Catarina, a filha da máfia
Catarina, a filha da máfia
Por: Carla Kamer
1. Devil Eyes

Catarina Marchetti

Trimmmm-trimmmm

Meu Deus, quem está ligando uma hora dessas?! Abro os olhos preguiçosamente e olho para o celular onde está escrito na tela o nome da minha nonna, Maria, mas estou tão cansada que desligo o celular e volto a dormir. Posso falar com ela depois.

Depois de finalmente conseguir descansar, levanto e vou tomar um banho quente para relaxar e tirar toda a maquiagem da noite anterior. Sinto meu estômago reclamar de fome e desço para tomar café e encontro minha mãe séria sentada à mesa, assoprando uma xícara de chá, ainda de pijama, vejo que ela está com os olhos vermelhos e uma expressão triste.

— Bom dia mãe, o que aconteceu?

— Catarina, sente aqui minha filha, precisamos conversar — olho para ela, e me preocupo com seu tom de voz, mas a obedeço e sento de frente para ela — Seu pai me ligou agora a pouco, infelizmente sua nonna faleceu, meu amor.

Nesse momento, meus olhos se enchem de lágrimas e só consigo olhar para minha mãe, que se levanta e me abraça.

Minha nonna era a única vó que eu tinha, era carinhosa e mesmo morando em outro país sempre me ligava, e me pedia para ir visitá-la com mais frequência. Mas a Itália era muito longe do Brasil, eu ia todas as férias de julho e passava uma semana com ela e meu nonno. Eles faziam parte da chefia da máfia italiana, mas nunca consegui ver esse lado deles, por que quando eu ia só conseguia ver dois velhinhos apaixonados e que me mimavam o tempo todo.

E então na hora imaginei como meu nonno estaria triste e meu pai também.

— Mãe, eu preciso ir para lá, meu pai vai precisar de mim agora — supliquei, sabendo que ela não gostava da ideia de eu ir.

— Minha filha, não tem mais o que fazer, sua nonna já se foi.

— Ela me ligou hoje cedo e eu não a atendi, me deixe ir e ver meu nonno, daqui a pouco ele não estará mais aqui, e eu quero aproveitar o tempo que me resta. — minha mãe enfim concordou.

Meu nonno foi chefe da máfia italiana a anos atrás, mas durante um tiroteio ele ficou entre a vida e a morte e acabou ficando com muitas sequelas, passando o posto de chefe para o meu pai.

No caminho para o aeroporto, minha mãe não parava de falar me alertando sobre os cuidados durante a viagem, era minha primeira viagem internacional sozinha. Todo ano minha mãe me levava para a casa dos meus nonnos, mas agora que já tinha completado 18 anos eu pude ir desacompanhada.

— Mãe, pode ficar tranquila, eu sei me virar, e qualquer coisa eu te ligo. — falei isso para acalma-lá, e olhando para seus grandes olhos verdes, percebi que não tinha feito efeito.

— Tudo bem meu amor, eu sei que vai dar tudo certo. Mas por favor, fique na casa do seu nonno, faça companhia para ele, e volte em segurança.

A beijei e fui em direção ao avião.

Nunca entendi muito bem o por que da minha mãe se preocupar tanto com a minha segurança, mesmo sendo filha de Dom Nero, eu não convivo com a máfia italiana. Sou uma filha ilegítima, e por isso moro com minha mãe no Brasil, e quase não vejo meu pai.

A viagem durou longas horas, e nesse tempo eu só imaginava como deve estar o clima na minha família.

Descendo do avião, de longe vejo minha tia Gia acenando. Ela é baixinha, pequenininha com longos cabelos pretos e não aparenta nenhum pouco seus 38 anos. É minha tia favorita, sua energia é demais e as vezes parece mais uma melhor amiga do que irmã do meu pai. Ela está cercada de seguranças, mas quando chego perto ela sai correndo para me abraçar.

— CATARINA! Que saudades de você, bambina! — falou, me enchendo de beijos.

— Tia! Até que enfim, estava ansiosa para te ver! — e logo lembrei do motivo da minha viagem — Meus sentimentos pela nonna, como você e a família estão?

Na hora seu semblante mudou, parece que havia esquecido por um momento por que eu estava ali.

— Ah bambina, está tudo um caos! A morte da mama foi muito inesperada né, e agora todos estamos preocupados com o teu nonno. Ela cuidava tão bem dele, ele vai sofrer muito sem ela por perto. — dava para ver a tristeza nós seus olhos, até que ela pensou mais um pouco e seus olhos pareciam sair faíscas de raiva. — Fora isso, tem meus irmãos que faltam agora se matar para decidir as coisas. Ninguém coopera, e seu pai está tão atarefado com as coisas da máfia e as coisas do funeral que não teve tempo para botar ordem em casa.

Eu imagino como deve estar. Aqui na minha família meus tios nunca se deram bem, quem sempre colocou as coisas em ordem foi meu pai. Por isso, mesmo ele sendo o filho mais novo, conquistou o posto de Dom, que deveria ser do mais velho.

Entramos no carro, e fomos em direção a fazenda dos meus nonnos. Entrando no terreno, eu observava aqueles gigantes muros de pedra que rodeavam a propriedade, e os longos jardins gramados e floridos que levavam até a famosa sede da família Marchetti, uma casa enorme branca, com uma varanda que dava a volta na casa e dava um ar aconchegante se não fosse pelas dezenas de homens armados fazendo a segurança.

Quando cheguei na casa vi que ela estava cheia, com muitos homens arrumados de terno e caras fechadas. Todos conversando baixo, parece que resolvendo muitas coisas que não eram do meu interesse.

— NÃO É ASSIM QUE FUNCIONA! NINGUÉM VAI TIRAR O PAI DA CASA DELE! — ouvi meu pai gritando da cozinha, fui até lá assustada e me deparei com muitos homens em volta dele, alguns conhecidos e outros que nunca vi na vida, todos armados e exaltados .

Quando entrei, todos os olhos se voltaram pra mim, e então percebi que estava destoando de todos. Enquanto todos pareciam arrumados e poderosos, eu parecia uma turista inocente e perdida, de vestido rodado e rosa e sapatilhas combinando. Finalmente me caiu a ficha da família que tenho e como não a conheço direito.

Sem graça, olhei em volta assentindo em cumprimento. Até que um olhar me prendeu, e tudo parece que aconteceu em câmera lenta, era como se o destino tivesse me colocado ali para aqueles olhos. No canto da cozinha, sentado em cima do balcão, com uma arma na mão e a um copo de whisk na outra, havia um homem moreno, com barba e um olhar profundo. Sentado apoiando os cotovelos no joelho, ele me encarava, e parecia que seu olhar estava me despindo. Senti meu rosto corar, e constrangida, o cumprimentei.

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