Sinto como se eu fosse adolescente outra vez, o que é extramente desconfortável. Passei o dia inteiro distraído, pensando em Bella, pensando naquela boca, naquelas pernas… Pensando no quanto ela estava manipulável na minha mão e nem percebeu. Eu poderia muito bem tê-la comido no café da manhã.
Porra. Eu queria muito comer ela e disso ela sabe. Afinal não deu pra esconder minha ereção. E é exatamente por isso que eu me controlei, tive que resolver outra vez no banheiro, dessa vez no chuveiro. O problema é que não foi o suficiente, e quanto mais perto do horário de encontrá-la, mais ansioso fico.
Meu corpo inteiro começa a formigar de expectativa. Quando
Cheguei a conclusão que esse relacionamento está indo rápido demais, o que pode deixar evidente que é falso. Sei que Dante está tentando marcar território, justificar o noivado que acontecerá no próximo final de semana, ainda assim…Em contrapartida, se não fosse falso, tenho a sensação de que aconteceria na mesma velocidade.Não vou mentir que passei noites sonhando em como seria voltar para Dante, imaginando se ele me aceitaria de volta, se poderíamos ser o que erámos. No fundo eu sabia que minha decisão de terminar com ele não tinha sido nada racional, mas eu era orgulhosa demais para voltar atrás.E claro, tinha meu pai que no primeiro ano só sabia xingar e praguejar. Eu odia
Talvez eu tenha me empolgado um pouco, espero que Bella ainda esteja ocupada provando roupas, assim não vai poder reclamar da minha demora.Quando entro de volta na loja, reconheço imediatamente a loira falando com ela. Desacelero a caminhada só para assistir Bella resolvendo isso sozinha, ela sempre foi boa em manter as ameaças distantes e com certeza depois do Solaris Fest ela deve estar ansiosa para mandar Flávia pro quinto dos infernos…Exceto que Bella parece encolhida nela mesma.Algo está errado.Em passos largos, a alcanço e enlaço sua cintura.— Ah, olha só, falando no diabo…— Voc&ec
Quando a porta abre e uma lufada de ar adocicado nos atinge com a música alta, me dou conta de quanto senti falta disso.Os lugares que tentei ir nos últimos cinco anos não tinham essa energia, talvez por isso também não insisti muito. Embora o universo tenha dado um jeito de me enviar em uma última tentativa esperançosa, foi quando encontrei Dante.Mas aqui, na The Verve, sinto uma sincronia que não tem em outros lugares, talvez seja o público, ou a música, eu não saberia dizer. Mas amo estar aqui.Dante entrelaça nossos dedos e me guia até o bar, ele não precisa do cardápio para saber o que pedir para nós dois e odeio como me sinto tão confortável com sua atitude.
Voltei a dormir na sala, por garantia. Não acho que Bella se lembre de tudo o que ela me disse no dia em que saímos para dançar.As confissões secretas que eu não deveria contar para ninguém. Eu sabia que não era certo deixá-la falar naquele estado, dava para ver que ela nem estava se dando conta do que estava fazendo.Ela confessou que se masturbou pensando em mim. Eu deveria ter ficado quieto, mas ao invés disso, perguntei onde ela estava quando se tocou.Por que eu fiz isso? Para me torturar, aparentemente.“Na sua cama, com a sua coberta e o seu cheiro. Você é tão cheiroso, eu sinto falta disso.”Eu sei que eu devia só ter fingido que não ouvi, poderia ter mudado de assunto, feito qualquer coisa.
Meu Deus, o que acabou de acontecer?Dante ainda está sustentando seu sorriso convencido enquanto seu braço firme em minha cintura sustenta meu corpo.Não consegui nem fingir dessa vez, saí cambaleando do quarto, como se estivesse bêbada. Pelo menos ele teve a decência de não falar nada. Só me envolveu com carinho e me ajudou a chegar no hall do apartamento para recepcionar nosso primeiro convidado.Há funcionários ao nosso redor e preciso me lembrar de parecer confortável com toda essa mentira.Mas agora mesmo não tinha ninguém no quarto, ainda é uma mentira quando estamos só nós dois?Respiro fundo, tentando me acal
O cheiro de café requentado se mistura ao som do telefone tocando insistentemente no balcão de metal, as vozes falam todas ao mesmo tempo, formam um zunido constante e desconfortável, como se fosse um enxame de insetos.Meu celular vibra no bolso da calça, mas respiro fundo e ignoro tudo enquanto equilibro uma bandeja cheia de xícaras e pratos sujos.O café onde trabalho está lotado nesse fim de tarde e meu chefe, Olavo, um homem baixinho e rabugento, já está bufando impaciente atrás do balcão.— Isabella, se demorar mais um segundo, os clientes vão ter que comer os guardanapos! — resmunga, deslizando outro pedido na minha direção.Respiro fundo, conto mentalmente até três e forço um sorriso simpático.— Eles sabem que sua comida vale a pena esperar, chefe.Ele quase sorri com orgulho, mas deve ter algum código de conduta pessoal que o impeça de ser querido pelos funcionários, o mais perto que consigo de sua simpatia é ser ignorada. O que pode significar que não estou fazendo nada err
Odeio pensar que talvez Enzo esteja certo: estou ficando velho. Minhas ressacas estão se tornando cada vez mais insuportáveis.Aperto os olhos puxando as memórias da noite passada, mas tudo se embaralha. O despertador toca, mas o que me desperta é a mão quente e macia no meu peito.Espio para confirmar que trouxe duas mulheres para casa, e elas sorriem entre si, depois para mim, rastejando pela cama, cada uma cobrindo uma lateral do meu corpo. Tento alcançar o celular para desativar o toque irritante do alarme. Só quando meu dedo tateia a tela onde deveria estar o botão é que percebo que, na verdade, estou recebendo uma chamada.Alberto Vasconcellos só me liga para duas coisas: desejar parabéns e arrancar meu couro. Digamos que hoje não é meu aniversário…Dispenso as meninas, contornando a situação para não ter que citar o nome de nenhuma das duas, já que não lembro quais são. Bebo um litro inteiro de água e lavo o rosto na água fria da pia do banheiro.Abro as redes sociais e mergulh
Entro no apartamento sem me dar o trabalho de acender as luzes. A luz da TV na pequena sala de estar ilumina o rosto pálido e ossudo de meu pai. Seu olhar está fixo na tela, mas não de um jeito concentrado, só de um jeito… vazio.— Oi, pai. — Tento forçar uma simpatia na voz, uma falsa felicidade por estar de volta nesse muquifo apertado e mofado.Como se fosse uma recompensa chegar em casa e encontrar meu pai, que nem levantou do sofá o dia inteiro, porque é como se já fossem uma coisa só, fundidas num ranço de depressão e descaso.Sinto a culpa me consumir quando penso nisso e me repreendo mentalmente.— Você comeu alguma coisa? — pergunto, tirando os sapatos perto da porta e largando as sacolas do mercado em cima do pequeno balcão da cozinha.Nada.Solto um suspiro cansado, aprendi a me acostumar com seu silêncio. Quase não me lembro mais do homem forte que ele costumava ser, um líder nato. O que me sobrou foi um homem pálido, apático, uma versão desgastada do homem que eu admirava