fosse acontecer. Que Bruce nunca fosse nos ver juntos.Fomos tolos.— Bruce, deixa a gente explicar... — Tentou interceder ao perceber que nosso amigo não estava nada confortável com aquela cena, mas parou quando lhe lancei um olhar que ele interpretou como "cala essa sua boca".Nada dito ali seria suficiente para amenizar a situação.Bruce não ia querer ouvir ele. — Eu só vim ajudar o Turner com uma matéria porque a professora me mandou fazer isso — menti, e só piorei as coisas porque nunca adiantou ser falsa com meu melhor amigo.Ele me conhecia bem demais.— Lógico. Vocês precisam de uma aula prática com almofadas para conseguirem estudar — falou, apontando para Travis que ainda segurava a arma do crime. — Esse é o seu programa de quarta com a Arian?Merda.Com