Capitulo 2 – A dor de não ter um corpo para se despedir.

Dois dias se passaram desde a tragédia, e a busca pelo avião havia se transformado em uma jornada angustiante. Melissa se sentia presa em um pesadelo sem fim, cada hora que passava parecia uma eternidade. A esperança de encontrar Afonso vivo ainda pulsava em seu coração, mas a realidade se tornava cada vez mais implacável.

O que conseguiram encontrar foram apenas destroços, pedaços retorcidos de metal e fragmentos de vida que um dia pertenceram a pessoas com sonhos e esperanças. Cada novo detalhe que emergia do mar era como uma facada, aprofundando a dor que já a consumia. Melissa se perguntava como poderia se despedir de alguém que não tinha um corpo para ser enterrado, como poderia dizer adeus a um amor que a havia preenchido de alegria.

Depois de longas e intermináveis horas, Melissa tomou a difícil decisão de preparar um funeral para Afonso. Ela sabia que era a única forma de homenagear o homem que tanto amava, mesmo sem um corpo físico para colocar na terra. Queria que seus filhos pudessem se despedir, que pudessem entender que, mesmo em sua ausência, o amor dele permaneceria.

Com a ajuda de Aurora, começaram a organizar tudo. A escolha do local não foi difícil. Afonso teria uma lápide ao lado da do pai, nas propriedades da mansão, onde tantas memórias felizes haviam sido construídas. O jardim, que costumava ser um refúgio de risadas, agora se tornava um espaço sagrado, onde a dor e a memória se entrelaçariam para sempre.

O dia do funeral chegou, pesado como uma nuvem negra sobre suas cabeças. O céu parecia refletir a tristeza da família, coberto por uma camada de cinzas que fazia o sol parecer distante. Melissa vestiu um vestido simples e escuro, enquanto Aurora se esforçava para ser a força que a filha precisava. No fundo, ambas sabiam que a verdadeira força viria da união, mas a dor era palpável.

Matteo e Laura, com expressões de confusão e tristeza, estavam ao lado da mãe. A presença deles fez Melissa se lembrar do que Afonso sempre dizia: o amor da família é um abrigo nos momentos mais difíceis. Ela respirou fundo, tentando se manter firme por eles.

Quando chegou a hora da cerimônia, a mansão estava cercada por amigos e familiares, todos unidos em um silêncio respeitoso. A atmosfera era de reverência, mas também de uma tristeza profunda. Melissa, com o coração apertado, olhou para a lápide que agora marcava a presença de Afonso, e lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto.

— Afonso, meu amor — ela começou, sua voz trêmula. — Hoje, nos reunimos aqui para lembrar de você. Mesmo sem seu corpo, sua essência está presente em cada um de nós. Você foi um pai maravilhoso, um marido carinhoso e um amigo leal.

As palavras saíam com dificuldade, mas ela continuava desejando que Afonso estivesse ali, ouvindo cada declaração de amor. As memórias fluíam, misturando-se à dor, enquanto ela falava sobre os momentos felizes, as risadas e os sonhos que agora pareciam tão distantes.

Quando o momento de se despedir finalmente chegou, Melissa se aproximou da lápide, tocando o mármore frio com a ponta dos dedos. A falta de um corpo para enterrar tornava tudo mais cruel, mas a certeza de que Afonso viveria em suas memórias e corações era o que a mantinha de pé.

— Eu sempre vou te amar, Afonso. Você estará sempre comigo, em cada passo que eu der e em cada decisão que eu tomar. Prometo que cuidarei das crianças e farei com que nunca se esqueçam do pai que tiveram.

Após o discurso, um silêncio respeitoso tomou conta do ambiente. Todos se aproximaram para prestar suas últimas homenagens, colocando flores e palavras de carinho ao redor da lápide. Melissa se sentia perdida, mas o apoio da família e dos amigos começava a oferecer um fio de esperança.

A dor de não ter um corpo para se despedir era imensurável, mas naquele dia, ela também percebeu que a memória de Afonso viveria através das histórias e lembranças que compartilhariam. Mesmo em meio à tristeza, havia um vislumbre de luz, uma promessa de que a vida continuaria, embora profundamente marcada pela ausência de quem tanto amavam.

E naquele dia, o mais triste da sua vida, Melissa fez uma promessa silenciosa: ela lutaria para manter viva a chama do amor de Afonso, transformando a dor em força para enfrentar o futuro, por ela e por seus filhos.

Valentina se aproximou, seus olhos cheios de lágrimas que estavam prestes a transbordar. Ela me envolveu em um abraço apertado, e entre soluços, começou a falar.

— Ele te amava tanto, você sabe? — sua voz tremia, e a dor que carregava era palpável. — Sempre falava de você, de como você era especial…

Aquelas palavras cortaram meu coração. Eu sabia que para Valentina não estava sendo fácil. Seu único irmão havia partido tão jovem, em circunstâncias tão trágicas, e a perda era uma ferida aberta. O peso da dor dela se somava à minha, e naquele abraço, sentíamos a conexão de duas almas quebradas pela mesma tragédia.

— Eu também o amava — respondi, a voz embargada. — Ele trouxe tanta luz à minha vida, e a saudade já é insuportável.

Valentina se afastou um pouco, olhando em meus olhos, como se estivesse buscando uma resposta, um consolo. Ela parecia tão perdida, tão vulnerável, e isso partiu meu coração ainda mais. O luto era uma sombra que nos cercava, mas naquele momento, entendíamos que não estávamos sozinhas nessa dor.

— Ele gostaria que cuidássemos uma da outra, não gostaria? — Valentina disse, tentando esboçar um sorriso que não chegava a iluminar seu rosto.

— Com certeza — concordei, sentindo que, apesar da tristeza, havia uma centelha de esperança. — Vamos honrar a memória dele, sempre.

A conversa continuou, entre lágrimas e lembranças, e mesmo que o peso da tragédia ainda estivesse presente, a conexão que tínhamos formando parecia um pequeno alicerce em meio ao caos. Ambas precisávamos uma da outra, e, juntas, poderíamos encontrar um caminho para enfrentar a dor e celebrar a vida de Afonso, que ainda pulsava em nossas memórias e corações.

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