Parte 1...
* Carina
Eu estava encerrando o arquivo no notebook quando meu celular vibrou. Era Roberto. Ele disse que em dez minutos estaria no estacionamento me esperando.
Agora a curiosidade me bateu um pouco. Mas só vou saber indo com ele. Luca já não está na empresa. Não sei o que pensar, vai ser a primeira vez que vou a sua casa. Só espero que ele seja um pouco mais educado lá do que ele é aqui na empresa.Dei uma geral para ver se não esqueci nada aberto, desliguei o notebook, peguei minha bolsa e mesmo nervosa, respirei fundo e segui para o estacionamento.Roberto me esperava dentro do carro. Bati no vidro e ele abriu a porta.— Oi - sentei meio sem jeito. Nunca peguei carona nenhuma — Podemos ir.— Ótimo - ele sorriu — Você é pontual.— Bom, não tinha outro lugar para ir, a não ser para casa - dei de ombro.— Uma coisa que gosto em você, Carina, é que você diz o que pensa.— Quando eu posso falar, né - dei uma risadinha — Às vezes é melhor ficar calada.— Eu sei - ele balançou a cabeça — E como sei. Minha profissão me obriga a esconder o que penso muitas vezes.Eu ri e ajeitei a bolsa em meu colo. Minhas mãos estão um pouco frias. Na verdade estou com um pouco de receio dessa ida até a casa do meu chefe, mas já estou aqui.— Pode me dizer porque me pediu para ir até a casa dele? - ergui a sobrancelha — Eu estou mesmo curiosa e não encontrei nenhum motivo para isso.— Eu poderia dizer sim - ele inclinou a cabeça para mim — Mas acho que contar aos dois ao mesmo tempo será melhor. Não se preocupe, vai entender e eu penso que será excelente para você - sorriu.Essa resposta dele só me deixou ainda mais curiosa. Não faço mesmo ideia do que seria. Só me resta esperar.Como hoje eu não preciso ir até a clínica, posso fazer essa loucura de ir até onde o monstro mora. Segurei o riso.** ** ** ** ** ** **
Fiquei impressionada e ao mesmo tempo já sabia que seria dessa forma. Quando Roberto parou em frente a um portão alto em ferro decorado, eu sabia que ali era a casa do meu chefe.Sei que ele tem uma cobertura também muito bonita, porque uma colega da empresa já foi entregar alguns papéis para ele e disse que era muito chique e bonita. Pensei que seria lá que Roberto me levaria.Ele aperta o botão da caixa preta ao lado da calçada e uma voz o atende. Ele se identifica e o portão começa a abrir.— Oi, seu Roberto.Um homem de uniforme se aproxima do carro e olha para dentro. Me dá boa noite.— Tudo bem, Novaes? Eu vim falar com o Luca, ele já chegou?— Já sim, tem uma meia hora. Pode seguir - fez um gesto com a cabeça.Ele continua e eu fico observando a entrada da casa. Meu Deus, é uma mansão. Roberto segue por um caminho pavimentado e em volta tem vários vasos grandes de plantas e algumas árvores. Achei bonito.Quando descemos eu meio que usei minha bolsa como se isso fosse me proteger, sei lá de que, mas fiquei nervosa por estar ali. Já imaginei a cara que ele faria.— Eh... Roberto... Ele sabe que eu vim, não sabe?— Não - a porta se abre e uma senhora simpática nos dá boa noite — Mas você está comigo. Eu te protejo.Eu sei que ele disse isso brincando, mas honestamente, eu temo mesmo estar aqui. Engoli em seco e continuei, andando rápido atrás dele, passando por um corredor muito bonito, com o piso de mármore e algumas obras de arte penduradas nas paredes.Escuto a voz de Luca, parece que conversa com alguém. Entramos na sala onde ele está e vejo que fala ao celular. Ele está de costas e ao se virar, me vê.— Ok, eu falo com você amanhã... Hum, hum... Claro, pode deixar... - ele faz uma cara de surpresa, mas achei que não foi muito boa — Eu tenho que desligar agora...Ele desliga e depois me olha de novo, meio que sem entender minha presença. Nem eu estou entendendo também.— Roberto, você disse que precisava falar comigo - apontou para mim — E porque minha secretária está aqui?— Exato. O que eu tenho a falar é do interesse de vocês dois.Tanto eu quanto Luca fizemos uma cara estranha, afinal, até agora não estávamos entendendo o que seria.— E porque eu tenho algo que é do interesse de minha secretária e vice-versa?— Logo vocês vão saber - Roberto bateu as mãos — Mas, eu acho melhor nós conversarmos no seu escritório.Luca franziu a testa, mas aceitou e fez um gesto com a mão para que nós o seguíssemos. Eu ando atrás de Roberto. Melhor pra mim.Entramos em um escritório bem bonito, com uma decoração que dava para ver, era bem masculina, até nas cores. Ele perguntou se Roberto queria beber algo e serviu um copo de bebida para ele.Parte 2...Para mim ele nem ofereceu, mas mandou que eu sentasse. Tinha um pequeno sofá perto da mesa grande de madeira e sentei, bem na ponta. Pensei que qualquer coisa eu poderia sair correndo pela porta.Roberto sentou em uma cadeira perto e ele sentou na mesa. Tomou um gole olhando para mim, o que me deixou sem jeito. Respirei fundo, apertando a bolsa no meu colo.— A senhorita santa bebe uísque?Fiquei surpresa que perguntou. Fiz que não com a cabeça.— Bom, então vai ser refrigerante mesmo.Ele foi até um frigobar e pegou uma latinha de guaraná, abriu e me entregou. Nossas mãos se tocaram e eu abaixei o olhar, agradecendo.— Posso começar? - Roberto perguntou.— Vai logo, homem - Luca ergueu o copo.— Bom... Fazendo um resumo da situação, vocês dois estão em uma situação delicada.Eu olhei para ele erguendo as sobrancelhas, esperando o que viria aí. Luca também mantinha a expressão curiosa.— Luca, você precisa de uma mulher que faça de conta que é sua esposa, assim pode receber
Parte 3...— Quanto tempo seria? - Luca questionou — Eu não quero ficar preso.— E por acaso eu quero? - mexi os ombros — Eu não tenho a menor vontade de passar mais tempo ao seu lado.Eu sei que não deveria estar soltando a língua assim, afinal, ele é meu chefe, mas é uma loucura isso. Estou tão nervosa que meu corpo até treme um pouco.— Ótimo - ele dá um sorriso cínico.— Gente, eu sei que é chato ter que fazer algo que não estava no seu plano, ainda mais assim, que envolve duas pessoas tão diferentes como vocês dois são.— É bem óbvio isso, amigo - ele anda até a porta grande de vidro e fica olhando para fora um instante, depois se vira — Mas acho que entendo o que você quer dizer - suspira fundo me olhando — Só não sei se isso pode dar certo como imagina.— Isso só depende de vocês dois - Roberto respondeu — A ideia é simples, embora um pouco complicada - ele meneou a cabeça — Só que dá para ser feito e no final vai ser vantajoso para ambos.Luca caminhou até nós e parou, encaran
Parte 1...Eu tenho quase certeza de que me fodi com essa ideia de Roberto. Nunca tive vontade de me casar, sei bem que casamentos são apenas uma desculpa para a sociedade.Eu posso ficar com quem quiser e não preciso me preocupar em justificar isso. E nem tenho que explicar meus motivos para terminar também, basta dizer acabou e pronto. Não tenho motivo para querer embarcar em algo que é só uma ilusão da sociedade. Meu pai foi meu maior exemplo. Ele nunca mais se casou depois que minha mãe o traiu e o abandonou. Passou anos deprimido.Eu não quero isso para mim. Prefiro minha vida de solteiro e se algum dia eu quiser ter um filho, é só arranjar uma barriga de aluguel e pronto, sem drama.Uma das vantagens de ter dinheiro sobrando é poder estar acima das escolhas comuns da sociedade. Eu ser solteiro até ficar mais velho me dá status e não sou discriminado como um homem comum, que é forçado a criar uma família ou vai perdendo o poder de escolha com o tempo.Eu até gosto das mulheres
Parte 2...Estou ansiosa pela conversa na casa de Luca. Agora tenho que aguardar essa proposta que Roberto disse ser boa para mim. Até minhas mãos tremem um pouco e ele não quis me dar mais nenhuma dica sobre esse plano, então só me resta aguardar.Gostaria de poder falar isso com a Gorete agora, mas infelizmente não é hora de ligar. ela já deve estar dormindo e eu espero que bem.Nos últimos dois meses ela vem tendo dificuldade para dormir e isso está tirando mais ainda sua energia. Para uma pessoa da idade dela não é bom ficar perdendo noites em claro e ainda mais quando se fica com a mente cheia de pensamentos conflitantes.Sinto meu corpo até um pouco elétrico. A ideia de fingir um relacionamento com meu chefe é até assustadora de certa forma. Luca é muito arrogante e tem uma língua que pode ser bem ferina quando ele quer atingir alguém.Mas se for algo que possa resolver meu principal problema, que é continuar cuidando bem de Gorete, talvez valha a pena eu fazer um sacrifício ass
Parte 3...— E você acha mesmo que ela vai poder me ajudar?— Eu penso que sim, se vocês conseguirem se acertar dentro desse plano que está tomando forma na minha cabeça. Acho que vai ser bom para ambos.Eu cocei a cabeça. Sei que Roberto é um bom amigo e que tem capacidade para me ajudar, seja lá no que for, mas sem entender bem o que é, fico um pouco receoso.— Tudo bem. Já que você é meu amigo e advogado, pense mais no meu lado do que no dela, certo?— Eu até poderia fazer isso, mas aí seria fora da ética de trabalho. Como sou um excelente advogado, vou pensar nos interesses de ambos os lados.— Você é um saco, sabia disso?— Eu sou seu amigo, isso sim - ele deu uma risadinha — Acho que no final, você vai até me agradecer pela ideia de juntar vocês dois. Assim não perde sua propriedade amada e ainda faz uma bondade.— E eu sou algum santo pra ficar fazendo bondade por aí? - estalei a língua — Eu só quero o que é meu de direito.— E se você fizer direito vai conseguir manter e sua p
Parte 1...* CarinaDepois de passar um dia cheio porque tive que correr até a clínica na hora do meu almoço, agora recebo uma mensagem de Roberto, me avisando que tenho que me encontrar com ele e meu chefe de novo.Olho pra porta e respiro fundo. Luca está lá dentro. Será que ele também recebeu a mensagem do Roberto?Estou com minhas pernas doloridas. Andei muito rápido para pegar o ônibus na praça lá embaixo. Tenho uma hora para almoçar, mas hoje fui para a clínica. Recebi um chamado de uma das enfermeiras sobre Gorete estar muito difícil de lidar.Eu entendo. Apesar desse ser o trabalho delas, se puderem contar com a ajuda de um parente ou amigo é sempre melhor. Eu sou a única parente, por assim dizer, que Gorete tem.O salto do sapato é baixinho, mas ainda assim me cansei andando depressa. E agora que Roberto me passou a mensagem, fico mais ansiosa sobre o que ele criou.Roberto é um excelente advogado, tem muitos clientes e está sempre aparecendo na empresa para resolver algo rel
Parte 2...Na hora certa eu já me dirigi até o estacionamento para esperar por Luca. Assim como me disse, deixei que outros funcionários me vissem parada ao lado do carro dele.Não é uma sensação muito boa. Dá pra ver na cara deles que estão imaginando o que eu faço aqui parada. Afinal, eu sou só uma secretária e ele é meu chefe. Claro que vai ter fofoca sobre isso. E deve ser isso mesmo que o roberto quer. Uma fofoca rolando pela empresa.— Oi, Carina - uma colega se aproximou de mim — O que está fazendo aqui? Não já terminou o seu horário?— Ah, sim... Já vou embora - dei um meio sorriso — Só estou mesmo...— Esperando por mim.Eu me virei ao ouvir a voz de Luca. Ele parou ao meu lado e fez um gesto com a cabeça para a garota ao meu lado. Fiquei um pouco sem jeito, mas não disse nada.— Vamos? - ele sorriu para mim.Meu Deus, meu coração deu um salto. Já me imagino na boca dos outros funcionários. Claro que eu vou ser a mais falada.Ela se despediu de nós e saiu andando pelo portão
Parte 3...— Por acaso vocês estão juntos nisso? - ele balançou a pasta — Será que eu vou ter que ler bem e pedir outra opinião?— Nem vem com essa, Luca. Sabe que sou seu amigo de verdade - Roberto parou ao lado dele — É que diante da situação e do tempo, não vejo outra pessoa de confiança para participar de meu plano.— E quem lhe garante que ela é de confiança? - ele apontou para mim.Acho que eu fiquei vermelha porque Roberto me olhou e começou a rir, balançando a cabeça e piscou o olho.— Carina tem motivos para ajudar você, mesmo que não seja uma pessoa que mereça - ele gargalhou — Os motivos estão descritos bem detalhados no documento que preparei.— Tudo bem... Eu entendi, mas o que te faz pensar que esse plano vai dar certo?— Luca, você é um solteirão e ninguém duvida disso. É claro que as pessoas vão começar a comentar se você aparecer de repente casado - Roberto foi até o barzinho e pegou uma garrafa — Mas você precisa ter alguém fixo para que o testamento de Leandro seja