— Você não tem direito algum de falar assim comigo, como teria de pensar que pode ao menos se pronunciar? — Alim estava quase explodindo de raiva, encarando o homem mais alto que ele.
— Pai, não levante o tom! Todos irão ouvir o que se passa, seremos envergonhados por ela. — Inês parecia uma enviada das profundezas murmurando coisas para entrar mais na cabeça do pai como um anjo bom, assim permanecendo no papel de moça preocupada com a família.Alim puxou sua mão do aperto de Ahmed, com os olhos em fogo, se deixou ouvir as palavras da filha mais nova. — Você, professor. Irá assumir Malika, mesmo que não tenha dinheiro algum, eu quero apenas que a leve para bem longe, suma ou morra com ela.Ahmed apertou a mandíbula com o tamanho rebaixamento por causa de sua posição.— A minha baixa posição financeira não matará ninguém, mas isso não é da sua conta, senhor Al-Madini. — mencionou o nome da família, para denotar que eles eram um dos mais ricos da cidade de Ryiadh, ironizando um respeito pela posição dele que não existia. — Irei tratar de baixar ainda mais suas migalhas, Al-Haroon. Tudo por sua insolência de não se calar quando deveria. Vocês irão morrer de fome, irei me certificar disso! — ameaçou Alim, com o rosto completamente franzido em raiva, chegando a ponto de deixar Inês satisfeita com o resultado do seu plano. — Pai, não se exalte mais, vamos embora! — pediu mansamente, tocando o braço de seu genitor, apenas para chamar sua atenção. — E não apareça na minha casa, sua pr*******a! — afiou o olhar para aquela que estava abandonando ali.Malika parecia desolada, o rosto dando indícios de inchaço, banhado por lágrimas de dor, a pele já apresentava vermelhidão, o corpo tremendo e os cabelos emaranhados.Inês deu um último olhar na direção deles, recostou a porta atrás dela, fingindo ter pena, deixando o professor e a irmã para trás. O silêncio não existiu depois da saída de Alim, pois a jovem soluçava baixinho, deixando o clima estranhamente incômodo.Ahmed se virou para a jovem, analisando seu horrível estado, por um momento pensou em sentir pena, mas logo a dúvida de que ela poderia ter planejado ou não tudo aquilo o assombrou novamente, o fazendo permanecer insensível. — Vista-se, temos que sair daqui!Os olhos avelã dela estavam completamente inflamados e vermelhos. — Vai permanecer aí? — perguntou, quando não a viu se mover, apenas continuar a tremer.Ahmed passou por ela sem tocá-la, pegando as roupas que antes da chegada de Alim, ela segurava.Quando ele retornou, entregando-lhe suas vestes, ela perguntou de repente, levantando os olhos para encontrar seu olhar. — E por quê agora vai me assumir? — O ruivo a encarou. — Seria mais simples apenas deixá-la aqui e ir embora, acredite, eu esqueceria tudo com facilidade. — aquelas palavras esmagaram o coração de Malika.Apertando as cordas vocais, ela se virou para ter distância dele, iria trocar suas roupas, sem importar-se de mostrar seu corpo para ele ou não. Sua dignidade acabava mesmo de ser esmagada.Para se distrair, quis machucá-lo também, nem que fosse com palavras, já que de outra forma apenas ela sairia ferida: — Você não tem que agir como alguém que tem condições de me despojar. — Não vou despojar, isso não é possível, apenas assumirei a responsabilidade dos meus atos. — respondeu no mesmo lugar, não conseguia tirar os olhos do corpo delicado da jovem, onde antes estava despida a sua frente. — Eu não preciso que alguém seja responsável por mim! — irritou-se a jovem, vestindo a burca com chateação. — Caso não saiba, não é apenas o dinheiro ou posses que importa para a sociedade como um todo. Eu sou um mentor, devo ser responsável sempre. Como poderei continuar exercendo se julgarão que não me convém depois de ser visto como um depravado.Malika se virou para ele, colocando sandálias caras nos pés. Ela não estava envergonhada de nada. “Tudo por imagem, responsabilidade e dever.” Aquilo a fez pensar que mesmo com ele, não iria se casar.Não importava se seria vista como Inês planejou, como uma mulher da vida. Ela apenas não queria ficar ouvindo sobre dever ou integridade. — Então quer dizer que também tem uma honra aqui, e mesmo que gaste até o último recurso que o resta para se manter, irá cumprir tudo com responsabilidade. — o viu apenas dar as costas para ela. — Não sou o rato de esgoto que sua família insiste em rebaixar. — a voz rouca dele estava carregada de frustração.Malika bufou em seu íntimo, mesmo irritada com as declarações dele, ainda a irritava ouvi-lo se rebaixar sozinho, o amor sentido por ela falava de injustiça.Pretendendo não falar nada, apenas o seguiu, como uma obediente futura esposa, fazendo Ahmed duvidar de sua submissão repentina. “Ela planeja algo.” Pensou consigo.Ambos conseguiram sair do hotel sem causar nenhum alvoroço, mesmo que Malika fosse filha de uma família renomada, ela ainda soube passar despercebida.Assim adentraram o carro de Ahmed, onde Malika escolheu ficar no banco de trás. Na cabeça do professor passavam-se diversas teorias que o levou a situação atual, o fazendo ficar imerso naquele mundo de lembranças enquanto dirigia com a jovem atrás do seu banco. *****Horas antes…Depois de uma longa apresentação sobre o motivo da queda do petróleo no país com a maior riqueza proveniente dele, falou sobre a economia, ajustes e demais partes que faziam parte do interesse daquelas famílias ricas e esnobes.No meio deles, aqueles mesmos olhos avelãs o observava, seguindo a cada movimento, mostrando evidente interesse, como já havia percebido nos supostos encontros pelos corredores da escola mista que ela não deveria ultrapassar, mas era uma jovem rica, quem a impediria?Ahmed não era seu professor, pois ela fazia enfermagem, então era instruída especialmente por professoras, nenhum homem exceto o diretor da instituição tinham contato com as alunas.Depois da palestra, ele quis apenas se retirar.A bandeja com algumas xícaras de chá passava perto de Ahmed, já havia sido convencido que o chá servido ali era excepcional, melhor até, que uma dose de cafeína. — Com licença! — fez o garçom parar. Este estava vestido como todos ali, com kandura, uma espécie de túnica grande, além de um pano sobre a cabeça.Naquele ambiente não era necessariamente obrigatório para um homem aquela vestimenta tradicional. Capturando uma xícara qualquer, ele não hesitou em dar o primeiro gole.Os olhos do garçom cresceram de tamanho no mesmo instante, o homem inspecionou a bandeja procurando algo. — Algum problema? — perguntou Ahmed, baixando a xícara para colocar sobre o pirex que segurava na outra mão. — Não, senhor! — respondeu o homem apressado, que nervosamente sumiu no meio dos outros convidados. “Não posso dizer que seja estranho, todos me veem mesmo como um pobre coitado.” Pensou caminhando até o fim da sala, na entrada de um dos corredores para os quartos.Não podia demorar no hotel, pois não era nada como um simples professor da universidade mista da Arabia Saudita.Sem perceber, havia bebido todo o conteúdo da xícara. Então a colocou em uma mesa distante, agora só precisava de um banheiro, antes de enfrentar a chuva lá fora.Naquele momento, alguém passou por ele, o dando a chance de perguntar se havia alguma cabine por perto. — Esse andar está desocupado por causa do evento de hoje, então poderá usar qualquer quarto que desejar! — assegurou o desconhecido. — Agradeço por isso. — diz Ahmed antes de adentrar o corredor.Caminhou até o único quarto, tentou a maçaneta, logo estava fechando a porta, tudo estava escuro lá dentro.Gostando do clima, não procurou o interruptor, apenas decidiu tomar um banho relaxante antes de deixar o local.Tirou suas roupas bem passadas, ficando apenas com a cueca branca, se dirigiu ao que parecia o banheiro. Não ouviu nada até aquele momento, parecia que estava ficando com os sentidos embaralhados, o corpo quente, a respiração levemente alterada, apenas a visão permanecia normal.O estranho suor e incômodo lhe cresceu, parecia que milhões de formiguinhas subiam por sua pele. “Havia algo naquele chá?” Se perguntou franzindo o cenho.Então saiu de seu devaneio passado com o som de seu aparelho celular tocando, ainda estava em movimento, por isso teve que fazer uma parada para atender.Primeiro identificou quem chamava, não poderia apenas atender na companhia que estava, pois não sabia se a conversa soaria estranha para algum deles. — Preciso atender. Os olhos dele pousaram em Malika pelo retrovisor, ela não disse nada, apenas mostrou estar atenta a ele. A jovem parecia calma, o que lhe trouxe tranquilidade para atender a ligação em privado.Saindo do carro, ele se afastou um pouco para ouvir a pessoa do outro lado e respondê-la sem interrupção. — Diga! O homem do outro lado começou a falar sobre o assunto urgente, o deixando distraído na conversa.Enquanto isso, Malika o analisava de dentro do carro, vendo-o dar as costas parecendo distraído, tomando certa distância do veículo, ela aproveitou para agarrar sua pequena bolsa da noite passada, onde havia tudo que agora importava, pois não podia retornar para casa
Malika deixou os ombros cair, mostrando desistência, permitindo alívio ao professor. — Essa é a melhor decisão para todos. — ouviu ele dizer.A jovem não parecia contente com aquilo, apenas ficou em seu lugar o observando em silêncio. “Todos quem? Você está se obrigando a se comprometer comigo e me obriga a aceitar.” Pensou machucada com a realidade.Sempre pôde o admirar a distância, mas nunca pensou que o teria tão perto, para apenas vê-lo indiferente, frio, sendo obrigado a aturá-la, como se ela fosse uma aluna ruim, alguém colocada em sua classe para aprender disciplina a todo custo, quando o tutor é escalado a seguir tal pessoa até o fim de sua carreira, enfim, o trazendo sucesso pela perseverança. — Irei pegar seu dinheiro de volta. Logo retornaremos ao carro! — avisou o ruivo. — Vá em frente! — diz ela, fazendo o cenho dele franzir, agora o havia deixado desconfiado. A jovem não estava disposta a ser apenas aturada, queria ser vista ou ser esquecida para sempre, quanto mai
Durante todo o caminho, o silêncio reinou, enquanto a jovem tentava absorver o trajeto para um dia conseguir retornar para o seu mundo real.Minutos depois, percebeu que adentravam um lugar totalmente estranho, onde algumas ruas eram mais estreitas, as pessoas pareciam sempre atentas á visitantes, curiosas demais, mal vestidas até; Com roupas amassadas, velhas, quando algumas as tinham inteiras.As cores presentes nas ruas eram sempre do bege ao amarelo queimado, em contraste com as paredes das casas velhas, de no mínimo dois andares. Tudo parecia solitário, apesar de ter demasiadas casas em um lugar só. — Que lugar é esse? — Malika não percebeu expressar seus pensamentos em alto tom.O ruivo a deu atenção pelo retrovisor enquanto dirigia: — Sua nova vizinhança. Os olhos avelãs dela saltaram surpresos. — Você mora por aqui? — não se importou se antes era apenas seu pensamento alto o responsável pelo início aquela conversa. — A partir de hoje, você também. — relembrou, alternando
— Quê? Isso… Isso é porque estava sob efeito de algum remédio… Eu não faria… — não conseguiu completar, pois sabia que mentiria, ela o amava, como não poderia ter pensado em ficar com ele uma única vez? “Mas não o faria de forma tão impulsiva e descontrolada, como aconteceu.” Teria de repensar certas coisas. — Por acaso está dizendo que tomamos um afrodisíaco? — vasculhou a face da jovem. Ela era bonita, não poderia negar, mesmo com o rosto ainda machucado era delicada, talvez não apenas por ter uma vida de regalias desde o berço, mas por ser natural também. Seu corpo era sensível e intocado até a noite passada.Ahmed não pensara em Malika como uma parceira de relacionamento antes de tudo aquilo, mas ambos estavam sob efeito de algo motivador demais para evitar certas situações, agora, estava ele, preso a uma jovem, com quase metade da sua idade, pois a via como nova demais.Eram quinze anos de diferença, diferente da faixa que antes buscava igualar, era um salto no escuro, ela pod
Ahmed mostrou não ter esquecido da presença de Inês, que agora fingia um sorriso desconcertado mesmo que ele sequer a direciona-se o olhar.Ele estava pisando em seu ego femino, pois mesmo estando de burca quando sua irmã não estava, ele deveria a dar atenção pelo menos uma vez, mas não o fez nem para a expulsar, olhava apenas para seu pai, demonstrando o quanto ela era insignificante aos seus olhos. “Quem ele pensa que é?” Se perguntou com raiva, encarando agora a irmã, essa a observava. “Não é possível que ele se interesse por ela, quando não sabia sobre sua existência. E mesmo agora, devia odiá-la, ela está mais pobre que ele, não servirá para nada em sua vida a não ser causar problema. Como pode olhar na cara dela?” Não sabia, mas o ciúmes da irmã a corroía novamente, como quando Malika era prometida de Zyan.Inês se questionava sobre o valor da mais velha, mesmo pobre, deserdada, sem nenhum apoio, ainda estava em uma relação boa, invés de fracassar totalmente e ficar desespera
Inês estava tão ansiosa pela resposta do pai sobre a conversa entre ele e Zyan, que ficou ouvindo atrás da porta dele do escritório. Para sua decepção, só podia ouvir a voz do pai.O homem não poderia comparecer a uma reunião pessoal naquele momento, pois estava muito ocupado com a empresa a qual considerava sua. — Se trata sobre o ocorrido de mais cedo… — diz Alim ao telefone, dentro do escritório que tinha em casa. — Então você ainda não viu… Não! … Pois peço desculpas antes que veja por si mesmo… Sim, é sobre isso! — Alim já demonstrava um certo nervosismo na voz. — Irá ver agora? … Não acho que devia ver enquanto trabalha, pode atrapalhar sua produção… Não, não queria dizer isso. Entendo! Segundos se passaram, Alim teve de sentar-se na sua cadeira acolchoada, esperando a reação de Zyan.Não veria o rosto dele, por não optar por isso, sabia que aquele assunto não seria bem recebido pelo outro, então era preferível parecer calmo e capaz de resolver a situação, caso ainda pretend
— Você pensou em tudo. — respondeu impressionado. “Ela é mais astuta do que pensei.” confessava que estava receoso com isso. “A noite ela cortará minha cabeça para ficar com tudo para si?” Estava declinando. — Agora pode colocar a burca de volta! — pediu ele, querendo evitar problemas. — Você ainda não me deu a resposta. — Inês parecia um pouco ansiosa, provavelmente fingindo controle de suas próprias emoções. — Disse que faria tudo que eu desejasse se ouvisse o que tinha a dizer. — Deu um meio sorriso para a mais nova.Inês engoliu em seco, agora tinha de cumprir com sua palavra, do contrário, como ele confiaria em casar-se com ela, se mostrasse ser alguém sem palavra?De má vontade, capturou a roupa longa repousada sobre suas pernas. Se levantou, encarando Zyan, se afastou o suficiente para pôr a roupa de volta, então se voltou para ele novamente, dessa vez não se aproximou da mesa ou dele, permaneceu no lugar que estava, de pé, o fitando.Zyan moveu o corpo na cadeira, coloca
Malika retornou para dentro da casa, um sorriso desenhava seus lábios, aquela era a oportunidade perfeita.No entanto, naquele momento, relembrou as palavras de Ahmed, como se estivesse falando dentro de sua cabeça: “...Não pense em se aventurar por aí!” “Eu sei que pensou em fugir, mas eu não aconselho. Então apenas faça o que precisa e retorne!” Balançou a cabeça para tirar a voz rouca dele da mente e não pensar nele. — Ele estava apenas me colocando medo. — falou para si mesma.Caminhou até o quarto, procurando a pequena bolsa tira colo, afinal, era tudo que tinha.Respirou fundo, então deixou o quarto, no momento seguinte, passava perto da porta dos aposentos dele, parando para encarar a porta, sentiu-se tentada a invadir o cômodo. “É minha única oportunidade.” pensou, dando um passo à frente.Devagar, capturou a maçaneta, girou e empurrou, nada aconteceu. “Isso é sério?” estava muito frustrada agora. “Quando ele pensou em trancar a porta do quarto dele?” Fez bico.Soltou a