Talvez eu tenha me empolgado um pouco, espero que Bella ainda esteja ocupada provando roupas, assim não vai poder reclamar da minha demora.
Quando entro de volta na loja, reconheço imediatamente a loira falando com ela. Desacelero a caminhada só para assistir Bella resolvendo isso sozinha, ela sempre foi boa em manter as ameaças distantes e com certeza depois do Solaris Fest ela deve estar ansiosa para mandar Flávia pro quinto dos infernos…
Exceto que Bella parece encolhida nela mesma.
Algo está errado.
Em passos largos, a alcanço e enlaço sua cintura.
— Ah, olha só, falando no diabo…
— Voc&ec
Quando a porta abre e uma lufada de ar adocicado nos atinge com a música alta, me dou conta de quanto senti falta disso.Os lugares que tentei ir nos últimos cinco anos não tinham essa energia, talvez por isso também não insisti muito. Embora o universo tenha dado um jeito de me enviar em uma última tentativa esperançosa, foi quando encontrei Dante.Mas aqui, na The Verve, sinto uma sincronia que não tem em outros lugares, talvez seja o público, ou a música, eu não saberia dizer. Mas amo estar aqui.Dante entrelaça nossos dedos e me guia até o bar, ele não precisa do cardápio para saber o que pedir para nós dois e odeio como me sinto tão confortável com sua atitude.
Voltei a dormir na sala, por garantia. Não acho que Bella se lembre de tudo o que ela me disse no dia em que saímos para dançar.As confissões secretas que eu não deveria contar para ninguém. Eu sabia que não era certo deixá-la falar naquele estado, dava para ver que ela nem estava se dando conta do que estava fazendo.Ela confessou que se masturbou pensando em mim. Eu deveria ter ficado quieto, mas ao invés disso, perguntei onde ela estava quando se tocou.Por que eu fiz isso? Para me torturar, aparentemente.“Na sua cama, com a sua coberta e o seu cheiro. Você é tão cheiroso, eu sinto falta disso.”Eu sei que eu devia só ter fingido que não ouvi, poderia ter mudado de assunto, feito qualquer coisa.
Meu Deus, o que acabou de acontecer?Dante ainda está sustentando seu sorriso convencido enquanto seu braço firme em minha cintura sustenta meu corpo.Não consegui nem fingir dessa vez, saí cambaleando do quarto, como se estivesse bêbada. Pelo menos ele teve a decência de não falar nada. Só me envolveu com carinho e me ajudou a chegar no hall do apartamento para recepcionar nosso primeiro convidado.Há funcionários ao nosso redor e preciso me lembrar de parecer confortável com toda essa mentira.Mas agora mesmo não tinha ninguém no quarto, ainda é uma mentira quando estamos só nós dois?Respiro fundo, tentando me acal
— É, não tem como essa noite ficar pior — meu pai murmura. — Está feliz, Alberto? Seu filho finalmente concorda com você em alguma coisa.— Você fala como se não tivesse cometido o mesmo erro — meu avô devolve a provocação.Franzo as sobrancelhas e meu pai tenta dispensar minha curiosidade gesticulando com as mãos.Enzo serve 4 doses de whisky e recebo seu pedido de desculpas silencioso. É o whisky que guardo no escritório para ocasiões muito especiais. Essa não é uma ocasião especial, mas algo forte é bem-vindo.— Não minta para mim, Dante. Se eu vasculhar seus bolsos ago
Daniela serve duas taças de vinho como se não se importasse de colocar ela mesma a mão na massa. Na verdade, pensando bem, acho que nunca se importou, eu que nunca tinha reparado.A vida era bem diferente e minha atenção estava sempre em outras coisas, na maior parte do tempo estava em seu filho, essa é a verdade. Mas eu também percebia o mundo de outra maneira, sem tanta consciência de classe, talvez.— Sei que você já sabe disso, mas sinto a necessidade de avisar… — ela diz, me entregando uma das taças. — Não vai ser fácil.— Eu sei… — murmuro desanimada.Tomo fôlego para dizer mais alguma coisa, tomada pela ânsia de desabafar
Fico dividido entre querer matar Enzo ou ser eternamente grato. Acho que se ninguém intervisse, eu acabaria fazendo merda.Isabella fraca daquele jeito nos meus braços, era exatamente como eu me lembrava, o jeito entregue com que ela cedia quando eu tocava o ponto certo. E dessa vez eu nem tinha tocado nela.Quer dizer, tinha, mas não do jeito que eu gostaria.E, por Deus, como quero tocá-la.Mas passamos o jantar inteiro tentando ser sociáveis e contidos. Por mais que Bella ainda não consiga desapegar completamente do rancor e do ciúme, quando nossos olhares se cruzam, ela parece esquecer os motivos pelos quais está irritada comigo.É assim que sobrevivemos ao ja
Suas mãos envolvem meu corpo, parecem estar em todos os lugares. É tão irritantemente familiar, como se elas nunca tivessem me deixado, como se por uma fração de segundos estivéssemos continuando de onde paramos.Ou melhor, como se isso que a gente tem, esse calor que nos torna uma coisa só, essa sincronia como se fosse uma dança antiga, uma coreografia do universo… é como se isso nunca tivesse acabado.Deixo meus dedos se embrenharem em seu cabelo, os cachos largos e macios fugindo revoltos por entre meus dedos. A aliança pesando uma tonelada.O frio no meu estômago começa a se alastrar pelos ossos, alcançando as extremidades e me dei
O cheiro de café requentado se mistura ao som do telefone tocando insistentemente no balcão de metal, as vozes falam todas ao mesmo tempo, formam um zunido constante e desconfortável, como se fosse um enxame de insetos.Meu celular vibra no bolso da calça, mas respiro fundo e ignoro tudo enquanto equilibro uma bandeja cheia de xícaras e pratos sujos.O café onde trabalho está lotado nesse fim de tarde e meu chefe, Olavo, um homem baixinho e rabugento, já está bufando impaciente atrás do balcão.— Isabella, se demorar mais um segundo, os clientes vão ter que comer os guardanapos! — resmunga, deslizando outro pedido na minha direção.Respiro fundo, conto mentalmente até três e forço um sorriso simpático.— Eles sabem que sua comida vale a pena esperar, chefe.Ele quase sorri com orgulho, mas deve ter algum código de conduta pessoal que o impeça de ser querido pelos funcionários, o mais perto que consigo de sua simpatia é ser ignorada. O que pode significar que não estou fazendo nada err