Parte 2...
Me deu até vontade de jogar o copo contra a mureta de proteção da varanda, mas não sou tão maluco de fazer isso. Só apertei o copo mesmo.
A propriedade que Roberto se refere, é o lugar mais importante para mim, desde que me entendo como gente, por assim dizer. Na verdade é uma grande área na Itália, na região da Toscana.
Lá tem um castelo de mais de mil anos e que é cheio de história. Tem também mais duas grandes casas, com pouco mais de setecentos anos, que foram construídas depois que o castelo mudou de dono. Tem oito hectares de plantação de oliva e quatro de uva, que produz um dos melhores vinhos da região e que é muito lucrativo.
O local é maravilhoso. Depois que fui morar um tempo com meus avós paternos, para que meu pai pudesse ter liberdade e tranquilidade para continuar a trabalhar, as melhores recordações de minha vida são de lá.
A beleza do lugar é incomum. Morei com meus avós em uma das casas, mas o castelo era meu lugar preferido. Meus avós o deixavam aberto para visitação, mas eu tinha um quarto só pra mim e que ficava muito tempo lá, às vezes lendo.
Ainda hoje está aberto para visitação de turistas, mas eu diminuí a parte liberada e não deixei que a ala onde ficava meu quarto pudesse ser vista.
A propriedade era de meu bisavô e foi passada até chegar ao meu pai. Eu tenho a intenção de um dia a passar para um filho meu.
Se algum dia eu tiver coragem de ter um filho, é claro.
Agora meu pai me deixa esse pepino nas mãos para resolver. Me sinto traído por ele fazer isso, deixar que Diana possa colocar as mãos fúteis no que me pertence de direito.
— Apesar de ser uma pessoa egoísta, Diana era bem vista por seu pai. Não sei bem o que ele queria, mas eu penso que seja um modo de forçar você a assumir um compromisso de verdade.
— Isso é chantagem emocional pesada.
— Eu também acho, mas não há muito o que fazer agora - ele mexeu o ombro — Eu sinto muito, é pegar ou largar.
Eu nunca iria largar e menos ainda na mão de Diana. Um pessoa mesquinha, ingrata e egoísta. Aquelas terras me pertencem.
— Seu pai era um bom homem, Luca, mas ele tinha certeza de que você jamais lhe daria um neto... E ele morreu com essa tristeza de estar certo.
Ouvir isso me fez mal. Engoli em seco. Eu jamais quis magoar meu pai. Ele era um homem cheio de coração, muito bom até com quem não merecia. Estava sempre buscando o lado bom de cada pessoa e evitava ver seus erros.
Eu já não sou assim. Creio que me tornei um pouco cínico depois que fui crescendo e aprendendo como é a vida de verdade e como as pessoas são más e mesquinhas por dentro.
Talvez eu tenha exagerado, mas não consigo me prender a nenhuma dessas mulheres que vivem atrás de mim. É tão fácil trocar de amantes que poucas eu cheguei a considerar como namorada.
— Eu sei que ele esperava isso de mim, nunca escondeu... Mas agora exagerou - bati na coxa — Ele me deixou em uma situação complicada, Roberto.
— Realmente, mas eu acho que você pode conseguir se sair bem nisso.
— Como? - eu franzi a testa curioso.
— É simples... Escolha uma dessas garotas com quem você anda por aí e se case com ela.
Eu quase cuspi toda minha bebida.
— O que? Você ficou louco, homem?
— É o único meio de conseguir a propriedade sem contestar o testamento - ele ergueu a mão — E você sabe que isso seria uma briga de anos e no final não conseguiria vencer. É a lei, amigo.
Eu me sinto revoltado e perdido ao mesmo tempo. Pra mim aquela terra é muito importante e faz parte da melhor época de minha vida. Não posso aceitar perder assim. Não posso!
— Eu não tenho como fazer isso, Roberto. Quem eu poderia escolher? - torci a boca — E não esqueça que as mulheres com quem eu me relaciono são interesseiras. Não sou bobo.
— Não é possível que nenhuma delas seja apta a ser sua esposa.
— Claro que não... Eu nunca pensei em me casar, porque acha que estaria com mulheres que querem compromisso?
— Bem... - ele ergueu as sobrancelhas pensativo — Isso faz sentido. E relembrando aqui de suas amantes, em especial aquela do começo do ano, não dá mesmo para levar à sério essa opção.
— Você fala da Margô? - dei uma risadinha — É, ela era bem louca mesmo.
— Louca? Ela é totalmente insana. Deus me livre passar pelo que você passou com ela - mexeu o indicador negando — Minha carreira ia direto para o brejo depois do escândalo.
Ele falava da baixaria que Margô inventou. Deixou sair uma fofoca mentirosa, que dizia que ela estava grávida e que eu havia mandado que abortasse. Disse que paguei um milhão para que fosse embora e fizesse o aborto em outro país. Tudo uma grande mentira nojenta, por raiva de ter levado um fora.
Ela achava que ficaria comigo em suas mãos e caiu do cavalo. Ficamos juntos por dois meses e eu me cansei do jeito forçado dela.
As revistas e sites de fofocas cairam matando em cima de mim, disseram horrores sobre nosso relacionamento e ela se aproveitou. Acabou enchendo o bolso de dinheiro com o que lhe pagaram para mentir.
Eu estava muito cansado e abalado por causa da doença de meu pai e só depois fui prestar atenção nisso. Ela só parou quando eu meti um processo pesado em cima e ela desistiu, com medo de acabar presa por difamação e outras coisas mais.
— Pois é, você sabe que eu não tenho ninguém em vista - cocei a testa — E nem quero essa sua ideia aí de me casar.
— Não tem pra onde correr, Luca. Você casa ou perde a propriedade para Diana. Não tem outro modo de ganhar essa.
Eu tenho vontade de sair quebrando tudo, mas não vou fazer isso porque o prejuízo será só meu. Mas que isso foi uma tremenda sacanagem de meu pai, isso foi mesmo.
Ele sempre fez de tudo para que eu me casasse, agora está conseguindo, ainda que esteja morto.
Não sei o que vou fazer. Minha mente está cheia e tenho pouco tempo para achar uma solução ou vou perder o que mais amo.
Parte 1...Hoje amanheci um pouco lenta. Choveu a noite toda e eu tenho pavor de trovão. Me enfiei na cama e me encolhi bem no cantinho até que acabei dormindo. Vou trabalhar sem muita vontade, mas eu preciso. Não posso me atrasar e nem quero. Gosto de chegar um pouco antes porque assim posso me organizar e me preparar para a chegada de meu chefe.Luca Bertolini.Meu Deus, o que ele tem de bonito, tem de ignorante. O homem tem um jeito rude de tratar as pessoas e acho que eu sou sua vítima preferida.Trabalho para ele diretamente há dois anos, mas na empresa já estou há cinco anos. Gosto muito de trabalhar lá, só não curto muito ser secretária dele, mas o salário é muito bom.A empresa me dá algumas vantagens, como plano de saúde, que cobre quase tudo e também tenho plano dentário. Eu até já usei por duas vezes, quando tive um problema em um dente e que me deixou presa em casa por quatro dias.Pude descansar porque a empresa cobre esse tipo de situação. Sou muito agradecida ao meu em
Parte 2...Nossa, que homem grosso. Logo de manhã e já dando coiçe. Respirei fundo. Preciso do empregro, não posso esquecer.— Não, senhor - dei um sorriso meio sem graça — É que não o vi chegar.— E iria ver como, se estava batendo perna por aí? - me encarou de modo feio — A santinha demorou a chegar hoje.Eu não suporto que ele me chame dessa forma, ainda mais que sei que é de modo irônico. Já tem uns seis meses que começou a me chamar assim.— Eu não estava batendo perna, estava no banheiro e...— Me poupe - ele ergueu a mão — Não quero saber o que você fazia. Pegue logo essa papelada espalhada e traga para mim o que tenho que assinar. Vê se não demora, lenta.Eu assenti com a cabeça, fazendo que sim, mas só Deus sabe como estou chateada com esse começo de manhã.— Leve meu café - ele disse e entrou na sala de novo.Respiro fundo. Me abaixei e catei logo tudo que estava espalhado. Na volta eu faço a separação novamente. Agora tenho que levar o café dele.** ** ** ** ** ** **Bati n
Parte 3...Volto apressada para a sala, tentando não derrubar nada pelo caminho. Bati na porta e quando o ouvi responder, abri quase deixando o pacote cair. Vi que ele fez uma cara feia.Dei um sorriso educado para Roberto que estava sentado em frente da mesa dele e deixei tudo em cima, arrumando perto do notebook.— Está bem assim - abanou a mão para mim como se estivesse espantando um animal.— O senhor vai querer algo mais?— Eu não sei - fez uma cara irônica — Se quiser eu a aviso. Saia!Eu fiz um gesto com a cabeça e saí o mais rápido que pude, nem olhei para trás. Credo, o homem é rude demais. Parece que vive aborrecido.* Luca— Que coisa, Luca... Você é muito grosseiro com a garota - Roberto comentou.— Ah... Eu não tenho paciência para ela.Abriu o pacote com a comida e olhei dentro, cheirando e fiz uma careta. Vai isso mesmo.— Pois deveria ter, ela é uma ótima pessoa. Além de ser sua secretária. Sabe que existe uma coisa chamada processo? - Roberto riu — Cuidado!— Ah, que
Parte 1...* CarinaEu estava encerrando o arquivo no notebook quando meu celular vibrou. Era Roberto. Ele disse que em dez minutos estaria no estacionamento me esperando.Agora a curiosidade me bateu um pouco. Mas só vou saber indo com ele. Luca já não está na empresa. Não sei o que pensar, vai ser a primeira vez que vou a sua casa. Só espero que ele seja um pouco mais educado lá do que ele é aqui na empresa.Dei uma geral para ver se não esqueci nada aberto, desliguei o notebook, peguei minha bolsa e mesmo nervosa, respirei fundo e segui para o estacionamento.Roberto me esperava dentro do carro. Bati no vidro e ele abriu a porta.— Oi - sentei meio sem jeito. Nunca peguei carona nenhuma — Podemos ir.— Ótimo - ele sorriu — Você é pontual.— Bom, não tinha outro lugar para ir, a não ser para casa - dei de ombro.— Uma coisa que gosto em você, Carina, é que você diz o que pensa.— Quando eu posso falar, né - dei uma risadinha — Às vezes é melhor ficar calada.— Eu sei - ele balançou
Parte 2...Para mim ele nem ofereceu, mas mandou que eu sentasse. Tinha um pequeno sofá perto da mesa grande de madeira e sentei, bem na ponta. Pensei que qualquer coisa eu poderia sair correndo pela porta.Roberto sentou em uma cadeira perto e ele sentou na mesa. Tomou um gole olhando para mim, o que me deixou sem jeito. Respirei fundo, apertando a bolsa no meu colo.— A senhorita santa bebe uísque?Fiquei surpresa que perguntou. Fiz que não com a cabeça.— Bom, então vai ser refrigerante mesmo.Ele foi até um frigobar e pegou uma latinha de guaraná, abriu e me entregou. Nossas mãos se tocaram e eu abaixei o olhar, agradecendo.— Posso começar? - Roberto perguntou.— Vai logo, homem - Luca ergueu o copo.— Bom... Fazendo um resumo da situação, vocês dois estão em uma situação delicada.Eu olhei para ele erguendo as sobrancelhas, esperando o que viria aí. Luca também mantinha a expressão curiosa.— Luca, você precisa de uma mulher que faça de conta que é sua esposa, assim pode receber
Parte 3...— Quanto tempo seria? - Luca questionou — Eu não quero ficar preso.— E por acaso eu quero? - mexi os ombros — Eu não tenho a menor vontade de passar mais tempo ao seu lado.Eu sei que não deveria estar soltando a língua assim, afinal, ele é meu chefe, mas é uma loucura isso. Estou tão nervosa que meu corpo até treme um pouco.— Ótimo - ele dá um sorriso cínico.— Gente, eu sei que é chato ter que fazer algo que não estava no seu plano, ainda mais assim, que envolve duas pessoas tão diferentes como vocês dois são.— É bem óbvio isso, amigo - ele anda até a porta grande de vidro e fica olhando para fora um instante, depois se vira — Mas acho que entendo o que você quer dizer - suspira fundo me olhando — Só não sei se isso pode dar certo como imagina.— Isso só depende de vocês dois - Roberto respondeu — A ideia é simples, embora um pouco complicada - ele meneou a cabeça — Só que dá para ser feito e no final vai ser vantajoso para ambos.Luca caminhou até nós e parou, encaran
Parte 1...Eu tenho quase certeza de que me fodi com essa ideia de Roberto. Nunca tive vontade de me casar, sei bem que casamentos são apenas uma desculpa para a sociedade.Eu posso ficar com quem quiser e não preciso me preocupar em justificar isso. E nem tenho que explicar meus motivos para terminar também, basta dizer acabou e pronto. Não tenho motivo para querer embarcar em algo que é só uma ilusão da sociedade. Meu pai foi meu maior exemplo. Ele nunca mais se casou depois que minha mãe o traiu e o abandonou. Passou anos deprimido.Eu não quero isso para mim. Prefiro minha vida de solteiro e se algum dia eu quiser ter um filho, é só arranjar uma barriga de aluguel e pronto, sem drama.Uma das vantagens de ter dinheiro sobrando é poder estar acima das escolhas comuns da sociedade. Eu ser solteiro até ficar mais velho me dá status e não sou discriminado como um homem comum, que é forçado a criar uma família ou vai perdendo o poder de escolha com o tempo.Eu até gosto das mulheres
Parte 2...Estou ansiosa pela conversa na casa de Luca. Agora tenho que aguardar essa proposta que Roberto disse ser boa para mim. Até minhas mãos tremem um pouco e ele não quis me dar mais nenhuma dica sobre esse plano, então só me resta aguardar.Gostaria de poder falar isso com a Gorete agora, mas infelizmente não é hora de ligar. ela já deve estar dormindo e eu espero que bem.Nos últimos dois meses ela vem tendo dificuldade para dormir e isso está tirando mais ainda sua energia. Para uma pessoa da idade dela não é bom ficar perdendo noites em claro e ainda mais quando se fica com a mente cheia de pensamentos conflitantes.Sinto meu corpo até um pouco elétrico. A ideia de fingir um relacionamento com meu chefe é até assustadora de certa forma. Luca é muito arrogante e tem uma língua que pode ser bem ferina quando ele quer atingir alguém.Mas se for algo que possa resolver meu principal problema, que é continuar cuidando bem de Gorete, talvez valha a pena eu fazer um sacrifício ass