Pouco tempo atrás, Poliana, que sempre a tratou com carinho, passou por uma situação difícil com Gustavo. Bárbara, incapaz de assistir de braços cruzados, defendeu Poliana, mas Breno a repreendeu, mandando que fosse indiferente. Esse episódio fez com que Bárbara começasse a sentir repulsa por Breno.Para ela, Poliana já era como família.E então veio o dia de hoje, quando a obsessão de Breno por interesses materiais e o tapa repentino, sem qualquer explicação, fizeram a aversão de Bárbara chegar ao limite. Não havia mais como suas riquezas ou boa aparência a convencerem a continuar o relacionamento.Além disso, sendo tratada como um pássaro em cativeiro, ela sabia que seu futuro com Breno jamais seria possível. O término era apenas uma questão de tempo.Por isso, ela decidiu que era melhor terminar agora do que adiar o inevitável.Otávio continuava a encará-la nos olhos, como se tentasse discernir se suas palavras eram verdadeiras ou não.Mas, com metade da sinceridade em cada frase
Bárbara nunca havia sentido de forma tão clara o quão rápido, descompassado e forte seu coração batia. Além disso, ela realmente queria se justificar. Aquele gemido suave que ela havia deixado escapar há pouco não tinha absolutamente nada a ver com o tempo desde a última vez que tinha transado com Breno. Na verdade, como ilustradora de quadrinhos, seu senso estético sempre foi mais inclinado a homens como Otávio, que parecia ter saído direto de uma história em quadrinhos, um jovem belo e encantador. E essa preferência estética facilmente se traduzia em uma atração física. Com Breno, ela sempre precisava se preparar psicologicamente para momentos íntimos, mas, com Otávio, mesmo sendo um beijo forçado, ela não pôde evitar a sensação que aquilo lhe despertou. — Eu, eu não... Não foi isso... Quando Bárbara finalmente conseguiu falar, sua voz soava tão suave e delicada que era difícil acreditar que ela costumava soltar alguns palavrões em conversas normais. Era como se a pre
As palavras mal haviam saído, uma voz surgiu não muito distante: — Presidente Otávio, o senhor... Porém, a voz se calou antes mesmo de terminar.Um grupo de pessoas entrou pelo grande salão, talvez com algo para dizer a Otávio, mas ao verem a bela mulher em seus braços, prontamente fecharam a boca. Otávio lançou um olhar na direção da voz e, em seguida, seus olhos se estreitaram levemente. Ele levantou a mão mais uma vez e ajeitou os fios de cabelo grudados no rosto de Bárbara, comentando enigmaticamente: — Então é assim... Espero que a Srta. Bárbara consiga o que deseja. Dizendo isso, ele tirou Bárbara de seus braços e se levantou do assento. Quando seu secretário, que estava ao lado, tentou acompanhá-lo, Otávio parou de repente. Ele voltou a olhar para Bárbara, que apressadamente arrumou suas roupas e saiu do sofá, seguindo na mesma direção que Poliana havia ido. Observando suas costas, ele franziu as sobrancelhas com um olhar profundo. — Prepare um remédio para febre
Instintivamente, Poliana contraiu os quadris, sentindo o rosto esquentar. — Seu bruto! Me solte! — Ela exclamou com raiva. Gustavo a encarava com uma frieza assustadora. — Eu e a Fernanda... Ele tentou explicar novamente, mas Poliana fechou os olhos e começou a repetir sem parar: — Não quero ouvir, não quero ouvir, não quero ouvir! O peito de Gustavo subia e descia visivelmente com a irritação, mas, de alguma forma, ele estava se esforçando para manter a paciência. Seu pomo-de-adão se moveu, e ele elevou a voz para se fazer ouvir acima das palavras de Poliana: — Eu e a Fernanda não temos absolutamente nada...De repente, Poliana abriu a boca e começou a cantar, puxando a voz de uma maneira exagerada. A melodia era tão alta e desafinada que assustou os pássaros que se abrigavam da chuva nas árvores próximas. Gustavo ficou completamente sem reação. A mulher que, antes mesmo, estava furiosa e se recusava a escutar, agora, com seu súbito ataque de canto desafinado, parecia
O rosto de Poliana mais uma vez ficou sombrio. — Na verdade, não adianta mais explicar nada, vamos nos divorciar. — Eu e a Fernanda não fizemos nada! — Gustavo gritou logo após Poliana terminar sua fala calma. Quatro anos atrás, palavras como "Adílson" já bastavam para desencadear nele uma torrente de emoções, e a palavra "divórcio" tinha o mesmo efeito. No entanto, Poliana permaneceu fria. — É mesmo? Você acha que eu acredito nisso? — Por que você não acredita? — Os olhos de Gustavo começaram a se encher de uma vermelhidão feroz. — Eu procurei a Fernanda porque você sempre repetia, sem parar, que foi manipulada naquela época! Eu sempre me preocupo com provas, e pelo nosso passado, eu também temia te acusar injustamente! Ao ouvir isso, Poliana ficou paralisada. Embora o Marcelo já tivesse especulado sobre essa explicação, ouvir Gustavo dizer aquilo com suas próprias palavras era algo completamente diferente. De repente, uma dor insuportável começou a se espalhar por s
Poliana não esperava que Gustavo fizesse essa pergunta. Seu estômago se contraiu de repente, e seu nariz ardeu, prestes a derramar mais lágrimas. Se ela não o amasse... Como poderia se importar tanto com cada gesto dele, por menor que fosse? Mas será que ela deveria dizer isso em voz alta? Quando alguém se apaixonava, era como se uma coleira invisível aparecesse ao redor de seu pescoço, e o amor fosse a corda que a controlava. Ao confessar esse amor, era como entregar ao outro o controle dessa corda, aceitando o risco de ser puxada, segurada e apertada à vontade do outro. Se a pessoa fosse a certa, ela também entregaria sua corda, e juntos formariam um círculo perfeito de amor. Mas, se fosse alguém que não merecia, a pessoa se transformaria apenas em um cãozinho, abanando o rabo enquanto chorava. Poliana um dia acreditou que Gustavo fosse a pessoa certa. As lágrimas começaram a jorrar de seus olhos, enquanto ela soltava uma risada mais alta: — Você ainda me ama?
— Então, não se divorciar é proteger minha integridade! Poliana ficou sem palavras. A lógica de Gustavo sempre ultrapassava os limites da imaginação dela. No entanto, ao ver a expressão furiosa e ao mesmo tempo perfeitamente justificada dele, Poliana meio que fechou os olhos, incapaz de controlar uma dúvida que crescia em seu coração. "Será que ele realmente não me traiu?" Assim que pensou nisso, uma rajada de vento gelado soprou, e o frio dissipou rapidamente seus pensamentos. Tudo o que conseguia sentir agora era o quanto estava com frio. Seu corpo começou a tremer involuntariamente. Gustavo percebeu e, sem hesitar, tirou o casaco molhado dela e o jogou de lado. — Vá se trocar logo! Ao terminar de falar, ele girou nos calcanhares e deu uma olhada ao redor do grande quarto, notando que uma das janelas estava aberta. Ele caminhou até lá e a fechou, depois procurou o controle do ar-condicionado e o ligou. Enquanto isso, Poliana já estava na porta, tirando as roupas m
Afinal, Gustavo não foi ao banheiro apenas para secar o cabelo, mas também para secar a blusa. Poliana segurava a blusa masculina, agora quente e macia, em suas mãos. Apenas tocá-la já fazia com que sentisse o calor que ela proporcionaria ao vestir. No entanto, ainda estava surpresa e confusa. Ela simplesmente não entendia o que se passava na cabeça de Gustavo. Por que ele, de repente, estava sendo tão gentil com ela? Gustavo conseguiu completar a ligação e, sem querer encostar o telefone no ouvido, colocou no viva-voz. Do outro lado, sua secretária atendeu: — Chefe. — Mande minha mala para cá. Com essa breve ordem, ele desligou. Quando levantou o olhar e percebeu que Poliana o encarava com uma expressão atônita, seus olhos compridos se estreitaram. — O que foi? Está esperando que eu vista a blusa em você? Instintivamente, Poliana abraçou a blusa contra o peito. — Eu ainda pensei em cantar uma música. Quer ouvir? Gustavo franziu a testa, confuso: — O quê?