Ainda assim, ela foi um pouco mais cautelosa e vestiu uma blusa de gola alta com enchimento no busto. Em seguida, entrou em um carro confortável que a levaria ao Hospital Sta. Inêz. Os dois hospitais ficavam muito próximos, ambos situados na zona oeste de Bellafoz, em uma área tranquila, mas de paisagens deslumbrantes. De carro, a viagem não levaria mais do que dez minutos. Era outono, e o clima estava perfeito. O sol da tarde era ameno, tornando aquele momento ideal para um passeio a pé. Na entrada principal do setor de internação do Hospital Sta. Inêz, Edmar empurrou Gustavo até a sombra de uma grande árvore próxima. A luz do sol se filtrava pelas folhas, iluminando parcialmente o rosto de Gustavo. Atrás deles, duas enfermeiras os acompanhavam em silêncio. Com a expressão tensa, Gustavo fixava o olhar na estrada asfaltada à sua frente. Ele estava nervoso, mas também ansioso. Depois de um longo tempo. Um carro preto surgiu ao longe. Os olhos de Gustavo brilharam por um i
Mas agora, tudo à sua frente era tão diferente do que havia imaginado que sua língua parecia ter dado um nó, incapaz de sequer emitir uma sílaba. Foi só quando os enfermeiros passaram por ele, subindo no carro para erguer Poliana cuidadosamente e colocá-la na maca, que Gustavo despertou do torpor, deixando transparecer um olhar preocupado. Marcelo também desceu do banco do passageiro e foi até o lado do carro, observando com atenção os movimentos da equipe médica, tão apreensivo quanto. Quando alguém tentou apoiar as costas de Poliana, ela inalou profundamente, claramente incomodada pela dor no ferimento. Marcelo imediatamente estendeu a mão, colocando sua palma larga sob a nuca dela, enquanto dizia em um tom baixo para o enfermeiro: — Apoie aqui. Mesmo com Gustavo parado logo atrás, Marcelo percebeu naquele momento que, ao entregar Poliana para ele, não teria mais tantas oportunidades para vê-la. Essa compreensão apenas tornava seus sentimentos mais claros. Ele não queria
Marcelo rapidamente ligou para Breno. — Breno, aconteceu alguma coisa? Breno respondeu com uma voz calma, quase sem emoção: — Vi umas notícias sobre você. Está com a Poliana? Marcelo fez uma breve pausa antes de responder: — E então? Você não conseguiu falar com a Babi? — Não. — A voz de Breno continuava impassível. — Brigamos há alguns dias. Ela foi muito teimosa e acabou saindo de casa. Queria saber se a Poliana consegue falar com ela. Marcelo, sem rodeios, explicou: — A Poli e Babi têm mantido contato. Inclusive, as duas fizeram uma videochamada na minha frente. A Babi estava em um trem, disse que estava viajando. Então, na verdade, ela saiu de casa? — Viajando? — Breno fez uma nova pausa antes de continuar. — Marcelo, onde você está agora? Quero encontrar você e a Poliana. — Sinto muito, Breno. Marcelo ergueu os olhos para o pôr do sol que passava entre as copas das árvores. Embora tivesse se desculpado, um leve brilho surgiu em seu semblante. — Não atendi s
— Muitos pacientes, após engravidarem e darem à luz, não sofrem recaídas por um bom tempo. Se sua esposa tiver um parto normal, então, após um ano ou dois, ela poderá continuar tendo filhos.Essas palavras, ditas com tanta naturalidade, faziam parecer que a principal preocupação de Poliana, no futuro, seria ter filhos. Não era de se admirar que a enfermeira pensasse assim. Gustavo era o dono deste hospital, o presidente de uma empresa listada na bolsa e o herdeiro de uma das famílias mais poderosas. E, geralmente, os descendentes dessas famílias ou não se casavam cedo, ou, se casavam e tinham filhos logo, sem demora. Além disso, as esposas desses homens ricos eram todas mulheres de grande qualidade, mas, na maioria das vezes, poucas conseguiam se realizar após o casamento e a maternidade. A maioria delas perdia sua identidade, deixando de ser elas mesmas para se tornarem meros acessórios de seus maridos.O que Poliana estava fazendo agora, com esse procedimento, levava algumas p
Por fim, depois de correrem por seis hospitais, ainda chegaram ao mesmo diagnóstico. Ele olhou para o céu, já completamente negro, e, desesperado, aceitou o resultado que não queria nem imaginar.Os médicos e enfermeiros das seis primeiras unidades, provavelmente, haviam começado a suspeitar o que estava acontecendo entre os três. Por conta de um resto de dignidade, acabaram indo para o sétimo hospital.Lá, Adílson foi levado para o pronto-socorro devido aos ferimentos, enquanto Poliana foi rapidamente acomodada no hospital pela equipe de ginecologia e obstetrícia, onde, finalmente, recebeu a medicação que aliviou suas dores abdominais.Ele estava auxiliando Poliana com a internação quando o médico da ginecologia o chamou e o repreendeu duramente.— Como você se comporta como namorado? Sua namorada sofreu um aborto espontâneo pela manhã, e você só a trouxe para o hospital à noite? Se tiver perdido o tempo ideal para o tratamento, pode ter contraído uma infecção e talvez não consiga eng
[Centro de Saúde Materno-infantil nos subúrbios do sul de Bellafoz] [Relatório de aborto induzido, curetagem e raspagem] [Nome: Poliana Mendonça; Sexo: Feminino; Idade: 20 anos.] [Dias de amenorreia: 10+3 semanas; Gravidez 1, Parto 0, Aborto de alto risco (√)]Mesmo sendo o calmo Edmar, ao ver aquilo, suas mãos começaram a tremer.Essas informações batiam exatamente com o que Poliana e Adílson haviam contado anos atrás.Nesse momento, Gustavo, com um nó preso na garganta, franziu a testa, e seus olhos ficaram vazios enquanto lentamente se fixavam no papel à sua frente. Ao ler a parte sobre os dias de amenorreia, suas pupilas tremeram violentamente, então ele fechou os olhos. Uma das mãos, impotente e ao mesmo tempo cheia de força, apertou o braço de Edmar. Sua postura alta e imponente de repente se curvou para trás como se tivesse perdido a espinha, se apoiando na parede.Embora sua expressão não demonstrasse grandes flutuações emocionais, aquele semblante abatido, como se estive
Gustavo ainda estava completamente desmoronado, deitado no chão, como alguém que não sabousse nadar e estivesse se afogando em um mar sem fim à sua frente. Edmar, tentando se recompor, se agachou para tentar ajudá-lo.Mas Edmar não conseguiu levantá-lo. O corpo de Gustavo parecia absurdamente pesado, como se toda a dor e os sentimentos dele se tivessem transformado em um peso invisível, esmagando o seu coração dentro do peito.— Você precisa se controlar! A Poliana ainda está te esperando! — Edmar disse, tentando dar um impulso.Os olhos de Gustavo, cheios de lágrimas, estavam vermelhos como se tivessem sido perfurados por sangue, e seu olhar estava perdido, sem saber para onde ir. As veias e articulações das mãos estavam saltadas, como se ele estivesse agarrando o chão desesperadamente.Ele esperava, instintivamente, que alguém o salvasse, mas sabia, no fundo, que tudo aquilo tinha sido causado por ele mesmo. Quem poderia, então, salvá-lo?O movimento do seu peito se tornou cada vez
A testa de Gustavo se franziu involuntariamente. Ele olhou ao redor, e, no ambiente da sala de emergência, apenas Edmar estava presente.Foi então que Edmar falou:— Já está melhor?Gustavo viu os lábios de Edmar se moverem, mas a voz dele parecia abafada, como se estivesse falando debaixo da água. Ele levantou a mão e mexeu levemente as orelhas, tentando ajustar os sentidos.— O que você disse?— Hm? — Edmar hesitou, surpreso. Ele achava que tinha falado claramente, e sua voz não estava baixa. — Já está melhor?Agora, Gustavo conseguiu entender, mas o som da voz de Edmar parecia mais denso, mais pesado, quase insuportável aos seus ouvidos.Ao mesmo tempo, aquela voz irritante e aguda continuava sussurrando perto de seu ouvido. E então, outra voz, muito semelhante à sua própria, disse:— Você não merece.A voz parecia vir de seu lado esquerdo. Ele se virou bruscamente para a esquerda, e o que viu fez seu estômago se revirar. Os aparelhos médicos ao redor começaram a distorcer, e figura