As máscaras caem

O som dos meus passos ecoava no corredor, mas minha mente estava distante. As palavras de minha mãe, os olhares de Isabella e a maneira como as pessoas começaram a tratá-la como se ela fosse a dona da escola… tudo isso estava martelando na minha cabeça. Mas o pior de tudo não era ela. Não. O pior era ver minhas “amigas” se afastando de mim, como se eu fosse a vilã dessa história.

Quando entrei na sala de aula, todas as cabeças viraram para me observar, mas não foi por causa de mim. Eu vi as risadinhas disfarçadas, os cochichos baixos. Eu sabia que estavam falando de mim. De novo. E eu só queria gritar, mas sabia que não adiantaria. Nenhuma delas entenderia. Elas estavam completamente cegas por Isabella.

O pior aconteceu durante o intervalo. Estava com a Raíssa e a Jessica, as únicas duas amigas que restaram. Ou pelo menos, eu achava que eram minhas amigas.

— Lilith, precisamos conversar sobre Isabella. — Raíssa começou, com um olhar sério, que mais parecia um aviso. Ela parecia desconfortável, como se estivesse escondendo algo.

— Conversar sobre o quê? — Respondi, forçando a calma. Não queria perder o controle ali, mas sentia que algo estava errado. Algo que elas não estavam me dizendo.

Jessica olhou para Raíssa e deu um sorriso nervoso, como se estivessem em um acordo silencioso. Então Raíssa falou:

— Isabella tem se mostrado uma pessoa incrível, Lilith. Ela está fazendo tudo certo… e você, bem, você tem se afastado um pouco, não? Tem sido difícil acompanhar o ritmo dela.

Eu congelei. Essas palavras soaram como uma lâmina afiada, cortando qualquer vestígio de confiança que eu ainda tinha nelas.

— O que você está dizendo? — Perguntei, sentindo a raiva subir como lava dentro de mim.

— Eu só acho que, talvez, seja melhor você se afastar um pouco de… alguns projetos, sabe? Não podemos prejudicar nossa imagem. Isabella tem muitas ideias boas, e você está… bem, vamos ser sinceras, Lilith, não tem se saído muito bem.

Aquelas palavras foram um soco no estômago. Jessica estava sorrindo, mas eu via o brilho nos olhos dela. Era como se estivesse escolhendo o lado errado. O lado de Isabella.

Eu olhei para elas, tentando entender o que estava acontecendo. Elas estavam me traindo, não apenas com Isabella, mas comigo também. Elas estavam se afastando, começando a tomar o lugar que eu havia ocupado durante todos esses anos. Era como se as máscaras delas tivessem caído, revelando o que realmente eram.

— Então é isso? — Perguntei, minha voz tremendo de raiva. — Vocês estão me trocando por ela? Por essa… menina perfeita?

Raíssa desviou o olhar, claramente desconfortável, enquanto Jessica cruzava os braços, tentando se manter firme. Mas eu sabia. Eu sabia que a verdade estava ali, nua e crua. Elas estavam me trocando por Isabella, porque ela parecia mais fácil de lidar, mais bem vista. Não porque era a melhor escolha, mas porque ela estava conquistando todos ao redor delas.

— Eu… — Raíssa começou, mas não conseguiu continuar. O peso das suas próprias palavras parecia esmagá-la. Ela sabia o que estava fazendo. Elas sabiam.

E naquele momento, eu percebi. Eu não precisava delas. Não mais. Elas podiam ir. Elas podiam se juntar a Isabella, mas isso não me impediria de vencer. Não me impediria de mostrar a todos quem realmente estava no controle.

Eu não ia mais ser a “vilã” da história. Eu ia ser a rainha. E todos iriam ver. Mesmo que fosse necessário destruir a imagem de Isabella para isso.

A raiva dentro de mim fervia. Eles conseguiram. Isabella, as “amigas” que eu achava que eram minhas aliadas, todos eles conseguiram me tirar a única coisa que me acalmava, os projetos. Aqueles projetos eram o meu refúgio, a minha única forma de encontrar algum sentido em meio ao caos da escola e da minha vida. E agora, tudo estava sendo destruído por causa dela.

Me encarei no espelho do quarto, as olheiras profundas refletindo o quanto eu estava exausta. Cansada de lutar, cansada de ser comparada, cansada de ver tudo o que eu construí sendo derrubado. A raiva se misturava com a frustração, e eu não sabia mais como reagir. Sentia uma pressão tão grande no peito que era como se estivesse sendo esmagada, e a sensação de impotência tomava conta de mim.

— Henry! — Chamei, sentindo o peso daquelas palavras saindo da minha boca com mais intensidade do que eu imaginava. — Está ocupado, hein?

A porta do meu quarto se abriu, e ele apareceu na porta, com o rosto ainda de quem não sabia muito bem o que estava acontecendo. Seus olhos estavam cansados, como se o peso do dia também tivesse caído sobre ele. Ele foi até mim, e eu respirei fundo, tentando manter a calma. Mas a frustração estava me consumindo.

— Lilith, o que aconteceu? — Ele perguntou, tomando um passo à frente, olhando-me com preocupação. Mas eu sabia que algo havia mudado entre nós. Aquele olhar que costumava ser de carinho agora parecia mais distante, como se ele também estivesse se afastando sem nem perceber. Eu me senti pequena diante disso.

— Isabella, Henry… tudo está indo para o ralo. — Falei, a voz trêmula, mais do que eu gostaria de admitir. — Ela me tirou tudo, me roubou a única coisa boa da minha vida. Os projetos… eles eram a única coisa que me deixava calma, que me fazia sentir que ainda havia algo de bom em mim.

Ele permaneceu em silêncio por um momento, me observando, como se estivesse tentando compreender o que estava acontecendo. Mas as palavras dele, quando vieram, não foram o que eu esperava.

— Lilith, eu sei que você está chateada, mas talvez seja melhor… talvez você devesse tentar ver as coisas de outra forma. — Ele começou, hesitante. — Isabella é diferente, ela é… bem, ela tem talento, e todos estão se impressionando com isso.

Minha mente entrou em um turbilhão. Ele estava me comparando a ela. Novamente. Isso era o que ele queria? Que eu fosse como ela? Como se eu fosse só mais uma no meio da multidão? Uma cópia dela, alguém sem identidade própria?

— Então é isso? — Perguntei, minha voz mais fria do que eu pretendia. — Você está do lado dela agora? Ao invés de me apoiar, você está dizendo que eu deveria ser mais como ela?

Henry parecia perplexo, e eu podia ver o conflito em seu rosto. Ele não sabia o que responder. Mas eu já sabia a resposta. Eu não era suficiente para ele. Eu nunca seria. E talvez nunca tenha sido.

— Eu só… quero que você fique bem, Lilith. Mas você precisa parar de se isolar tanto. Está ficando difícil, sabe? — Ele respondeu, a frustração na voz, como se ele estivesse começando a perder a paciência também. Ele não entendia o que eu estava passando. Não via como tudo ao meu redor estava desmoronando.

Eu só olhei para ele, sentindo um vazio enorme tomar conta de mim. Eu não sabia o que dizer, mas também não queria mais ouvir. Ele não estava mais ao meu lado da maneira que eu esperava. E, no fundo, sabia que talvez ele nunca tivesse estado.

Aquele momento foi o último que eu realmente senti que podia contar com Henry. Como sempre, ele havia se tornado mais um afastado, mais um que caía aos pés de Isabella, enquanto eu ficava aqui, sozinha, em pedaços.

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