Gustavo a encarou intensamente, pressionando a língua contra a bochecha, e de repente estendeu a mão para o bolso da jaqueta de Poliana.— Quero ver o que ele te deu.Os olhos de Poliana se arregalaram em choque, e ela rapidamente colocou a mão sobre o bolso.— Não tem nada aqui!Sua reação imediata e defensiva fez o rosto de Gustavo escurecer.— Me deixe ver!— Com que direito você acha que pode mexer nas minhas coisas?!As poucas pessoas ao redor já estavam completamente focadas na cena entre os dois, e Otávio, percebendo a situação, estreitou os olhos, segurando um sorriso que mal conseguia conter, e disse:— Presidente Codelle, não há nada de mais. Tratar a Srta. Mendonça dessa forma não é muito respeitoso, não acha?Bárbara arregalou os olhos, surpresa. Jamais imaginou que Otávio poderia fingir inocência de propósito para provocar!A tensão de Gustavo explodiu de vez, e ele apertou a cintura de Poliana com força.Ela tinha a cintura extremamente sensível, e com a dor inesperada, s
Bárbara não entendia como a conversa dele havia se desviado para ela novamente, mas respondeu educadamente:— No momento, com certeza estou um pouco emotiva.Ela não teve coragem de dizer que estava com raiva.Depois de conhecer Otávio, ela percebeu que o homem era completamente diferente da descrição feita por Breno. Agora, ela não podia garantir se ele realmente estava em conflito com a família Cardoso, como Breno afirmava.Nas famílias da alta sociedade, desavenças eram comuns, assim como a harmonia familiar, desde que a divisão dos bens fosse feita de forma adequada. Porém, quando as relações se tornavam complexas, era difícil escapar dos conflitos.Por isso, Bárbara não ousou ser sincera. E se esse Sr. Otávio tivesse uma boa relação com Breno agora? Dizer a verdade seria o mesmo que cavar a própria cova.Otávio a observava, semicerrando os olhos.— Você é bem diplomática, Srta. Bárbara, suas palavras são bem escolhidas.Bárbara não respondeu ao comentário.— Sr. Otávio, por que o
Pouco tempo atrás, Poliana, que sempre a tratou com carinho, passou por uma situação difícil com Gustavo. Bárbara, incapaz de assistir de braços cruzados, defendeu Poliana, mas Breno a repreendeu, mandando que fosse indiferente. Esse episódio fez com que Bárbara começasse a sentir repulsa por Breno.Para ela, Poliana já era como família.E então veio o dia de hoje, quando a obsessão de Breno por interesses materiais e o tapa repentino, sem qualquer explicação, fizeram a aversão de Bárbara chegar ao limite. Não havia mais como suas riquezas ou boa aparência a convencerem a continuar o relacionamento.Além disso, sendo tratada como um pássaro em cativeiro, ela sabia que seu futuro com Breno jamais seria possível. O término era apenas uma questão de tempo.Por isso, ela decidiu que era melhor terminar agora do que adiar o inevitável.Otávio continuava a encará-la nos olhos, como se tentasse discernir se suas palavras eram verdadeiras ou não.Mas, com metade da sinceridade em cada frase
Bárbara nunca havia sentido de forma tão clara o quão rápido, descompassado e forte seu coração batia. Além disso, ela realmente queria se justificar. Aquele gemido suave que ela havia deixado escapar há pouco não tinha absolutamente nada a ver com o tempo desde a última vez que tinha transado com Breno. Na verdade, como ilustradora de quadrinhos, seu senso estético sempre foi mais inclinado a homens como Otávio, que parecia ter saído direto de uma história em quadrinhos, um jovem belo e encantador. E essa preferência estética facilmente se traduzia em uma atração física. Com Breno, ela sempre precisava se preparar psicologicamente para momentos íntimos, mas, com Otávio, mesmo sendo um beijo forçado, ela não pôde evitar a sensação que aquilo lhe despertou. — Eu, eu não... Não foi isso... Quando Bárbara finalmente conseguiu falar, sua voz soava tão suave e delicada que era difícil acreditar que ela costumava soltar alguns palavrões em conversas normais. Era como se a pre
As palavras mal haviam saído, uma voz surgiu não muito distante: — Presidente Otávio, o senhor... Porém, a voz se calou antes mesmo de terminar.Um grupo de pessoas entrou pelo grande salão, talvez com algo para dizer a Otávio, mas ao verem a bela mulher em seus braços, prontamente fecharam a boca. Otávio lançou um olhar na direção da voz e, em seguida, seus olhos se estreitaram levemente. Ele levantou a mão mais uma vez e ajeitou os fios de cabelo grudados no rosto de Bárbara, comentando enigmaticamente: — Então é assim... Espero que a Srta. Bárbara consiga o que deseja. Dizendo isso, ele tirou Bárbara de seus braços e se levantou do assento. Quando seu secretário, que estava ao lado, tentou acompanhá-lo, Otávio parou de repente. Ele voltou a olhar para Bárbara, que apressadamente arrumou suas roupas e saiu do sofá, seguindo na mesma direção que Poliana havia ido. Observando suas costas, ele franziu as sobrancelhas com um olhar profundo. — Prepare um remédio para febre
Instintivamente, Poliana contraiu os quadris, sentindo o rosto esquentar. — Seu bruto! Me solte! — Ela exclamou com raiva. Gustavo a encarava com uma frieza assustadora. — Eu e a Fernanda... Ele tentou explicar novamente, mas Poliana fechou os olhos e começou a repetir sem parar: — Não quero ouvir, não quero ouvir, não quero ouvir! O peito de Gustavo subia e descia visivelmente com a irritação, mas, de alguma forma, ele estava se esforçando para manter a paciência. Seu pomo-de-adão se moveu, e ele elevou a voz para se fazer ouvir acima das palavras de Poliana: — Eu e a Fernanda não temos absolutamente nada...De repente, Poliana abriu a boca e começou a cantar, puxando a voz de uma maneira exagerada. A melodia era tão alta e desafinada que assustou os pássaros que se abrigavam da chuva nas árvores próximas. Gustavo ficou completamente sem reação. A mulher que, antes mesmo, estava furiosa e se recusava a escutar, agora, com seu súbito ataque de canto desafinado, parecia
O rosto de Poliana mais uma vez ficou sombrio. — Na verdade, não adianta mais explicar nada, vamos nos divorciar. — Eu e a Fernanda não fizemos nada! — Gustavo gritou logo após Poliana terminar sua fala calma. Quatro anos atrás, palavras como "Adílson" já bastavam para desencadear nele uma torrente de emoções, e a palavra "divórcio" tinha o mesmo efeito. No entanto, Poliana permaneceu fria. — É mesmo? Você acha que eu acredito nisso? — Por que você não acredita? — Os olhos de Gustavo começaram a se encher de uma vermelhidão feroz. — Eu procurei a Fernanda porque você sempre repetia, sem parar, que foi manipulada naquela época! Eu sempre me preocupo com provas, e pelo nosso passado, eu também temia te acusar injustamente! Ao ouvir isso, Poliana ficou paralisada. Embora o Marcelo já tivesse especulado sobre essa explicação, ouvir Gustavo dizer aquilo com suas próprias palavras era algo completamente diferente. De repente, uma dor insuportável começou a se espalhar por s
Poliana não esperava que Gustavo fizesse essa pergunta. Seu estômago se contraiu de repente, e seu nariz ardeu, prestes a derramar mais lágrimas. Se ela não o amasse... Como poderia se importar tanto com cada gesto dele, por menor que fosse? Mas será que ela deveria dizer isso em voz alta? Quando alguém se apaixonava, era como se uma coleira invisível aparecesse ao redor de seu pescoço, e o amor fosse a corda que a controlava. Ao confessar esse amor, era como entregar ao outro o controle dessa corda, aceitando o risco de ser puxada, segurada e apertada à vontade do outro. Se a pessoa fosse a certa, ela também entregaria sua corda, e juntos formariam um círculo perfeito de amor. Mas, se fosse alguém que não merecia, a pessoa se transformaria apenas em um cãozinho, abanando o rabo enquanto chorava. Poliana um dia acreditou que Gustavo fosse a pessoa certa. As lágrimas começaram a jorrar de seus olhos, enquanto ela soltava uma risada mais alta: — Você ainda me ama?