Capítulo 5 - Isabella Mendes

“A Imperial Catering Services, empresa referência em eventos de alto padrão, está em busca de garçonetes profissionais para atuar em um coquetel exclusivo no prestigiado Lee Palace Hotel.”

As palavras ainda se embaralhavam na minha memória.

Isso era ruim. Péssimo. Catastrófico. Eu conhecia a Imperial Catering Services e conhecia o Lee Palace Hotel. Já havia contratado um e participado de coquetéis no outro, mas parece que foi em outra vida.

Porque foi. 

Eu era outra Isabella naquele tempo, é isso que alguns zeros do lado certo da vírgula fazem por você. 

O Lee Palace Hotel brilha como um castelo moderno sob a iluminação dourada da fachada. Suas enormes portas de vidro refletem a sofisticação dos convidados que entram, vestindo roupas que custam bem mais do que eu consigo ganhar em um ano inteiro.

Respiro fundo antes de cruzar a entrada lateral destinada aos funcionários, o estômago dando piruetas de ansiedade. Eu já me sinto humilhada antes mesmo de começar o serviço.

A sala de funcionários pulsa com garçons e garçonetes se ajeitando, ajustando gravatas e aventais ou prendendo os cabelos.

Coloco minha bolsa no armário etiquetado com o tamanho das peças de roupa, onde o resto do meu uniforme está disposto.

Espero na fila improvisada diante do espelho rachado num canto, então visto o colete, amarro o avental na cintura e encaro a gravata que ainda nem está em meu pescoço e já me tira o ar.

— Precisa de ajuda? — uma mulher oferece com um sorriso gentil. Ela tem os cabelos curtos e a expressão cansada de quem já fez isso vezes demais.

Acabo aceitando, porque meus dedos estão trêmulos e ela percebe.

— Primeira vez? — Pergunta enquanto me puxa para o lado, liberando o espelho para outros funcionários.

— Mais ou menos — respondo com a voz rouca.

— Eu sou a Clara, se precisar de ajuda é só me chamar, mas não precisa se preocupar muito, o segredo é tentar se manter invisível. Quanto menos os convidados notarem a gente, melhor.

Assinto, como se fosse fácil fingir que nenhuma dessas pessoas já me viu antes mesmo de eu estar aqui, não nessa noite, mas nessa posição.

Pouco depois, nos organizamos em filha, recebendo ordens do supervisor.

— Quero bandejas sempre cheias, nada de conversinhas desnecessárias com os convidados, e pelo amor de Deus, sem derrubar nada. — Ele lançou um olhar severo a todos antes de bater palmas para nos enxotar — Movam-se!

Respiro fundo, tentando encarar a realidade, ou talvez entrar num personagem. Preciso ser alguém que não teme o passado, que se orgulha de ainda estar de pé.

Pego uma bandeja com taças de champanhe francês e sigo os outros para o salão.

Assim que cruzo as portas douradas, é como ser transportada para outra realidade, até o cheiro aqui tem uma elegância singular. Por um instante, é como ter um vislumbre do passado. Até que o toque metálico da bandeja em minha mão e o peso dela me despertem.

Tento traçar rotas evitando as pessoas conhecidas, o coração batendo acelerado, a fé toda depositada na ideia de que, se ninguém me reconhecer, a noite vai passar mais rápido.

A vantagem é que ser invisível nesse meio não é tão difícil quanto parece. Por isso, congelo quando estou a caminho da área de serviço, a bandeja vazia debaixo do braço, e uma voz feminina me chama.

Viro devagar e encontro uma das antigas amigas de minha mãe. A mulher franze a testa, segurando uma taça vazia, me analisando de cima a baixo.

— Meu Deus, é você mesmo. O que está fazendo aqui? Cadê sua mãe?

Inspiro fundo, subitamente tomada pelo pânico de que minha mãe pudesse ter sido convidada para esse evento. Forço um sorriso antes de responder:

— Boa noite, senhora. Faz anos que não vejo minha mãe, posso levar isso para você? — pergunto apontando para a taça.

Ela hesita e recusa, quase abraçando o objeto delicado, com um olhar consternado.

— Você está trabalhando aqui? Ouvi dizer que sua mãe se casou de novo…

— É verdade.

— E não te levou junto? Pobrezinha… 

Engulo em seco, tentando não pensar muito nisso. A postura da mulher muda drasticamente.

— Por que não estou surpresa? É bem algo que ela faria — ela desdenha. — Mas seu pai não merecia…

— Desculpe, eu realmente preciso voltar para lá — interrompo, apontando por cima do ombro.

— Claro, claro. Vamos marcar um café, se tiver algo que eu possa fazer para te ajudar…

— Obrigada — interrompo outra vez, praticamente correndo para longe.

Não foi um encontro agradável, mas definitivamente poderia ter sido pior. De qualquer forma, ainda preciso me recompor. Quando viro no corredor, esbarro em algo sólido e quente.

Mãos firmes me seguram no lugar, me impedindo de cair. Por reflexo, me afasto e abaixo a cabeça, o olhar fixo nos sapatos lustrados que protegem pés enormes.

— Nossa, desculpa, estou procurando o banheiro. Será que você pode me ajudar?

Tento não pensar em como o toque ainda é familiar ou como já ouvi essa voz antes. Rezando para algum milagre me salvar, para que o chão se abra bem abaixo dos meus pés e o concreto me engula.

— Você está bem? — ele pergunta preocupado. A mão tocando gentilmente meu antebraço. — Se machucou?

Considero sair correndo, mas isso poderia implicar diretamente no meu trabalho e na avaliação do serviço. Preciso do dinheiro. Preciso tanto que me vejo obrigada a erguer os olhos e encarar aquele homem, como se isso não fizesse meu coração parar e acelerar em seguida.

Ele lança aquele sorriso automático, aquele que ele usa com todas as mulheres, mas dura só o tempo de me reconhecer. Então, o tempo parece se arrastar.

Dante Vasconcellos franze a testa, confuso.

— Bella? O que você tá fazendo aqui?

A forma como ele diz isso faz algo dentro de mim ferver de ódio. De todas as coisas que poderiam dar errado, encontrar meu ex-namorado é definitivamente o pior dos cenários.

Sigue leyendo en Buenovela
Escanea el código para descargar la APP

Capítulos relacionados

Escanea el código para leer en la APP