A atmosfera na mansão Bianchini estava pesada, o ar carregado de tensão. Afonso olhou pela janela, observando o jardim que sempre fora um refúgio para sua família. Mas agora, tudo parecia ameaçado. A revelação de que Luca, o melhor amigo de seu filho Matteo, era na verdade o filho de Salvatore, seu antigo inimigo, havia transformado o que deveria ser um vínculo inocente em uma fonte de desgraça.
— Afonso, você precisa entender — disse Melissa, sua voz trêmula de preocupação. — Esse menino não é apenas um amigo para Matteo. Ele é uma ligação direta com o passado.
Afonso olhou para o relógio, impaciente. A reunião de negócios estava se aproximando, e ele sentia um misto de ansiedade e preocupação. Nos últimos meses, confiara seus negócios a Ângelo, que havia se mostrado um verdadeiro amigo, especialmente desde que revelou os detalhes sobre a morte do pai de Afonso. A amizade entre eles se fortalecera, e Afonso acreditava que poderia contar com Ângelo para tudo.
— Você não precisa se preocupar tanto com a empresa agora — disse Melissa, tentando aliviar a tensão no ar. — Ângelo é confiável, e ele sabe o que fazer. Vamos nos preocupar em manter Matteo longe do Luca.
Afonso assentiu, mas a inquietação o consumia. A verdade sobre Luca, filho de Salvatore, ainda pairava sobre sua mente como uma nuvem sombria. Ele sabia que o menino poderia trazer problemas, mas não podia deixar que isso interferisse em seus negócios. Com um último olhar para a família, ele se despediu, prometendo voltar em breve.
Algumas horas depois...
Afonso entrou no avião, se sentou na poltrona do lado da janela e revisou mentalmente a agenda da reunião. A mente estava ocupada, mas havia uma preocupação persistente que não o deixava em paz.
O voo começou como qualquer outro, mas, quando a aeronave entrou em uma turbulência intensa, Afonso sentiu um frio na espinha. O barulho dos motores se intensificou, e os passageiros começaram a demonstrar sinais de pânico. Ele fechou os olhos, fazendo uma rápida oração, esperando que tudo se resolvesse.
Mas, em um instante, a calmaria se transformou em caos. A aeronave despencou, e Afonso percebeu que sua vida estava prestes a mudar para sempre. Ele não tinha como saber que essa viagem de negócios não o levaria a um futuro promissor, mas ao seu destino final.
O telefone da mansão tocou, o som ressoando de maneira estrondosa no silêncio opressivo que cercava Melissa. Cada toque parecia um golpe, uma chamada insistente que ecoava em seu peito, fazendo seu coração disparar. Ela sentiu como se o mundo tivesse desacelerado, e, com mãos trêmulas, pegou o aparelho.
— Alô? — sua voz saiu quase em um sussurro, carregada de um pressentimento sombrio.
O silêncio do outro lado foi ensurdecedor, e então, a informação chegou como uma facada. Seu rosto, antes corado, ficou pálido como a lua, e a sensação de desespero a envolveu como um manto pesado. O tempo parecia ter parado, seu corpo congelou em uma expressão de horror, enquanto a realidade se despedaçava ao seu redor.
Aurora estava à sua frente, com o olhar fixo na filha, uma expectativa silenciosa em seus olhos. Ela parecia querer que Melissa dissesse algo, que trouxesse alguma esperança ao ar carregado de tensão. Mas as palavras falharam. Melissa apenas olhou para sua mãe, o peso da notícia a tornando incapaz de se mover.
Então, o telefone escorregou das mãos de Melissa, caindo no chão com um estrondo seco, como se o som ressoasse em sua alma. O olhar de Melissa se apagou, e as lágrimas começaram a escorregar pelo seu rosto, uma torrente que inundou sua expressão de dor. O desespero tomou conta dela, e o que antes era uma mulher forte agora se transformou em alguém completamente desolado.
Aurora, tomada pela angústia, deu um passo à frente, tentando alcançar sua filha, mas o momento parecia surreal. As duas se entreolharam, e a conexão emocional se intensificou. Melissa começou a chorar em silêncio, suas lágrimas caindo como gotas pesadas, cada uma representando uma parte da vida que se desmoronava.
Num ato instintivo, Melissa abraçou a mãe, e as duas se entregaram ao lamento, os corpos tremendo com a dor compartilhada. O eco do telefone caído se misturava ao som de seus soluços, enquanto a mansão, uma vez cheia de risos e amor, agora se tornava um cenário de desolação. O futuro se dissipava em uma névoa densa, e a tristeza que as envolvia era uma verdade que nenhuma delas conseguia escapar.
Aquele momento, repleto de dor e perda, era o prenúncio de uma nova realidade, onde a esperança parecia ter desaparecido, deixando apenas lágrimas e a amarga certeza de que tudo havia mudado para sempre.
Aurora, percebendo o desespero da filha, tentou acalmá-la, mesmo enquanto sua própria dor era imensa. — Melissa, precisamos ser fortes… por Matteo e Laura. Eles precisam de nós agora mais do que nunca.
As palavras de sua mãe, embora carregadas de amor, só aprofundaram a tristeza de Melissa. Ela olhou para o chão, onde o telefone ainda repousava, como um símbolo do que havia se perdido. A ligação que trouxera a notícia devastadora agora parecia um objeto sem importância, mas que carregava o peso de um mundo desmoronado.
— Como podemos seguir em frente? — Melissa perguntou, sua voz entrecortada. — Ele se foi, mãe. E com ele, tudo o que éramos…
Aurora apertou a filha contra si, seus próprios olhos cheios de lágrimas. — Não podemos deixar que isso nos destrua. Afonso gostaria que lutássemos, que cuidássemos um do outro.
Melissa sabia que sua mãe estava certa, mas a dor parecia insuportável. Era como se uma sombra a seguisse, lembrando-a constantemente do que havia perdido. O Amor de sua vida tinha ido embora de repente.
Após alguns momentos, elas se afastaram, os olhos ainda marejados. Aurora olhou para Melissa, determinada. — Vamos... precisamos preparar as crianças para o que estar por vir.
Com um aceno hesitante, Melissa concordou. Ela se lembrou de Matteo e Laura, suas carinhas inocentes e os sorrisos que, agora, pareciam tão distantes. Precisava ser forte por eles, mas a batalha interna era intensa.
As duas se levantaram, ainda sentindo o peso da tragédia, e seguiram em direção aos quartos das crianças. Ao longo do caminho, cada passo parecia mais pesado que o anterior, como se o chão estivesse grudado em seus pés. Melissa desejou que houvesse um caminho mais fácil, uma forma de escapar da dor que as cercava.
Ao chegarem ao quarto de Laura, encontraram a menina brincando com seus brinquedos, alheia ao caos que se desenrolava fora daquela sala. O coração de Melissa se apertou. Como explicar a uma criança tão pequena que o pai nunca mais voltaria? Ela se agachou ao lado da filha, tentando manter a voz firme.
— Laura, querida… você se lembrou de como papai sempre disse que o amor dele está conosco, mesmo quando ele não está aqui?
Laura olhou para a mãe, confusa, mas ainda inocente. — Sim, mamãe. Ele sempre disse isso.
Melissa respirou fundo, desejando que pudesse proteger a filha daquela realidade cruel. Enquanto isso, Aurora observava de longe, admirando a força que sua filha tentava mostrar.
Após alguns momentos, elas deixaram o quarto de Laura e se dirigiram ao de Matteo. Ao entrar, Melissa encontrou o menino sentado na cama, os olhos cheios de lágrimas que não tinha coragem de derramar. Ele a olhou com uma expressão que dilacerou seu coração.
— Mamãe, onde está o papai? — a voz de Matteo era baixa, mas a pergunta ecoou como um trovão na mente de Melissa.
O que ela diria? As palavras não saíam. Ela apenas se aproximou, envolvendo o filho em um abraço apertado, tentando transmitir todo o amor que sentia. Em silêncio, ambos choraram, unindo suas dores em um momento de compreensão mútua.
E, enquanto a dor os envolvia, a mansão, que antes fora um lar, agora era um espaço marcado pela ausência. As sombras do passado se tornaram mais escuras, mas, em meio ao desespero, Melissa prometeu a si mesma que seria forte, por mais doloroso que fosse, continuaria, ela faria o possível para que o amor de Afonso permanecesse vivo nas memórias e corações de seus filhos.
Dois dias se passaram desde a tragédia, e a busca pelo avião havia se transformado em uma jornada angustiante. Melissa se sentia presa em um pesadelo sem fim, cada hora que passava parecia uma eternidade. A esperança de encontrar Afonso vivo ainda pulsava em seu coração, mas a realidade se tornava cada vez mais implacável.O que conseguiram encontrar foram apenas destroços, pedaços retorcidos de metal e fragmentos de vida que um dia pertenceram a pessoas com sonhos e esperanças. Cada novo detalhe que emergia do mar era como uma facada, aprofundando a dor que já a consumia. Melissa se perguntava como poderia se despedir de alguém que não tinha um corpo para ser enterrado, como poderia dizer adeus a um amor que a havia preenchido de alegria.Depois de longas e intermináveis horas, Melissa tomou a difícil decisão de preparar um funeral para Afonso. Ela sabia que era a única forma de homenagear o homem que tanto amava, mesmo sem um corpo físico para colocar na terra. Queria que seus filho
Os dias se transformaram em semanas, e a realidade de que Afonso havia partido ainda era uma ferida aberta no coração de Melissa. Ela vagava pela mansão como uma sombra, cada cômodo repleto de lembranças que a assombravam. As risadas que um dia ecoaram entre as paredes agora se transformavam em um silêncio opressivo, e cada dia sem ele era uma luta constante.Melissa não conseguia se conformar. A dor era insuportável, e a tristeza a envolvia como um manto pesado. Ela se sentia perdida, flutuando entre a neblina da ausência e a intensidade das memórias que a cercavam. As manhãs eram as mais difíceis, acordar sem a presença de Afonso ao seu lado parecia um pesadelo interminável. Ele não estava mais ali para compartilhar o café da manhã, para perguntar sobre os sonhos da noite anterior ou simplesmente para sorrir e fazer tudo parecer mais leve.O olhar de seus filhos também a machucava. Matteo e Laura, inocentes e vulneráveis, sentiam a falta do pai de maneiras que ela não conseguia supo
Determinada, Melissa abriu o envelope novamente, seu coração batendo acelerado. A primeira carta já havia sido suficiente para deixá-la inquieta, mas ao retirar um segundo papel, ela imediatamente sentiu uma onda de frio percorrer sua espinha. As palavras que encontrou a deixaram atônita:“Oi Afonso! Espero que esteja bem?... Ou melhor... Quero que se ferre!”A incredulidade tomou conta dela. Quem poderia ser tão cruel a ponto de desejar isso a alguém? Melissa segurou a carta com firmeza, tentando processar a revolta que borbulhava dentro de si. O que mais ela poderia encontrar ali?Ela continuou lendo, cada palavra a cortando como uma lâmina afiada:“Me senti tão bem quando descobri a verdade sobre seu casamento com esta desclassificada que poderia abrir um champanhe para comemorar. Estou aqui imaginando como ela reagiria se soubesse que você está por trás da doença da mãe dela.Enviei algumas cópias dos exames que você forjou para fingir que sua mãe estava doente. Isso foi apenas pa
— Eu não estou aqui para discutir sua satisfação pessoal — respondeu Melissa, tentando manter a voz estável. — Estou aqui para entender o que você sabe sobre a doença da minha mãe. E sobre as cartas que você enviou para Afonso.O sorriso de Cloé se alargou, e ela deu um passo à frente, com uma expressão que mesclava desprezo e curiosidade.— Ah, as cartas... — ela disse, como se estivesse saboreando cada palavra. — Você realmente acha que Afonso era um santo? Ele tinha seus segredos, e você sabe disso. Por que não olhar para a verdade ao invés de se prender à ilusão de que ele era perfeito?Melissa sentiu a raiva ferver dentro dela. Afonso havia cometido erros, sim, mas isso não justificava a crueldade de Cloé.— Ele não era perfeito, mas você não sabe nada sobre o que realmente aconteceu. Por que você se importa tanto com isso? O que você realmente quer?Cloé deu uma risada baixa, uma mistura de escárnio e divertimento.— O que eu quero? Eu quero ver você se afundar nessa dor. Porque
A noite envolvia a mansão em um manto de silêncio, apenas interrompido pelo leve sussurrar do vento que se infiltrava pelas frestas. Melissa sentou-se na beira da cama, as mãos sobre os joelhos, perdida em pensamentos. A luz fraca do abajur lançava sombras dançantes nas paredes, refletindo a confusão que se aglomerava em seu interior.Agora que Afonso estava morto, ela percebeu que sua vida havia se transformado em um emaranhado de mentiras e enganos. O que deveria ter sido um casamento baseado no amor se revelou um jogo cruel, uma conveniência que a aprisionara em suas próprias inseguranças. A dor da traição ainda ardia, mas havia um novo sentimento crescendo dentro dela — a necessidade de libertação.“É hora de deixar tudo isso para trás,” pensou Melissa, a determinação crescendo em seu coração. “Eu mereço uma nova chance.”Ela se levantou e começou a andar pelo quarto, como se cada passo a aproximasse de uma nova vida. O passado não poderia mais controlá-la; precisava ser deixado p
A manhã estava clara e ensolarada, refletindo o otimismo que Melissa sentia em seu coração. Após semanas de adaptação em sua nova casa, ela finalmente havia se candidatado a uma vaga como residente no hospital da cidade e, para sua alegria, fora chamada para uma entrevista. Era a oportunidade que precisava para recomeçar sua carreira e se reconectar com sua paixão pela medicina.Enquanto se arrumava, a ansiedade e a expectativa se misturavam. Olhando-se no espelho, ajustou o cabelo e vestiu uma blusa que sempre a fazia sentir-se confiante. “Você consegue, Melissa,” sussurrou para si mesma, tentando dissipar os nervos que a acompanhavam.Na sala, Matteo, seu filho mais velho, estava sentado com Laura e sua mãe, Aurora. Ele olhou para a mãe com um sorriso encorajador. “Boa sorte, mãe! Você vai arrasar!” Matteo sempre teve uma maneira de iluminar os momentos mais sombrios, e suas palavras trouxeram um calor ao coração de Melissa.Laura, com seu jeito curioso, perguntou: “Você vai ser dou
Na manhã seguinte, Melissa acordou com a luz suave do sol filtrando-se pelas cortinas. O sonho com Afonso ainda estava fresco em sua mente, trazendo uma mistura de conforto e saudade. Enquanto se espreguiçava, seu celular começou a tocar. Ela olhou rapidamente para a tela e viu que era o hospital regional.Com o coração acelerado, atendeu. “Alô?”“Bom dia, Melissa! Aqui é a Dra. Sofia, da comissão de seleção. Como você está?”“Bom dia, Dra. Sofia! Estou bem, obrigada. E você?”“Estou ótima! Estou ligando para informar que você foi aprovada para a vaga de residente. Parabéns!”Melissa ficou em silêncio por um momento, o coração pulando de alegria. “Sério? Eu… eu não posso acreditar!”“Sim, é verdade! Você teve um desempenho excepcional durante a entrevista. Estamos ansiosos para tê-la conosco.”“Obrigada! Isso significa muito para mim. É um sonho realizado!”“Ficamos felizes que você esteja tão empolgada. Você começará na próxima semana. Alguma dúvida?”“Não, acho que está tudo claro.
Cinco anos se passaram desde que Melissa começou a trabalhar no hospital. A vida havia mudado de maneira significativa, e ela se sentia mais forte e confiante a cada dia. Matteo estava prestes a completar 15 anos, um adolescente cheio de energia e sonhos, enquanto Laura, com 12 anos, se mostrava uma jovem sensível e criativa. O tempo passou, e com ele, Melissa aprendeu a equilibrar seu papel de mãe e profissional, sempre mantendo a memória de Afonso viva em seu coração.Nos últimos dois anos, Melissa também havia aceitado namorar Mike, seu colega de trabalho. Mike era atencioso e compreensivo, sempre a apoiando em seus desafios no hospital. O relacionamento deles trouxe um novo sopro de alegria à sua vida. Ele entendia as complexidades da rotina dela e estava disposto a fazer parte da família. Melissa apreciava sua presença, e, aos poucos, ele se tornou uma figura importante para Matteo e Laura também.Certa manhã, enquanto preparava o café da manhã, Melissa ouviu risadas vindas da sa