Dois dias se passaram desde a tragédia, e a busca pelo avião havia se transformado em uma jornada angustiante. Melissa se sentia presa em um pesadelo sem fim, cada hora que passava parecia uma eternidade. A esperança de encontrar Afonso vivo ainda pulsava em seu coração, mas a realidade se tornava cada vez mais implacável.
O que conseguiram encontrar foram apenas destroços, pedaços retorcidos de metal e fragmentos de vida que um dia pertenceram a pessoas com sonhos e esperanças. Cada novo detalhe que emergia do mar era como uma facada, aprofundando a dor que já a consumia. Melissa se perguntava como poderia se despedir de alguém que não tinha um corpo para ser enterrado, como poderia dizer adeus a um amor que a havia preenchido de alegria.
Depois de longas e intermináveis horas, Melissa tomou a difícil decisão de preparar um funeral para Afonso. Ela sabia que era a única forma de homenagear o homem que tanto amava, mesmo sem um corpo físico para colocar na terra. Queria que seus filhos pudessem se despedir, que pudessem entender que, mesmo em sua ausência, o amor dele permaneceria.
Com a ajuda de Aurora, começaram a organizar tudo. A escolha do local não foi difícil. Afonso teria uma lápide ao lado da do pai, nas propriedades da mansão, onde tantas memórias felizes haviam sido construídas. O jardim, que costumava ser um refúgio de risadas, agora se tornava um espaço sagrado, onde a dor e a memória se entrelaçariam para sempre.
O dia do funeral chegou, pesado como uma nuvem negra sobre suas cabeças. O céu parecia refletir a tristeza da família, coberto por uma camada de cinzas que fazia o sol parecer distante. Melissa vestiu um vestido simples e escuro, enquanto Aurora se esforçava para ser a força que a filha precisava. No fundo, ambas sabiam que a verdadeira força viria da união, mas a dor era palpável.
Matteo e Laura, com expressões de confusão e tristeza, estavam ao lado da mãe. A presença deles fez Melissa se lembrar do que Afonso sempre dizia: o amor da família é um abrigo nos momentos mais difíceis. Ela respirou fundo, tentando se manter firme por eles.
Quando chegou a hora da cerimônia, a mansão estava cercada por amigos e familiares, todos unidos em um silêncio respeitoso. A atmosfera era de reverência, mas também de uma tristeza profunda. Melissa, com o coração apertado, olhou para a lápide que agora marcava a presença de Afonso, e lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto.
— Afonso, meu amor — ela começou, sua voz trêmula. — Hoje, nos reunimos aqui para lembrar de você. Mesmo sem seu corpo, sua essência está presente em cada um de nós. Você foi um pai maravilhoso, um marido carinhoso e um amigo leal.
As palavras saíam com dificuldade, mas ela continuava desejando que Afonso estivesse ali, ouvindo cada declaração de amor. As memórias fluíam, misturando-se à dor, enquanto ela falava sobre os momentos felizes, as risadas e os sonhos que agora pareciam tão distantes.
Quando o momento de se despedir finalmente chegou, Melissa se aproximou da lápide, tocando o mármore frio com a ponta dos dedos. A falta de um corpo para enterrar tornava tudo mais cruel, mas a certeza de que Afonso viveria em suas memórias e corações era o que a mantinha de pé.
— Eu sempre vou te amar, Afonso. Você estará sempre comigo, em cada passo que eu der e em cada decisão que eu tomar. Prometo que cuidarei das crianças e farei com que nunca se esqueçam do pai que tiveram.
Após o discurso, um silêncio respeitoso tomou conta do ambiente. Todos se aproximaram para prestar suas últimas homenagens, colocando flores e palavras de carinho ao redor da lápide. Melissa se sentia perdida, mas o apoio da família e dos amigos começava a oferecer um fio de esperança.
A dor de não ter um corpo para se despedir era imensurável, mas naquele dia, ela também percebeu que a memória de Afonso viveria através das histórias e lembranças que compartilhariam. Mesmo em meio à tristeza, havia um vislumbre de luz, uma promessa de que a vida continuaria, embora profundamente marcada pela ausência de quem tanto amavam.
E naquele dia, o mais triste da sua vida, Melissa fez uma promessa silenciosa: ela lutaria para manter viva a chama do amor de Afonso, transformando a dor em força para enfrentar o futuro, por ela e por seus filhos.
Valentina se aproximou, seus olhos cheios de lágrimas que estavam prestes a transbordar. Ela me envolveu em um abraço apertado, e entre soluços, começou a falar.
— Ele te amava tanto, você sabe? — sua voz tremia, e a dor que carregava era palpável. — Sempre falava de você, de como você era especial…
Aquelas palavras cortaram meu coração. Eu sabia que para Valentina não estava sendo fácil. Seu único irmão havia partido tão jovem, em circunstâncias tão trágicas, e a perda era uma ferida aberta. O peso da dor dela se somava à minha, e naquele abraço, sentíamos a conexão de duas almas quebradas pela mesma tragédia.
— Eu também o amava — respondi, a voz embargada. — Ele trouxe tanta luz à minha vida, e a saudade já é insuportável.
Valentina se afastou um pouco, olhando em meus olhos, como se estivesse buscando uma resposta, um consolo. Ela parecia tão perdida, tão vulnerável, e isso partiu meu coração ainda mais. O luto era uma sombra que nos cercava, mas naquele momento, entendíamos que não estávamos sozinhas nessa dor.
— Ele gostaria que cuidássemos uma da outra, não gostaria? — Valentina disse, tentando esboçar um sorriso que não chegava a iluminar seu rosto.
— Com certeza — concordei, sentindo que, apesar da tristeza, havia uma centelha de esperança. — Vamos honrar a memória dele, sempre.
A conversa continuou, entre lágrimas e lembranças, e mesmo que o peso da tragédia ainda estivesse presente, a conexão que tínhamos formando parecia um pequeno alicerce em meio ao caos. Ambas precisávamos uma da outra, e, juntas, poderíamos encontrar um caminho para enfrentar a dor e celebrar a vida de Afonso, que ainda pulsava em nossas memórias e corações.
Os dias se transformaram em semanas, e a realidade de que Afonso havia partido ainda era uma ferida aberta no coração de Melissa. Ela vagava pela mansão como uma sombra, cada cômodo repleto de lembranças que a assombravam. As risadas que um dia ecoaram entre as paredes agora se transformavam em um silêncio opressivo, e cada dia sem ele era uma luta constante.Melissa não conseguia se conformar. A dor era insuportável, e a tristeza a envolvia como um manto pesado. Ela se sentia perdida, flutuando entre a neblina da ausência e a intensidade das memórias que a cercavam. As manhãs eram as mais difíceis, acordar sem a presença de Afonso ao seu lado parecia um pesadelo interminável. Ele não estava mais ali para compartilhar o café da manhã, para perguntar sobre os sonhos da noite anterior ou simplesmente para sorrir e fazer tudo parecer mais leve.O olhar de seus filhos também a machucava. Matteo e Laura, inocentes e vulneráveis, sentiam a falta do pai de maneiras que ela não conseguia supo
Determinada, Melissa abriu o envelope novamente, seu coração batendo acelerado. A primeira carta já havia sido suficiente para deixá-la inquieta, mas ao retirar um segundo papel, ela imediatamente sentiu uma onda de frio percorrer sua espinha. As palavras que encontrou a deixaram atônita:“Oi Afonso! Espero que esteja bem?... Ou melhor... Quero que se ferre!”A incredulidade tomou conta dela. Quem poderia ser tão cruel a ponto de desejar isso a alguém? Melissa segurou a carta com firmeza, tentando processar a revolta que borbulhava dentro de si. O que mais ela poderia encontrar ali?Ela continuou lendo, cada palavra a cortando como uma lâmina afiada:“Me senti tão bem quando descobri a verdade sobre seu casamento com esta desclassificada que poderia abrir um champanhe para comemorar. Estou aqui imaginando como ela reagiria se soubesse que você está por trás da doença da mãe dela.Enviei algumas cópias dos exames que você forjou para fingir que sua mãe estava doente. Isso foi apenas pa
— Eu não estou aqui para discutir sua satisfação pessoal — respondeu Melissa, tentando manter a voz estável. — Estou aqui para entender o que você sabe sobre a doença da minha mãe. E sobre as cartas que você enviou para Afonso.O sorriso de Cloé se alargou, e ela deu um passo à frente, com uma expressão que mesclava desprezo e curiosidade.— Ah, as cartas... — ela disse, como se estivesse saboreando cada palavra. — Você realmente acha que Afonso era um santo? Ele tinha seus segredos, e você sabe disso. Por que não olhar para a verdade ao invés de se prender à ilusão de que ele era perfeito?Melissa sentiu a raiva ferver dentro dela. Afonso havia cometido erros, sim, mas isso não justificava a crueldade de Cloé.— Ele não era perfeito, mas você não sabe nada sobre o que realmente aconteceu. Por que você se importa tanto com isso? O que você realmente quer?Cloé deu uma risada baixa, uma mistura de escárnio e divertimento.— O que eu quero? Eu quero ver você se afundar nessa dor. Porque
A noite envolvia a mansão em um manto de silêncio, apenas interrompido pelo leve sussurrar do vento que se infiltrava pelas frestas. Melissa sentou-se na beira da cama, as mãos sobre os joelhos, perdida em pensamentos. A luz fraca do abajur lançava sombras dançantes nas paredes, refletindo a confusão que se aglomerava em seu interior.Agora que Afonso estava morto, ela percebeu que sua vida havia se transformado em um emaranhado de mentiras e enganos. O que deveria ter sido um casamento baseado no amor se revelou um jogo cruel, uma conveniência que a aprisionara em suas próprias inseguranças. A dor da traição ainda ardia, mas havia um novo sentimento crescendo dentro dela — a necessidade de libertação.“É hora de deixar tudo isso para trás,” pensou Melissa, a determinação crescendo em seu coração. “Eu mereço uma nova chance.”Ela se levantou e começou a andar pelo quarto, como se cada passo a aproximasse de uma nova vida. O passado não poderia mais controlá-la; precisava ser deixado p
A manhã estava clara e ensolarada, refletindo o otimismo que Melissa sentia em seu coração. Após semanas de adaptação em sua nova casa, ela finalmente havia se candidatado a uma vaga como residente no hospital da cidade e, para sua alegria, fora chamada para uma entrevista. Era a oportunidade que precisava para recomeçar sua carreira e se reconectar com sua paixão pela medicina.Enquanto se arrumava, a ansiedade e a expectativa se misturavam. Olhando-se no espelho, ajustou o cabelo e vestiu uma blusa que sempre a fazia sentir-se confiante. “Você consegue, Melissa,” sussurrou para si mesma, tentando dissipar os nervos que a acompanhavam.Na sala, Matteo, seu filho mais velho, estava sentado com Laura e sua mãe, Aurora. Ele olhou para a mãe com um sorriso encorajador. “Boa sorte, mãe! Você vai arrasar!” Matteo sempre teve uma maneira de iluminar os momentos mais sombrios, e suas palavras trouxeram um calor ao coração de Melissa.Laura, com seu jeito curioso, perguntou: “Você vai ser dou
Na manhã seguinte, Melissa acordou com a luz suave do sol filtrando-se pelas cortinas. O sonho com Afonso ainda estava fresco em sua mente, trazendo uma mistura de conforto e saudade. Enquanto se espreguiçava, seu celular começou a tocar. Ela olhou rapidamente para a tela e viu que era o hospital regional.Com o coração acelerado, atendeu. “Alô?”“Bom dia, Melissa! Aqui é a Dra. Sofia, da comissão de seleção. Como você está?”“Bom dia, Dra. Sofia! Estou bem, obrigada. E você?”“Estou ótima! Estou ligando para informar que você foi aprovada para a vaga de residente. Parabéns!”Melissa ficou em silêncio por um momento, o coração pulando de alegria. “Sério? Eu… eu não posso acreditar!”“Sim, é verdade! Você teve um desempenho excepcional durante a entrevista. Estamos ansiosos para tê-la conosco.”“Obrigada! Isso significa muito para mim. É um sonho realizado!”“Ficamos felizes que você esteja tão empolgada. Você começará na próxima semana. Alguma dúvida?”“Não, acho que está tudo claro.
Cinco anos se passaram desde que Melissa começou a trabalhar no hospital. A vida havia mudado de maneira significativa, e ela se sentia mais forte e confiante a cada dia. Matteo estava prestes a completar 15 anos, um adolescente cheio de energia e sonhos, enquanto Laura, com 12 anos, se mostrava uma jovem sensível e criativa. O tempo passou, e com ele, Melissa aprendeu a equilibrar seu papel de mãe e profissional, sempre mantendo a memória de Afonso viva em seu coração.Nos últimos dois anos, Melissa também havia aceitado namorar Mike, seu colega de trabalho. Mike era atencioso e compreensivo, sempre a apoiando em seus desafios no hospital. O relacionamento deles trouxe um novo sopro de alegria à sua vida. Ele entendia as complexidades da rotina dela e estava disposto a fazer parte da família. Melissa apreciava sua presença, e, aos poucos, ele se tornou uma figura importante para Matteo e Laura também.Certa manhã, enquanto preparava o café da manhã, Melissa ouviu risadas vindas da sa
Melissa estava concentrada em seus afazeres diários no hospital quando recebeu uma solicitação de emergência. Um homem de cerca de 40 anos havia dado entrada com sintomas de confusão mental. Ela rapidamente se dirigiu ao quarto, pronta para examinar o paciente e entender o que estava acontecendo.Ao abrir a porta, no entanto, o mundo ao seu redor parou por um instante. O homem na cama tinha cabelos castanho-escuros e um olhar perdido que parecia tão familiar. Melissa sentiu um frio na barriga ao reconhecer aquele rosto. Era Afonso.“Afonso?” ela disse, a voz falhando enquanto o choque a envolvia. Ele olhou para ela, confuso, e tentou sorrir, mas a expressão não alcançou seus olhos. Aquele homem se parecia muito com Afonso, um pouco envelhecido, mas era ele, pensou Melissa. Contudo, o homem na cama não a reconhecia.“Desculpe… eu não…” ele começou, sua voz hesitante. “Quem é você?”A sensação de desespero cresceu dentro dela. “Sou Melissa, sua esposa. Estamos juntos há anos. Você… você