Samyra acorda logo cedo e começa a requentar a comida do dia anterior. Seu pai levanta logo após e ela torceu em seu íntimo para que sua mãe não escutasse a conversa que iria se iniciar.
_Mais sopa?_Samyra pergunta mostrando o prato pela metade ao pai. Ele nega.
_Alguma coisa está acontecendo, Samyra?_A voz do homem faz a menina estremecer._Parece nervosa, inquieta. O que se passa?
_É que..._Samyra senta-se à mesa com seu pai e o olha firme._Irei arrumar um emprego hoje.
_Vai trabalhar em quê? Sabe que mal tem trabalho disponível em Neshville._Roberto dá uma colherada na sua sopa de repolho._Diga-me, onde irá arrumar emprego?
_Como doadora._A morena fala de uma vez e seu pai engasga._Pai? Vou buscar uma água.
A menina tem seu braço segurado impedindo-a de buscar a água. Seu pai a olha firme e dava pra ver nervosismo em seu olhar.
_Eu não vou deixar você ser uma bolsa de sangue para eles._Murmurou entre os dentes._Eu não vou, Samyra!
_A questão aqui não é o senhor querer, meu pai._Ela se solta do aperto e alivia a sua expressão._O senhor não está mais em condições de doar e a mamãe precisa de mais remédios e comida digna. Entenda de uma vez, eu preciso arrumar emprego.
Roberto esmurra a mesa fazendo a sopa esborrar do prato. Ele sabia que o que sua filha estava falando era verdade, mas era difícil aceitar que sua filha, sua menininha iria servir de comida para os sanguessugas.
_Filha..._Derrotado, o homem deixa algumas lágrimas caírem._Eu tentei dar a você e a sua mãe o melhor que eu pude. E olha o que aconteceu... Sua mãe está doente e provavelmente depressiva e você tendo que se submeter a ser...
Antes do seu pai continuar, Samyra toca na sua mão e lhe dá um sorriso.
_Você é o melhor pai do mundo. Fez de tudo por nossa família e agora está na hora de te recompensar por tudo que você me fez._Rapidamente ela o abraça._Não se preocupe. Sua filha cresceu.
Roberto enxugou suas lágrimas e abraçou forte a sua filha. Escutou dela que isso seria segredo por um tempo, pelo menos até Loretta se recuperar. Ela não a perdoaria se descobrisse isso então melhor seria omitir até quando der. Roberto saiu para uma doação pela manhã e estaria de volta antes do almoço. Às 9:00hrs Vera iria esperar Samyra para irem se inscrever para o "emprego".
A morena tratou de acordar sua mãe e banha-la na cama mesmo usando pano úmido e o resto de um sabonete líquido. Era o que tinha. Colocou a sopa no prato e levou até sua mãe._Sopa de repolho novamente?_Loretta resmunga._Eu não quero. Prefiro a morte.
_Mãe, não seja cabeça dura._Samyra repreende a mãe._Melhor a senhora comer pois vai terminar morrer de fome. E eu não quero ficar sozinha... Preciso da senhora.
_Você precisa é fazer algo contra esses vampiros._Loretta cospe as palavras._Lembro-me de uma época em que tudo era motivo de protesto, pessoas lutavam a favor dos seus direitos... Por que você não reúne seus amiguinhos e batem de frente contra esses vampiros?
Samyra, exausta, repousa o prato da sopa numa mesinha ao lado e passa as mãos nas têmporas. Ela estava cansada de tantas reclamações...
_Mãe!_Samyra explode._Eu faço tudo pela senhora..._As lágrimas já caíam._A senhora não imagina quantas vezes eu tive que deixar de comprar uma sandália pra mim pra poder usar esse mesmo dinheiro pros seus remédios. A senhora não tem noção do quanto é cansativo acordar as 5hrs da manhã pra fazer a comida do meu pai, e depois te banhar, e depois fazer comida..._A jovem já soluçava._E a senhora não reage! Você não entende que precisamos da senhora? Que lutamos tanto para sua melhora e a senhora não move um dedo pra nos ajudar?
A menina respirava forte. Seu peito subia e descia pela emoção das palavras. Loretta a olhava supresa pela aquela reação.
_Não vai dizer nada?
_Me deixa sozinha._Após dizer isso, Loretta vira-se e cobre-se.
Samyra pega o prato e sai pisando duro. Não acreditava que depois dessas palavras a sua mãe não lhe diria nada. Comeu a sopa, banhou-se e lavou os pratos. Certificou-se de que sua mãe já dormia e saiu de casa escondendo a chave onde sempre deixava. Encontrou Vera na frente da casa esperando-a.
Vera morava apenas com o pai pois sua mãe faleceu desde o seu nascimento. Era loira, olhos escuros, baixinha e tinha 18 anos. Uma amiga incomparável para Samyra._Vamos?_A loira pergunta um pouco animada.
_Vamos!
Seguiram à pé até a Central de Ajuda. Lá seria o local indicado no panfleto onde realizariam as inscrições e avaliações. Chegaram na frente do prédio e suspiraram. Era nítido que as duas estavam com medo, mas voltar atrás não era uma opção. Vera precisava de dinheiro para ajudar seu pai que trabalhava em um supermercado. O movimento depois da chegada dos vampiros caiu muito e o dinheiro já não dava pra muita coisa. Samyra também não ficava pra trás. Tinha seus problemas e bem piores que os de Vera.
Entraram no local e avistaram uma pequena fila de mais ou menos 10 pessoas. Não imaginaram que teria tantas pessoas assim. Vera segura na mão de Samyra e juntas seguem para o fim da fila._Será que iremos conseguir?_Samyra pergunta mordendo o lábio inferior pela tensão.
Vera olha para cada pessoa na fila e depois volta a olhar para sua amiga que estava atrás dela.
_Pelo que vejo somos as mais novas da fila. Se o nosso sangue for bom, temos chances reais de sermos escolhidas._A loira dá um sorriso contido._É só confiar, Samy.
A fila parecia andar extremamente devagar e Samy já estava com fome. Manteve a calma e tratou de não pensar em comida. Mas era quase que impossível...
Já passava das 10:30hrs e nada de chegar a vez delas. Ainda faltavam duas pessoas na frente de Vera. Samyra bufa frustada e se encosta na parede._Estava guardando isso, mas já vi que precisas mais do que eu._Vera estende uma barra de cereal para Samyra.
_Estava morrendo de fome mesmo._A morena dá um bote na barrinha e come com vontade._Isso está divino.
Vera sorri da gula da amiga e vê que as pessoas que estavam à sua frente desistiram.
_É a minha vez._A loira treme um pouco._Torce por mim e boa sorte.
Samyra viu sua amiga entrando pela porta de atendimento e sua fome passou na hora. Descartou o resto da barrinha no lixo e olhou pelo espelho se seus dentes estavam sujos. Não queria parecer uma mendiga suja. Apesar de estar quase vivendo nas mesmas condições que eles.
*Central
deajuda: É um prédio localizado quase no centro de Neshville onde é feito a seleção dos doadores e os exames dos mesmos. Também é o local onde cuida de documentos importantes e distribuição de alimento para algumas casas extremamente pobres por ordem da prefeitura da cidade.--------------------------∆--------------------------
Alícia estava no tédio e agoniada para que seu novo doador fosse escolhido o mais rápido possível. Estava deitada em sua cama por volta das 13hrs quando alguém bate na sua porta. Revirou os olhos torcendo intimamente para que não fosse Sabrinne._Vim te avisar sobre os novos doadores._Albert fala com as mãos nos bolsos._Posso entrar?Alícia abre espaço e o irmão passa. Albert só trocava muitas palavras com sua irmã ou, no momento, com seu tio._Já escolheram?_Alícia se joga na cama._Quando eles virão?Albert se dirigiu até a janela, ainda com as mãos nos bolsos, e encarou a paisagem da cidade pouco movimentada._Sim, são duas mulheres._A voz do homem saiu sem emoção._Pensei que escolheriam homens já que são mais resistentes. Você evitou mencionar que matou nada menos que 5 doadores e inúmeras pessoas inocentes em Jump, por que?_Não quis aborrecer o tio com essas coisas._Alícia olha para seu irmão._Mas não se preocupe. Não trarei probl
Passando-se 30 minutos desde que Vera entrou na sala, Samyra foi chamada. Caminhou até a porta e ela foi aberta por uma mulher. Ela aparentava ter seus 50 anos e mantinha uma pose séria._Entre, número 12._Ela fala autorizando a jovem a entrar._Sente-se.Samyra analisa a sala que continha um sofá de cor marrom, uma mesa de escritório onde a mulher sentou-se anotando algumas coisas, uma mesinha do lado do sofá e uma decoração estranha que ela não entendia nada. E tinha uma porta, provavelmente dava para alguma outra sala._Diga-me seu nome pois não posso continuar chamando-a de número 12._A voz da mulher assusta um pouco Samyra._E pode me chamar de Margot. Não tenha medo, sou humana assim como você.Samyra suavizou a expressão e sorriu fraco. Era tudo que ela precisava saber para poder pelo menos tranquilizar-se._Me chamo Samyra Andrade._Enfim a morena falou._Para onde foram os outros?
×Samyra×Tanto Marie quanto Margot sorriam após dizer que eram da Resistência. Já tinha ouvido falar deles, mas nunca sequer conversei com um deles._Vocês... O quê?_Exclamei espantada._O que vocês fazem aqui no meio dos inimigos?_Presumo que não tenham comido nada._Marie pega numa prateleira um pote redondo._Aqui tem biscoitos, comam.Aceitamos pois já eram quase 14hrs e não tínhamos comido nada. Abri a tampa do pote e peguei uns 4 de uma vez._Agora..._Falo de boca cheia._Explica aí o que eu perguntei._Vi que é a mais curiosa das duas._Margot sorri.__Somos infiltradas da Resistência aqui na Central de Ajuda. Precisamos descobrir mais coisas desses monstros e enfim conseguir tomar nossa cidade e quem sabe todo o mundo novamente.Vera tosse
×Samyra×Olhei-me no espelho ajeitando o vestido que estava a tanto tempo guardado. Usei na minha formatura do ensino médio e desde lá nunca usei. Ele era preto e justo coberto por uma renda negra. Era simples, mas eu me sentia confortável. Calcei um saltinho médio e bem elegante. Olhei no relógio e já era 18hrs. Um carro viria nos buscar e já era a hora. Deixei que meu pai contasse a minha mãe tudo que acertamos e saí de fininho. Incrivelmente ela nem sentiu minha falta, nem chamou por mim. Encontro Vera arrumada com um vestido azul marinho e uma sapatilha da mesma cor. Seus cabelos brincavam ondulados em cima do ombro. Ela estava linda._O carro está ali._Ela aponta e seguimos juntas até ele.O motorista abre a porta e assim sentamos nos bancos dos passageiros. Segurei nas mãos de Vera e o carro partiu. Eu estava repetindo mentalmente como um mantra a ideia de não fazer besteira e não ser mal educada. As ve
×Samyra×Um silêncio pairou no ar me deixando mais incomodada que o normal. Percebi que apenas quatro pessoas não quiseram falar nada na apresentação. O homem do lado da Alícia, que é meu dono, a tal da Sabrinne e os transformados._O jantar será servido!_Anuncia Inácio._Aproveitem!Jantamos em silêncio. De vez em quando Inácio perguntava algo sobre nós e mais nada. A sobremesa foi um sorvete maravilhoso e claro, comi bastante. Amo sorvete. Será que alguém não ama sorvete?_Vocês agora vão conversar à sós com seus donos._Inácio levanta-se da mesa._Boa sorte e mais uma vez, sejam bem-vindas!As pessoas foram saindo da mesa e por fim só restou quatro pessoas. Um vento frio arrepia minha espinha e eu tremo levemente.Olho pra Vera e ela não parece com medo ou receosa._Você pode me acompanhar?_Alícia pergunta em direção a Vera.Vera apen
×Albert×Estávamos todos sentados à mesa quando meu tio levantou-se e começou a anunciar as novas doadoras._Cumprindo as normas para ser doador, duas garotas conseguiram se tornar doadoras pela preciosidade dos seus sangues._Já gostei dessa parte._Recebam com respeito as novas doadoras da família Mansonni.Olhamos para a entrada e duas pirralhas entram tremendo mais que soldado alvejado. Ainda não acredito que vou ter como doadora uma mulher. Eu poderia ter exigido homem, mas acabei esquecendo-me. As duas mantém-se de cabeças baixas denunciando seus medos._Não sintam-se envergonhadas._Meu tio exclama tentando deixá-las mais a vontade._Eu sou o Inácio Mansonni e vocês? Sentem-se.Os empregados puxam as cadeiras para elas sentarem e assim elas fazem. Vi que que a morena tremia os lábios e os mordia tentando controlá-los. Desviei o olhar rapidamente. Ela é<
×Albert×Abro a gaveta para procurar algo que estanque o sangramento do pescoço dela. Acho uns gases e esparadrapo. Isso serve!Limpo o ferimento e faço um curativo. Tiro o cabelo dela do rosto e admiro ela dormir._Dormindo assim nem parece tão medrosa..._Sussurro.Toco na sua mão tentando sentir o que ela sente e não consigo. Franzo a testa estranhando porque não consigo sentir o que ela sente nesse momento. Deixo-a sozinha e saio em busca de Alícia. Bato na porta do seu quarto e ela logo abre. Entro sem ela convidar._O que te deu, Albert?_Ela pergunta assim que passo direto por ela._Você estranhou algo na sua doadora?_Pergunto alarmado.A expressão do seu rosto se alivia e assim ela fecha a porta vindo em minha direção._Seus poderes não funcionou com ela, não foi?Então quer dizer q
×Samyra×Acordo por voltas das 5:15am e vejo meu pai requentando o café que provavelmente ele fez ontem. Chego perto e beijo seu rosto._Estou indo embora hoje._Falei me encostando no balcão da cozinha._Minha mãe aceitou bem a sua mentira?_Se empolgou no momento em que eu disse que ela teria outros alimentos para comer além de repolho e cenouras._Ele me estende um copo com café._Você vai ficar bem, Samyra? Você promete pra mim que vai ficar longe de encrenca?Torci a boca e levantei as sombrancelhas. Meio tarde demais pra me pedir isso, mas terei que prometer pra deixar seu coração mais aliviado._Prometo._Digo por fim._Então, me prometa que não vai mais doar. Eu não quero mais o senhor doando e arriscando sua saúde que já está frágil. Estamos entendidos, Senhor Roberto Andrade?Ele sorriu e bagunçou meus cabelos com a mão. Eu queria vê-lo assim... Sempre!<