Determinada, Melissa abriu o envelope novamente, seu coração batendo acelerado. A primeira carta já havia sido suficiente para deixá-la inquieta, mas ao retirar um segundo papel, ela imediatamente sentiu uma onda de frio percorrer sua espinha. As palavras que encontrou a deixaram atônita:
“Oi Afonso! Espero que esteja bem?... Ou melhor... Quero que se ferre!”
A incredulidade tomou conta dela. Quem poderia ser tão cruel a ponto de desejar isso a alguém? Melissa segurou a carta com firmeza, tentando processar a revolta que borbulhava dentro de si. O que mais ela poderia encontrar ali?
Ela continuou lendo, cada palavra a cortando como uma lâmina afiada:
“Me senti tão bem quando descobri a verdade sobre seu casamento com esta desclassificada que poderia abrir um champanhe para comemorar. Estou aqui imaginando como ela reagiria se soubesse que você está por trás da doença da mãe dela.
Enviei algumas cópias dos exames que você forjou para fingir que sua mãe estava doente. Isso foi apenas para chantageá-la a casar-se com você? Não imaginei que seria capaz disso. Poderia ter a mulher que quisesse, mas escolheu a mais sem sal de todas. HÁ HA ... e ainda pobre. Não sei o que pretende com isso, mas vou descobrir.”
Melissa sentiu um frio na barriga. As palavras eram venenosas, e a insinuação de que Afonso poderia estar envolvido em algo tão sombrio a deixava paralisada. A ideia de que a doença de sua mãe, estivessem ligadas a alguma manipulação a deixou perplexa. Como poderia acreditar que Afonso estaria envolvido em algo tão cruel?
A mente de Melissa começou a girar. Era evidente que havia um inimigo por trás dessas cartas, alguém que queria arruinar a memória de Afonso e causar dor a todos ao seu redor. A raiva e a confusão se misturavam, e a dor da perda de Afonso foi substituída por um impulso de luta. Ela precisava entender o que estava acontecendo.
— Quem é você? — murmurou para si mesma, segurando a carta como se fosse um artefato sagrado que poderia levá-la à verdade.
Melissa decidiu que precisava de respostas. A primeira coisa que faria seria investigar a identidade de quem poderia ter enviado aquelas cartas. Seria alguém próximo, ou uma figura do passado que Afonso havia desafiado? O que mais eles poderiam saber sobre a vida dele, e como isso se conectava a ela e sua família?
Melissa respirou fundo, as peças do quebra-cabeça começando a se encaixar em sua mente. “Desclassificada e pobre” eram palavras que a cutucavam, e a única pessoa que poderia usá-las dessa forma era Cloé. A rivalidade entre elas era antiga, repleta de ressentimentos e provocações. Ela se lembrou claramente do dia em que Afonso, tomado por uma fúria cega, destruiu seu escritório por causa de algo que ela não entendia.
A cena ainda estava fresca em sua memória: Afonso quebrando tudo à sua volta, as prateleiras caindo, os papéis voando pelo ar. Ele se machucou durante a explosão de raiva, e Melissa teve que cuidar dele, enquanto as marcas da batalha emocional ainda estavam visíveis em seus rostos. Mas, por que Cloé, que havia sido apenas uma rival em sua vida, se importaria com a doença de Aurora?
A ideia de Cloé sabendo de algo tão íntimo e perturbador a deixou inquieta. O que mais ela poderia estar escondendo? O que sabia sobre a família de Afonso que a tornava uma ameaça? Melissa decidiu que precisava confrontar essa questão.
— Eu vou atrás dela — sussurrou para si mesma, um novo propósito fervendo em seu interior. Se Cloé estava por trás das cartas, ela precisaria de respostas. E a única maneira de obtê-las era encarando a mulher de frente.
Melissa pegou seu celular e, com um misto de determinação e nervosismo, começou a procurar informações sobre Cloé. Nos últimos anos, sua rival havia se afastado do círculo social de Afonso e Melissa, mas isso não significava que ela havia desaparecido. Uma rápida pesquisa nas redes sociais revelou que Cloé ainda estava ativa em seus negócios, promovendo eventos e participando de reuniões da comunidade.
O coração de Melissa disparou ao pensar na possibilidade de que Cloé pudesse ter se envolvido em algo sombrio. Se ela tivesse algum tipo de informação, precisava descobrir o que era antes que essa sombra se aproximasse ainda mais da sua família.
Decidida, Melissa vestiu-se rapidamente e saiu da mansão. Cada passo em direção ao local onde Cloé costumava trabalhar parecia um desafio. A raiva e a dor a guiavam, mas, ao mesmo tempo, a incerteza a acompanhava. O que ela diria? Como abordaria alguém que não hesitou em feri-la no passado?
Enquanto dirigia, os pensamentos de Melissa se voltaram para o que Afonso sempre dizia sobre lidar com pessoas tóxicas: “Conheça o seu inimigo e saiba como agir.” Agora, ela precisava aplicar esse conselho em sua vida, não apenas pela memória dele, mas pela proteção de sua família.
Ao chegar ao elegante escritório onde Cloé trabalhava, Melissa parou por um momento. A fachada imponente parecia ameaçadora, e a ideia de entrar e confrontar sua rival a fez hesitar. Mas, lembrando-se das palavras da carta, a determinação tomou conta dela novamente.
Ela entrou no prédio, sentindo-se como se estivesse atravessando uma linha invisível entre o passado e o presente. Melissa pediu para falar com Cloé na recepção, e a recepcionista a olhou com um ar de surpresa, mas fez a ligação.
Momentos depois, Cloé apareceu. O olhar que Melissa recebeu foi uma mistura de reconhecimento e desdém. Cloé era uma mulher linda e sofisticada, mas havia uma frieza em seus olhos que deixava claro que ela não era alguém a quem se poderia subestimar.
— O que você quer, Melissa? — perguntou Cloé, cruzando os braços de maneira desafiadora.
Melissa sentiu a adrenalina percorrer seu corpo, mas não iria recuar. O que quer que Cloé soubesse, ela precisava descobrir.
— Precisamos conversar — respondeu Melissa, a voz firme. — Sobre Afonso. E sobre as cartas.
Cloé olhou para Melissa com um sorriso frio, as palavras saindo de seus lábios como veneno.
— Conversar sobre o quê? Afonso está morto e você está exatamente como eu queria que estivesse... Abandonada e sozinha!
A provocação atingiu Melissa como uma lâmina afiada, mas ela se recuou. Não podia permitir que Cloé a desestabilizasse. A dor da perda de Afonso era ainda muito fresca, e a última coisa que queria era dar satisfação a alguém que havia se alegrado com sua tragédia.
— Eu não estou aqui para discutir sua satisfação pessoal — respondeu Melissa, tentando manter a voz estável. — Estou aqui para entender o que você sabe sobre a doença da minha mãe. E sobre as cartas que você enviou para Afonso.O sorriso de Cloé se alargou, e ela deu um passo à frente, com uma expressão que mesclava desprezo e curiosidade.— Ah, as cartas... — ela disse, como se estivesse saboreando cada palavra. — Você realmente acha que Afonso era um santo? Ele tinha seus segredos, e você sabe disso. Por que não olhar para a verdade ao invés de se prender à ilusão de que ele era perfeito?Melissa sentiu a raiva ferver dentro dela. Afonso havia cometido erros, sim, mas isso não justificava a crueldade de Cloé.— Ele não era perfeito, mas você não sabe nada sobre o que realmente aconteceu. Por que você se importa tanto com isso? O que você realmente quer?Cloé deu uma risada baixa, uma mistura de escárnio e divertimento.— O que eu quero? Eu quero ver você se afundar nessa dor. Porque
A noite envolvia a mansão em um manto de silêncio, apenas interrompido pelo leve sussurrar do vento que se infiltrava pelas frestas. Melissa sentou-se na beira da cama, as mãos sobre os joelhos, perdida em pensamentos. A luz fraca do abajur lançava sombras dançantes nas paredes, refletindo a confusão que se aglomerava em seu interior.Agora que Afonso estava morto, ela percebeu que sua vida havia se transformado em um emaranhado de mentiras e enganos. O que deveria ter sido um casamento baseado no amor se revelou um jogo cruel, uma conveniência que a aprisionara em suas próprias inseguranças. A dor da traição ainda ardia, mas havia um novo sentimento crescendo dentro dela — a necessidade de libertação.“É hora de deixar tudo isso para trás,” pensou Melissa, a determinação crescendo em seu coração. “Eu mereço uma nova chance.”Ela se levantou e começou a andar pelo quarto, como se cada passo a aproximasse de uma nova vida. O passado não poderia mais controlá-la; precisava ser deixado p
A manhã estava clara e ensolarada, refletindo o otimismo que Melissa sentia em seu coração. Após semanas de adaptação em sua nova casa, ela finalmente havia se candidatado a uma vaga como residente no hospital da cidade e, para sua alegria, fora chamada para uma entrevista. Era a oportunidade que precisava para recomeçar sua carreira e se reconectar com sua paixão pela medicina.Enquanto se arrumava, a ansiedade e a expectativa se misturavam. Olhando-se no espelho, ajustou o cabelo e vestiu uma blusa que sempre a fazia sentir-se confiante. “Você consegue, Melissa,” sussurrou para si mesma, tentando dissipar os nervos que a acompanhavam.Na sala, Matteo, seu filho mais velho, estava sentado com Laura e sua mãe, Aurora. Ele olhou para a mãe com um sorriso encorajador. “Boa sorte, mãe! Você vai arrasar!” Matteo sempre teve uma maneira de iluminar os momentos mais sombrios, e suas palavras trouxeram um calor ao coração de Melissa.Laura, com seu jeito curioso, perguntou: “Você vai ser dou
Na manhã seguinte, Melissa acordou com a luz suave do sol filtrando-se pelas cortinas. O sonho com Afonso ainda estava fresco em sua mente, trazendo uma mistura de conforto e saudade. Enquanto se espreguiçava, seu celular começou a tocar. Ela olhou rapidamente para a tela e viu que era o hospital regional.Com o coração acelerado, atendeu. “Alô?”“Bom dia, Melissa! Aqui é a Dra. Sofia, da comissão de seleção. Como você está?”“Bom dia, Dra. Sofia! Estou bem, obrigada. E você?”“Estou ótima! Estou ligando para informar que você foi aprovada para a vaga de residente. Parabéns!”Melissa ficou em silêncio por um momento, o coração pulando de alegria. “Sério? Eu… eu não posso acreditar!”“Sim, é verdade! Você teve um desempenho excepcional durante a entrevista. Estamos ansiosos para tê-la conosco.”“Obrigada! Isso significa muito para mim. É um sonho realizado!”“Ficamos felizes que você esteja tão empolgada. Você começará na próxima semana. Alguma dúvida?”“Não, acho que está tudo claro.
Cinco anos se passaram desde que Melissa começou a trabalhar no hospital. A vida havia mudado de maneira significativa, e ela se sentia mais forte e confiante a cada dia. Matteo estava prestes a completar 15 anos, um adolescente cheio de energia e sonhos, enquanto Laura, com 12 anos, se mostrava uma jovem sensível e criativa. O tempo passou, e com ele, Melissa aprendeu a equilibrar seu papel de mãe e profissional, sempre mantendo a memória de Afonso viva em seu coração.Nos últimos dois anos, Melissa também havia aceitado namorar Mike, seu colega de trabalho. Mike era atencioso e compreensivo, sempre a apoiando em seus desafios no hospital. O relacionamento deles trouxe um novo sopro de alegria à sua vida. Ele entendia as complexidades da rotina dela e estava disposto a fazer parte da família. Melissa apreciava sua presença, e, aos poucos, ele se tornou uma figura importante para Matteo e Laura também.Certa manhã, enquanto preparava o café da manhã, Melissa ouviu risadas vindas da sa
Melissa estava concentrada em seus afazeres diários no hospital quando recebeu uma solicitação de emergência. Um homem de cerca de 40 anos havia dado entrada com sintomas de confusão mental. Ela rapidamente se dirigiu ao quarto, pronta para examinar o paciente e entender o que estava acontecendo.Ao abrir a porta, no entanto, o mundo ao seu redor parou por um instante. O homem na cama tinha cabelos castanho-escuros e um olhar perdido que parecia tão familiar. Melissa sentiu um frio na barriga ao reconhecer aquele rosto. Era Afonso.“Afonso?” ela disse, a voz falhando enquanto o choque a envolvia. Ele olhou para ela, confuso, e tentou sorrir, mas a expressão não alcançou seus olhos. Aquele homem se parecia muito com Afonso, um pouco envelhecido, mas era ele, pensou Melissa. Contudo, o homem na cama não a reconhecia.“Desculpe… eu não…” ele começou, sua voz hesitante. “Quem é você?”A sensação de desespero cresceu dentro dela. “Sou Melissa, sua esposa. Estamos juntos há anos. Você… você
Ambas estavam avaliando a condição médica do paciente. Melissa, por ser especialista em neurologia, examinava minuciosamente o prontuário, em busca de qualquer evidência que comprovasse que aquele homem era Afonso. Com cada página que virava, sua esperança diminuía.Depois de duas horas de estudo intenso, ela começou a se convencer de que aquele homem não poderia ser Afonso. A documentação revelava detalhes sobre a vida de Giovani que a deixaram alarmada. Ele havia nascido com uma doença rara, uma condição que o havia submetido a diversas cirurgias ao longo dos anos. E, como se isso não bastasse, cinco anos atrás, ele havia passado por uma operação importante que alterou significativamente sua saúde.“Melissa,” disse a diretora, interrompendo seus pensamentos. “O que você está descobrindo?”Ela respirou fundo, segurando o prontuário com força. “Esse homem… ele não é Afonso. A história dele é completamente diferente. Ele passou por procedimentos que Afonso nunca enfrentou. O que me lev
Depois de horas se virando na cama, tentando organizar os pensamentos e as emoções que a atormentavam, Melissa finalmente conseguiu dormir. No entanto, seu descanso foi breve e tumultuado.Ela se viu em um lugar familiar, um jardim repleto de flores vibrantes, mas a beleza era ofuscada por uma sensação de urgência. De repente, Afonso apareceu diante dela, sua expressão angustiada. Ele estava pálido, os olhos cheios de desespero.“Melissa!” ele chamou, sua voz ecoando no ar. “Preciso da sua ajuda! Estou perdido!”O coração de Melissa disparou. “Afonso! O que aconteceu? O que você precisa?” Ela tentou se aproximar, mas o espaço entre eles parecia interminável.“Eu não consigo me lembrar! Tudo está escuro… e eles estão vindo! Eu preciso de você!” ele exclamou, desesperado.A visão dele a deixava paralisada. “Estou aqui! Vou te ajudar! Só não tenha medo!”Mas, enquanto ela estendia a mão, uma sombra obscura começou a se formar atrás dele, crescendo e se aproximando. “Afonso, cuidado!” gri