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Capitulo 3 – Ela não se conforma com a morte de seu amor

Os dias se transformaram em semanas, e a realidade de que Afonso havia partido ainda era uma ferida aberta no coração de Melissa. Ela vagava pela mansão como uma sombra, cada cômodo repleto de lembranças que a assombravam. As risadas que um dia ecoaram entre as paredes agora se transformavam em um silêncio opressivo, e cada dia sem ele era uma luta constante.

Melissa não conseguia se conformar. A dor era insuportável, e a tristeza a envolvia como um manto pesado. Ela se sentia perdida, flutuando entre a neblina da ausência e a intensidade das memórias que a cercavam. As manhãs eram as mais difíceis, acordar sem a presença de Afonso ao seu lado parecia um pesadelo interminável. Ele não estava mais ali para compartilhar o café da manhã, para perguntar sobre os sonhos da noite anterior ou simplesmente para sorrir e fazer tudo parecer mais leve.

O olhar de seus filhos também a machucava. Matteo e Laura, inocentes e vulneráveis, sentiam a falta do pai de maneiras que ela não conseguia suportar. Melissa tentava ser forte por eles, mas a dor a fazia sentir-se uma impostora, como se a alegria tivesse sido arrancada de sua alma. Às vezes, ela se pegava observando os filhos brincando, as risadas deles se misturando com as lembranças de Afonso, e cada riso se tornava um lembrete agonizante de sua ausência.

A casa estava repleta de objetos que pertenciam a Afonso — a gravata que ele usava no dia do último almoço em família, o livro que deixara na mesa de cabeceira e que nunca seria terminado, o violão encostado no canto, que ele tocava para alegrar as noites. Melissa sentia uma necessidade quase compulsiva de manter tudo como estava, como se isso pudesse de alguma forma mantê-lo vivo em sua memória.

Ela começou a passar horas em seu escritório, cercada pelos documentos e fotos que Afonso deixara. Folheando álbuns, as lágrimas escorriam pelo seu rosto, enquanto ela relembrava os momentos que agora pareciam tão distantes. Às vezes, ela falava sozinha, sussurrando para as fotos, pedindo conselhos e desabafando suas inseguranças. Era como se, de alguma forma, isso a mantivesse conectada a ele, como se sua presença ainda estivesse ali, mesmo que apenas em espírito.

As noites eram particularmente solitárias. A cama, que costumava ser um refúgio acolhedor, agora era um espaço vasto e vazio, repleto de ecos da vida que tinham juntos. Melissa se enrolava em suas cobertas, sentindo a falta do calor de Afonso, das conversas noturnas que a faziam sentir-se segura e amada. O silêncio era ensurdecedor, e as paredes pareciam sussurrar seu nome, lembrando-a de tudo o que havia perdido.

À medida que os dias se arrastavam, Melissa percebeu que a tristeza estava começando a consumir não apenas seu coração, mas também sua capacidade de cuidar de si mesma e de sua família. As tarefas diárias pareciam insuportáveis, e, mesmo que tentasse ser uma mãe presente, havia momentos em que se sentia distante, como se estivesse observando a vida passar de fora.

Valentina e Aurora tentavam apoiar Melissa, mas havia uma barreira invisível entre elas, uma distância que Melissa não sabia como cruzar. As conversas se tornavam rápidas e superficiais, e ela sentia que não podia compartilhar a profundidade de sua dor. Era como se a tristeza a isolasse, mesmo cercada de amor e preocupação.

Certa noite, enquanto olhava pela janela, Melissa viu o céu estrelado e sentiu uma pontada de desespero. Onde Afonso estaria agora? Havia um vazio profundo em seu ser, uma falta que parecia insuportável. Ela desejava poder voltar no tempo, poder abraçá-lo uma última vez, dizer tudo o que não havia dito. O desespero a envolveu, e ela se permitiu chorar novamente, deixando as lágrimas escorrerem livremente.

Mas, no fundo, uma pequena voz sussurrava que precisava encontrar um caminho. Que, apesar da dor, Afonso teria querido que ela vivesse, que fosse feliz, mesmo que isso parecesse impossível.

Certo dia, enquanto estava submergida nas lembranças de Afonso, Melissa se sentou na mesa do escritório, cercada por fotos e documentos. O peso da saudade parecia ainda mais intenso naquele momento, e ela sentia que a única maneira de lidar com a dor era mergulhar nas memórias. Foi então que algo chamou sua atenção: um envelope amarelado, parcialmente escondido entre alguns papéis.

Intrigada, Melissa puxou o envelope e, ao examiná-lo, percebeu que nunca o havia visto antes. Com um misto de curiosidade e apreensão, decidiu abri-lo. Dentro, encontrou alguns exames de sua mãe, Aurora, e seu coração acelerou ao ver a data. Era da época em que a mãe havia sido diagnosticada com um câncer raro, um momento que havia gerado tanto medo e incerteza na família. Mas logo depois, eles descobriram que tudo não passava de um engano, e Aurora se recuperou, trazendo alívio e gratidão.

Por que esses exames estavam ali, agora? A pergunta ecoava na mente de Melissa enquanto ela continuava mexendo no envelope. A sensação de que algo estava errado crescia a cada segundo. Foi então que encontrou uma carta, seu papel amarrotado e amarelado, mas ainda legível.

Melissa desdobrou a carta e leu as palavras que pareciam pulsar com uma ameaça velada:

“Você não pode fugir do que fez. A verdade sempre vem à tona, e os laços que você tenta ignorar vão cobrar seu preço. Proteja sua família, pois eles estão em perigo. A única forma de escapar é enfrentando o que você teme.”

A respiração de Melissa ficou presa em sua garganta. A letra era familiar, mas o conteúdo era inquietante. O que quer que estivesse por trás daquelas palavras fazia seu coração disparar. A sensação de estar sendo observada, de que havia algo mais no meio da dor e da tragédia, começou a crescer dentro dela.

A mente de Melissa começou a correr. Seria Salvatore, o inimigo de Afonso, por trás daquilo? O homem que havia trazido tantas dores à sua família? Ou haveria mais, algo que ela ainda não entendia? A carta parecia indicar que havia segredos ocultos, camadas de um passado que ela precisava enfrentar.

Com mãos trêmulas, ela guardou a carta de volta no envelope, seu coração pesado com o peso da revelação. O que mais poderia estar escondido? Por que esses exames estavam aqui, e qual era a ligação entre eles e a ameaça contida na carta? Melissa sabia que precisava descobrir a verdade, não apenas para si, mas também para proteger Matteo e Laura. Eles eram a única luz em meio à escuridão que parecia se aproximar.

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