Parte 7...
Aurora
— Não vai dizer que me avisou antes, vai?
— Não, eu não quero que fique triste.
— Nem sei se é tristeza mesmo, Gisele... Acho que é Melancolia, sabe... Indecisão.
— Sobre?
— Sobre minha vida, sobre o que preciso fazer... - encolhi os ombros — Eu não quero deixar minha mãe, mas depois de tanto tempo, nem sei se vale mais a pena continuar aqui.
— Como assim, querida?
— Venho pensando em me afastar... De tudo e de todos.
— Mas... E sua mãe, como vai ficar?
Cocei a nuca fazendo uma careta.
— Gisele, depois de tanto tempo, você acha que tem jeito para minha mãe?
— É... Mas e ele?
— Quem, meu pai? - franzi a testa.
— Não - balançou a cabeça — Ele... Ele!
Ah! Sei quem é ele. Domenico. Sempre Domenico para tirar minha paz. E minha raiva é que não deveria ser assim. Eu me preparei para que não fosse, então é até ridículo que justo eu, agora estou com a cabeça cheia.
Tudo funcionava bem entre nós dois, mas eu acabei vacilando. Eu sempre tive apenas Domenico, por minha vontade própria, ele nunca me pediu que fosse fiel, mas pra mim, isso aconteceu naturalmente.
E a parte ruim, é que eu sei que ele sai com outras mulheres, mas eu nunca pedi que fosse fiel a mim também. Era o que eu pensava no começo e realmente queria. Não sei quando foi que isso mudou e eu acabei querendo mais de Domenico do que ele queria me dar.
Entendi que minha fidelidade não era apenas por um acordo, mas porque eu não conseguia achar outro homem interessante. Ninguém era como ele, então eu nem me preocupava, só deixava passar.
— O que tem ele? - torci a boca — Domennico vai continuar tendo a mesma posição.
— E esse é o problema, não é?
— É... - fiz um bico de tristeza — E por ironia, quem me fez entender isso, foi meu pai - dei um sorriso triste — É pra rir da minha cara.
— Não acho. Talvez você só esteja cansada mesmo. Por que não tira uns dias de folga?
— É nisso que estou pensando mesmo... Mas não por uns dias. Acho que mais que isso.
— E como vai ser?
— Não sei direito - encolhi os ombros e suspirei — Acho que devo terminar essa relação que temos. Acho que já passou da hora e vai diminuir a dor de meu coração.
Quanto mais tempo eu demorasse para me afastar dele, pior seria para mim. Eu sei que vou sofrer, isso é certo, mas depois de um tempo, vou conseguir superar.
Não vai ser nada fácil, saber que não vou mais falar com ele na hora que eu quiser, que não vamos nos ver antes de dormir e pior que isso, que ele vai pular de uma cama para outra e eu vou estar sozinha na minha.
Depois que meu pai me jogou na cara essa verdade, que eu já sabia e não admitia, fui me preparando para me afastar.
— Entendo você - ela deu batidinhas em minha mão — É melhor doer muito agora, para não doer nunca mais - sorriu, mas não foi de felicidade — Eu entendo, querida... Mas vai passar.
— Eu sei que vai - assenti sem muita vontade — Agora vamos comer?
— Vamos, eu preparei as panquecas que você gosta e também o café capuccino.
— Hum... Que bom - forcei um sorriso e saímos do quarto — Depois vou falar com a mãe.
*****
Eu estava conversando com Gisele enquanto aproveitava a comida deliciosa que ela tinha feito, quando meu celular tocou. Era Diana. Abri a chamada de vídeo e ela estava animada.
— Bom dia, flor do dia! - eu disse sorrindo.
— Bom dia, beija-flor! - me respondeu rindo alto — Eu sabia que você estaria comendo.
— É claro, como vou ficar de pé sem comer? - virei o celular para que visse meu prato.
— Hum... Panquecas. Aposto que foi a Gisele quem fez.
— Com certeza - sorri — Eu estava dormindo. E como está minha gostosura?
— Está ótimo e dormindo aqui ao meu lado - ela me mostrou Giancarlo dormindo no carrinho, muito fofo como sempre — Acho que ele já está com novos dentinhos nascendo. Está chatinho pra comer e hoje de manhã vomitou.
— Ai, tadinho do meu gostoso... Já ligou para o pediatra dele?
— Já sim, mas ele diz que isso é normal - ela suspirou e girou os olhos — Vida de mãe não é fácil como me disseram.
— Ah, mas não é mesmo - eu ri — E por que me ligou agora? A gente se viu ontem.
— Fofocas, fofocas - se balançou.
— Então fala logo, fofoqueira.
— Pode ficar feliz... Amanhã o Domenico vai estar por aí.
Meu coração já pulou. Domenico de novo. Olhei para Gisele que estava perto, mexendo na panela e me olhou com um sorriso pequeno.
— Amanhã? - mexi no cabelo — E para quê ele vem aqui?
— Ué... Negócios - ela me olhou meio de lado — Não ficou animada, Aurora?
— Fiquei sim.
— Nossa, que desânimo pra falar. O que você tem, amiga? Bem que eu achei você estranha dessa vez, meio desligada, pensativa demais. Achei esquisito. Vocês brigaram, foi isso?
— Não, imagine - ajeitei minha postura.
— Então o que é?
— Não é nada - dei de ombro — É que eu acordei agora há pouco, ainda estou meio lerda e só agora comecei a comer. Daqui a pouco estou mais animada. - tentei forçar uma animação que não era real — Olha, depois eu te ligo porque tenho que comer e correr pra ajudar minha mãe.
— Está bem, mas me liga mesmo.
— Ligo sim, mais tarde - mandei um beijo pela tela e desliguei. Olhei para Gisele — O que eu faço agora? Não queria esconder dela que eu estou pensando em me afastar.
— Mas você vai se afastar até da Diana? Vocês são muito amigas.
— Eu sei... Mas ela é cunhada do Domenico - mexi no cabelo — Não quero que ela fique em uma situação delicada por minha causa.
— É, você tem razão - ela desligou o fogão. — Se ela souber de algo, ele pode reclamar que ela escondeu dele.
— Não que eu ache que ele vá se incomodar se eu me afastar, mas tudo bem...
— Não é assim, Aurora. Ele também gosta de você.
— Eu sei que ele gosta - apertei os lábios.
— Então...
— O jeito que ele gosta não é suficiente pra mim, Gisele. Não mais e a culpa é minha, então eu tenho que resolver.
— O acordo foi entre vocês dois.
— Eu sei, mas eu estou quebrando esse acordo.
Parte 8...AuroraPra me deixar ainda mais ansiosa sobre meu futuro, não demorou nem meia hora e Domenico me ligou. Meu coração já bateu forte só de olhar a foto dele na tela.Não sei como, mas Domenico consegue ser o homem mais charmoso e lindo que eu conheço. Não consigo encontrar outro para comparar e isso também é ruim. Se pelo menos eu pudesse ter outro que fosse igual ou superior a ele, eu poderia me afastar sem problema.Não atendi a chamada, deixei que caísse na caixa postal.— Vai sair, filha?Minha mãe estava sentada na sala, mexendo com seu novo hobbie. Bordado russo. Era o que vinha distraindo a mente dela no último mês.— Vou sim, mãe.— E posso saber onde você vai?— Vou dar uma volta. Preciso comprar algumas coisas para meu ateliê.Era melhor mentir e dizer a ela que era isso, do que contar a verdade. Que estou terminando de organizar as coisas para minha mudança. Eu não quero que ela comece a ter pensamentos depressivos, porque sabe que vai ter que aguentar meu pai soz
Parte 9...Aurora— Onde você estava, sua vadia?Eu mal cheguei em casa e meu pai já me recebe dessa forma.— Oi, papai, querido - dei um sorriso bem cínico — Fui dar uma volta, fazer umas compras.— E porque diabos você não atende ao celular, quando aquele Barone liga? Ele deve estar querendo marcar uma nova transa com você - ele disse de modo bem desagradável — É só para isso que você serve mesmo. Se for depender de você para um bom casamento com algum membro das famílias associadas, já vi que vamos morrer de fome.— Realmente, não deve contar comigo para isso - fui passando e ele me puxou pelo braço.— Sua criatura cínica, imprestável - sua cara se transformou de raiva — Eu disse à sua mãe que deveria ter tirado você, quando soube que era uma menina. Não me serve de nada.— Pois é! E ainda bem que ela não pôde mais ter filhos com alguém tão ruim como você.Eu nem esperava. O tapa veio rápido e me acertou em cheio na bochecha.— Imunda! Se não sair dessa casa, eu mesmo vou arranjar
Parte 10...Aurora— O que você tem, Aurora? - ele segurou meu rosto — Parece que está lenta, não está aqui comigo de verdade.Merda. Eu não queria que ele percebesse o que se passa dentro de mim. Ainda não. Segurei seu rosto e lhe dei um beijo rápido, lambendo seus lábios.— Não é nada... - forcei um sorriso — É que estou com um começo de enxaqueca, por causa da minha TPM - joguei essa — Meu período já está na porta e fico assim. Coisa de mulher.Eu nunca tive problema para falar com ele sobre assuntos normais, como menstruação. Inclusive ele já comprou absorventes para mim, mais de uma vez, quando eu estava em Palermo.Ele não tem frescuras com relação a esse tipo de coisa como vejo outros homens, como o namorado de uma amiga, que nem quer ouvir que ela está menstruada.Aliás, nos já transamos enquanto eu estava menstruada. Não que eu curtisse isso, mas ele teve esse desejo e me mostrou que não tinha nenhum problema com sangue. Somos abertos sobre coisas que são normais da vida.Sex
Parte 11...AuroraDepois Domenico subiu e me beijou. Eu senti meu gosto em sua boca e isso me deu vontade de chorar, mas me segurei. Ele acariciava meu corpo devagar e cada ponto que me tocava, me fazia sentir a mulher mais feliz do mundo, mesmo eu sabendo que isso tinha um tempo para acabar.Estiquei a mão e encontrei seu membro, tocando seu comprimento até sua base e comecei a fazer movimentos. Ele gemeu contra minha boca e depois se posicionou melhor entre minhas pernas e se afundou em minha carne.Foi como se eu estivesse no céu de tão bom. Ele entrava e saía de mim sem pressa, como eu disse que queria. Nosso sexo calmo, baunilha. Com penetrações longas, demoradas. Ele deslizava dentro e fora de meu corpo com um ritmo constante.Nós dois gememos quase que por igual, nosso som enchendo o quarto. Olhei para as cortinas que balançavam com o vento entrando e o momento foi mágico pra mim. Eu guardaria mais esse comigo.Domenico saiu de cima de mim e me virou de lado, voltando a me pen
Parte 12...Domenico— Podemos comprar amanhã quando eu for te levar de volta para casa.— Não, Domenico - ela ergueu a mão — É melhor que eu tome logo, pra evitar problemas. Essas pílulas levam de vinte e quatro até setenta e duas horas, então se for mais cedo, é bem melhor - foi para o banheiro.Fui atrás dela.— Sai daqui, Domenico. Eu vou tomar um banho pra gente sair logo.— Eu sei, também quero tomar um banho.— Então espere ou vá no outro banheiro.— Aurora, não precisa ficar nervosa. Você já fez isso uma vez e nada aconteceu,lembra?— É diferente - me respondeu.— Diferente por que? - abri o box — É a mesma situação - ela me pareceu mais preocupada do que o normal.— Ai, por nada - agitou a mão — Vá tomar banho. Eu vou depois.— Se você quer agilizar, então entre comigo e tomamos banho juntos.Ela ia reclamar, mas eu não lhe dei chance e a puxei para dentro, fechando o box e abrindo o chuveiro.— Meu cabelo, Domenico! - saiu de lado.— Desculpe - peguei sua mão — Vem, vamos to
Parte 1...Aurora Deluca - Nove anos de idadeEu me assustei e abri os olhos depressa, olhando de um lado para outro na escuridão do meu quarto. Só a luz do banheiro iluminava um pouco com a porta aberta. Sentei. Ouvi um barulho e depois entendi que era um choro. Meu coração deu uma batida forte. Eu sabia de quem era o choro.Era minha mãe. De novo.E isso só significava uma coisa. Meu pai estava em casa. E aos nove anos, eu já não me sentia feliz quando ele chegava.Eu amo meu pai, mas ele não é uma pessoa fácil. Ou boa. Tenho medo dele, sempre tive. Ele não gosta de mim e eu sinto isso. Eu sei que tenho só nove anos, mas minha mãe sempre me diz que sou muito esperta e inteligente.E por isso eu sei que ele não gosta de mim. Não sei porque, não me lembro de ter feito algo errado. Sou uma menina obediente, estudo e gosto de ajudar mamãe.Me assustei de novo quando ouvi um som alto, parecendo uma queda. Pulei da cama, as mãos cruzadas em meu peito e andei devagar ate a porta do quarto
Parte 2...Aurora— Minha filha querida.Me virei e vi minha mãe, ao lado de um homem todo de branco. Acho que era um médico. Ele se aproximou de mim e pegou uma lanterninha fina, abrindo meus olhos e quase me deixando cega com aquela luz.— Como ela está, doutor? - minha mãe ficou ao meu lado.— As pupilas estão bem e os exames não mostram nada mais grave - ele suspirou parecendo aborrecido — Mas a senhora sabe que a polícia vai questionar o ocorrido. Sua filha está muito machucada.A cara que minha mãe fez foi de nervosismo. Eu a conheço. — Sim, eu sei - ela tentou dar um pequeno sorriso e olhou pra mim — É que minha Aurora é muito danada e não fica quieta - segurou meu braço — Foi mais um susto grande que ela nos deu, não foi, meu amor?Eu entendi que ela queria que eu mentisse. Apertou meu braço de leve, só com um toque. Eu concordei com a cabeça e ainda assim, o médico me olhou de um jeito desconfiado.— Nós temos alguns cães na casa - ela contou, meio sem jeito — E Aurora estav
Parte 3...Aurora— Me promete que você não vai contar o que houve pra ninguém, filha - ela me pedia com uma certa tristeza na voz — De forma alguma seu tio Pietro pode saber disso... Ele vai... Mandar seu pai embora - ela sentou na cama ao meu lado — E... Ele vai nos matar, você entende, não é querida? Seu pai vai nos matar se isso sair de casa... - ela engoliu pesado.O que eu poderia dizer? Meu coração está apertado e dói mais do que os machucados em meu corpo. Minha mãe está com medo, eu vejo e sinto isso. Eu também estou. Eu só tenho nove anos, o que posso fazer?Eu posso ser nova, mas eu sei que isso é errado e que minha mãe não deveria pedir isso pra mim. Mas ela pediu.— Está bem, mamãe... - respondi com tristeza e já chorando. A abracei — Eu não vou contar pra ninguém, eu prometo.— Nem mesmo para a Diana, me promete? Ela pode contar ao pai.Diana é a minha melhor amiga. Ela é filha mais nova de meu tio Pietro e a gente sempre se deu muito bem. Nascemos quase no mesmo dia e n