“Manuela”A medida que o Flávio caminhava em minha direção eu fui ficando mais nervosa, eu sabia que ele estava nervoso e preocupado, mas ele entrou naquele hospital parecendo um touro bravo, parou em minha frente com as mãos no quadril e estreitou os olhos para mim.Eu não sei se foi o nervosismo ou o que foi que me deu, mas eu tive uma vontade incontrolável de rir e, uma vez que havia começado a rir, não conseguia parar. Eu ri até perder o fôlego e ficar com dor na barriga. O Rick começou a me abanar com a mão, pois eu fiquei sem fôlego, como se isso resolvesse, e a Lisandra estava com a mão na boca tentando disfarçar sua própria vontade de rir. Quanto ao Flávio, ele me olhava como se eu estivesse maluca.Depois de me controlar um pouco, enquanto enxugava as lágrimas de tanto rir do meu rosto com uma mão, com a outra estiquei o meu celular para o Flávio, que o pegou, examinou e bufou.- Sem bateria, baixinha? Sério? Tem idéia do quanto eu fiquei preocupado? – Ele me repreendeu.- Nã
“Flávio”Mas o que estava acontecendo? De repente a minha mãe estava tratando a Manu como se fosse a própria filha. Eu estava achando tudo muito estranho. Não dava para acreditar que de uma hora pra outra, sem motivo ou razão aparente, estava tudo bem, não depois do estardalhaço que eles fizeram. Eles me atormentaram por meses, me fizeram ficar indo e vindo de Campanário por meses, se agarraram com unhas e dentes a tentar me convencer a voltar com a Sabrina, meu pai chegou ao absurdo de procurar a Rita, tudo isso para agora simplesmente minha mãe agir como se nada tivesse acontecido. Não dava para acreditar.Quando as enfermeiras apareceram com uma cadeira de rodas para levar a minha mãe para outro andar eu ainda estava muito surpreso com toda a situação. Foi somente quando a minha mãe se sentou na cadeira que percebi as escoriações nos joelhos e nos braços dela e o seu vestido sujo e rasgado. Ela realmente havia sido atropelada, pois minha mãe jamais estaria desalinhada em público se
“Manuela”Eu não poderia permitir que a família do Flávio ficasse em um hotel, por mais luxuoso que fosse, seria um hotel, era impessoal e sem sentido, já que o filho deles morava em um apartamento e poderia recebê-los. Além do mais, o Flávio foi tão gentil com a minha família, fez questão de recebê-los quando estiveram aqui, então, se podíamos receber a minha família, poderíamos receber a família dele também.E também eu tinha outro interesse, queria ver como eles se comportavam juntos e queria resolver de uma vez por todas as diferenças que haviam entre nós, queria ouvir o lado deles da história e queria que fosse possível que eles se reconciliassem e eu sabia que o Flávio me enrolaria se eles fossem para um hotel. Mas eu também precisava da Lisandra, pois eu já havia percebido que ela era a única que falava francamente com o pai sem que eles brigassem. Então eu reuniria essa família no nosso apartamento, claro, precisaria fazer alguns ajustes, mas isso era fácil.- Bom, eu me despe
“Flávio”Eu ainda não tinha entendido porque a Manuela resolveu levar a minha família toda para o nosso apartamento. Para piorar muito, ela cedeu o nosso quarto para os meus pais e eu ainda teria que dividir um quarto com o Raul e ficar sem ela essa noite. Eu já não estava de bom humor, mas tudo bem, eu poderia fazer isso pela baixinha, já que ela queria fazer isso.Mas a medida que o tempo foi passando e fui vendo os meus pais agindo como se nunca tivessem se imposto contra o meu relacionamento com a Manu, eu fui ficando mais incomodado. Se a Manu queria que eu ouvisse o que eles tinham a dizer, eu faria isso, mas era só isso, não significava que fosse mudar alguma coisa e que eu voltaria a falar com eles depois que saíssem da minha casa.- Flávio! – Manu me olhou como quem quisesse me alertar que não era a hora certa.- Baixinha, eles estão aqui, do jeito que você quis, eu vou ouvi-los, assim como você quer, mas eu não vou esperar até amanhã. – Eu não deixei margem para discussão.-
“Flávio”Meu pai pegou o aparelho e olhava as fotos das lesões da Manu com o horror estampado no rosto. Minha mãe estava ao lado dele vendo as fotos e começou a chorar, eu sabia que aquilo a havia abalado. Olhei para a Manu e ela estava de cabeça baixa, envergonhada, encolhida ao meu lado, então eu a abracei.- Você não tem que ter vergonha, você é uma sobrevivente. – Falei em seu ouvido.- Eu nunca imaginei isso. Eu nunca compactuaria com isso. Isso é monstruoso. – Meu pai parecia indignado. – Manuela, eu não sei como me desculpar com você. Eu estou realmente envergonhado e sinceramente arrependido.- Eu quero saber o que aconteceu depois que você se encontrou com a Rita no hotel. – Eu queria cada detalhe daquela história, não queria só o pedido de desculpas dele, queria saber até onde ele foi, o que ele sabia.- Depois do hotel, passou um tempo sem que eu tivesse notícias dela, até pensei que ela havia se esquecido ou desistido. Enquanto isso, a empresa da Manuela chamou a minha ate
“Flávio”Eu ia começar a falar, mas fui interrompido pela minha mãe.- Só um momento, Flávio. – Ela olhou para a Lisandra. – Lisandra, eu tenho muitos defeitos, mas eu não sou um monstro como aquela Rita! Eu estava disposta a insistir no seu casamento com o Guilherme, mas não a qualquer custo.- Será que não, mãe? Meu pai disse que você me trancaria no quarto. – Lisandra também estava magoada e eu ainda não havia me dado conta.- Eu pensei nisso sim, mas não fiz. E não vou fazer. Mas eu quero que você saiba de uma coisa, quando eu decidi vir te procurar hoje eu já havia tomado uma decisão. E depois de conversar com a Manu no hospital, antes mesmo de saber quem ela era, eu tive certeza do que eu tinha que fazer. Então, antes que o seu irmão conte o que ele descobriu, eu quero que você saiba que eu não vou mais insistir que você se case com o Guilherme. E também não vou me meter nas suas escolhas, se você quiser voltar pra casa, eu vou te receber de braços abertos, mas se você decidir q
“Flávio”Fiquei um tempo com a minha baixinha em meus braços, em completo silêncio, apenas a sentindo junto a mim. Mas ela precisava descansar e eu também.- Vamos pra cama, baixinha, amanhã é feriado, mas você tem um batalhão de hospedes para entreter. – Ela sorriu e me encarou.- Acho que precisamos de uma casa maior. – Ela sugeriu com um sorriso encantador.Eu a observei com cuidado, aquela sugestão significava que ela iria querer ter a família por perto. Mas significava que ela estava mesmo disposta a um futuro comigo.- Você quer uma casa maior? – Perguntei cauteloso e ela fez que sim.- Olha, temos os seus pais e os seus irmãos e o meu pai e o meu irmão, imagina quando reunirmos todos? Eu gostaria muito de ter almoços de domingo em família, como a Hebe, irmã do Heitor faz. Gostaria de reunir os amigos, como a Cat e o Alessandro. E gostaria de ter filhos um dia, como a Sam e o Heitor.- Filhos? Como a Sam e o Heitor e a Cat e o Alessandro? – Ela acendeu uma esperança em meu coraç
“Flávio”A Manu estava conquistando os Moreno um a um, com uma velocidade impressionante. Minha mãe estava totalmente encantada por ela e o meu pai a via de uma forma diferente agora, a forma como ele a olhava era diferente. Por mais que eu tivesse ficado chateado, eu não poderia negar que ter o apoio deles era muito melhor do que virar as costas. Eu já havia deixado claro que não aceitaria que continuassem tentando interferir, não permitiria que a ofendessem ou magoassem, e eles pareciam ter entendido a mensagem.- Bom, já que é assim, eu gostaria de dizer que eu pensei em tudo o que conversamos ontem. – Todos se viraram para mim. Ao meu lado, minha baixinha sorriu. – Eu estou sepultado o assunto, sepultando as nossas brigas e desavenças e derrubando o que você chamou de muro que eu construí entre nós, pai. Agora vocês já sabem que ela é a razão da minha vida e que eu não vou permitir que ninguém a magoe ou tente afastá-la de mim. Espero que vocês entendam que a Manu é a minha felici