3. Play with fire

Catarina Marchetti

Eu estava na sala, cumprimentando a todos e percebi que os olhos daquele cara não paravam de me seguir.

— Catarina, essa aqui é a minha cunhada Cecília, ela é dois anos mais velha que você, vocês vão se dar muito bem! — disse minha tia Gia, enquanto uma menina que parecia ser bem mais nova que eu me cumprimentava.

— Oi! Meus pêsames pela sua nonna, mas eu estou muito feliz que você está aqui, sempre quis te conhecer! Seu pai fala muito de você — disse toda sorridente.

— Obrigada! Espero que ele fale bem — dei uma risadinha enquanto tentava disfarçar o olhar para o canto da sala.

Pelo jeito eu não disfarcei muito bem, por que minha tia se virou olhando na mesma direção que eu, e questionou:

— O que você tanto olha para lá?

— Tem um cara que desde que eu cheguei não para de me olhar. Quem é ele?

— O Dante? É meu irmão! — disse Cecília encarando ele de volta.

Ele percebeu que todas estávamos falando dele, e levantou e voltou para a cozinha.

— Sério? Vocês tem que me apresentar ele, tem algo nele diferente.

— Ahimè! Não vai me dizer que você se interessou por ele? Já pode tirar seu cavalinho da chuva por que ele já está comprometido, e teu pai não gostaria de você perto de alguém como ele.— olhei para ela estranhando o por que disso— ele é um grosso, é tipo a ovelha negra da família, não socializa com ninguém!

Ouvindo isso me deu um aperto no coração em saber que outra pessoa já o pertence, mas ao mesmo tempo dentro de mim cresceu algo que me dizia que eu preciso me aproximar dele.

Minha tia parece que leu meus pensamentos, me olhando desconfiada e então tratou de mudar de assunto.

O tempo voou enquanto o sol se pôs, pintando o cel com tons de laranja e rosa. À medida que a noite se instalava, as pessoas iam se retirando, sobrando apenas eu e meu nonno, e um turbilhão de pensamentos e sentimentos que vinham a tona sobre aquele dia e sobre como seria meus dias aqui.

Acordei cedo, fui ver meu nonno que estava na sala em sua cadeira de rodas assistindo televisão. Pelas sequelas do tiro que levou a muito tempo, ele já não se comunicava mais ou se mexia sozinho, mas dava para ver em seu semblante a tristeza que a falta da minha nonna trazia.

Falei com ele sobre a minha viagem, sobre como estava feliz em vê-lo e como tinha ficado intrigada com o tal Dante. Ele me olhava e eu sei que estava me escutando e me entendendo. Como eu queria que ele pudesse me responder!

—Buongiorno mia principessa! Buongiorno pai!

—Bom dia pai!

Observei que ele estava acompanhado da minha madrasta Elma e de meus irmãos, Raul e Renzo. Não contive a careta quando vi que eles não cumprimentaram meu nonno ou nem fizeram questão da sua presença ali.

— Hoje iremos almoçar na tua tia Gis. Vamos conosco?

— Pai, não vai caber nós todos no carro, pode ir na frente que eu vou com o nonno e com o motorista logo depois.

Corri me arrumar, na esperança de ver um certo alguém lá. Quando desci dei de cara com o Dante, empurrando a cadeira do meu nonno para a entrada.

— Oi! Você que vai nos levar? — falei, observando seus braços musculosos por baixo da camisa preta.

— Olá Catarina, teu pai me pediu para dar carona para vocês, podemos ir?

Assenti e o segui até o carro. Meu nonno foi no banco da frente que era mais espaçoso, enquanto eu sentei no meio do branco de trás.

Durante o trajeto, senti um silêncio estranho e percebi que ele olhava para mim de cinco em cinco minutos através do retrovisor.

— Você pode aumentar o ar condicionado aqui? Está tão quente! — eu não sabia se a temperatura ambiente estava tão alta, ou se era meu próprio corpo que estava fervendo por ser olhada tão indiscretamente.

— Já está no máximo. Acho que você vai ter que tirar essa roupa.

Eu sei que ele não falou nesse sentido, mas na hora imaginei ele tirando a minha roupa e passando a mão pelo meu corpo.

Mas enfim, realmente errei na escolha da roupa, eu estava com uma camisa de manga longa branca e uma calça bege, e o clima italiano estava mais quente que o previsto.

Chegamos na casa da minha tia, e pude ver que estava toda a minha família ali. Cheguei suando e perguntei se a minha tia não poderia me emprestar algo mais leve. Ela então me emprestou um vestido de alcinhas azul, que tinha um decote que valorizava os meus seios. Me senti linda mas ao mesmo tempo insegura de usar algo tão aberto assim.

Quando voltei a sala com a nova roupa, o Dante veio até mim e disse:

—Essa roupa ficou bem melhor ragazza, você deveria usar mais!

Virou as costas e saiu. Não é possível que esse clima esteja só na minha cabeça, tenho certeza que ele está dando em cima de mim.

Fui em direção a minha tia e finalmente desabafei:

— Eu não entendo o que esse cara tem, mas juro pra você que quando o vi eu casava com ele na hora.

— Eu acho que não foi só você que sentiu isso, ele não para de te cercar. Mas não comenta isso com a Cecília, ela é muito ciumenta com os irmãos. E além do mais, flertar não é crime. Logo você vai voltar para o Brasil, aproveita enquanto está aqui.

Minha tia não era considerada um bom exemplo pelo meu pai, ela era bem doidinha e era isso o que eu mais gostava nela. Sabia que eu poderia falar o que fosse, que ela jamais me julgaria e ainda me ajudaria a burlar qualquer regra.

— Vamos aproveitar que o Marco está fazendo almoço e vamos jogar uma canastra. Pessoal, quem quer jogar com a gente?

— Só se for valendo— prontamente respondeu Dante.

— Finalmente vou ter a chance de ganhar de você cunhadinho! Catarina está fazendo milagres mesmo, até fazer você jogar com a tua família.

Ele se endireitou e vi que ficou com tanta vergonha quanto eu. Minha tia conseguia ser inconveniente quando queria, e no fundo eu me divertia com isso.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo