O rosto de Poliana mais uma vez ficou sombrio. — Na verdade, não adianta mais explicar nada, vamos nos divorciar. — Eu e a Fernanda não fizemos nada! — Gustavo gritou logo após Poliana terminar sua fala calma. Quatro anos atrás, palavras como "Adílson" já bastavam para desencadear nele uma torrente de emoções, e a palavra "divórcio" tinha o mesmo efeito. No entanto, Poliana permaneceu fria. — É mesmo? Você acha que eu acredito nisso? — Por que você não acredita? — Os olhos de Gustavo começaram a se encher de uma vermelhidão feroz. — Eu procurei a Fernanda porque você sempre repetia, sem parar, que foi manipulada naquela época! Eu sempre me preocupo com provas, e pelo nosso passado, eu também temia te acusar injustamente! Ao ouvir isso, Poliana ficou paralisada. Embora o Marcelo já tivesse especulado sobre essa explicação, ouvir Gustavo dizer aquilo com suas próprias palavras era algo completamente diferente. De repente, uma dor insuportável começou a se espalhar por s
Poliana não esperava que Gustavo fizesse essa pergunta. Seu estômago se contraiu de repente, e seu nariz ardeu, prestes a derramar mais lágrimas. Se ela não o amasse... Como poderia se importar tanto com cada gesto dele, por menor que fosse? Mas será que ela deveria dizer isso em voz alta? Quando alguém se apaixonava, era como se uma coleira invisível aparecesse ao redor de seu pescoço, e o amor fosse a corda que a controlava. Ao confessar esse amor, era como entregar ao outro o controle dessa corda, aceitando o risco de ser puxada, segurada e apertada à vontade do outro. Se a pessoa fosse a certa, ela também entregaria sua corda, e juntos formariam um círculo perfeito de amor. Mas, se fosse alguém que não merecia, a pessoa se transformaria apenas em um cãozinho, abanando o rabo enquanto chorava. Poliana um dia acreditou que Gustavo fosse a pessoa certa. As lágrimas começaram a jorrar de seus olhos, enquanto ela soltava uma risada mais alta: — Você ainda me ama?
— Então, não se divorciar é proteger minha integridade! Poliana ficou sem palavras. A lógica de Gustavo sempre ultrapassava os limites da imaginação dela. No entanto, ao ver a expressão furiosa e ao mesmo tempo perfeitamente justificada dele, Poliana meio que fechou os olhos, incapaz de controlar uma dúvida que crescia em seu coração. "Será que ele realmente não me traiu?" Assim que pensou nisso, uma rajada de vento gelado soprou, e o frio dissipou rapidamente seus pensamentos. Tudo o que conseguia sentir agora era o quanto estava com frio. Seu corpo começou a tremer involuntariamente. Gustavo percebeu e, sem hesitar, tirou o casaco molhado dela e o jogou de lado. — Vá se trocar logo! Ao terminar de falar, ele girou nos calcanhares e deu uma olhada ao redor do grande quarto, notando que uma das janelas estava aberta. Ele caminhou até lá e a fechou, depois procurou o controle do ar-condicionado e o ligou. Enquanto isso, Poliana já estava na porta, tirando as roupas m
Afinal, Gustavo não foi ao banheiro apenas para secar o cabelo, mas também para secar a blusa. Poliana segurava a blusa masculina, agora quente e macia, em suas mãos. Apenas tocá-la já fazia com que sentisse o calor que ela proporcionaria ao vestir. No entanto, ainda estava surpresa e confusa. Ela simplesmente não entendia o que se passava na cabeça de Gustavo. Por que ele, de repente, estava sendo tão gentil com ela? Gustavo conseguiu completar a ligação e, sem querer encostar o telefone no ouvido, colocou no viva-voz. Do outro lado, sua secretária atendeu: — Chefe. — Mande minha mala para cá. Com essa breve ordem, ele desligou. Quando levantou o olhar e percebeu que Poliana o encarava com uma expressão atônita, seus olhos compridos se estreitaram. — O que foi? Está esperando que eu vista a blusa em você? Instintivamente, Poliana abraçou a blusa contra o peito. — Eu ainda pensei em cantar uma música. Quer ouvir? Gustavo franziu a testa, confuso: — O quê?
Aquela sensação era como uma fina corrente elétrica percorrendo seu corpo. Poliana imediatamente sentiu todo o seu corpo formigar e ficou imóvel.A secretária, com uma expressão impassível como se não estivesse vendo ou ouvindo nada, abriu a mala de Gustavo. De dentro, ela tirou primeiro um casaco cinza-claro de plumas e o colocou sobre a cama.Só então ela levantou a cabeça e olhou para Gustavo.— Chefe, qual conjunto o senhor vai usar?Gustavo olhou para a mala, que A secretária havia organizado de maneira impecável.— Pegue a camisa de manga longa com o cachorro estampado.A secretária foi pegar imediatamente.Poliana, ao ver isso, ficou furiosa novamente.Era uma camisa preta de manga longa, com a estampa de um cachorrinho branco usando uma coleira de cerejas nas costas.— Você é bem mesquinho, hein!Ela se contorceu novamente, lançando um olhar de soslaio para ele.Gustavo desviou o olhar.— Contanto que seja confortável, está bom.Poliana ficou sem palavras.Ignorando seu choque,
Gustavo arqueou as sobrancelhas e pressionou a língua contra a bochecha, soltando uma risada. Continuou limpando a água da chuva que molhava sua jaqueta de couro e disse:— Agora não estou com vontade de te beijar.Poliana franziu suas delicadas sobrancelhas, sem saber como responder. Gustavo jogou o papel que usou no lixo e, ao erguer os olhos, deu mais uma olhada para ela.— Você pode tentar me seduzir. Se eu ficar animado, posso te beijar mais um pouco, e te garanto que seu rostinho vai ficar bem vermelhinho.Essas palavras eram ousadas demais. O rosto de Poliana ficou vermelho de vergonha, e ela soltou um resmungo.— Não precisa me falar! Nem estou tão interessada em saber! — Com um pouco de irritação, ela tirou a bolsa com um movimento brusco e colocou o casaco de plumas dele. — Não importa o que você pensa, vou usar, sim!Assim que terminou de falar, ela saiu do quarto. A secretária havia recolhido o guarda-chuva do Gustavo e o deixado do lado de fora da porta, e Poliana o levou
Aquelas eram as palavras que Poliana havia se esforçado para sustentar anteriormente. Ela segurava o guarda-chuva, parada, observando o perfil dele, que se encurvava sob o frio. Seu coração se apertou levemente, uma dor sutil brotando de sua sensibilidade. Nos quatro primeiros anos de amor, tudo era doce; depois, dois anos de saudade intensa, e, por fim, dois anos de solidão e frieza na união. Ao todo, foram oito anos, repletos de lágrimas e sorrisos gerados pelo amor, mas a decisão de se separar também era, de certa forma, uma consequência desse amor que se tornou podre.Essa dor no coração era real, mas após alguns segundos, ela fechou os olhos com determinação e se afastou para ficar sob uma árvore alta, esperando que Gustavo se afastasse. Enquanto esperava, seu olhar se perdeu, e sua mente estava repleta de imagens confusas. De repente, ouviu:— Srta. Mendonça, o que você está fazendo aqui?Poliana voltou a si e viu Otávio, com uma mão no bolso, parado em um pequeno caminho nã
— Isso é o que o Sr. Otávio comprou? — Perguntou ela, observando o homem que, com o queixo apoiado na mão, sorria ao olhar para a bela que saía do banho.— Quando você estava dormindo no carro.A lembrança veio à mente de Bárbara; realmente, o carro havia parado por cerca de dez minutos. Ela sentiu, mas não abriu os olhos para conferir. Ao olhar novamente para aquele homem que não apresentava nenhuma expressão de severidade, ela recordou o beijo inesperado que ele lhe deu em público. Seu coração disparou, e após uma breve reflexão, perguntou:— O Sr. Otávio estava pensando em me manter quando eu entrei no seu carro?— Falar sobre isso não tem sentido. — Respondeu Otávio, sem responder diretamente à sua pergunta. — O presidente Denis me disse que você é uma quadrinista e que seus direitos autorais foram vendidos para a minha empresa, mas o seu trabalho, o mais valioso, não passa de três milhões de reais.Bárbara franziu a testa.— O que o Sr. Otávio quer dizer com isso?Otávio batia o