→12 anos antes.O silêncio estava ensurdecedor, entediante, esquisito e preocupante. Levei meus olhos para o chão do quarto e fiquei observando o garoto sentado no canto da parede, com sua calça jeans de lavagem escura e a blusa cinza de moletom flanelado, lendo e fazendo anotações em seu caderno. Olhei para o meu e não havia nada. Uma folha em branco. Estava vazia demais para conseguir anotar e rabiscar qualquer coisa que fosse.Voltei meu olhar para ele e tentei entender o que se passava em sua cabeça. Dava pra ver que mesmo parecendo concentrado nas folhas de papel, ele se encontrava em um mundo paralelo ao nosso.— Não faz isso! — pediu em um tom agudo e sério. Estava bravo e raramente o via assim.— Não fazer o quê? — Levei o lápis até a boca e voltei a mordê-lo.— Não fica me olhando desse jeito, tira toda minha concentração e nós sabemos que eu preciso me sair bem nessa matéria ou vou ser suspenso dos próximos jogos — proferiu irritado, ainda sem me olhar.— Só estou observ
Travis ficou mais atordoado do que eu. Acho que cogitou todas as possíveis e sabia que debater, ou tentar formular alguma frase, seria complicado no momento. Não haviámos nos preparado para algo assim. Achamos que nunca fosse acontecer. Que Bruce nunca fosse nos ver juntos.Fomos tolos.— Bruce, deixa a gente explicar... — Tentou interceder ao perceber que nosso amigo não estava nada confortável com aquela cena, mas parou quando lhe lancei um olhar que ele interpretou como "cala essa sua boca".Nada dito ali seria suficiente para amenizar a situação.Bruce não ia querer ouvir ele. — Eu só vim ajudar o Turner com uma matéria porque a professora me mandou fazer isso — menti, e só piorei as coisas porque nunca adiantou ser falsa com meu melhor amigo.Ele me conhecia bem demais.— Lógico. Vocês precisam de uma aula prática com almofadas para conseguirem estudar — falou, apontando para Travis que ainda segurava a arma do crime. — Esse é o seu programa de quarta com a Arian?Merda.Com
“[...] Lábios com toques singelos e corpos em combustão. A perdição personificada em uma pessoa só.”→10 dias antes do grande dia.O sol estava terrivelmente mais quente que nos últimos dias, tão quente que tive vontade de sair andando apenas de calcinha e sutiã pela casa, pela rua, pelo bairro e pela cidade. Contudo, ir para a loja necessitava de uma vestimenta civilizada, então separei um jeans claro, uma camiseta branca básica em decote V, e o tênis de quatro anos que já não era tão branco. Depois do banho passei uma base e finalizei a pele do rosto com pó, coloquei a roupa escolhida, amarrei o cabelo em um rabo alto e borrifei pouco perfume no pescoço, pulso e tornozelo, o último ponto por superstição. Precisava de sorte.Consultei a hora na tela do celular e me certifiquei de que ainda restavam vinte minutos para às sete, tempo suficiente para passar um rápido café e beliscar duas torradas na companhia do homem da minha vida. Quando o celular despertou às seis e cinquenta e o
Olhei por cima do ombro pedindo para alguma divindade que eu só estivesse delirando e que aquela voz não fosse realmente a dele.Contudo, Travis estava bem ali, parado no meio da loja, e diferente do que pensei, não estava com aquela cara linda e provocativa, de quem está prestes a fazer merda de propósito.Só parecia precisar de ajuda. Julguei saber o que levaria ele ali. Fingir que não sabia andar pela cidade sozinho seria sua primeira jogada. Eu ainda o conhecia.Fiz o mesmo que Tom, empinei o nariz e girei os calcanhares para ficar de frente a ele.Os dois já se conheciam. Tom e Travis. Já haviam se visto antes e por mais que não trocaram muitas palavras, um sabia do outro. Tomaz tinha total ciência do quanto aquele homem parado ali foi importante para mim, e Travis tinha a lembrança da primeira vez em que botou os olhos em Tom, disso eu tinha certeza. Aquela noite não poderia ser esquecida com facilidade.— Estou trabalhando, Capitão. Achei que tínhamos um acordo sobre isso.
Lindo.Não havia descrição melhor para o que eu via em minha frente.Travis sempre foi um jovem muito bonito, era charmoso e tinha uma lábia do caramba. Não era à toa que as garotas do colégio viviam doidas por ele. O capitão do time de futebol vinha de uma boa família, e era super gentil. Sobre isso não tinha do que reclamar, além da história do seu irmão mais velho, mas isso era de menos. O garoto gostava de ter seus rolos não fixos, contudo, ele não saía fodendo com tudo, sendo um babaca como as pessoas pensavam que ele era. Vi Travis se envolvendo com algumas líderes de torcida, e até com a jornalista da escola, e eu me lembro de que o garoto sempre foi sincero, ele dizia que não ia ter um relacionamento duradouro, e as meninas se envolviam se quisessem e soubessem que a qualquer momento ele poderia desistir daquilo, da pegação limitada. Ainda assim eu sabia que ele poderia ter um ou outro ato duvidoso, mas isso não anulava sua beleza.Cansada de ficar quieta e negar palavra
→11 anos antes.Bom, mais um jogo ganho, minha mãe viajando com o fodido do namorado dela, Bruce se distraindo com uma líder de torcida, e minha humilde casa apenas para nós dois. Era tudo, e só, o que precisávamos.— Que tal... Survivor? — questionou arqueando uma sobrancelha.— Burning Heart! — concordei com um meio sorriso. Não podia demonstrar que amava a escolha, já que isso faria seu ego inflar por saber que eu era apaixonada por seu gosto musical.Travis conectou seu celular ao aparelho de som e logo a batida gostosa da música foi ouvida, preenchendo todos os pequenos cantos do lugar. Foi impossível não mexer meu corpo levemente enquanto tirava o casaco quente.Amava dançar a música quando estava sozinha ou com Bruce, nunca tinha me soltado a tal ponto com Travis mas pretendia, e o sorriso que cresceu no seu rosto me fez ver que ele não queria ficar parado. Ele veio até mim dançando de um jeito bem estranho mas aceitável, mexendo a cabeça enquanto suas pernas se moviam de fo
Meu corpo pesado e a cabeça zonza por conta do sono me fizeram não raciocinar muito bem.Eu estava sonhando? Ouvindo coisas como antigamente? Que porra era aquela?Mais algumas batidas e um resmungo estranho me fizeram entender que de fato não era um delírio nem nada do tipo. Eu havia tomado remédios a mais do que minha médica passou? Sim, havia, mas não foram suficientes para me fazerem delirar tanto assim, o sono pesado poderia ter sido culpa deles, entretanto, os socos na porta eram reais e eu precisava tomar coragem para verificar a merda que estava acontecendo ali.Meu vizinho não poderia ser tão insuportável assim para reclamar das duas músicas que tocaram mais cedo nem tão altas assim e em menos de cinco minutos. Ah, não. Ele não podia ser tão mesquinho e irritante. Apertei o botão do celular para me informar sobre o horário, porém o aparelho tinha desligado, então imaginando já ser quase manhã, me levantei devagar e arrastei os pés até a porta para verificar se realmente
Conseguimos chegar ao banheiro intactos, sem tombos e tropeços, apenas com nossos corpos se tocando mais do que deveriam, principalmente quando minha calcinha era fina demais, e transparente também. Mas ele estava bêbado o suficiente para não ficar reparando.— O que você vai fazer? — questionou ao me ver mudando a temperatura da água.— Te despertar! É assim que fazem nos filmes. — E rapidamente abri o registro e empurrei o jovem.Nos primeiros segundos seu rosto se molhou com o jato de água gelada e ele pareceu nem tão incomodado, em seguida, quando as gotas ultrapassaram a jaqueta, aí sim Travis estremeceu e arregalou os olhos, abraçou os próprios braços e me olhou espantado. Finalmente acordou.— Você não fez isso! — Tentou sair de debaixo do chuveiro mas o impedi, sentindo as gotas frias respingarem em meus braços, pernas e barriga.Um arrepio percorreu o meu corpo por conta do frio, e para piorar toda a situação, Travis sorriu travesso e simplesmente agarrou minha cintura com