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Capitulo 5 – O Confronto guardado a anos

— Eu não estou aqui para discutir sua satisfação pessoal — respondeu Melissa, tentando manter a voz estável. — Estou aqui para entender o que você sabe sobre a doença da minha mãe. E sobre as cartas que você enviou para Afonso.

O sorriso de Cloé se alargou, e ela deu um passo à frente, com uma expressão que mesclava desprezo e curiosidade.

— Ah, as cartas... — ela disse, como se estivesse saboreando cada palavra. — Você realmente acha que Afonso era um santo? Ele tinha seus segredos, e você sabe disso. Por que não olhar para a verdade ao invés de se prender à ilusão de que ele era perfeito?

Melissa sentiu a raiva ferver dentro dela. Afonso havia cometido erros, sim, mas isso não justificava a crueldade de Cloé.

— Ele não era perfeito, mas você não sabe nada sobre o que realmente aconteceu. Por que você se importa tanto com isso? O que você realmente quer?

Cloé deu uma risada baixa, uma mistura de escárnio e divertimento.

— O que eu quero? Eu quero ver você se afundar nessa dor. Porque, no fundo, você sabe que ele nunca deveria ter escolhido você. Sempre fui eu quem ele queria, e você é apenas uma sombra do que poderia ter sido.

Melissa sentiu uma onda de raiva e tristeza, mas decidiu usar isso a seu favor. Ela não iria deixar Cloé a desviar do caminho. Precisava de respostas, não de provocações.

— Se você sabe tanto, então me diga: como você se envolveu com a doença da minha mãe? O que você sabe sobre os exames que estavam no envelope?

O sorriso de Cloé se desfez, e seus olhos brilharam de uma maneira que fez o estômago de Melissa revirar.

— Eu sei muito mais do que você imagina. Afonso tinha seus métodos... e algumas pessoas estavam dispostas a ajudar — disse Cloé, com uma voz que era um sussurro de malícia. — O que você vai fazer agora? Chorar? Ou vai lutar por algo que já está perdido?

Melissa percebeu que a conversa estava se intensificando, e, embora estivesse em uma batalha emocional, não podia se deixar levar pelas provocações.

— Não sou a única que vai lutar. Se você estiver envolvida nisso, não vou descansar até que a verdade venha à tona. Você pode achar que está ganhando, mas eu vou proteger minha família. E a memória de Afonso.

Cloé sorriu, mas agora havia algo mais na expressão dela — uma dúvida, talvez. Melissa percebeu que havia uma oportunidade ali, uma fraqueza que poderia explorar.

— Você não pode fazer isso sozinha, Melissa. Não sabe com quem está lidando. Afonso pode estar morto, mas a verdade não. E eu estarei sempre por perto, observando cada movimento seu.

Melissa respirou fundo, percebendo que aquele confronto era apenas o começo. Ela não estava apenas lutando contra Cloé; estava lutando por sua família, por suas crianças, e por Afonso.

— Se você quer uma guerra, então pode ter certeza de que não vou recuar. Vou descobrir a verdade, e você não vai conseguir me parar.

Antes que Melissa pudesse se afastar, Cloé a interrompeu, seu tom agora mais sério, quase conspiratório.

— Ok! Não importa mais nada agora que Afonso está morto, mas a verdade por trás das cartas é que eu descobri que alguém falsificou os exames da sua mãe para que ela parecesse doente — disse Cloé, sua voz baixa e carregada de significado. — Quando descobri, contei tudo a ele, mas ele já parecia saber disso. Fiquei surpresa com a resposta dele, foi aí que tive a certeza de que foi ele quem estava por trás dessa falsificação.

As palavras de Cloé atingiram Melissa como um soco no estômago. Falsificação? Como Afonso poderia estar envolvido em algo tão nefasto? O que ele tinha a ganhar com isso? A confusão e a dor misturavam-se em sua mente, enquanto tentava processar a revelação.

— Você está mentindo! — gritou Melissa, a indignação transbordando. — Ele nunca faria algo assim!

Cloé arqueou uma sobrancelha, como se estivesse esperando essa reação.

— Sabe, é fácil acreditar nas coisas que queremos. Mas a verdade é que ele tinha segredos. E agora, você precisa decidir se vai continuar na sua bolha de negação ou se vai encarar a realidade — disse Cloé, com um sorriso cínico nos lábios. — Afinal, a sua vida inteira foi construída sobre mentiras.

Melissa sentiu a raiva e a tristeza borbulhando dentro dela, mas uma parte dela sabia que precisava ouvir Cloé. Se havia alguma verdade nas palavras dela, precisaria descobrir antes que fosse tarde demais.

— Por que você está me dizendo isso? O que você ganha com isso? — perguntou Melissa, tentando manter a calma.

Cloé deu de ombros, parecendo desinteressada, mas havia um brilho em seus olhos que denunciava um prazer sombrio.

— Eu só quero ver você se destruindo. A verdade pode ser dolorosa, mas é necessária. E, convenhamos, seu sofrimento é uma visão maravilhosa.

Melissa fechou os punhos, tentando conter a fúria. Sabia que não poderia se deixar levar pelas provocações.

— Se isso for verdade, vou descobrir quem está por trás disso. Não vou permitir que a memória de Afonso seja manchada por mentiras.

Cloé sorriu, um sorriso que misturava desdém e satisfação.

— Boa sorte, Melissa. Você vai precisar. Porque, no fundo, ninguém é quem parece ser, e você pode não gostar do que vai encontrar.

Com isso, Melissa saiu do escritório, o coração acelerado e a mente em tumulto. As palavras de Cloé a seguiram como uma sombra, e, por um momento, sentiu-se perdida em um labirinto de incertezas. Afonso não era apenas o amor de sua vida; ele também era um homem com segredos, e agora tudo parecia estar desmoronando ao seu redor.

Enquanto dirigia para casa, as dúvidas a assaltavam. O que mais Afonso poderia ter escondido? Quem realmente estava por trás da falsificação dos exames? E o que isso significava para a saúde de sua mãe?

A dor de quase perder sua mãe por causa de um diagnóstico incorreto foi um dos períodos mais sombrios da vida de Melissa. O câncer que havia sido considerado terminal acabou sendo um erro médico, e a revelação de que sua mãe estava bem trouxe um alívio que, àquela altura, já parecia distante. Meses antes, Afonso se tornara um elemento inesperado em sua vida — um sequestrador que, de alguma forma, se transformara em seu marido.

A proposta de casamento dele fora feita sob circunstâncias estranhas e angustiantes. No início, Melissa se lembrava de ter rejeitado com veemência a ideia de se casar com alguém que a havia sequestrado. Mas, quando a saúde de sua mãe estava em jogo, o desespero tomou conta dela. Afonso parecia o único que poderia salvá-la, e sua oferta de pagar os exames e tratamentos parecia uma tábua de salvação. Naquele momento, o casamento se tornou uma negociação, uma troca de segurança por amor que, na verdade, nunca havia existido.

“Como eu fui idiota e acreditei nisso?” A reflexão assombrava Melissa agora, mais do que nunca. Afonso armara tudo para que ela se casasse com ele. Ele tinha controlado cada passo, manipulando situações para que não houvesse outra saída. O que parecia um ato de amor tornara-se uma armadilha emocional.

Ao olhar para o rosto tranquilo de sua mãe, que agora estava saudável e feliz, Melissa sentiu um misto de gratidão e ressentimento. Como ela poderia ter colocado sua vida nas mãos de um homem que, embora houvesse trazido segurança, também era a fonte de sua angústia? O casamento, em vez de ser uma união de amor, era um contrato forçado por circunstâncias adversas.

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