Início / Romance / Casamento por contrato com meu ex / Capítulo 4 - Dante Vasconcellos
Capítulo 4 - Dante Vasconcellos

— Como requisito indispensável à manutenção da condição de herdeiro legítimo blablablá o beneficiário deverá contrair matrimônio com e manter o vínculo conjugal pelo período mínimo de doze meses a contar da data da celebração da união civil.

— Eu sei, eu já li — murmurei, afundando no sofá de couro.

— Não terminei — meu melhor amigo, Enzo, ralha. — Durante a vigência do matrimônio, o beneficiário deverá preservar a integridade e a reputação pública do nome Vasconcellos, abstendo-se de condutas que possam comprometer a imagem da família ou da empresa, direta ou indiretamente.

— Traduzindo: um marido não vai pra balada, não traí, não bebe, não trepa…

— Trepa com a esposa pelo menos.

— Que esposa? Você acha mesmo que eu vou conseguir seguir qualquer coisa que esteja aí? — Minha voz sai mais aguda do que eu gostaria.

Passei o dia inteiro pensando nisso. Ou mais especificamente, pensando em como me livrar disso.

— Seria mesmo tão ruim eu recusar? Eu ainda teria as coisas que estão no meu nome, poderia começar meu próprio negócio, dinheiro para investir eu tenho.

— E você acha mesmo que seu avô ia deixar você entrar no mercado usando o sobrenome dele? Se liga, Dante, ele deserdou seu pai por muito menos. Vai te enterrar vivo se você der bobeira.

— E de que adianta ter dinheiro e não poder usufruir? Eu caso e faço o quê? Saio do escritório para casa e de casa para o escritório. As festas vão se resumir a coquetéis insuportáveis com aquele bando de velho puxa saco. Isso é vida?

— Pra alguns é, mas entendo o seu ponto. Só que você tá olhando isso pela perspectiva errada — Enzo diz, soando muito animado para o meu gosto. — Um ano, você precisa garantir isso por um ano e depois tá livre, pode até se divorciar.

— Um ano inteiro, Enzo! — me exaspero. — Trezentos e sessenta e cinco dias. Isso é muito tempo.

— Perto do resto da sua vida? Um ano não é nada! Eu entendo seu desespero, mas acho que é um preço justo a se pagar — ele argumenta com uma calma e tranquilidade totalmente incompatíveis com essa situação.

— Justo? Você conseguiria cumprir esse acordo?

O jovem advogado prodígio e meu eterno conselheiro nas decisões idiotas dá um gole na cerveja e ri.

— Claro que cumpriria, desde que eu não fosse pego… — Ele dá um sorriso malicioso e convencido.

— O que você quer dizer? — pergunto, já irritado.

— Você poderia fazer um casamento por contrato.

— Que tipo de ideia é essa? Tá maluco? Se meu avô descobre uma coisa dessas, ele não vai tirar só o que eu não tenho ainda, como tudo o que eu tenho também.

— Por isso eu disse… não pode ser pego.

Enzo passa a mão pelos cabelos lisos, penteando-os para trás. Tem uma confiança que é só dele. Eu também seria assim se não estivesse com a corda enrolada no meu pescoço e meu avô ameaçando chutar o banco onde estou apoiado.

— Você diz como se fosse fácil…

— Não pode ser tão difícil assim, pessoas desesperadas fazem todo o tipo de coisa. E veja só que sorte — ele abre os braços indicando a sala opulenta onde estamos — você tem tudo o que todas as pessoas querem.

— Uma mesa de bilhar exclusiva, feita sob medida com acabamento em ouro e forro de veludo italiano? — pergunto fazendo graça. Enzo estreita os olhos para mim — Que foi? Não é só um jogo, é uma peça de arte funcional!

— Sim claro, isso e dinheiro, poder, status… — Enzo me corrige. — Faça seu próprio contrato e encontre uma mulher disposta a fingir ser sua esposa por um ano. 

Bufo indignado, mas não tão hesitante quanto deveria estar. Cogito se isso funcionaria de alguma maneira.

— Não sei nem onde encontrar uma mulher disposta a essa loucura. E também não sei como convencer meu avô de que não é armado.

— Um passo de cada vez. Primeiro, aceite a proposta e garanta que você está disposto a cumprir com os termos dele. Vou fazer uma pesquisa e encontrar candidatas.

— Uma pesquisa? Que tipo de pesquisa? — pergunto, preocupado.

— Não se preocupe, vou escolher só as melhores pra você.

Dou um longo gole na cerveja pensando na possibilidade. Não de Enzo fazer uma lista com mulheres dispostas a casar de mentira, isso sei que ele é mais do que capaz, mas penso no que faria se uma delas aceitasse.

Eu poderia mesmo manter essa farsa?

Não posso ignorar que um casamento de conveniência resolveria, sim, meus problemas com meu avô, mas seria prático? Por que tenho a impressão de que isso me traria ainda mais problemas a longo prazo? Ficar com uma mulher só por um ano inteiro… As aparições públicas vão ter que ser… convincentes. Não sei, isso certamente gera complicações emocionais.

Faz muito tempo desde a última vez que senti qualquer coisa além de tesão por alguém e as coisas não acabaram bem. Nunca entendi onde foi que errei e nunca me foi dada a oportunidade de descobrir. Acho que isso me convenceu de que eu não teria a paciência necessária para manter um relacionamento a longo prazo.

A ideia me apavora, não vou mentir. É uma quebra violenta na minha rotina, no meu estilo de vida. Mas Enzo está certo e isso geralmente é um mau sinal. Colocando em perspectiva, um ano realmente não é tanto assim.

Meu avô mesmo disse, ele não vai ficar aqui para sempre, um dia eu serei dono de tudo e poderei determinar o que deve ou não deve ser. Serei a autoridade máxima, independente de ser ou não casado, só preciso ser esperto o suficiente para chegar nesse ponto e talvez precise sacrificar um ano da minha vida jogando o jogo dele para finalmente ser aquele quem distribui as cartas.

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App