Parte 3...
Volto apressada para a sala, tentando não derrubar nada pelo caminho. Bati na porta e quando o ouvi responder, abri quase deixando o pacote cair. Vi que ele fez uma cara feia.
Dei um sorriso educado para Roberto que estava sentado em frente da mesa dele e deixei tudo em cima, arrumando perto do notebook.
— Está bem assim - abanou a mão para mim como se estivesse espantando um animal.
— O senhor vai querer algo mais?
— Eu não sei - fez uma cara irônica — Se quiser eu a aviso. Saia!
Eu fiz um gesto com a cabeça e saí o mais rápido que pude, nem olhei para trás. Credo, o homem é rude demais. Parece que vive aborrecido.
* Luca
— Que coisa, Luca... Você é muito grosseiro com a garota - Roberto comentou.
— Ah... Eu não tenho paciência para ela.
Abriu o pacote com a comida e olhei dentro, cheirando e fiz uma careta. Vai isso mesmo.
— Pois deveria ter, ela é uma ótima pessoa. Além de ser sua secretária. Sabe que existe uma coisa chamada processo? - Roberto riu — Cuidado!
— Ah, que nada - comecei a comer — E se ela me processar, eu a ponho na rua.
— Ótimo, assim ela pede uma indenização gorda e vai trabalhar em outro lugar, com um chefe menos chato.
— Eu não sou chato, Roberto. É que ela vive por aí, nos corredores, sempre boazinha com todos... Eu desconfio de pessoas assim - torci o nariz — Até hoje eu não a vi negar um pedido de ninguém. Pra mim ela quer é passar a imagem de boa menina.
— Tá... Mas e se ela for mesmo uma boa menina? - ele se inclinou para mim — Você já pensou que nem todo mundo tem duas caras?
— Eu sei que não, mas até agora eu só a vi com esse mesmo comportamento. Me parece que quer ser vítima... Sei lá.
— Olha, que eu saiba, só você pensa isso dela - ele cruzou as mãos no colo — O pessoal aqui do escritório gosta dela e sempre estão falando bem. É só perguntar. Já experimentou?
— Eu? - dei risada — E porque eu faria isso? Não me importo com ela, é só mais uma funcionária - dei de ombro.
— Você às vezes é bem babaca, sabia?
— Não estou sendo babaca, Roberto. Eu só não me interesso pela vida dos meus funcionários. Minha parte eu faço, pago seus salários corretamente, a empresa dá bônus por tarefas, plano de saúde e outras vantagens. Não é ruim trabalhar aqui.
— Não mesmo - ele riu — O ruim é trabalhar para você. É um péssimo chefe.
Eu torci a boca. Não acho. Eu só sou um pouco exigente, só isso.
— Olha... Acho que tenho uma ideia que pode te ajudar - ele torceu a boca, batendo os dedos na perna.
— E o que é? - fiquei curioso.
— Eu te falo depois, antes tenho que pensar direito como fazer isso.
— Caramba, Roberto - gesticulei — Vai me deixar curioso, cara.
— Não prometo nada, vou avaliar a situação antes - ele levantou.
— Ué... Já vai embora?
— Vou, tenho que organizar a ideia e aí te falo depois.
Roberto saiu sem nem me dar uma dica do que seria, mas se for pra me ajudar, eu aceito.
Só não posso perder essa, de forma alguma. Sou capaz de uma loucura para ter o que me pertence.
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* Carina
Eu até tenho vontade de mandar esse grosso para a puta que o pariu, mas se eu fizer isso, ele me põe na rua por justa causa e eu não posso perder esse emprego de modo algum. Só por isso que eu o suporto.
Meu coração até b**e forte. Ele nem se importa de ser rude na frente do amigo dele. Ainda bem que Roberto já o conhece bem e sabe que é impaciente.
E por falar nele, Roberto se aproxima de mim e me para.
— Carina, você tem algum horário de folga hoje? No máximo amanhã?
Achei esquisito.
— Bem, folga mesmo só quando eu sair daqui, no final da tarde. Por que?
— Ótimo. Eu preciso falar com você - se inclinou — É meio que um segredo, tá, ninguém pode saber.
Eu franzi a testa.
— Não se preocupe, não é nada de errado e nem estou dando em cima de você - ele sorriu — É um assunto sério, mas não posso falar aqui porque ninguém pode ouvir.
Eu ainda achei bem esquisito. Não faço ideia do que ele pode querer comigo, ainda mais assim, que ninguém pode ouvir.
— Tudo bem. Eu saio depois das cinco.
— Eu venho buscar você às cinco e meia, tudo bem?
— E nós vamos para onde?
— Não fique assustada... - ele riu — Nós vamos até a casa do Luca - eu ergui a sobrancelha — E não é trabalho. É que eu tenho que conversar com vocês ao mesmo tempo, então tem que ser lá, onde ninguém vai nos ouvir.
— Hum... Ok... Eu acho.
Não sei bem o que ele quer, mas eu confio em Roberto e acho que ele não iria me colocar em uma situação complicada.
Só me resta esperar até saber o que ele quer me dizer. Pelo menos eu não sou uma pessoa curiosa, não muito. Posso aguardar para mais tarde.
Ele saiu e disse que me ligaria um pouco antes de vir me buscar.
Parte 1...* CarinaEu estava encerrando o arquivo no notebook quando meu celular vibrou. Era Roberto. Ele disse que em dez minutos estaria no estacionamento me esperando.Agora a curiosidade me bateu um pouco. Mas só vou saber indo com ele. Luca já não está na empresa. Não sei o que pensar, vai ser a primeira vez que vou a sua casa. Só espero que ele seja um pouco mais educado lá do que ele é aqui na empresa.Dei uma geral para ver se não esqueci nada aberto, desliguei o notebook, peguei minha bolsa e mesmo nervosa, respirei fundo e segui para o estacionamento.Roberto me esperava dentro do carro. Bati no vidro e ele abriu a porta.— Oi - sentei meio sem jeito. Nunca peguei carona nenhuma — Podemos ir.— Ótimo - ele sorriu — Você é pontual.— Bom, não tinha outro lugar para ir, a não ser para casa - dei de ombro.— Uma coisa que gosto em você, Carina, é que você diz o que pensa.— Quando eu posso falar, né - dei uma risadinha — Às vezes é melhor ficar calada.— Eu sei - ele balançou
Parte 2...Para mim ele nem ofereceu, mas mandou que eu sentasse. Tinha um pequeno sofá perto da mesa grande de madeira e sentei, bem na ponta. Pensei que qualquer coisa eu poderia sair correndo pela porta.Roberto sentou em uma cadeira perto e ele sentou na mesa. Tomou um gole olhando para mim, o que me deixou sem jeito. Respirei fundo, apertando a bolsa no meu colo.— A senhorita santa bebe uísque?Fiquei surpresa que perguntou. Fiz que não com a cabeça.— Bom, então vai ser refrigerante mesmo.Ele foi até um frigobar e pegou uma latinha de guaraná, abriu e me entregou. Nossas mãos se tocaram e eu abaixei o olhar, agradecendo.— Posso começar? - Roberto perguntou.— Vai logo, homem - Luca ergueu o copo.— Bom... Fazendo um resumo da situação, vocês dois estão em uma situação delicada.Eu olhei para ele erguendo as sobrancelhas, esperando o que viria aí. Luca também mantinha a expressão curiosa.— Luca, você precisa de uma mulher que faça de conta que é sua esposa, assim pode receber
Parte 3...— Quanto tempo seria? - Luca questionou — Eu não quero ficar preso.— E por acaso eu quero? - mexi os ombros — Eu não tenho a menor vontade de passar mais tempo ao seu lado.Eu sei que não deveria estar soltando a língua assim, afinal, ele é meu chefe, mas é uma loucura isso. Estou tão nervosa que meu corpo até treme um pouco.— Ótimo - ele dá um sorriso cínico.— Gente, eu sei que é chato ter que fazer algo que não estava no seu plano, ainda mais assim, que envolve duas pessoas tão diferentes como vocês dois são.— É bem óbvio isso, amigo - ele anda até a porta grande de vidro e fica olhando para fora um instante, depois se vira — Mas acho que entendo o que você quer dizer - suspira fundo me olhando — Só não sei se isso pode dar certo como imagina.— Isso só depende de vocês dois - Roberto respondeu — A ideia é simples, embora um pouco complicada - ele meneou a cabeça — Só que dá para ser feito e no final vai ser vantajoso para ambos.Luca caminhou até nós e parou, encaran
Parte 1...Eu tenho quase certeza de que me fodi com essa ideia de Roberto. Nunca tive vontade de me casar, sei bem que casamentos são apenas uma desculpa para a sociedade.Eu posso ficar com quem quiser e não preciso me preocupar em justificar isso. E nem tenho que explicar meus motivos para terminar também, basta dizer acabou e pronto. Não tenho motivo para querer embarcar em algo que é só uma ilusão da sociedade. Meu pai foi meu maior exemplo. Ele nunca mais se casou depois que minha mãe o traiu e o abandonou. Passou anos deprimido.Eu não quero isso para mim. Prefiro minha vida de solteiro e se algum dia eu quiser ter um filho, é só arranjar uma barriga de aluguel e pronto, sem drama.Uma das vantagens de ter dinheiro sobrando é poder estar acima das escolhas comuns da sociedade. Eu ser solteiro até ficar mais velho me dá status e não sou discriminado como um homem comum, que é forçado a criar uma família ou vai perdendo o poder de escolha com o tempo.Eu até gosto das mulheres
Parte 2...Estou ansiosa pela conversa na casa de Luca. Agora tenho que aguardar essa proposta que Roberto disse ser boa para mim. Até minhas mãos tremem um pouco e ele não quis me dar mais nenhuma dica sobre esse plano, então só me resta aguardar.Gostaria de poder falar isso com a Gorete agora, mas infelizmente não é hora de ligar. ela já deve estar dormindo e eu espero que bem.Nos últimos dois meses ela vem tendo dificuldade para dormir e isso está tirando mais ainda sua energia. Para uma pessoa da idade dela não é bom ficar perdendo noites em claro e ainda mais quando se fica com a mente cheia de pensamentos conflitantes.Sinto meu corpo até um pouco elétrico. A ideia de fingir um relacionamento com meu chefe é até assustadora de certa forma. Luca é muito arrogante e tem uma língua que pode ser bem ferina quando ele quer atingir alguém.Mas se for algo que possa resolver meu principal problema, que é continuar cuidando bem de Gorete, talvez valha a pena eu fazer um sacrifício ass
Parte 3...— E você acha mesmo que ela vai poder me ajudar?— Eu penso que sim, se vocês conseguirem se acertar dentro desse plano que está tomando forma na minha cabeça. Acho que vai ser bom para ambos.Eu cocei a cabeça. Sei que Roberto é um bom amigo e que tem capacidade para me ajudar, seja lá no que for, mas sem entender bem o que é, fico um pouco receoso.— Tudo bem. Já que você é meu amigo e advogado, pense mais no meu lado do que no dela, certo?— Eu até poderia fazer isso, mas aí seria fora da ética de trabalho. Como sou um excelente advogado, vou pensar nos interesses de ambos os lados.— Você é um saco, sabia disso?— Eu sou seu amigo, isso sim - ele deu uma risadinha — Acho que no final, você vai até me agradecer pela ideia de juntar vocês dois. Assim não perde sua propriedade amada e ainda faz uma bondade.— E eu sou algum santo pra ficar fazendo bondade por aí? - estalei a língua — Eu só quero o que é meu de direito.— E se você fizer direito vai conseguir manter e sua p
Parte 1...* CarinaDepois de passar um dia cheio porque tive que correr até a clínica na hora do meu almoço, agora recebo uma mensagem de Roberto, me avisando que tenho que me encontrar com ele e meu chefe de novo.Olho pra porta e respiro fundo. Luca está lá dentro. Será que ele também recebeu a mensagem do Roberto?Estou com minhas pernas doloridas. Andei muito rápido para pegar o ônibus na praça lá embaixo. Tenho uma hora para almoçar, mas hoje fui para a clínica. Recebi um chamado de uma das enfermeiras sobre Gorete estar muito difícil de lidar.Eu entendo. Apesar desse ser o trabalho delas, se puderem contar com a ajuda de um parente ou amigo é sempre melhor. Eu sou a única parente, por assim dizer, que Gorete tem.O salto do sapato é baixinho, mas ainda assim me cansei andando depressa. E agora que Roberto me passou a mensagem, fico mais ansiosa sobre o que ele criou.Roberto é um excelente advogado, tem muitos clientes e está sempre aparecendo na empresa para resolver algo rel
Parte 2...Na hora certa eu já me dirigi até o estacionamento para esperar por Luca. Assim como me disse, deixei que outros funcionários me vissem parada ao lado do carro dele.Não é uma sensação muito boa. Dá pra ver na cara deles que estão imaginando o que eu faço aqui parada. Afinal, eu sou só uma secretária e ele é meu chefe. Claro que vai ter fofoca sobre isso. E deve ser isso mesmo que o roberto quer. Uma fofoca rolando pela empresa.— Oi, Carina - uma colega se aproximou de mim — O que está fazendo aqui? Não já terminou o seu horário?— Ah, sim... Já vou embora - dei um meio sorriso — Só estou mesmo...— Esperando por mim.Eu me virei ao ouvir a voz de Luca. Ele parou ao meu lado e fez um gesto com a cabeça para a garota ao meu lado. Fiquei um pouco sem jeito, mas não disse nada.— Vamos? - ele sorriu para mim.Meu Deus, meu coração deu um salto. Já me imagino na boca dos outros funcionários. Claro que eu vou ser a mais falada.Ela se despediu de nós e saiu andando pelo portão