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Capítulo 2 - Dante Vasconcellos

Odeio pensar que talvez Enzo esteja certo: estou ficando velho. Minhas ressacas estão se tornando cada vez mais insuportáveis.

Aperto os olhos puxando as memórias da noite passada, mas tudo se embaralha. O despertador toca, mas o que me desperta é a mão quente e macia no meu peito.

Espio para confirmar que trouxe duas mulheres para casa, e elas sorriem entre si, depois para mim, rastejando pela cama, cada uma cobrindo uma lateral do meu corpo. Tento alcançar o celular para desativar o toque irritante do alarme. Só quando meu dedo tateia a tela onde deveria estar o botão é que percebo que, na verdade, estou recebendo uma chamada.

Alberto Vasconcellos só me liga para duas coisas: desejar parabéns e arrancar meu couro. Digamos que hoje não é meu aniversário…

Dispenso as meninas, contornando a situação para não ter que citar o nome de nenhuma das duas, já que não lembro quais são. Bebo um litro inteiro de água e lavo o rosto na água fria da pia do banheiro.

Abro as redes sociais e mergulho nas centenas de notificações, todas de marcações do meu perfil em manchetes sensacionalistas.

“Dante Vasconcellos, o insaciável.”

Sorrio, me sentindo lisonjeado, mas o sentimento dura pouco.

“O playboy milionário ataca novamente!” “O playboy irresponsável.” “O herdeiro mimado.”

Nada disso tem graça. Não cometi nenhum crime hediondo para ganhar tanta repercussão assim. Tudo o que fiz foi típico de uma quarta-feira qualquer. Uma passadinha num clube exclusivo para encontrar os caras. Tá que bebi um pouco demais, e poderia ter usado as portas dos fundos quando sai com as meninas, mas não me parece nada muito grave.

As fotos, como sempre, parecem até saídas de um filme de Hollywood. Minha camisa aberta, o cabelo despenteado, o rosto vermelho, anestesiado pelo álcool, um peito na minha boca, opa. Talvez as coisas tenham saído um pouquinho do controle dessa vez.

Contrariando os conselhos do meu assistente, olho os comentários. Se eu balançar o celular, caem pelo menos 50 insultos, mas alguns também mostram certa idolatria. Qualquer cara que se preze quer ser como eu.

Jogo o celular longe na cama e puxo a coberta até cobrir o rosto. Seria ótimo se eu pudesse só dormir o dia inteiro, mas, prevendo minha irresponsabilidade, a campainha toca.

É cedo para visitas, o que costuma significar uma coisa, uma coisa muito ruim. Visto qualquer roupa que encontro no caminho, só para estar fora do quarto antes que a empregada abra a porta, mas Alberto, meu avô, já ocupa boa parte do hall de entrada, embalado em um terno impecável.

— Vou te dar uma carona, você tem dez minutos para ficar pronto — dispara, cruzando a sala com sua postura imponente.

É inútil discutir, por isso obedeço. O caminho até a sede da empresa é desconfortável, acho que ele faz de propósito, só para mexer com meus nervos.

Meu avô não me deixa nem entrar no seu escritório assim que chegamos. Sento no sofá elegante, sacudindo a perna para dissipar a ansiedade e o tédio.

A secretária finalmente me chama avisando que meu avô está pronto para me receber. Quando atravesso a porta dupla do escritório elegante, seu advogado já está sentado num canto, com uma pasta no colo.

Ninguém fala nada por longos segundos. Meu avô sempre teve essa presença marcante, quase como um rei. Sempre dominou os ambientes com seus cabelos grisalhos perfeitamente penteados, o terno de grife sem nem um fiapo fora do lugar e olhos frios.

— Preciso que você me explique essa palhaçada.

O jornal é atirado sobre a mesa e não preciso nem olhar para saber o que diz. Mas me estico mesmo assim para alcançá-lo e sento, desejando ter mais uma caneca de café amargo para me ajudar a engolir esse dia.

— Desde quando você lê tabloides, vovô? — provoco mais por não saber que outra coisa posso dizer. As fotos e notícias mostram tudo e deixam bem pouca margem para explicação.

— Desde que nosso sobrenome passou a estampá-los.

— Não foi nada de mais, um escândalo daqueles que passa rápido. Logo esquecem.

Alberto estreita os olhos para mim e imediatamente sei que ele está enxergando tudo em vermelho.

— Antes de esquecer, os investidores ameaçam retirar aportes, nossos acionistas questionam sua capacidade de assumir o império Vasconcellos e eu sou obrigado a limpar a bagunça que você faz.

Encaro meu avô e tomo cuidado com as próximas palavras.

— Da última vez que chequei, você ainda estava no comando de tudo. Por que essa preocupação comigo agora?

— Porque você é o herdeiro e, querendo ou não, um dia essa empresa será sua. Sua reputação está arrastando nosso nome para a lama, já não basta o que seu pai fez?

— As pessoas não deveriam se importar com fofocas — coloco o jornal de volta na mesa.

— Isso não é sobre fofocas, Dante. É sobre negócios. O conselho já não confia em você. E sinceramente? Nem eu. — Ele pega o jornal e o abre na página certa, como se já tivesse decorado o número. — Ninguém quer investir em uma empresa cujo futuro presidente parece mais um ator de reality show decadente do que um líder corporativo.

Ele se endireita, ajeitando os punhos do terno e lança um olhar de soslaio para o advogado antes de continuar:

— Vamos direto ao ponto, tenho coisas mais importantes a tratar. Você precisa entender que faço isso para o seu bem. Se você continuar sendo irresponsável assim, vou fazer o que deveria ter feito há anos, o mesmo que fiz com seu pai. — Ele olha no fundo dos olhos, talvez para garantir que estou prestando atenção. Sei o que ele vai falar a seguir, mas as palavras me provocam calafrios mesmo assim. — Vou tirar você da linha de sucessão.

— Você não pode fazer isso — tento argumentar. — Sou o último, o que vai ser da empresa se não tiver ninguém para herdá-la?

Parece que ele estava esperando justamente por essa reação, porque dá um sorriso muito sutil e dispara um olhar orgulhoso para o advogado, que se levanta imediatamente e me entrega a pasta.

— Você tem duas opções. Pode continuar vivendo essa vida vazia, mas sem nenhum centavo do meu esforço. Sem herança, sem fortuna, sem nada.

Ele quase cospe cada palavra, fazendo questão de despejá-las com ácido só para que eu tenha mais trabalho ao digeri-las.

— Ou? — pergunto, controlando a voz.

Agora, o sorriso de Alberto se expande de um jeito assustador, menos como um avô cuidadoso e mais como um tubarão.

— Ou você pode aprender a manter uma imagem respeitável e começar a se comportar como o homem que eu espero que você seja.

As palmas de minhas mãos suam contra o couro da pasta, que subitamente parece mais pesada em meu colo. Como se todo o meu futuro estivesse contido ali, naquelas poucas gramas de papel. E acho que está.

Acho que agora começo a entender o que aconteceu entre ele e meu pai, é difícil aguentar esse atrito sem acabar perdendo aquilo que nos faz nós mesmos. Meu avô é a onda implacável que arrebenta consecutivamente, enquanto somos a rocha que eventualmente cede. E muitas vezes cedemos sem perceber. Cedemos quando já é tarde demais para ser qualquer outra coisa que não seja um grão de areia no seu império.

— O que tem aqui? — pergunto, assustado demais para descobrir por conta própria.

— Um plano de ação para limpar sua imagem na mídia. Abra e vamos discutir isso juntos.

Não quero abrir, mas não se contraria nenhuma ordem de Alberto Vasconcellos, então cuidadosamente tiro os papéis de dentro da pasta e sinto meu mundo desmoronar ao meu redor.

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